No dia 16 de outubro de 2024, na sede do Parlamento Europeu, em Bruxelas (Bélgica), ocorreu a Conferência final do projeto DialogUE, uma iniciativa voltada para promover o diálogo intercultural e inter-religioso na Europa. O evento foi apresentado pela eurodeputada Catarina Martins (GUE-NGL) e contou com a participação de 50 representantes de parceiros do projeto, instituições europeias, líderes religiosos e membros da sociedade civil.
O foco do evento foi a apresentação das recomendações para a União Europeia do projeto DialogUE – “Diversas Identidades Aliadas, Abertas, para Gerar uma Europa Unida”, com temas cruciais para a situação atual europeia e mundial, resumidas na brochure “DialogUE Kit”.
“Dá para ver a olho nu que algo acontece quando as pessoas de paz falam”, disse a eurodeputada Catarina Martins, da Esquerda Europeia, que abriu o encontro em uma sala do parlamento europeu. “E este é justamente um momento desse tipo. O diálogo é um instrumento potente de paz.”
O projeto nasceu do empenho de décadas de New Humanity, expressão do Movimento dos Focolares, que promoveu de modo significativo as boas práticas de diálogo inter-religioso e intercultural A abordagem favorece o respeito recíproco e a confiança, elementos essenciais para um diálogo produtivo e esforços colaborativos.
Francisco Canzani, conselheiro geral da área de Cultura e Estudo do Movimento dos Focolares, destacou em sua última fala que o diálogo é construído por três elementos: atitude, instrumento, método. Sobre esse último, o método do consenso diferenciado e da discordância qualificada, nascido dentro da plataforma DIALOP entre cristãos e marxistas, é hoje fonte de inspiração e prática para outros grupos de diálogo.
Em 2023 e 2024, o projeto envolveu quatro grupos em três áreas principais: comunicação, ecologia e políticas sociais. Os grupos de diálogo eram:
Entre cidadãos cristãos pela plataforma Together4Europe
Entre cristãos e muçulmanos por meio do Centro para o Diálogo Inter-religioso do Movimento dos Focolares
Entre cristãos e pessoas que não se identificam com uma crença religiosa pela plataforma DIALOP para um diálogo transversal
Entre cidadãos da Europa Ocidental e Oriental por meio do grupo de diálogo Multipolar.
O projeto facilitou principalmente a difusão do significado e das metodologias necessárias para um diálogo eficaz. Também reuniu especialistas internacionais nesses três desafios-chaves, os quais ajudaram os participantes a compreender os principais documentos da UE sobre esses assuntos e a explorar as diversas dimensões de cada tema.
Os grupos colaboraram para identificar princípios compartilhados e propostas em comum. O trabalho deles levou à formulação de recomendações que foram apresentadas ao Parlamento Europeu.
O projeto DialogUE – foi promovido por um consórcio de 14 organizações da sociedade civil provenientes de nove países membros da União Europeia.
Entre os resultados principais do projeto estão: 12 encontros internacionais e uma formação para facilitadores e especialistas; o envolvimento direto de 1200 cidadãos e mais de 10.000 indiretamente; a criação do “Dialogue Kit”, destinado a educadores, ONGs e decisores políticos para promover o diálogo e a coesão social. Esses encontros levaram a recomendações compartilhadas para os tomadores de decisão da União Europeia, a fim de promover políticas mais inclusivas e sustentáveis.
Na tarde do dia 16 de outubro, um grupo de discussão se reuniu na KU Leuven (Universidade de Lovaina), em Bruxelas, e os participantes analisaram algumas boas práticas que emergiram do projeto, além de discutir como difundir mais essas iniciativas por meio do “Dialogue Kit”.
Os jovens do Movimento dos Focolares, em sintonia com o Genfest no Brasil, também organizaram 44 edições locais do Genfest em vários países. Aqui estão algumas imagens dos eventos nos vários países e alguns breves testemunhos da Costa do Marfim, Etiópia, Egito, Jordania, da Eslováquia e da Coreia.
Paola Iaccarino Idelson é uma bióloga nutricionista, especialista em alimentação. Mora em Nápoles, no sul da Itália. Eu soube, por meio de uma amiga querida, que ela viajou para o Brasil durante o verão deste ano. Curioso, tentei encontrá-la nas redes sociais. Fiquei encantado com as fotos lindas de sua estadia no Brasil e com as histórias intensas que revelam uma experiência profunda. Portanto, decidi contatá-la para uma entrevista.
