Há 50 anos, em Ascoli Piceno, uma cidade no centro da Itália, dois sacerdotes focolarinos, padre Pino e padre Mario, decidiram começar juntos uma atividade comum de apostolado, propondo alguns encontros para os jovens. Surpreendentemente, depois de algumas semanas, havia centenas de jovens participando dos encontros, desejando viver o Evangelho no cotidiano. Estava nascendo o Movimento Diocesano, expressão do Movimento dos Focolares que tinha e tem a missão de animar, por meio da espiritualidade da unidade do Movimento dos Focolares, as articulações da Igreja local. Um Movimento que, nesses 50 anos, viu realizar-se obras de Deus nas dioceses e nascer muitas vocações na vida sacerdotal, leiga e religiosa.
Nos dias 13 e 14 de dezembro de 2025, ocorreu na cidade uma cerimônia comemorativa com a presença de Margaret Karram e Jesùs Moràn – presidente e copresidente do Movimento dos Focolares – do cardeal Giuseppe Petrocchi, cofundador do Movimento Diocesano com Chiara Lubich, vários bispos, sacerdotes focolarinos e focolarinas do local.
“O relacionamento que tenho com o Movimento Diocesano é positivo porque aqui em Ascoli está muito enraizado”, afirmou o monsenhor Gianpiero Palmieri, bispo da diocese, durante o encontro com Margaret e Jesùs. “Os sacerdotes, leigos, diáconos do Movimento Diocesano contribuem na vida da nossa diocese em sua missão evangelizadora e missionária. O que o Movimento Diocesano pode dar a mais e que dará, no presente e no futuro, é justamente essa contribuição segundo o seu Carisma, que é aquele da unidade, da evangelização com a capacidade de dialogar com todos.”
Na tarde do dia 13 de dezembro, as comunidades do Movimento dos Focolares de Ascoli Piceno, Teramo, Fermo, Pesaro, Macerata e Cuneo – dioceses no norte da Itália, onde o Movimento Diocesano nasceu recentemente, se encontraram. “Sempre me surpreende a vivacidade e a alegria das comunidades de vocês”, afirmou Margaret, “porque vocês souberam ultrapassar as portas das igrejas, das paróquias e formar redes com pessoas e organizações leigas das suas cidades, demostrando coerência na escolha evangélica, multiplicando iniciativas de aproximar-se dos últimos, dos imigrantes, dos marginalizados. Graças à fidelidade de muitos de vocês, hoje podemos dizer que o Movimento Diocesano é uma graça para a Igreja e para a Obra de Maria”. E Jesùs acrescentou: “O Movimento Diocesano é fruto do gênio eclesial de Chiara Lubich. É a capacidade de fazer nascer a Igreja em um grupo de almas da comunidade. Aqui, em Ascoli, vimos e experimentamos isso. Chiara, com seu gênio eclesial, fez nascer uma comunidade, toda a Igreja a serviço da Igreja”.
O Cardeal Giuseppe Petrocchi , conhecido por todos como padre Pino, refez o percurso de algumas etapas do início, colhendo os sinais do Espírito Santo. Depois, acrescentou: “A espiritualidade da unidade que o Senhor deu a Chiara Lubich e seu testemunho oferecem uma intensa luz carismática também para explorar inéditos horizontes teológicos, pastorais e sociais, tendo ao nosso lado a humilde Virgem de Nazaré, como mãe, mestra e modelo. Para ela e com ela elevamos o nosso Magnificat de louvor e reconhecimento. Vocês, hoje, são esse Magnificat”.
Nos vários testemunhos dados por alguns membros das várias comunidades locais, transpirava a experiência da Igreja-comum, do saber colocar laços de caridade entre estruturas e membros das Igrejas locais, entre carismas e ministérios e com todos.
No dia 14 de dezembro, no prestigioso teatro da cidade, houve uma mesa redonda intitulada “O Carisma do Movimento Diocesano na Igreja e na sociedade hoje”. Participaram do evento instituições leigas e religiosas com o prefeito e o bispo, e também alguns representantes de movimentos e associações católicas e de outras Igrejas, e vários cidadãos que desejavam conhecer mais.
