Jun 28, 2015 | Palavra de Vida, Sem categoria
«Com essas palavras concluem-se os discursos de despedida dirigidos por Jesus aos discípulos na sua última ceia, antes de morrer. Foi um diálogo denso, em que revelou a realidade mais profunda do seu relacionamento com o Pai e da missão que este lhe confiou. Jesus está prestes a deixar a terra e voltar ao Pai, enquanto que os discípulos permanecerão no mundo para continuar a sua obra. Também eles, como Jesus, serão odiados, perseguidos, até mesmo mortos (cf. 15,18.20; 16,2). Sua missão será difícil, como foi a Dele: “No mundo tereis aflições”, como acabara de dizer (16,33). Jesus fala aos apóstolos, reunidos ao seu redor para aquela última ceia, mas tem diante de si todas as gerações de discípulos que haveriam de segui-lo, inclusive nós. É a pura verdade: entre as alegrias esparsas no nosso caminho não faltam as “aflições”: a incerteza do futuro, a precariedade do trabalho, a pobreza e as doenças, os sofrimentos causados pelas calamidades naturais e pelas guerras, a violência disseminada em casa e entre os povos. E existem ainda as aflições ligadas ao fato de alguém ser cristão: a luta diária para manter-se coerente com o Evangelho, a sensação de impotência diante de uma sociedade que parece indiferente à mensagem de Deus, a zombaria, o desprezo, quando não a perseguição aberta, por parte de quem não entende a Igreja ou a ela se opõe. Jesus conhece as aflições, pois viveu-as em primeira pessoa. Mas diz: “Tende coragem! Eu venci o mundo.” Essa afirmação, tão decidida e convicta, parece uma contradição. Como Jesus pode afirmar que venceu o mundo, quando pouco depois é preso, flagelado, condenado, morto da maneira mais cruel e vergonhosa? Mais do que ter vencido, Ele parece ter sido traído, rejeitado, reduzido a nada e, portanto, ter sido clamorosamente derrotado. Em que consiste a sua vitória? Com certeza é na ressurreição: a morte não pode mantê-lo cativo. E a sua vitória é tão potente, que faz com que também nós participemos dela: Ele torna-se presente entre nós e nos leva consigo à vida plena, à nova criação. Mas antes disso ainda, a sua vitória consistiu no ato de amar com aquele amor maior, de dar a vida por nós. É aí, na derrota, que Ele triunfa plenamente. Penetrando em cada canto da morte, libertou-nos de tudo o que nos oprime e transformou tudo o que temos de negativo, de escuridão e de dor, em um encontro com Ele, Deus, Amor, plenitude. Cada vez que Paulo pensava na vitória de Jesus, parecia enlouquecer de alegria. Se é verdade, como ele dizia, que Jesus enfrentou todas as contrariedades, até a adversidade extrema da morte e as venceu, também é verdade que nós, com Ele e Nele, podemos vencer todo tipo de dificuldade. Mais ainda, graças ao seu amor somos “mais que vencedores”: “Tenho certeza de que nem a morte, nem a vida […], nem outra criatura qualquer será capaz de nos separar do amor de Deus, que está no Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,37; cf. 1Cor 15,57). Então compreende-se o convite de Jesus a não ter medo de mais nada: “Tende coragem! Eu venci o mundo.” Essa frase de Jesus poderá nos infundir confiança e esperança. Por mais duras e difíceis que possam ser as circunstâncias em que nos encontramos, elas já foram vividas e superadas por Jesus. É verdade que não temos a sua força interior, mas temos a presença Dele mesmo, que vive e luta conosco. “Se tu venceste o mundo” – diremos a Ele nas dificuldades, provações, tentações – “saberás vencer também esta minha ‘aflição’. Para mim, para todos nós, ela parece um obstáculo intransponível. Temos a impressão de não dar conta. Mas com tua presença entre nós encontraremos a coragem e a força, até chegarmos a ser ‘mais que vencedores’”. Não é uma visão triunfalista da vida cristã, como se tudo fosse fácil e coisa já resolvida. Jesus é vitorioso justamente no drama do sofrimento, da injustiça, do abandono e da morte. A sua vitória é a de quem enfrenta a dor por amor, de quem acredita na vida após a morte. Talvez também nós, como Jesus e como os mártires, tenhamos de esperar o Céu para ver a plena vitória sobre o mal. Muitas vezes temos receio de falar do Paraíso, como se