«Há cerca de três anos nós, Jovens por um Mundo Unido de Roma, colaboramos com as educadoras, a administração penitenciária e o “Comitê G9”, um grupo de oito detentos da ala também denominada G9 do cárcere de Rebibbia que, mesmo não tendo filhos, empenham-se para favorecer ocasiões de encontro entre os outros detentos e as respectivas famílias». A aventura é contada por Raffaele Natalucci, um jovem de Roma.

«Três vezes por ano preparamos um espaço onde pais e filhos podem estar juntos, para brincar e desenhar com as crianças. Durante as atividades organizadas ao ar livre, no pátio interno do cárcere, participam cerca de trezentas pessoas, entre detentos e familiares, além de muitos voluntários vindos de fora. Durante um destes eventos pude ouvir o testemunho de um detento: “A privação da liberdade distancia-nos da realidade. Estando sempre na cela, entre quatro paredes, até mesmo a visão diminui. Algumas pessoas que receberam autorização para sair contaram que tinham que fazer um esforço para olhar para longe, para o horizonte. A possibilidade de trabalhar dentro do cárcere para mim tem um grande significado. Antes eu dedicava-me a atividades ilegais, mas aquilo que eu fazia era como gelo ao sol, que se derrete num instante. Ao contrário, trabalhar, organizar manifestações desportivas ou iniciativas em favor dos detentos vale cem vezes mais do que um salário”».

Continua o Raffaele: «Como Jovens por um Mundo Unido estamos vivendo uma experiência humana muito forte: a determinação da polícia penitenciária de entregar todos os objetos pessoais antes de entrar no cárcere ressoa, cada vez, como um convite a abandonar também os preconceitos, superando as barreiras entre o mundo externo e o cárcere, para construir um relacionamento autêntico com as pessoas detentas, a tal ponto que nos chamam de “Comitê externo”. Começamos também um “Projeto sobre a legalidade” com uma série de encontros temáticos dentro do cárcere. Em plena sintonia com as educadoras, os detentos e com a ajuda de especialistas, escolhemos alguns temas para serem apresentados, como as relações interpessoais, a integração entre culturas, a “legalidade do nós”, a redescoberta das próprias habilidades e a reinserção profissional».

«Por ocasião da festa dos pais, no dia 19 de março, convidamos o psicólogo Ezio Aceti para falar sobre a “genitorialidade” para cerca de setenta detentos no teatro do instituto penitenciário, focalizando as espectativas e as necessidades da criança. “Ter consciência dos pensamentos e das preocupações do outro, dizer a verdade, mostrar uma imagem positiva – explicou Aceti – são os pressuppostos necessários para que o encontro entre os detentos e os filhos possa ter resultados positivos”.

Durante o debate um dos detentos perguntou: “O que é que pode dizer para a sua filha um pai condenado à prisão perpétua?”.“Pode dizer que seu pai errou, mas está fazendo de tudo para melhorar” foi a resposta. “Se sua filha vê no pai a coerência e a coragem de reerguer-se, terá esta imagem do seu pai”. E ainda: “Genitorialidade é manter viva uma ligação. È preciso transmitir aos filhos um sentimento de pertença. Deste modo irão viver uma experiência positiva e irão recordar-se do pai que está no cárcere”. O psicólogo chamou a atenção dos detentos: “Educar um filho não quer dizer não errar, mas dar o máximo de si apesar dos erros. Isto ensinará aos filhos a tolerância. Vocês podem ser bons pais mesmo se erraram. No fundo todos nós sentimo-nos muitas vezes sem coragem, mas dentro do nosso coração uma outra voz diz: reergue-te, recomeça. Não importa quantas vezes vocês erraram, mas quantas vezes recomeçaram. O milagre acontecerá de tanto recomeçar, de tanto reerguer-se: acontecerá uma mudança”».

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