O monsenhor Piero Coda,secretário geral da Comissão teológica internacional da Santa Sé, afirmou em sua fala inicial: “O Movimento Diocesano se credita como um original e propicia um tempestivo ‘aterramento elétrico’ da renovação endereçada pelo Concílio a partir do reconhecimento e da valorização da Igreja local, a diocese, como lugar concreto e insubstituível de experiência comunitária do Evangelho no exercício da sua profética encarnação a nível cultural e social. E com o coração e a mente abertos a todos: em sintonia com o espírito do Vaticano II e do carisma da unidade, podem fazer parte do Movimento Diocesano cristãos de outras Igrejas ou Comunidades Eclesiais e podem participar pessoas de outras religiões e pessoas de convicções não-religiosas. Tudo isso não é entusiasmante?”
Portanto, o Movimento Diocesano pode ser uma ponte entre o Evangelho e a cidade e entre seus vários componentes sociais. “É esse o seu alcance hoje”, adicionou Margaret, “cuidar e criar laços, abrir caminhos de missão nas nossas Igrejas e nos muitos contextos civis e cívicos: tudo começa pelo amor recíproco que, se vivido, gera mais comunhão na Igreja, mais fraternidade nos nossos ambientes, mais esperança para o mundo”.
Uma experiência que nasceu há 50 anos não por acaso, mas graças a um percurso que alimentou a alma da comunidade local em Cristo. “Chiara Lubich não fundou o Movimento Diocesano por acaso”, disse Jesùs Moràn. “Ela viu na experiência que estava sendo desenvolvida na Igreja desta cidade (Ascoli) nos anos 70, o timbre indelével da sua alma eclesial, do seu carisma. Chiara pode reconhecer porque aqui, mesmo por meio daquele grupo de sacerdotes e jovens, a Igreja de Ascoli estava experimentando Cristo em si mesma. Assim foi e assim deverá ser sempre”.
O Movimento Diocesano já nos anos 70 estava começando um processo de sinodalidade na Igreja local. E hoje pode e deve ser um instrumento a fim de que o caminho sinodal que a Igreja está percorrendo se transforme em vida nas Igrejas locais. Mas “a sinodalidade da Igreja precisa de mais que preparar aulas doutrinais e palestras existenciais”, afirmou o Cardeal Giuseppe Petrocchi em sua fala. “O Movimento Diocesano nesse sentido pode ser um laboratório onde se aprende a viver essa comunhão assim como o Espírito Santo a desenha diante do nosso olhar na Igreja de hoje.”
“Eu sou um daqueles jovens que conheceram o ideal da unidade do Movimento dos Focolares em Ascoli por meio do Movimento Diocesano”, afirmou Luigino Bruni, economista e docente universitário. “Ia à paróquia porque estava procurando Deus. A experiência daqueles anos, eram cerca de 200 jovens, era muito intensa, rica de idealismo. Não se entrava em um Movimento, mas no futuro da Igreja e do mundo. De Ascoli sentíamos que estávamos mudando a Igreja, o mundo, a economia, tanto que escolhi tudo isso nos anos posteriores.”
“Impressiona ver, no cotidiano do Movimento Diocesano, gerações diversas vivendo e trabalhando juntas para sustentar e contribuir para a vida nas paróquias”, disse Marie Therése Henderson, do focolare de Ancona. “Ver no relacionamento entre leigos e sacerdotes, aquela realidade simples e profética que a Igreja espera: a dimensão da sinodalidade, da unidade, própria da Igreja mesmo.”
As falas foram intercaladas com momentos artísticos de Alessandro Cappella, Enrico Mazzuca, Silvia Capponi, Elena Piermarini, Laura Ubaldi.
