«Não existe uma receita para o sucesso, mas existe uma receita para o fracasso. A receita para o fracasso é a violência “em nome de Alá”». Começa assim o forte apelo aos muçulmanos europeus, publicado no dia seguinte aos cruentos ataques de Londres e Manchester, pelo Grão-Mufti emérito de Bósnia e Herzegovina Mustafa Ceric, presidente honorário, como, no passado, Chiara Lubich, e atualmente também Maria Voce, da Conferência das Religiões pela Paz. «Esta não é a minha fé. Este não é o Alá no qual eu creio. A minha fé não é uma faca, não é o terror. O meu Alá é Amoroso e Misericordioso». «Confesso – afirma o Grão-Mufti, que, entre outros, recebeu, em 2003, o Prêmio Unesco pela Paz Felix Houphouet-Boigny; o prêmio Stenberg, do Conselho Internacional dos Cristãos e dos Hebreus “pela sua excepcional contribuição na difusão e no fortalecimento da democracia”; e, em 2008, o prêmio Eugen Biser Foundation, pelo seu esforço em promover a compreensão e a paz entre o pensamento cristão e islâmico – jamais me senti tão confuso e tão inerme em tentar explicar o que está acontecendo dentro e fora da minha comunidade de fé. Consolo-me pensando que se trata de atos de minorias extremas, apenas um jogo político de grandes potências para ganhar a riqueza muçulmana». Mustafa Ceric usa palavras fortes: «A minha comunidade de fé tem muitos problemas. O maior é delegar a outros a resolução dos próprios problemas. Ao contrário, a minha Comunidade de Fé (o meu Ummah) deve resolver o próprio problema, antes de resolver os problemas ao seu redor». Há quem afirma, sustenta Ceric, que os ataques contra inocentes civis em Manchester ou em Londres são mais importantes do que os da Palestina, Cabul, Mosul, As’na e Misurata. «Não são mais importantes, mas, certamente mais perigosos para os muçulmanos na Europa, cuja maioria fugiu dos países muçulmanos para buscar, na Europa, paz e segurança para seus filhos. A paz e a segurança que até agora experimentam, neste momento estão ameaçadas». Depois de Manchester e Londres, mas antes ainda, em Berlim e Zurique «os muçulmanos europeus devem ser fortes e claros não apenas em condenar a violência “em nome de Alá”, mas também em adotar medidas concretas contra o abuso do Islã em qualquer forma. Devem ter uma voz clara, única e inequívoca na luta contra qualquer violência assumida “em nome de Alá”. Não é mais uma questão de boa vontade de indivíduos e grupos que trabalham pelo diálogo inter-religioso. É uma questão existencial do Islã e dos muçulmanos na Europa». O Grão-Mufit lança, enfim, um apelo aos muçulmanos da Europa, a «concentrar-se imediatamente em torno a uma “palavra comum” entre nós e os nossos próximos, independentemente de sua fé, raça ou nacionalidade, para fazer um juramento diante de Deus, de si próprios e dos próprios vizinhos na Europa, o de amar e promover a paz, a segurança e a cooperação à qual estamos obrigados pela nossa cultura e fé islâmica. Devemos jurar que faremos tudo o que for necessário para combater, juntos, a violência contra pessoas inocentes. Nós, atual geração de muçulmanos europeus, devemos isso aos nossos descendentes. Não devemos deixar os nossos débitos aos descendentes que não tem culpa». «Não é tempo de hesitar!» – o Grão-Mufit conclui o seu apelo exprimindo, com veemência, toda a esperança e o desejo de mudança. «Não há espaço para o cálculo! Não existem mais desculpas para adiar, ou justificativas para esperar! Não há salvação no silêncio! Não há futuro para o Islamismo ou para os muçulmanos na Europa se não na coexistência e na tolerância com os nossos vizinhos europeus!».
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