De 4 a 6 de junho de 2025, na véspera do Jubileu dos Movimentos – que reuniu diversas realidades eclesiais na Praça de São Pedro, convocadas pelo Papa Leão XIV –, realizou-se no Vaticano o Encontro Anual com moderadores das associações de fiéis, dos movimentos eclesiais e das novas comunidades, do qual participou também o Movimento dos Focolares. Reunir os carismas para cooperar com o caminho de unidade na Igreja é o desejo comum, que inspirou os diversos participantes em um momento histórico que nos apresenta um mundo extremamente dilacerado e polarizado. Compartilhamos a seguir algumas entrevistas com Presidentes e Fundadores, os quais ressaltam a profunda exigência de se sentirem irmãos nesse percurso e, ao mesmo tempo, a gratidão por colocarem-se a serviço, todos juntos, para fortalecer a esperança.
Não sei se já aconteceu com vocês, mas, às vezes, depois de um grande incêndio nos bosques, quando tudo está queimado, deserto, coberto de cinzas, sem vida, enxergamos uma pequena planta nascendo. Exatamente lá onde tudo parecia morto. Quando eu percebo isso tenho uma maravilhosa sensação: lá onde a vida parecia ter acabado a natureza é mais forte. Cresce, vence, vive, mesmo quando pareceria impossível. É nesses momentos que entendo o quanto é maravilhoso viver num planeta capaz de se regenerar, não obstante as feridas.
Mas até quando conseguirá fazê-lo?
No dia 2 de julho passado foi publicada a Mensagem do Santo Padre Leão XIV para o X Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, que será celebrado na segunda-feira, 1º de setembro de 2025, com o título Sementes de Paz e de Esperança. Que herança extraordinária nos deixou o Papa Francisco com a sua Encíclica Laudato sì, publicada dez anos atrás, tão atual, importante, preciosa. E me parece muito belo que o Papa Leão acolha plenamente essa herança, anunciando o mês dedicado ao Cuidado da Criação (1º de setembro a 4 de outubro), que começa com este dia de oração.
Mas, o que esta mensagem traz de concreto?
Retornando ao exemplo do incêndio no bosque, Leão XIV relembra que a semente “entrega-se inteiramente à terra e aí, com a força impetuosa do seu dom, a vida germina, mesmo nos lugares mais inesperados, numa surpreendente capacidade de gerar um futuro”. Dirige-se, então, a todos nós, habitantes deste mundo, recordando-nos que “em Cristo somos sementes”. E não só, somos “sementes de Paz e de Esperança”.
Um convite forte e claro para viver ,do dia 1º de setembro ao dia 4 de outubro, a iniciativa ecumênica “Tempo da Criação”: um mês para começar a inventar, preparar, atuar, para colocar cada vez mais a atenção no cuidado da nossa “casa comum”, onde todos habitamos, independentemente das nossas diferenças. “Junto à oração, são necessárias vontades e ações concretas que tornem perceptível esta “carícia de Deus” sobre o mundo”, afirma Papa Leão. E ainda: “Parece ainda haver uma falta de consciência de que a destruição da natureza não afeta todos da mesma forma: espezinhar a justiça e a paz significa atingir principalmente os mais pobres, os marginalizados, os excluídos. (…) Trabalhando com dedicação e ternura, muitas sementes de justiça podem germinar, contribuindo para a paz e a esperança”.
Cada um é chamado a participar: individualmente ou em grupo, nas associações, nas organizações, nas empresas… por que não? Cada um com as próprias ideias, o próprio comprometimento.
Na sua mensagem, Papa Leão XIV escreve: “A Encíclica Laudato sì acompanha a Igreja Católica e muitas pessoas de boa vontade há dez anos: que ela continue a inspirar-nos, e que a ecologia integral seja cada vez mais escolhida e partilhada como caminho a seguir. Assim se multiplicarão as sementes de esperança, a serem “guardadas e cultivadas” com a graça da nossa grande e indefectível Esperança, Cristo Ressuscitado”.
E o que faz o Papa? É o primeiro a começar promovendo estas iniciativas. Institui, pela primeira vez na história da Igreja, a “Missa para o Cuidado da Criação”, oficializada por meio do Decreto sobre a Missa pro custodia creationis. Papa Leão XIV utilizou este novo formulário já no dia 9 de julho de 2025, durante uma S. Missa privada que celebrou no Borgo Laudato Sì, nos dias de sua permanência em Castel Gandolfo (Roma). De agora em diante, portanto, qualquer pessoa poderá pedir que seja celebrada uma Missa com esta intenção, a de sermos protetores fieis daquilo que Deus nos confiou: nas nossas escolhas cotidianas, nas políticas públicas, na oração, no culto e no modo em que habitamos o mundo.
O título Sementes de Paz e de Esperança surge hoje como uma profecia desarmante. Talvez sejam as duas únicas palavras que, neste tempo tão escuro para a humanidade, continuam a ter um sentido. São as palavras que nos permitem recomeçar, semear, acreditar que aquela erva verde continuará a crescer até lá onde a terra parece seca e morta. Ações como estas me ajudam a entender que todas as Igrejas não mudam de ideia sobre questões essenciais para a vida da humanidade. E, mais do que tudo, não deixam de pensar no futuro das novas gerações.