Paola, de Nápoles para o Brasil: por que decidiu fazer essa viagem?
É uma longa história. Estive no Brasil pela primeira vez há 14 anos, em Florianópolis. E fui para lá porque sou apaixonada pela língua portuguesa. Não queria ir como turista, então, por meio de uma amiga que é médica, fui ajudar um colega dela, como voluntária. Acompanhamos um sacerdote em sua missão cotidiana. Ele tinha aberto uma escola para ajudar adolescentes a não entrar no crime, e abriu uma oficina de conserto de pranchas de surfe, para oferecer um trabalho digno aos jovens do local. Durante três semanas, pesei e medi as crianças daquela escola: foi uma experiência tão forte, intensa e bonita que, quando voltei para a Itália, tive de removê-la da minha mente para pode continuar a viver a minha vida como antes.
E depois? O que aconteceu?
No ano passado, terminei com o meu namorado, que não gostava do Brasil. Então disse a mim mesma: chegou o momento de retomar aquele sonho. Porém, dessa vez, eu também queria fazer uma experiência não como turista, mas ajudando a comunidade local de alguma maneira. Falei com uma amiga focolarina, e ela me colocou em contato com a comunidade do Movimento dos Focolares da Amazônia.
Eu queria fazer um trabalho voluntário como nutricionista, a minha profissão, mas estava disposta a tudo. Uma das focolarinas do Brasil, Leda, me falou sobre o Barco Hospital “Papa Francisco”, no qual eu poderia trabalhar. Então, no fim, parti em agosto de 2024. Leda foi um anjo, organizou todo o meu itinerário, colocando-me em contato com a comunidade do Movimento dos Focolares e cuidou de mim durante todo o período em que estive no Brasil.
Paola no BrasilBarco Hospital Papa FranciscoRio Amazonas
O Barco Hospital Papa Francisco: o que você fez lá?
Não havia um trabalho específico para mim, que sou especialista em alimentação. Havia uma dezena de médicos, cada um com o seu consultório. Ajudei como podia. O despertador tocava às 6h da manhã porque, a partir das 6h30, já chegavam pessoas de vilarejos próximos para as consultas. Era preciso acolhê-los, cadastrar quem chegava e controlar o fluxo. Fiz consultas nutricionais e entendi que havia um problema de sobrepeso e obesidade, principalmente entre as mulheres. Então, me perguntei muito sobre as razões daquelas condições de obesidade, era um problema bem comum naquele lugar. Falando com algumas pessoas, percebi que havia um problema de sedentarismo e de difusão do consumo de bebidas cheias de açúcar, doces e carne.
Você pôde ver com os próprios olhos tanta pobreza…
Vi pessoas realmente pobres, mas muito dignas, que conseguem fazer dar estudo aos filhos. Fiquei muito tocada com uma família. Eles têm 10 filhos, via-se que viviam em condições muito precárias. O pai também tem algum problema de saúde. Apesar disso, os pais conseguiram fazer com que os filhos estudassem e uma das filhas está para se formar como fotógrafa. Uma grande dignidade, apesar daquelas condições de vida.
Você viu a abundância de diversidade, natureza, cor de pele das pessoas, comidas, cheiros, sabores…
Foi uma das coisas que mais me marcou nesta viagem e que levarei comigo. Uma diversidade enorme no modo de viver, principalmente a variedade incrível de frutas, verduras, cereais, flores, plantas, as cores dos rios, os animais, as pessoas. Quando eu cadastrava quem chegava para as consultas, havia um campo no software para preencher a cor da pele e eu tinha quatro opções ligadas à diversidade das etnias, das origens, da cor da pele… Viver essa diversidade foi uma experiência forte e tenho certeza de que é só uma grande riqueza.
Viagem de barcoUma aldeia nas margens do Amazonas
Como a comunidade do Movimento dos Focolares a acolheu e ajudou nessa experiência?
Foi fundamental em toda a minha experiência no Brasil. Eu me senti acolhida em todos os lugares por onde passei. Vi com meus próprios olhos a arte de amar a todos. Sempre senti um amor para comigo, uma abertura muito grande e desinteressada. Isso me fez muito bem, realmente uma acolhida comovente.
Você foi para lá para doar tempo e profissionalismo, mas recebeu muito mais. Essa viagem mudou um pouco a sua vida?