O ano de 2025, como todos sabem, foi um ano rico de comemorações e acontecimentos ecumênicos. O encontro do Papa Leão XIV e do Patriarca Bartolomeu, Niceia, com os líderes de diferentes Igrejas e órgãos ecumênicos, seguido pelos vários compromissos em Istambul, testemunhou o desejo e o empenho das Igrejas em continuar o caminho rumo à unidade. Outro acontecimento ecumênico de grande importância, do qual se comemoravam os 60 anos, é a revogação das excomunhões entre Roma e Constantinopla, que aconteceu em sete de dezembro de 1965, por parte do Papa Paulo VI e do Patriarca Athenágoras I; um evento que deu início a uma nova era de relações entre católicos e ortodoxos. Paulo VI e o Patriarca Athenágoras, homens santos, de grande visão e amantes apenas da Vontade de Cristo para a sua Igreja, tiveram a fortaleza de romper a espiral de hostilidade e inimizade, encontrando-se como irmãos, em Jerusalém, em janeiro de 1964; prepararam assim o terreno para a revogação daquelas excomunhões firmadas entre os legados do Papa e do, então, Patriarca de Constantinopla, ainda no ano de 1054. O evento assinalou o começo de um diálogo da caridade que viu os dois pioneiros num constante e crescente empenho, a fim de que as duas Igrejas, católica e ortodoxa, se reconhecessem novamente como Igrejas irmãs.
A Cátedra Ecumênica Patriarca Athenágoras – Chiara Lubich, do Instituto Universitário Sophia, de Loppiano, promoveu um seminário para evidenciar a importância desses eventos. Os trabalhos foram abertos pelas mensagens do Patriarca Bartolomeu de Constantinopla, do Papa Leão XIV, e as assinaturas do cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, e de Margaret Karram, vice grã-chanceler do Instituto e Presidente dos Focolares.
O Papa Leão XIV salientou a importância, não apenas de “refletir sobre o que aconteceu no passado”, mas também de “sugerir novos passos concretos que podemos realizar juntos”.
O Patriarca Bartolomeu, recordando a centralidade da Ressurreição de Cristo para a fé cristã, celebrada na Páscoa, lamentou o fato de ainda raramente celebrarmos esta festa na mesma data, e observou o quanto, ele e Papa Francisco, fizeram para resolver a questão da data comum da Páscoa.
Em sua vídeo-mensagem, Margaret Karram ao olhar para trás, agradecia a Deus pelos milagres realizados, e convidava todos a olharem sempre para frente e a renovar a nossa esperança que a unidade entre as Igrejas se realizará no tempo e no modo que Ele conhece; retomando o pensamento do Patriarca Athenágoras: “A união acontecerá. Será um milagre. Quando? Não o sabemos. Mas devemos preparar-nos. Porque um milagre é como Deus: sempre iminente ”.
As várias intervenções ilustraram os aspectos históricos, espirituais, teológicos e canônicos deste caminho. Pe. Piero Coda, professor e Secretário geral da Comissão Teológica Internacional, membro da Comissão mista para o diálogo entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa e da Comissão dos teólogos para o caminho sinodal, sublinhou como este gesto profético da revogação das excomunhões nos exorta a viver, pensar, dialogar, agir na luz e no amor no qual podemos nos preparar para acolher uns aos outros, no dia abençoado em que o Espírito Santo nos fará transcender – com um milagre do seu amor, sob o olhar suave e forte de Maria, a plena de graça e a ‘Theotokos’ – tudo o que ainda nos separa da plena comunhão entre nós, em Cristo..
Sandra Ferreira Ribeiro, teóloga ecumenista, atual corresponsável do Centro Uno, do Movimento dos Focolares, delineou o contexto histórico que precedeu e preparou a revogação das excomunhões, e os atos que a concretizaram em 1965, inaugurando uma nova atmosfera de diálogo.
Declan O’Byrne, professor e reitor do Instituto Universitário Sophia, titular da cátedra ecumênica do Instituto, evidenciou a importância de que a profissão de fé, proclamada em Niceia, torne-se uma realidade vivida por meio da caridade entre todos os cristãos, e o compromisso na busca de uma clareza teológica.
O metropolita Maximos Vgenopoulos di Selyvria, titular da cátedra ecumênica e membro da Comissão mista internacional para o Diálogo entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, ilustrou o tema Primazia e Sinodalidade no segundo milênio e hoje, assunto do último documento da Comissão mista de Diálogo, que se reuniu em Alexandria do Egito, em junho de 2023, concluindo que, enquanto as duas Igrejas procedem “no amor e na verdade” rumo à unidade, o documento abre caminhos e perspectivas positivas para o futuro, com relação à autêntica compreensão da Primazia e da Sinodalidade, especialmente no contexto das discussões oficiais em curso, sobre a sinodalidade dentro da Igreja Católica romana.
