No diálogo entre pessoas de culturas e orientações religiosas diversas, recorre frequentemente a pergunta: “podemos sempre ter esperança? E em quê?”. Uma questão que ressoa com mais intensidade nos momentos de dificuldade e diante das derrotas ou dos sofrimentos mais dolorosos, mas também diante das decepções de um ideal ou conjunto de valores que nos fascinaram. Nesses momentos de dúvida somos levados a reconsiderar as nossas convicções, os valores e crenças nos quais depositamos a nossa esperança. E com eles encontrar a força para enfrentá-los e trazer à tona a grandeza do ser humano, capaz de cair e de se levantar, de experimentar a fraqueza de forma consciente, sem expectativas milagrosas inúteis. Crer é muito mais do que esperar uma solução para os nossos problemas, é antes um impulso que nos permite continuar caminhando. A vida, precisamente nesses momentos, pode tornar-se misteriosamente um autêntico dom. Crer em um compromisso que dá sentido à vida não é como aceitar um contrato que se assina uma vez e depois não se olha mais, mas é um fato que transforma e permeia as escolhas de cada dia. Uma pequena ajuda para viver assim é não pensar em situações extremas, que só podem nos assustar e bloquear, mas enfrentar as pequenas dificuldades de cada dia, partilhando-as com os nossos amigos. Dessa forma, se não desanimarmos, descobriremos que cada dia pode nos oferecer uma nova oportunidade para crer e dar esperança às pessoas que estão ao nosso redor. É a força da amizade que busca o bem do outro. Quando tudo vai bem, é mais fácil nos sentirmos fortes e corajosos. Mas, quando vivemos a experiência das vulnerabilidades, podemos construir algo que não passa e que permanecerá mesmo depois de nós. Adquirimos essa convicção quando partilhamos a vida com alguém que acreditou além de tudo, que lutou e sofreu e que se tornou próximo de todos com o seu amor. Quando essas pessoas concluem a sua vida terrena, deixam uma marca muito forte e a lembrança delas é tão viva que – misteriosamente – nos faz dizer, para além da nossa referência religiosa ou não religiosa: “Eu creio, eu creio. Vamos continuar juntos!”.
A IDEIA DO MÊS, é preparada pelo “Centro do Diálogo com pessoas de convicções não religiosas” do Movimento dos Focolares. É uma iniciativa que nasceu no Uruguai em 2014 para compartilhar com os amigos que não creem em Deus os valores da Palavra de Vida, uma frase da Escritura que os membros do Movimento se comprometem a colocar em prática. Atualmente, A IDEIA DO MÊS é traduzida em doze idiomas e distribuída em mais de 25 países, adaptada em alguns deles segundo as exigências culturais. dialogue4unity.focolare.org
Jesus está chegando a Betânia, onde Lázaro se encontra morto há quatro dias. Ao saber da notícia, Marta corre esperançosa ao Seu encontro. Jesus amava Marta, Maria e Lázaro, como salienta o Evangelho[1]. Mesmo na dor, Marta manifesta ao Senhor a sua confiança Nele. Tinha a certeza de que, se Ele tivesse estado presente antes da morte do irmão, Lázaro ainda estaria vivo. Mas também confia que, mesmo agora, Deus atenderá qualquer pedido que Ele fizer. “Teu irmão vai ressuscitar” (Jo 11,23), afirma então Jesus.
“Crês isto?”
Jesus esclarece que está falando do retorno de Lázaro à vida física, aqui e agora, e não apenas da vida após a morte, destino de todo aquele que crê. Depois, pede que Marta afirme sua adesão à fé, não só para que Ele realize um dos seus milagres – que o evangelista João define “sinais” –, mas para dar uma vida nova e a ressurreição tanto a ela, como a todos os que acreditam. “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11,25), afirma Jesus. E a fé que lhe pede é uma relação pessoal com Ele, uma adesão ativa e dinâmica. Crer não é como aceitar um contrato que se assina uma vez e depois não se olha mais, mas é um fato que transforma e permeia a vida de cada dia.
“Crês isto?”
Jesus convida a viver uma vida nova aqui e agora. Ele nos chama a experimentá-la todos os dias, sabendo que, conforme redescobrimos no Natal, foi Ele mesmo que nos trouxe essa vida nova, tomando a iniciativa de nos procurar e de vir para estar entre nós.
Como responder à pergunta que Ele faz? Olhemos para Marta, a irmã de Lázaro.
No diálogo com Jesus, brota uma profissão de fé completa Nele. O texto grego original expressa isso com força ainda maior. A declaração de Marta “eu creio” significa, com todas as consequências, “atingi a fé”, “creio firmemente” que “tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que vem ao mundo”[2]. É uma convicção amadurecida ao longo do tempo, comprovada nas diversas circunstâncias que ela enfrentou na vida.
O Senhor dirige a sua pergunta também a mim. Pede também a mim que eu tenha uma confiança generosa Nele e que adote o seu estilo de vida, fundamentado no amor generoso e concreto para com todos. A perseverança amadurecerá a minha fé, que se fortalecerá ao constatar dia após dia como são verdadeiras as palavras de Jesus colocadas em prática. E esses frutos não deixarão de se manifestar nas minhas atitudes diárias para com todos. Enquanto isso, podemos adotar como nosso o pedido que os apóstolos fizeram a Jesus: “Aumenta a nossa fé” (Lc 17,5).
