
A Dra. Susana fez parte da equipe de Comunicação no evento em Aparecida, em 2007, que teve como presidente da Comissão para a elaboração final do Documento o Cardeal Jorge Mário Bergoglio; ela participou também dos trabalhos de Coordenação da Conferência Episcopal da América Latina (CELAM) que se realizou recentemente no Rio, de 29 de julho a 2 de agosto de 2013.
Durante a JMJ o Documento de Aparecida foi citado diversas vezes. Em sua opinião qual aspecto do Documento foi particularmente colocado em evidência?
O evento realizado em Aparecida tem um grande valor para o Papa porque representa a maneira de dialogar com a Igreja, como foi proposto no Vaticano II, partindo do ponto de vista dos povos do continente sul americano, tendo como fundamento aquilo que eles vivem. Foi evidenciada, especialmente, a proposta dos “discípulos missionários”. Estas duas características que caminham juntas exigem uma mudança de vida, exige uma conversão pastoral de todos. O que quer dizer isto? Quer dizer ter a disposição de seguir Jesus não obstante o fato de sentirmo-nos fracos, frágeis… Mas, “na caminhada” rumo à conversão.
O Papa repete alguns conceitos, tais como: “cultura do encontro”, “diálogo”, “relacionamento entre as gerações”. Eles estão fundamentados no Documento?
Sim, creio que sim. O Papa se fundamenta na eclesiologia do Vaticano II, uma eclesiologia do diálogo em todas as suas dimensões: com as outras Igrejas, com as outras religiões, com as pessoas que não professam nenhuma fé, e, também, o diálogo no interior da Igreja Católica e diálogo com a cultura, com a política. Também sob este aspecto alguns presidentes da América do Sul participaram da Jornada Mundial da Juventude.
Portanto, eu creio que o Papa tenha promovido uma coisa muito interessante: unir o mundo juvenil ao mundo dos idosos. Tive a impressão de que seja uma coisa totalmente revolucionária: mais do que procurar as diferenças entre as gerações ele evidenciou o potencial e a realidade tal qual se apresenta. Ele foi muito claro: os jovens, nas nossas sociedades são excluídos e, igualmente, os idosos; e, assim eles podem ser totalmente solidários, podem compartilhar esta vivência e se enriquecerem uns com os outros, de maneira muito profunda. Pareceu-me revolucionário que, no contexto de uma Jornada Mundial da Juventude, o Papa tenha falado do valor e da experiência dos idosos.
Lemos uma sua recente entrevista na qual fala de “centelhas do Espírito”, referindo-se à contribuição que pode nascer da proposta de Aparecida também para os Estados Unidos. Poder-se-ia supor que isto seja válido para o mundo inteiro?
Eu creio que cada continente expressa uma cultura: Aparecida expressa a cultura da América Latina e do Caribe. Direi que o Documento de Aparecida pode ser um testemunho válido para estimular os outros continentes a reunirem-se em comunhão e colegialidade para poder criar as próprias instâncias de comunhão. Parece-me que a coisa mais importante é motivar a igreja continental – como está acontecendo já na África e em outras partes do mundo – a reunir-se e compreender o que significa anunciar o Evangelho aos povos no nosso tempo. (continua)
* Dra. Susana Nuin Núñez, uruguaia, membro do Movimento dos Focolares, Consultora do Conselho Pontifico para as Comunicações Sociais, secretária executiva do Departamento de Comunicação e Imprensa do CELAM.
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