esse pensamento fosse uma droga para não enfrentar com coragem as dificuldades, uma anestesia para suavizar os sofrimentos, uma desculpa para não lutar contra as injustiças. Ao contrário, a esperança do Céu e a fé na ressurreição são um poderoso impulso para enfrentar qualquer adversidade, para sustentar os outros nas provações, para acreditar que a palavra final é a do amor que venceu o ódio, da vida que derrotou a morte. Portanto, em qualquer dificuldade, seja ela pessoal ou de outros, renovemos a confiança em Jesus, presente em nós e entre nós: Ele venceu o mundo e nos torna participantes da sua própria vitória, Ele nos escancara o Paraíso, para onde foi preparar-nos um lugar. Desse modo encontraremos a coragem para enfrentar toda provação. Seremos capazes de superar tudo, Naquele que nos dá a força.» Fabio Ciardi
Jun 25, 2015 | Sem categoria
«O bispo encarregou-me de trabalhar na consulta para o ecumenismo e o diálogo. Quinze anos atrás, quando um amigo sacerdote da diocese vizinha, de Fano, havia proposto que eu criasse um projeto interdiocesano para promover parcerias ecumênicas entre paróquias europeias, eu havia respondido que não». A narrativa de Pe. Giorgio começa com uma perplexidade que se resolve logo, ao recordar o convite de Chiara Lubich, em Londres, em 1966, a viver um “ecumenismo de povo”, um “ecumenismo da vida”. «Retomei então os contatos com o amigo de Fano e, com ele e outros amigos sacerdotes, iniciamos a experiência das parcerias ecumênicas». A primeira paróquia com a qual entram em contato é ortodoxa, do padre Nicu, na Romênia. «O relacionamento de fraternidade entre nós gerou uma colaboração educativa entre os jovens do Movimento Diocesano da região Marche e os jovens ortodoxos, que se alargou em círculos concêntricos: a partilha da Palavra de Vida e da espiritualidade da unidade entre jovens católicos e ortodoxos, mantida em contatos assíduos. Dois momentos fortes, todos os anos, são um acampamento na Romênia, no Natal, e outro durante o verão, na Itália. Há ainda a experiência do Meeting Ecumênico juvenil de Loreto, que nasceu da amizade com o responsável pelo Centro João Paulo II, de Montorso (Loreto, Itália), que nos propôs a realização de um acampamento ecumênico com todos os jovens, conhecidos por meio da parceria e não, para uma interação das riquezas das respectivas igrejas. Este ano, de 29 de julho a 4 de agosto, acontecerá a sétima edição que prevê a participação de mais de 200 jovens ortodoxos e grego-católicos da Romênia, luteranos da Dinamarca e Suécia, anglicanos da Inglaterra e católicos da Itália».
Enfim, é a promoção da “cultura do diálogo” no mundo juvenil. Em janeiro deste ano, durante a Semana de Oração pela unidade dos cristãos, por exemplo, a paróquia de Borgo Santa Maria hospedou cerca de 20 jovens romenos de uma paróquia com a qual iniciou a parceria. Com os jovens italianos do Meeting Ecumênico, eles reuniram-se com estudantes de quatro faculdades da província de Pesaro e Urbino. Barbara, a porta-voz de uma família da paróquia, continua a contar: «Num mundo oprimido por guerras, divisões e terrorismo, estes jovens quiseram nos propor e doar uma mensagem de esperança e alegria, certamente uma cultura nova: a cultura da relação e do encontro que faz compreender que na diversidade do outro é possível descobrir aquela riqueza que une e não que divide. Depois de terem visto um filme e escutado os testemunhos dos jovens do Meeting Ecumênico, os estudantes dividiram-se em pequenos grupos para aprofundar o conhecimento dos amigos romenos e dialogar com eles. Embora com a dificuldade da língua, os jovens fizeram de tudo para conseguirem se comunicar do melhor modo. Nós, que participamos como família desse momento, como expectadores externos, sentimos o dever de agradecer a todos aqueles que acreditaram, acreditam e acreditarão nesse projeto; penso nos párocos e nos diretores das faculdades , mas principalmente em Deus, que no seu imenso amor nos fez encontrar jovens decididos e motivados a mudar as coisas. Nós estamos com eles e acreditamos que, envolvendo cada vez mais jovens, podem criar um mundo melhor, onde é possível viver em paz e harmonia».
