Há mais de 25 anos estou em contato constante com padre Nabil, sacerdote católico de rito melquita da Síria, casado e pai de cinco filhos. Nós nos conhecemos quando éramos seminaristas, durante um encontro do Movimento dos Focolares. Desde quando começou a terrível guerra na Síria, é espontâneo viver esta situação juntos. Quantas pessoas envolvidas na oração pelo povo na Síria, na invocação da paz! Assim nasceu uma comunhão espiritual que une também as duas comunidades paroquiais, a sua na Síria e a nossa na Suíça. Quando as suas duas filhas maiores não puderam continuar a estudar na Síria, a nossa comunidade em Basileia as acolheu. No verão passado, tendo que mudar de paróquia, pude reservar o tempo necessário para ir encontrá-lo. Começaram assim os 40 dias na Síria! Às 3 da madrugada chego a Beirute onde padre Nabil me acolhe no aeroporto. Com um carro cheio de pessoas e bagagens pegamos a estrada para a Síria. Na fronteira, uma acolhida calorosa por parte do chefe da seção. Enquanto são verificados o carro e os documentos, somos seus hóspedes. Depois, retomamos a viagem, por estradas secundárias – as principais estão fechadas – passando por inúmeros checkpoints, até a cidadezinha de padre Nabil, distante 5 km da cidade de Hamas. Somos hospedados em muitas casas e experimento uma acolhida calorosa e alegre. Descubro uma comunidade vivíssima. Todas as noites, na paróquia, se encontram por turno mais de 200 crianças e jovens. Ao todo são mais de 900 as pessoas que passam cada semana algumas horas junto. É uma festa quotidiana. Forte o empenho e a dedicação dos 70 jovens responsáveis, apesar do fato de que frequentem a escola ou a universidade e estejam bem no período de exames. Com o passar dos dias, começo a entender que esta vida plena se realiza com de uma dor dilacerante por trás. Descubro que os rumores que se ouvem diariamente, vêm dos bombardeamentos. Entendo que as posições dos “rebeldes” estão distantes só poucos quilômetros. Venho a saber que uma semana antes foi atacado um lugarejo cristão a 12 quilômetros, com muitas mortes. Diversas famílias não podem mais comprar o necessário para viver. Visitamos doentes que não podem ser tratados. De noite fica totalmente escuro: só existem luzes LED com as baterias. Descubro, em muitas casas, as fotos dos filhos mortos na guerra. Quase não existe mais nenhuma família intacta porque mais de 3.000 jovens partiram para o exterior. Um dia, durante um funeral, caem duas granadas e provocam duas mortes. Eu me pergunto: de onde estas pessoas conseguem a força para não se desesperar? O fato é que há diversos anos, se desenvolveu uma grande comunidade que se inspira na Espiritualidade da unidade. São mais de 200 pessoas, organizadas em pequenos grupos, que se nutrem da Palavra de Deus e cuidam das pessoas em dificuldade e das crianças. Construíram um pequeno centro social que acompanha as pessoas com doenças graves e providenciam, com a ajuda da solidariedade dos concidadãos e da internacional, os medicamentos e os tratamentos médicos. São visitadas regularmente até 450 famílias para sustentá-las nas necessidades graves. Inclusive os relacionamentos entre os vários grupos religiosos são bem cuidados. Assim somos convidados, junto com os outros sacerdotes da cidade, para a ceia do Ramadan com os mais de 200 Imãs da cidade de Hamas. Na última semana tenho a ocasião de participar da Mariápolis. Estão presentes mais de 200 pessoas das várias cidades e regiões do país: Damasco, Homs, Hamas, Aleppo e Latakia. Pela primeira vez, desde o início da guerra é possível correr o risco de viajar e de se encontrar. Todos sofreram muitíssimo, perderam casas, trabalho, e até familiares queridos. Mas não perderam a fé e o amor. (Ruedi Beck) Fonte: Revista Gen’s, janeiro – março de 2017, pagg. 38-40
Juntos somos fortes
Juntos somos fortes
0 Comments