Dimitrios Keramidas, professor de ecumenismo e teologia ortodoxa no Instituto Angelicum de Roma, recordou que a partilha da benção comum do Papa e do Patriarca ecumênico no Fanar, a recitação do Pai Nosso e a oração ecumênica feita em Niceia, foram ulteriores sinais do reconhecimento da eclesialidade das duas Igrejas: uma partilha espiritual verdadeira e visível.
Augustinos Bairachtaris, professor associado de estudos ecumênicos na Academia eclesiástica patriarcal de Creta, enfatizou a necessidade de uma teologia da cruz, e o espírito de metanoia que devem sempre acompanhar o diálogo ecumênico.
O pianista, Pe. Carlo Seno, com uma peça musical de rara beleza, evidenciou a harmonia que a unidade buscada pelas Igrejas representa.
A realização do Seminário colocou em luz o papel irrenunciável que pode ter a Cátedra ecumênica Patriarca Athenágoras – Chiara Lubich ao promover o ecumenismo e o crescente conhecimento mútuo e apreço dos cristãos uns pelos outros, considerando a exortação do Papa Leão XIV e do Patriarca Bartolomeu, em sua declaração conjunta: “Exortamos vivamente todos os fiéis de nossas Igrejas, e em particular o clero e os teólogos, a acolherem com alegria os frutos alcançados até agora, e a comprometerem-se com o seu constante incremento”.
Sandra Ferreira Ribeiro (Centro “Uno” per l’unità dei cristiani)
O Centro Evangelii Gaudium (CEG) iniciará em breve um novo curso sobre a Sinodalidade. Quais são as novidades para este ano?
Estamos em uma nova fase do processo sinodal. Depois dos primeiros 3 anos que culminaram na Assembleia de outubro de 2024, agora entramos na chamada fase de implementação. De fato, no dia 15 de março de 2025, o Papa Francisco aprovou o início de um processo de acompanhamento da fase de implementação por parte do Secretariado Geral do Sínodo. Esse processo envolve todos, desde as dioceses até as associações leigas, movimentos eclesiais e novas comunidade.
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É por esse motivo que decidimos lançar um novo curso, intitulado Práticas para uma Igreja sinodal como uma contribuição concreta para a implementação do processo sinodal. Temos a convicção de que a prática da sinodalidade é muito mais do que uma tentativa de tornar a Igreja mais participativa, é um novo paradigma da existência eclesial. Não apenas isso, nos parece que não se trata só de um fato religioso. Nossas sociedades estão mudando radicalmente e, todos estão vendo, a verdade, os valores fundamentais, o comprometimento recíproco estão cedendo espaço para a lei da selva. Por outro lado, a nível local e regional, estão emergindo novas ideias que revelam paralelismos com o processo sinodal na sociedade civil. Acreditamos que o processo sinodal no qual a Igreja está empenhada poderia também ser uma contribuição válida neste momento histórico para toda a sociedade.
Este ano, queremos nos identificar com esses aspectos, oferecendo um aprofundamento no processo corrente, procurando descobrir novas pistas e instrumentos para encarnar a sinodalidade nas realidades em que vivemos, como nos convida o Documento final do Sínodo e o documento seguinte da Secretaria de julho passado, Pistas para a fase de implementação do Sínodo. Temos certeza de que se trata de um caminho no qual o protagonista é o Espírito Santo e que antes de tudo devemos nos abrir a Ele e deixar que seja Ele a guiar a história, tanto a nossa pessoal, como aquela da Igreja e da humanidade.
O tema da “Sinodalidade” foi central durante os anos do pontificado de Francisco. De que modo estão prosseguindo nesse caminho com o Papa Leão XIV?
Maria do Sameiro Freitas
No último dia 08 de maio, em sua primeira mensagem ao povo de Deus, no dia de sua eleição, o Papa Leão desenhou um programa: A todos vocês, irmãos e irmãs de Roma, da Itália, de todo o mundo: queremos ser uma Igreja sinodal, uma Igreja que caminha, uma Igreja que procura sempre a paz, que procura sempre a caridade, que procura sempre estar perto especialmente daqueles que sofrem.