Jun 24, 2015 | Sem categoria
Em 2013 a cidade colombiana de Medellín com a população de 2,4 milhões de habitantes, foi reconhecida como a cidade que está se modernizando mais rapidamente no mundo inteiro. E isto graças aos processos de desenvolvimento empreendidos nos últimos anos como, por exemplo, a redução das emissões de gás carbônico, a criação de espaços culturais e a redução da criminalidade. Em Medellín atua a Fundação Mundo Mejor e, por estes motivos, foi escolhida como sede do III Seminário UNIRedes, realizado de 3 a 7 de junho. Estavam presentes mais de 30 organizações provenientes do Brasil, México, Argentina, Bolívia, Paraguai, Venezuela e Colômbia, e se devem acrescentar ainda outras dez que participaram do evento via streaming. Neste seminário as diversas organizações sociais inspiradas pela espiritualidade da unidade aceitaram o desafio de reforçar o próprio caminho estando juntas. Anabel Abascal, membro da Comissão Coordenadora, afirmou: “Nós, das associações sociais que aderimos a UNIRedes, acreditamos que, no mundo atual, trabalhar em rede seja a única maneira para dar visibilidade à fraternidade universal, nosso princípio inspirador”. Nos quatro dias do encontro foram aprofundados os instrumentos à disposição para responder da melhor maneira possível, com o trabalho cotidiano, aos grandes desafios sociais. Susana Nuín, da Conferencia Episcopal da América Latina (CELAM), expôs o ponto de vista da Igreja regional, apresentando os quatro pilares transversais para a ação social: o cuidado com a criação, a construção da paz, a migração e a justiça social. O professor Giuseppe Milan, italiano, por sua vez, falou sobre a pedagogia intercultural fundamentada na espiritualidade de Chiara Lubich. Uma pedagogia que reconhece e assume em si os sofrimentos e as necessidades que a diversidade social nos apresenta. Ele afirma: “A educação tem como princípio a fraternidade, formar pessoas-mundo que valorizem o diálogo para construir sociedades novas. A metodologia é a arte de amar. Aceitar todos e respeitar as diversas culturas”. E, mais, foram tratados temas relativos à consolidação institucional das organizações e da gestão da rede. A este propósito Francesco Tortorella, da Ação por um Mundo Unido (AMU), explicou como se elaboram os projetos, iniciando pela fase de financiamento até a participação direta dos protagonistas.
Na conclusão dos trabalhos de grupo foram constituídas a nova Comissão Coordenadora e as várias comissões de trabalho, que deverão dar continuidade aos diversos objetivos de UNIRedes: desenvolver novas estratégias para aumentar a comunicação e a difusão das várias ações; dar visibilidade à esperança difundindo as pequenas, mas, significativas transformações que as nossas ações geram na vida das pessoas; ter uma maior incidência nas políticas públicas locais; entrelaçar novos pontos de cooperação entre as organizações; trabalhar de maneira que cada uma das ações sociais confira o papel de protagonistas aos destinatários dos projetos, incentivando a reciprocidade; promover o voluntariado social como estratégia para melhorar a gestão das organizações e para a formação de homens novos. É possível acessar os discursos do III Seminário, gravados em vídeo via streaming e na página web de Sumá Fraternidad.
Jun 18, 2015 | Sem categoria
Raimundo é cabelereiro. Edilena é esteticista e funcionária pública. Interessar-se pelo meio ambiente não é exatamente o foco de competência deles. Mas diante da invasão ambiental e cultural de que foram vítimas, e junto com outras famílias com as quais compartilham os ideais cristãos, começaram a colocar-se algumas questões. Qual herança queremos deixar aos nossos filhos? Como manifestar o nosso ponto de vista a uma sociedade que parece não perceber os perigos dessa degradação? Como caminhar contra a corrente? Casados há 29 anos, com três filhos e três netos, moram em Abaetetuba (Pará, Brasil), uma ilha que comporta também os municípios de Igarapé-Miri, Moju e Barcarena, cidades famosas na década de 1980, quando tornaram-se sede de indústrias e mineradoras. Muitas famílias deixaram os campos para trabalhar nas multinacionais, acomodando-se sem critério nas periferias e alimentando novas levas de pobreza, na ilusão de um bem-estar que nunca alcançaram. O impacto dessas indústrias sobre o ambiente foi, no mínimo, devastador. Teve início o corte indiscriminado dos açaizeiros para a extração do palmito destinado à exportação, privando assim as famílias de um item essencial para a sua nutrição. Os resíduos industriais jogados nos rios causaram uma diminuição visível de peixes e mariscos e a poluição atmosférica reduziu drasticamente a produção de fruta. Tudo isso numa escala local. Mas os efeitos do desmatamento se repercutem também em nível mundial. Na Amazônia tudo é “mega”: a extensão (mais de 50% de todo o Brasil), a