Olha, eu tenho 50 anos, não 20. Mas por que estou dizendo isso? Porque aos 20 anos, ou talvez aos 30, ainda tinha a ideia de ir a um lugar para doar. Agora, é muito, muito claro para mim que a possibilidade de me doar me restitui alguma coisa. Eu sabia muito bem que a palavra “voluntariado” incluía bastante coisa. Doar o próprio tempo faz bem. Primeiramente a quem o doa. Eu, com certeza, fiz uma experiência de partilha muito forte com a comunidade do Movimento dos Focolares. Apesar de não conhecer tão bem a espiritualidade, aprecio bastante todas as suas outras formas de expressão do amor concreto. Acho que foi uma experiência realmente muito, muito, muito bonita. Essa ideia de poder viver juntos, colocando em comum tudo o que tem, é justamente a ideia da comunidade. Poder fazer o bem aos outros e viver com os outros é uma coisa de que eu realmente gosto muito.
Essa viagem me enriqueceu demais. Teve e terá um grande impacto na minha vida. Ela me fez conhecer pessoas maravilhosas, realidades completamente diferentes da minha. Entendi que a partilha é realmente possível.
Paola na receção“Doar o seu tempo é bom”Paola a trabalhar no barco-hospital
Quando você voltou para Nápoles, teve uma acolhida inesperada!
Sim, muitas pessoas que encontrei quando voltei, e que ainda encontro hoje, me dizem que leram meus diários de viagem nas redes sociais, e me agradecem por ter compartilhado essa experiência. Estou recebendo muitos agradecimentos e várias pessoas me dizem que querem saber mais sobre essa viagem. Então, tive a ideia de organizar as fotografias e mostrá-las em um evento, no qual também posso contar alguma coisa a mais. Isso me tocou muito: vivemos em uma sociedade na qual não existe mais tempo para os relacionamentos. Ouvir pessoas me pedindo para passar um tempo juntas para saber mais sobre a minha experiência é algo muito lindo.
Para concluir, vamos rebobinar a fita e olhar tanto para a primeira quanto para a segunda viagem ao Brasil: como você vive hoje a sua vida?
Minha primeira experiência brasileira de muitos anos atrás, como eu disse, tive de removê-la. Agora, estou fazendo um grande esforço para não remover essa última viagem, para não esquecer, para manter essa experiência também na minha vida em Nápoles, na Itália. Quero manter essa memória viva. Por quê? Porque tem um sentido na minha vida que me dá tanta força e me gratifica muito.
A primeira coisa que fiz, ao voltar a Nápoles, foi contatar novamente a minha professora de português, que é brasileira, para aprender melhor a língua. Outra coisa que eu gostaria de fazer é uma geminação entre uma escola infantil napolitana e uma brasileira, que está sendo construída. Seria lindo ajudar aquelas crianças, enviando mochilas e todo o material necessário. Mas, sobretudo, gostaria de fazer com que compartilhassem as experiências entre crianças brasileiras e italianas.
O Genfest 2024, evento internacional promovido pelos jovens do Movimento dos Focolares, aconteceu no Brasil em julho e contou com a participação de mais de 4.000 jovens do mundo. Esta edição foi dividida em três fases.
Na primeira, os jovens viveram como voluntários em algumas atividades sociais em vários países da América Latina.
Na segunda fase os jovens se reuniram na grande arena de Aparecida para vivenciar dois dias de celebração e partilha de testemunhos de vida.
Na terceira fase, eles se dividiram em pequenas comunidades segundo a experiência profissional para concretizar o ideal de unidade e de fraternidade de Chiara Lubich.
Falta pouco para iniciar-se a terceira edição do curso de formação sobre a sinodalidade organizado pelo Centro Evangelii Gaudium do Instituto Universitário Sophia. Qual é o balanço que se pode fazer?
Estamos na terceira edição e até agora este curso contou com uma centena de participantes de todo o mundo e dezenas de docentes de várias disciplinas. É um curso intercultural, interlinguístico e interdisciplinar. As aulas são um minilaboratório porque os encontros em grupo são uma parte integrante do curso.
Graças às plataformas online, é possível acompanhar o curso de todas as partes do mundo. O horário na Europa é no fim da tarde (das 18h às 21h, em Roma), mas há pessoas que se conectam às 3h da manhã em Cingapura e Malásia; e outras, no horário do almoço nas Américas.
Tivemos uma boa participação. Ao todo, 380 inscritos. Os estudantes podem somente acompanhar as aulas ou fazer trabalhos finais para obter créditos acadêmicos do Instituto Universitário Sophia. Trabalhamos em sintonia com a Secretaria geral do Sínodo, que está entre os promotores do curso.