E em diversas circunstâncias, em particular no dia 26 de junho, aos membros do Conselho ordinário da Secretaria geral do Sínodo, reafirmou: E a herança que nos deixou (Papa Francisco) me parece que é sobretudo esta: que a sinodalidade é um estilo, um comportamento que nos ajuda a ser Igreja, promovendo experiências autênticas de participação e comunhão.
Parece claro que a linha seja aquela de seu predecessor, com a convicção de que a sinodalidade é intrínseca à Igreja. É significativo também o próximo Jubileu das equipes sinodais e organismos de participação que acontecerá de 24 a 26 de outubro no Vaticano. São esperados mais de 2.000 participantes aos quais o Papa dirigirá uma mensagem no dia 24 à tarde. Será mais um passo para ir decisivamente adiante, todos em grupo no mundo.
Qual é a estrutura desse curso? Para quem se dirige?
Desta vez, o curso será online, em italiano, com tradução para 3 línguas: inglês, português e espanhol. Como conteúdo, se partirá do Documento Final do Sínodo e das Pistas para sua implementação, procurando descobrir Novos Percursos para uma prática sinodal e como implementá-las nos diversos contextos em que cada um se encontra.
Depois, daremos instrumentos práticos para implementar o processo sinodal, como o método da facilitação, a prestação de contas, a avaliação e a verificação.
As boas práticas já em andamento serão destacadas, com uma partilha a nível internacional. Tudo com a convicção de que o processo sinodal não é uma técnica, mas sim uma experiência de abertura aos irmãos e irmãs, que abre a possibilidade da presença de Jesus entre os seus (Mt 18:20) e, à luz dessa presença, ficamos à altura de escutar o Espírito.
Em cada aula, haverá a possibilidade de uma partilha entre os estudantes, seja de boas práticas seja de reflexões ou sugestões.
Na conclusão, haverá um laboratório em abril no qual colocaremos em prática o que aprendemos durante o ano.
O curso começará no dia 03 de novembro com uma aula especial confiada à Secretaria geral do Sínodo e com a participação de Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, que esteve presente nas duas Assembleias sinodais. Esse momento é aberto a todos.
Pessoas de todas as vocações, tanto leigas como sacerdotes, religiosos e consagrados, pessoas empenhadas em nível eclesial e civil estão se inscrevendo. Há muitos estudantes dos anos anteriores, mas também temos muitas novas inscrições de diversos países.
Considerando os anos anteriores, o que vocês esperam?
Esperamos que seja uma contribuição para a implementação do processo sinodal nos vários ambientes em que os participantes vivem.
Nos anos anteriores, vimos que diversos estudantes se empenharam em nível de diocese, paróquia, associações, para colocar em prática o que aprenderam; outros foram multiplicadores de ideias em universidades, escolas…
Temos uma ampla gama de participantes de diversos países, das Filipinas ao Canadá, da África do Sul à Suécia. A troca de boas práticas poderá dar ideias novas, impulsos decisivos para levar adiante o processo sinodal, para o bem da Igreja e da sociedade.
“Que as religiões não sejam usadas como armas ou muros, mas que sejam vividas como pontes e profecia: tornando realidade o sonho do bem comum, acompanhando a vida, sustentando a esperança e tornando-se fermento de unidade em um mundo fragmentado.”
Foram essas as palavras finais pronunciadas pelo Papa Leão XIV no vídeo gravado para as intenções de oração de outubro de 2025, dedicadas especificamente à “colaboração entre as diversas tradições religiosas”. No mês em que se celebra o 60º aniversário do documento Nostra Aetate (em tradução livre No nosso tempo), sobre as relações entre a Igreja e as religiões não-cristãs, o Pontífice, ao exortar e reconhecer-nos “como irmãos e irmãs chamados a viver, orar, trabalhar e sonhar juntos”, delineia à perfeição os pontos centrais dessa declaração, filha do Vaticano II, revelando sua grande importância e atualidade.
O espírito de renovação conciliar abriu caminhos desconhecidos, forneceu novos olhares sobre muitas coisas e, nessas seis décadas, a Nostra Aetate certamente guiou e inspirou os passos para proceder no caminho do diálogo, motivando primeiramente o conhecimento e, depois, o acolhimento entre as várias religiões.