“Crês isto?”
“Uma das minhas filhas perdeu o emprego juntamente com todos os seus colegas, porque o governo extinguiu o órgão público para o qual trabalhavam”, diz Patrícia, de um país sul-americano. “Como forma de protesto, organizaram um acampamento em frente à sede da entidade. Eu procurava apoiá-los, participando de algumas das suas atividades, levando-lhes comida ou simplesmente ficando ali para conversar com eles.
Na Quinta-feira Santa, um grupo de sacerdotes que os acompanhava decidiu celebrar uma cerimônia, em que também foram oferecidos espaços de diálogo. Foi lido o Evangelho e se fez o gesto do lava-pés, em memória daquilo que Jesus tinha feito. A maioria dos presentes não adotava uma vida religiosa. Contudo, foi um momento de profunda união, de fraternidade e de esperança. Eles se sentiram abraçados e, com emoção, agradeciam aos sacerdotes que os acompanhavam na incerteza e no sofrimento.”
A palavra de Jesus “Crês isto?” foi escolhida como guia para a Semana de Oração pela Unidade Cristã de 2025, mas serve para todos os tempos e lugares. Rezemos, então, e trabalhemos para que a nossa fé comum seja o que nos move na busca da fraternidade com todos: é a proposta e o desejo de Deus para a humanidade, mas exige a nossa adesão. A oração e a ação serão eficazes se brotarem dessa confiança em Deus e da nossa vivência coerente com essa fé.
Org.: Silvano Malini com a comissão da Palavra de Vida
Paz, acolhida, coragem, justiça, diálogo, esperança, solidariedade, união, fraternidade, unidade: palavras que exprimem o nosso compromisso planetário, forte e concreto, que começa com pequenos gestos cotidianos, para fazer calar as armas e cessar todos os conflitos em todos os ângulos do mundo.
“Por favor, antes de tudo, semeiem o Evangelho, que é boa notícia, para que tenham credibilidade em um tempo dilacerado pela discórdia e pelo conflito, em que a paz parece um sonho inatingível”. Foi o convite forte que papa Francisco dirigiu às famílias-focolare em uma longa carta. No dia 27 de outubro de 2024, no Centro Mariápolis de Castel Gandolfo (Itália), Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, ao se encontrar com as famílias-focolare jovens, leu para elas a mensagem do Papa: uma linda surpresa endereçada justamente a elas. As famílias-focolare têm a característica de que ambos os cônjuges são focolarinos casados. No mundo de hoje, as famílias-focolare jovens são 130, e se unem a muitas famílias que vivem a espiritualidade da unidade que caracteriza o Movimento dos Focolares.
O encontro de outubro, em Castel Gandolfo, foi a última etapa de um percurso de formação de seis etapas, realizadas em várias regiões do mundo: Polônia, Filipinas, Líbano, Guatemala, Portugal. Participaram da última etapa, 55 famílias de vários países.
Na longa carta, o Papa explica ter sido informado “sobre o importante trabalho no Movimento em favor das famílias que estão fazendo um singular percurso formativo”. E agradece à Presidente “por me dar a possibilidade de participar dessa emocionante experiência de fé, vivida por numerosos casais de diversas nacionalidades e expressões religiosas. Estou particularmente satisfeito por saber que exercem com alegria o apostolado de vocês nos vários contextos humanos e sociais, e se dedicam com grande paixão a criar harmonia e concórdia”.
Papa Francisco pede ainda a Margaret Karram que comunique a sua espiritual proximidade às famílias, exortando cada um a se tornar instrumento de amor, manifestando a riqueza da fraternidade sincera e amável. Dirige a seguir um pensamento às famílias em crise, que “perderam a coragem de salvaguardar a beleza do Sacramento recebido”, e diz aos jovens para “não terem medo do matrimônio e das suas fragilidades”.
Significativa a data na qual o Papa quis escrevê-la: 26 de julho de 2024, memória dos santos Joaquim e Ana, pais da Virgem Maria. Não é um gesto casual para os destinatários da carta: as famílias.
“Queridas famílias, voltando para as suas casas” – prossegue o Papa -, “reavivem o focolare doméstico com a oração constante, ouçam a voz do Espírito Santo, que guia, ilumina e sustenta o caminho da vida, abram-se a quem bate à porta para ser ouvido e consolado, ofereçam sempre o vinho da alegria e partilhem o bom pão da comunhão. Que a Sagrada Família de Nazaré seja fonte de inspiração e de esperança nos momentos de provação, para que possam ser, por toda parte, artífices de unidade a serviço da Igreja e da humanidade”.
Margaret Karram, ao terminar a leitura, afirmou: “Eu a li várias vezes e realmente, como vocês, fiquei comovida. Pensei: “Esse é o amor imenso do Papa por vocês, justamente por vocês”.
Um presente precioso, que se estende a todas as famílias do mundo, como a estrela cometa para o caminho de cada um.