biodiversidade, a floresta e seu volume de água doce. Mas com o desmatamento em ato todos esses recursos preciosos correm o risco de perder a sua eficácia. Não era fácil entender o que fazer. Mas Raimundo e Edilena contavam com um elemento que faria a diferença: a unidade com outras famílias e a força de deixar-se conduzir por Deus em suas escolhas. Tomaram juntos a decisão de transformar, com recursos próprios, uma área de pasto de 34 hectares, em um pomar. Ao escolher as árvores buscaram as variedades típicas da região com maiores riscos de extinção, algumas que os mais jovens já nem conheciam. Trabalharam arduamente, mas com grande entusiasmo, e criaram assim, em Abaetetuba, uma área de preservação da biodiversidade local. Hoje o pomar produz frutos comestíveis de 166 espécies nativas e de duas espécies africanas, compondo uma coleção única no seu gênero, uma riqueza florestal que apresenta-se como uma alternativa à futura sustentabilidade da região. A área – denominada Radini em homenagem a seus três filhos, Raisa, Radi e Raoni – recebe frequentes visitas de ambientalistas e pesquisadores de fama mundial, de artistas, cantores, atores, e até de bispos, de gente comum e principalmente de jovens. No local existem espaços para aulas teóricas e práticas, com distribuição de material de divulgação sobre a biodiversidade e a conservação do ambiente. Após ter recebido prêmios e reconhecimentos – significativo o de 2012, por parte do Museu Emilio Goeldi, de Belém (PA) – o sítio começa a ser divulgado em jornais e revistas da região. Edilena e Raimundo surpreendem-se sempre ao constatar o interesse de tantas pessoas e em ver como o exemplo deles impulsiona muitos a tornarem-se, como eles mesmos se definem, “ambientalistas de coração”. Veja: página 47 da revista Amazônia Viva http://issuu.com/amazoniaviva/docs/43_av_mar_2015_web_ok/1
Jun 16, 2015 | Sem categoria
O cliente Dirijo uma agência bancária. Uma tarde, saindo do escritório, carregava o peso de um grande problema não resolvido. Dizia respeito a um cliente que se tinha comportado mal com a sua conta corrente. Eu conseguia enxergar só duas soluções, que me causavam sofrimento: atacar gravemente o cliente, iniciando as práticas legais, ou arriscar não cumprir os meus deveres. Eu tinha um encontro com minha esposa e devia voltar logo para casa. Em geral procuro livrar-me dos pensamentos, mas naquela noite não consegui. Ela logo entendeu, e me disse: “Um dia pesado hoje, não?”. Comecei a me confidenciar com ela. Mary não estava por dentro dos problemas do banco, mas escutava atentamente, em silêncio. Depois de ter dito tudo eu me senti aliviado e mais confiante. O problema continuava a existir, mas agora não era só meu. No dia seguinte comecei a divisar uma terceira solução que consentia, no respeito aos meus deveres, não prejudicar o cliente. (G. K. – Inglaterra) Problemas de audição Com sérios problemas de audição, aconselhado inclusive pelos meus paroquianos, fui a um especialista. Depois de ter perguntado a qual ordem religiosa eu pertencia, ele começou a enumerar os seus rancores contra a Igreja por todas as incoerências e contradições que o haviam levado a perder a fé. Eu o escutei com amor, percebendo que estava diante de uma pessoa que não se contentava de um cristianismo superficial. Pelo meu lado respondi que não existem argumentos para defender a Igreja, mas somente uma vida coerente. E acrescentei: “Deus nos ama assim como somos”. Ele quis o meu endereço e o número de telefone. Na mesma noite foi encontrar-me, contou-me que tinha estado no seminário até os 18 anos, quando lhe pareceu que o marxismo respondesse melhor àquilo que buscava, agora, porém, essas certezas tinham esmaecido. Alguns dias depois ele me confidenciou que, entrando numa igreja, pareceu-lhe que Deus dissesse: “Eu nunca o abandonei”. Agora retornou aos sacramentos, ele e sua esposa. (P. G. – Itália) Demissão Nestes dias, na fábrica, foram distribuídas algumas cartas de demissão, uma delas endereçada a Jorge. Conhecendo suas precárias condições financeiras eu me aproximei dele e o convidei a ir comigo ao departamento de pessoal: “Eu estou melhor do que ele – declarei -, minha esposa tem um trabalho. Escolham a mim para a demissão”. O chefe prometeu reexaminar o caso. Quando saímos Jorge abraçou-me, comovido. Naturalmente o fato passou de boca em boca, e dois operários, mais ou menos nas minhas mesmas condições, ofereceram-se no lugar de outros dois demitidos. A direção foi constrangida a repensar os métodos de escolha das demissões. Quando soube do fato, o pároco o contou durante a homilia da missa dominical, sem citar nomes. No dia seguinte mandou-me dizer que duas estudantes tinham ido entregar todas as suas economias para os operários que estavam em dificuldades, declarando: “Nós queremos imitar o gesto daquele operário”. (B. S. – Brasil)