Por essa razão, o Dicastério pelo Diálogo Interreligioso convida para uma Celebração comemorativa para refletir sobre a herança de “Nostra Aetate” no dia 28 de outubro, das 18h30 às 20h30, na Sala Paulo VI (Cidade do Vaticano), na presença do Santo Padre. O evento poderá ser seguido pelos canais do Vatican Media.
A Igreja, como se lê no documento, ““em seu dever de promover a unidade e a caridade entre os homens e os povos, em primeiro lugar examina aqui tudo aquilo que os homens têm em comum e que os impulsiona a viver juntos seu destino comum. Os vários povos constituem, de fato, uma só comunidade”.
E uma revelação aquela de viver como “uma única família humana” que Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, acolheu profundamente. O Movimento, de fato, fundado sobre uma profunda espiritualidade centrada na unidade entre todos os seres humanos, se empenha em várias formas de diálogo, entre eles, também o interreligioso. Há mais de cinco décadas, estabelece, por meio de seu Centro para o Diálogo Interreligioso (CDI) e seus centros presentes nos países, relacionamentos intensos e fraternos de diálogo com milhares de fieis e muitas instituições, associações, movimentos e organizações das mais diversas religiões com a convicção de que a amizade entre pessoas de diferentes crenças seja um potencial vital para a construção da fraternidade universal.
A seguir, compartilhamos um breve vídeo que conta a intuição de Lubich e o percurso levado adiante no caminho do diálogo.
Maria Grazia Berretta Foto: Una sessione del Concilio Vaticano II
Durante a segunda metade do mês de setembro de 2025, ocorreu no Centro Mariápolis de Castel Gandolfo (Roma) o encontro do Conselho Geral do Movimento dos Focolares com os delegados e delegadas das 15 regiões geográficas do mundo. “Um olhar para a nossa história” era o título de uma sessão na qual, entre outras contribuições e momentos de comunhão, foi contada a experiência significativa e muito dolorosa vivida pelo Movimento Regnum Christi por meio do testemunho de Eugenia Álvarez, uma de suas consagradas e membro do Conselho Geral atual. Eugenia doou aos participantes uma leitura, à luz do Evangelho, de algumas fases particularmente turbulentas do caminho do movimento deles e, ao mesmo tempo, o percurso seguinte de renovação que levou a uma retomada do entusiasmo e da vocação.
“Para poder descobrir como somos chamados a viver o presente, precisamos nos conectar com nossos desejos profundos, ler a história através da qual Deus nos constituiu e descobrir a realidade concreta em que nos encontramos: as pessoas que somos, as circunstâncias em que vivemos”, disse com relação ao discernimento sobre a realidade a ser vivida, que é fruto do equilíbrio entre desejos e história.
Depois da sua experiência, pudemos entrevistá-la. Foi isso que ela nos disse:
Ativar legendas em português – O original está em espanhol
Eugenia Álvarez é venezuelana, consagrada do Regnun Christi deste 1999. É formada em Educação e Desenvolvimento na Universidade Anáhuac, no México, e em Ciências Religiosas no Ateneu Pontifício Regina Apostolorum, em Roma. Além disso, estudou teologia espiritual no “Centre Sèvres”, em Paris, França. Fez cursos na Espanha para se tornar “Especialista em Exercícios Espirituais” e “Teologia da vida consagrada”. Atualmente é Conselheira Geral da sociedade de Vida Apostólica: “Consagradas do Regnum Christi”.
Dilexi te, “eu te amei” (Ap 3:9) é a declaração de amor que o Senhor faz a uma comunidade cristã que, diferentemente de outras, não tinha nenhum recurso, era particularmente desprezada e exposta à violência e é, ao mesmo tempo, a citação que dá título à primeira Exortação apostólica do papa Leão XIV, assinada no dia 04 de outubro, festa do Santo de Assis. O documento retoma o tema aprofundado pelo papa Francisco na Encíclica Dilexit nos, sobre o amor divino e humano do Coração de Cristo, e é um projeto que o pontífice atual tomou como seu, compartilhando com o predecessor o desejo de fazer com que compreendam e conheçam o vínculo entre aquela que é a nossa fé e o serviço aos vulneráveis; o laço indissolúvel entre o amor de Cristo e o seu chamado a estarmos perto dos pobres.
