Movimento dos Focolares

Trieste e o acolhimento dos imigrantes

Ago 20, 2024

A comunidade local do Movimento dos Focolares se doa todos os dias para ajudar aqueles que chegam à cidade italiana de fronteira, fugindo de guerras, perseguições e dores de todos os tipos.

Trieste é uma cidade que fica no nordeste da Itália, na divisa com a Eslovênia. Historicamente, representa um encontro de culturas, línguas, religiões. E hoje é um dos primeiros pontos de chegada da Europa para imigrantes que transitam pela rota balcânica. Pessoas com bagagem de sofrimento, guerras e perseguições.

Em Trieste, a comunidade do Movimento dos Focolares, em sinergia com outras instituições, se esforça para acolher os imigrantes.

“O maior problema é a percepção do problema em si”, conta Claudia, da comunidade local. “Não se trata, de fato, de uma emergência, uma invasão que não pode ser administrada como se diz frequentemente, mas é um fenômeno estrutural que é a realidade deste nosso presente histórico. É um fluxo contínuo de pessoas chegando que, se são acolhidas adequadamente e redistribuídas, podem até se tornar talentos para a nossa cidade e para o nosso país. Se o fenômeno migratório não for entendido e abordado com os instrumentos adequados, é destinado a gerar desconfiança, medo, sofrimento, rejeição.”

No outono do ano passado, prevendo o frio, o Bispo de Trieste, monsenhor Enrico Trevisi, expressou o desejo de abrir um dormitório como resposta concreta para acolher os imigrantes. Um grupo de pessoas do Movimento dos Focolares respondeu ao apelo do bispo, oferecendo-se como voluntários com outras associações católicas e cidadãos. “Para nós, não se trata só de um mero serviço de caridade”, explica Claudia, “mas é a oportunidade de encontrar em cada próximo um irmão, uma irmã a ser amado, inclusive nas pequenas coisas: um sorriso ao oferecer uma refeição, a troca de palavras. Frequentemente esses irmãos nos contam uma parte da sua história, suas dores, suas esperanças, nos mostram fotos dos filhos, mas também há momentos de descontração e compartilhamos o tempo com serenidade. Alguns de nós, além disso, acompanharam os imigrantes mais de perto, seja no caso de alguma recuperação médica seja ficando ao lado deles para montar um currículo para que procurem emprego”.

Sandra, da comunidade do Movimento dos Focolares, acrescenta: “Encontramos tempo para conhecer os imigrantes, suas histórias, suas necessidades. Estão nascendo experiências pequenas e grandes que nos envolveram em ajudar também fora do turno dos dormitórios, e elas nos estimulam muito a continuar. Os turnos nos permitiram nos doar com os outros voluntários e descobrir que muitos deles, mesmo não frequentando associações ou paróquias responderam ao apelo do bispo”.

“Aos poucos, os relacionamentos crescem, um sinal de unidade também para a Igreja local”, acrescenta Claudia. “Essa experiência, juntamente com a recente Settimana Sociale dei Cattolici Italiani (Semana Social dos Católicos Italianos), com a presença do papa Francisco, dará um grande sustento a esta nossa cidade de fronteira.”

“Em Trieste conheci os melhores voluntários, que não se limitam a distribuir comida”, conta um hóspede do dormitório diocesano. “Matar a fome dos necessitados e curar as feridas dos doentes são tarefas nobres porque são as mais urgentes e necessárias. Porém, existem outras necessidades extremamente importantes para o ser humano: a saúde de suas emoções, sintomas do estado da alma. Não é uma questão individual ou menor, é o que faz a diferença entre as ações que têm um impacto momentâneo e aquelas que persistem e permeiam toda a sociedade. Os melhores voluntários”, continua, “agem porque têm a consciência de que os necessitados não são depositários de caridade, somos pessoas com uma história que vale a pena escutar. Sabem que cada imigrante traz dentro de si um luto pelas raízes perdidas, ao mesmo tempo, uma esperança que golpeia os muros do sistema e uma luta incessante pela sobrevivência. Os melhores voluntários”, conclui, “se comovem diante desta humanidade adolescente e são encorajados a escutar nossas histórias sem parar diante de barreiras linguísticas: ensinam italiano, aprendem espanhol, usam a tecnologia, renunciam ao seu tempo pessoal, investem a energia no bem comum, sonham com uma comunidade na qual todos possam oferecer o melhor de si mesmos”.

Lorenzo Russo

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