E’ stato interessante per noi ed è stato un bell’incoraggiamento che durante la conferenza stampa di presentazione dell’Instrumentum Laboris per la fase dell’Assemblea del Sinodo appena incominciata il 1 ottobre 2024, il cardinale Hollerich abbia affermato: “Vorrei ricordare le numerose iniziative di formazione sulla sinodalità (…) A livello internazionale ricordiamo il MOOC del Boston College che ha visto la collaborazione di molti esperti del Sinodo o ancora il corso universitario proposto dal Centro Evangelii Gaudium dell’Università Sophia qui in Italia”. (Conferenza stampa del 09-07-20249)
Depois de dois anos, quais são as perspectivas que se abrem para esta terceira edição?
Acreditamos que o curso tenha dado uma pequena contribuição para ajudar a criar comunidades de pessoas comprometidas em viver e difundir a sinodalidade lá onde estão. Há pessoas que a propõem na própria diocese, organizando ações de formação; há quem vive na própria paróquia ou comunidade religiosa… É muito importante o efeito multiplicador do curso e as redes que estão sendo criadas. Redes essas que se entrelaçam com muitas outras de diversos movimentos eclesiais, universidades ou da Igreja mesmo.
São particularmente interessantes os laboratórios que se realizam durante o curso e que podem ser acompanhados via zoom ou presencialmente.
Castel Gandolfo (Italia)San Antonio (USA)
Depois do primeiro ano, uma estudante dos Estados Unidos propôs na sua paróquia que frequentassem o curso do ano seguinte: 12 pessoas se inscreveram. No fim do ano, pediram para fazer o laboratório presencialmente em San Antonio. Quarenta pessoas de várias dioceses e da Oblate School of Theology de San Antonio participaram.
As ações de formação realizadas são inúmeras porque são feitas pelos estudantes mesmos, usando o conteúdo e o método das aulas: uma paróquia inteira na Irlanda, diversas dioceses na Itália, assim como na Austrália, em Sidney; enquanto na República Democrática do Congo, recentemente, foi feita uma ação para mais de uma centena de sacerdotes de 8 dioceses, e, na Angola, para todo o clero da diocese de Viana.
Viana (Angola)República Democratica do Congo
Quais serão os temas do curso que se iniciará logo mais?
O próximo curso começará no dia 04 de novembro de 2024, no dia seguinte da Assembleia, com participações do Secretário geral do Sínodo, monsenhor Mario Grech e dos subsecretários, monsenhor Luis Marin e irmã Nathalie Becquart, do teólogo Piero Coda e de Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares e convidada especial da Assembleia sinodal.
Os temas do curso serão aqueles que surgiram na Assembleia mesmo: linhas abertas pela XVI Assembleia ordinária do Sínodo: novas práticas em uma Igreja Sinodal e missionária; iniciações cristãs e transmissões da fé no estilo sinodal. Será concluída com um laboratório presencial.
Por que há esse comprometimento do Centro Evangelii Gaudium com a sinodalidade? No passado, vocês se dedicaram a outros temas, como a formação sobre abusos ou a formação de operadores pastorais.
Parece-nos que a sinodalidade não é um slogan destinado a passar. A sinodalidade faz parte do ser da Igreja desde sempre, como bem se compreende lendo os Atos dos Apóstolos. Por outro lado, é também a atualização daquelas reformas que o Concílio Vaticano II indicou para a Igreja, mas que, como pode-se entender, eram e são difíceis de colocar em prática.
O papa Francisco mesmo afirmou na celebração do Quinquagésimo da instituição do Sínodo dos bispos, no dia 17 de outubro de 2015: “O caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja no terceiro milênio”. E, no dia 09 de outubro de 2021, ele mesmo deu início ao processo sinodal que hoje procura abrir caminho em toda a Igreja.
A partir daquele momento, nos comprometemos a formar e promover a sinodalidade por meio de bolsas de pesquisa, seminários, cursos de formação e criação de redes no mundo com outras faculdades e associações.
A sinodalidade é também um estilo que soma muito à espiritualidade de comunhão na qual se inspiram o Centro e o Instituto Universitário Sophia. O cardeal Petrocchi, presidente do Conselho científico do Centro Evangelii Gaudium, afirma que devemos chegar a “sinodalizar” a nossa mente, seja como indivíduos seja como um grupo eclesial, mas também como grupo da sociedade civil. Procuramos fazer a nossa parte, pequena, mas, esperamos, efetiva.