“No atual momento de grande virada, de mudança de época, de visão do homem e do mundo, é uma urgência histórica oferecer a contribuição, amadurecida nestes decênios, do dom de um carisma, o carisma da unidade confiado a Chiara Lubich”.
Foram estas as tiradas iniciais do Prof. Piero Coda, reitor do Instituto Universitário Sophia fundado em Loppiano, próximo de Florença, Itália, durante o primeiro encontro com um grupo de professores universitários e ex-alunos de Sophia, provenientes das várias regiões do Brasil na Mariápolis Ginetta (SP).
Esta urgência já era sentida intensamente há bastante tempo aqui no Brasil. Nos mais de 50 anos que o Movimento dos Focolares está presente neste grande País e nos demais países da América Latina, são várias as iniciativas de caráter cultural nascidas em muitas universidades. É o que se viu por meio dos incontáveis relatos apresentados nesses dias, onde a fraternidade é proposta como categoria que pode imprimir renovação tanto na Política quanto na Economia, no Direito, na Pedagogia… como resposta aos muitos desafios, comuns em todo Ocidente: fragmentação do saber e do próprio homem enquanto os problemas são sempre mais transnacionais e multidimensionais; fratura entre o pensamento e a vida; grande riqueza de meios técnico-cientificos; pobreza dos fins.
Agora, a expectativa era a de dar um novo passo, que também neste continente nascesse um Centro Universitário com a mesma inspiração que deu vida à Sophia. Esta é a prospectiva que emergiu durante a intensa troca de experiências, propostas, reflexões que caracterizou os três dias de encontro, que se concluiu domingo 2 novembro.
Trata-se de um projeto embrionário, com conotações especificamente latino-americanas. A teóloga Maria Clara Bingemer, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, percorreu a história do caminho conciliar e pós conciliar da Igreja no continente, desde a opção preferencial pelos pobres, passando pelo difícil caminho trilhado pela Teologia da Libertação, até à atual crise religiosa, ou seja, a religião subjetiva e o vazio de sentido. Enquanto, sempre mais, se percebe a sede de Deus e a exigência de testemunhas. O politólogo Juan Estevan Belderrain colocou o dedo sobre uma das feridas mais profundas do Continente: a desigualdade social e as suas causas, com o deficit de coesão social e o deficit de relações. A isso se acrescentam as necessidades dos povos indígenas, e dos afrodescendentes. Em síntese, veio em evidência a vocação social da América Latina.
O projeto cultural do Instituto Universitário Sophia delineia-se aqui, portanto, como uma dimensão social, com suas raízes na inspiração e na metodologia originais apresentadas, em um vídeo, por Chiara Lubich, em seu discurso programático na ocasião da fundação da Sophia em 15 de agosto de 2001: pensamento e vida inspirados no modelo trinitário, que se tornou acessível pelo mistério de morte e ressurreição de Cristo que, na cruz, gritou o abandono do Pai. Deste mistério jorrou a Sabedoria que gera uma nova cultura, em que são privilegiados os relacionamentos em todos os níveis, cuja norma é a interdisciplinariedade e a transdisciplinariedade.
Atualmente, alunos, professores e pesquisadores do Instituto Sophia provém de 30 países, formados pela sabedoria como “Homens mundo”, cuja cultura típica de cada um deles abre-se à dimensão universal. É um projeto em profunda sintonia com o trinômio proposto recentemente pelo Papa Francisco ao Movimento dos Focolares: contemplar, sair, ‘fazer escola’.
O presente projeto em estudo, inclusive na América Latina, visa contribuir para a tão esperada reforma do estilo de fazer universidade, que, como escreveu profeticamente Edgar Morin, comentado por Piero Coda, iniciará de modo periférico, por iniciativa de uma pequena minoria, talvez não compreendido inicialmente, mas destinado a uma vasta difusão. Por isso já foram fixados novos encontros: na Ásia em 2016, na África em 2017.
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