Na conferência de imprensa de apresentação da «Dilexi te» intervieram (da esquerda): Fr. Frédéric-Marie Le Méhauté, Provincial dos Frades Menores da França/Bélgica, doutor em teologia; Em.mo Card. Konrad Krajewski, Prefeito do Dicastério para o Serviço da Caridade; Em.mo Card. Michael Czerny S.J., Prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral; p.s. Clémence, Pequena Irmã de Jesus da Fraternidade das Três Fontes de Roma (Itália).
São 121 os pontos nos quais o “fazer experiências” de pobreza vai bem além da filantropia. “Não estamos no horizonte da beneficência”, afirma o papa agostiniano, “mas no da Revelação: o contato com quem não tem poder nem grandeza é um modo fundamental de encontro com o Senhor da história. Nos pobres, Ele ainda tem algo a dizer-nos” (5).
Leão XIV convida a refletir sobre as várias faces da pobreza: a de “quem não tem meios de sustento materiais”, de “quem é marginalizado socialmente”; a pobreza “moral”, “espiritual”, “cultural”; a pobreza “de quem não tem direitos, não tem espaço, não tem liberdade” (9). Mas nenhum pobre, continua, existe “por acaso ou por um cego e amargo destino” (14). “Os pobres são uma garantia evangélica de uma Igreja fiel ao coração de Deus” (103).
“Logo dizemos que não é fácil para a Igreja e para os papas falar de pobreza. Porque, em primeiro lugar, o modo e a essência da pobreza da Igreja não são aqueles da ONU nem dos Estados. A palavra pobreza”, nos explica o professor Luigino [TY1] Bruni, economista e historiador do pensamento econômico, Professor de Economia Política na Lumsa (Roma) e diretor científico de Economy of Francesco, “tem no cristianismo um espectro muito amplo, que vai além da pobreza má, porque não foi escolhida e suportada, até a pobreza evangélica, a aqueles pobres que Jesus chamou de ‘bem-aventurados. A Igreja deveria se mover dentro deste espectro amplo porque, se deixa de fora uma das duas formas de pobreza, sai do Evangelho”.
O documento denuncia de forma particular a falta de equidade, definindo-a como raiz dos males sociais (94), assim como o agir de sistemas político-econômicos injustos. A dignidade de todas as pessoas deve ser respeitada agora, não amanhã (92) e, não por acaso, durante a coletiva de imprensa de apresentação, que ocorreu no Vaticano no dia 09 de outubro de 2025, o cardeal Michael Czerny S.J., prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, com referências específicas ao texto, refletiu muito sobre aquelas que são definidas como ‘estruturas do pecado’: “o egoísmo e a indiferença se consolidam nos sistemas econômicos e culturais. A economia que mata (3) mede o valor humano em termos de produtividade, consumo e lucro. Essa ‘mentalidade dominante’ torna aceitável o descarte dos fracos e improdutivos, e merece, portanto, a etiqueta de ‘pecado social’”.
“Este é um tema antigo da doutrina social da Igreja”, acrescenta a tal propósito o professor Bruni, “e, ainda antes, dos Padres e de muitos carismas sociais, sem falar dos franciscanos. Nessas passagens, se sente a mão do papa Francisco e o espírito de São Francisco (64), mas também de carismas mais recentes – foi o padre Oreste Benzi que falou por primeiro das ‘estruturas do pecado’ –, até a Economia de Comunhão e a Economy of Francesco. Também é importante a referência – ainda em plena continuidade com o papa Francisco – à meritocracia, definida como uma ‘falsa visão’ (14). A meritocracia é uma falsa visão, porque atribui primeiro muitas pobrezas ao demérito dos pobres, e os pobres desmerecidos são definidos também como culpados. A ideologia meritocrática é uma das principais ‘estruturas de pecado’ (90) que geram exclusões e tentam legitimá-la eticamente. As estruturas de pecado são materiais (instituições, leis…) e imateriais como as ideias e as ideologias”.
Prof. Luigino Bruni
O documento volta naturalmente um olhar ao tema das migrações – Robert Prevost toma para si os famosos “quatro verbos” do papa Francisco: acolher, proteger, promover e integrar – sem esquecer as mulheres entre as primeiras vítimas de violência e exclusão; destaca a importância da educação para a promoção do desenvolvimento humano integral, o testemunho e a ligação com a “pobreza” de tantos santos, beatos e ordens religiosas e propõe um retorno à esmola como caminho para poder realmente “tocar a carne sofredora dos pobres” (119).
Em Dilexi te, o papa Leão nos “exorta” a mudar de rota, pensar nos pobres não como um problema da sociedade nem, muito menos, unicamente como “objeto da nossa compaixão” (79), mas como atores reais a quem podemos dar voz e “mestres do Evangelho”. É necessário que “todos nos deixemos evangelizar pelos pobres. Isso”, escreve o papa, “é uma questão familiar. São nossa família”. Portanto “o relacionamento com eles não pode ser reduzido a uma atividade ou a um ofício da Igreja” (104).
“Levar a sério a pobreza evangélica significa”, acrescenta Luigino Bruni, “mudar o ponto de vista, fazer Metanoia, diziam os primeiros cristãos. E hoje, tentar responder a algumas perguntas radicais: como chamar de ‘bem-aventurados’ os pobres quando os vemos como vítimas da miséria, abusados pelos mais fortes, morrendo em meio ao mar, procurando comida no lixo? Que bem-aventuranças conhecem? Por essa razão, muitas vezes os primeiros e mais severos críticos dessa primeira bem-aventurança foram e são justamente aqueles que passam a vida ao lado dos pobres, sentados junto deles, para liberá-los de sua miséria. Os maiores amigos dos pobres acabam, paradoxalmente, tornando-se os maiores inimigos da primeira bem-aventurança. E nós devemos entendê-los e agradecê-los por esse escandalizar-se. E, depois, tentar impulsionar o discurso para terrenos novos e audaciosos, sempre paradoxais. E quantos ‘ricos epulões’ encontraram na bem-aventurança dos pobres um álibi para deixar Lázaro (Lucas 16:19,31) bem-aventurado na sua condição de provação e miséria e, talvez, autodefinindo-se “pobres de espírito” porque davam as migalhas aos pobres?! Deve haver algo estupendo naquele ‘bem-aventurados os pobres’. Não entendemos mais, porém procuramos ao menos não diminuir sua profecia paradoxal e misteriosa. Papa Leão procurou nos indicar algumas dimensões dessa beleza paradoxal da pobreza, sobretudo nos longos parágrafos dedicados à fundação bíblica e evangélica, mas ainda há muito para se descobrir e dizer. Espero que os futuros documentos pontífices incluam também o magistério leigo sobre a pobreza, que há pelo menos 50 anos nos é doado por personagens como A. Sen, M. Yunus ou Ester Duflo, ganhadores do Prêmio Nobel de Economia. Esses estudiosos, com muitos outros, nos ensinaram que a pobreza não é a falta de dinheiro ou de receita (fluxo), mas a falta de capitais (stock) – sanitários, educativos, sociais, familiares, capacitações… – que depois se manifesta em uma carência de receita; mas é só trabalhando com capitais hoje que amanhã poderemos fazer os pobres saírem das armadilhas da pobreza. Como nos explicou Sen, a pobreza é se encontrar na impossibilidade objetiva de ‘poder desenvolver a vida que gostaríamos de viver’, e é, portanto, uma falta de liberdade. Os carismas sempre intuíram isso, e nas missões e, ainda antes, na Europa e em qualquer lugar encheram o mundo de escolas e hospitais, para melhorar os ‘capitais’ dos pobres. Também a esmola, da qual o papa Leão fala no final (76), vai orientada em ‘conta capital’, e não dispersa em ajudas monetárias que acabam muitas vezes aumentando a pobreza que gostaríamos de reduzir. A Dilexi te é um ponto de partida, para um caminho ainda longo dos cristãos no terreno ainda em parte desconhecido da pobreza – daquela difícil de reduzir e daquela bela do evangelho a ser aumentada.”