De 4 a 6 de junho de 2025, na véspera do Jubileu dos Movimentos – que reuniu diversas realidades eclesiais na Praça de São Pedro, convocadas pelo papa Leão XIV –, realizou-se no Vaticano o Encontro Anual com moderadores das associações de fiéis, dos movimentos eclesiais e das novas comunidades, do qual participou também o Movimento dos Focolares. Reunir os carismas em vista da cooperação no caminho de unidade na Igreja é o desejo comum, que inspirou os diversos participantes em um momento histórico, o qual nos apresenta um mundo extremamente dilacerado e polarizado. Compartilhamos, a seguir, algumas entrevistas com Presidentes e Fundadores. Eles ressaltam a profunda exigência de se sentirem irmãos nesse percurso e, ao mesmo tempo, a gratidão por colocarem-se a serviço, todos juntos, a fim de fortalecer a esperança.
Ouçamos Chiara Amirante, fundadora da Comunidade Nuovi Orizzonti
De 4 a 6 de junho de 2025, na véspera do Jubileu dos Movimentos – que reuniu diversas realidades eclesiais na Praça de São Pedro, convocadas pelo Papa Leão XIV –, realizou-se no Vaticano o Encontro Anual com moderadores das associações de fiéis, dos movimentos eclesiais e das novas comunidades, do qual participou também o Movimento dos Focolares. Reunir os carismas para cooperar com o caminho de unidade na Igreja é o desejo comum, que inspirou os diversos participantes em um momento histórico que nos apresenta um mundo extremamente dilacerado e polarizado. Compartilhamos a seguir algumas entrevistas com Presidentes e Fundadores, os quais ressaltam a profunda exigência de se sentirem irmãos nesse percurso e, ao mesmo tempo, a gratidão por colocarem-se a serviço, todos juntos, para fortalecer a esperança.
Vamos ouvir André Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio.
Assistindo a transmissão direta da Vigília em Tor Vergata, na periferia de Roma, e vendo aquelas imagens de uma imensa multidão, pode surgir uma pergunta: o que esse milhão de jovens veio buscar aqui? Estar perto do Papa Leão? Não parece uma motivação suficiente. Conhecer Roma? Pode ser, mas certamente não teriam escolhido essas condições de alojamento, alimentação e transporte. Mas a resposta se encontra no silêncio profundo e prolongado, durante a hora de adoração. Esses jovens vindos do mundo inteiro, foram atraídos por Jesus, até mesmo sem sabê-lo, pode acontecer, para este encontro pessoal e comunitário, onde, sem nenhuma dúvida, Ele falou ao coração de cada um que volta para casa transformado, com uma fé mais sólida, com uma experiência de divino que nunca esquecerá.
Imagem de TV
A semana do Jubileu, dedicada aos jovens, começou no dia 28 de julho e concluiu-se no domingo, 3 de agosto de 2025. Foram organizadas inúmeras atividades para receber quem chegava à Roma para passar estes dias: visitas aos lugares históricos, às Basílicas, eventos culturais, concertos, catequeses.
Inclusive o Movimento dos Focolares propôs quatro percursos especiais em Roma, seguindo a Peregrinação das Sete Igrejas, idealizada por São Felipe Neri: um itinerário histórico que acompanhou peregrinos desde o século XVI. Um caminho de fé e comunhão fraterna, feito de oração, cantos e reflexões sobre a vida cristã, com atividades de grupo, catequeses e testemunhos, ajudados por um libreto de meditações, para um aprofundamento espiritual à luz do carisma da unidade. O grande grupo que aderiu à proposta era composto de jovens de língua inglesa, húngara, holandesa, italiana, alemã, romena, coreana, espanhola e árabe.
Toda a “viagem” teve como base quatro ideias-chave: peregrinação (um caminho), porta santa (uma abertura), esperança (olhar para frente), reconciliação (gerar paz).
“Esperança” é a palavra que ecoou no testemunho de Samaher, jovem síria, de 28 anos: “Os anos da minha infância foram dolorosos, escuros e solitários. A casa não era um lugar seguro para uma menina por causa dos conflitos, e nem a sociedade, por causa do bulismo. Enfrentava tudo sozinha, sem poder compartilhar com ninguém, chegando a tentativas secretas de suicídio, devido à forte depressão e do medo. O Evangelho me transformou, depois que a vida se tinha apagado e tudo era escuro dentro de mim… ele me restituiu a luz”.
As catequeses foram realizadas no Focolare meeting point, feitas por Tommaso Bertolasi (filósofo), Anna Maria Rossi (linguista) e Luigino Bruni (economista). “Um olhar que parte do amor e suscita amor, não é o rosto mais concreto da esperança?”, foi a pergunta provocatória dirigida por Anna Maria Rossi aos jovens peregrinos.
José, 18 anos, do Panamá, confirmou isso em seu testemunho, falando do período de sua doença: “A minha experiência demonstra que, quando você coloca em prática a arte de amar, que significa ver Jesus em todos, amar a todos, amar os inimigos, amar como a si mesmo, amar-nos reciprocamente… isso não apenas muda a sua vida, mas muda também a vida de outros. Justamente essa arte de amar, que muitas pessoas compartilharam comigo, criou um equilíbrio tão forte que me ajudou a não desabar nos momentos difíceis, sustentando-me e dando forças diante de cada obstáculo que encontrei”.
Também Laís, do Brasil, não escondeu os desafios encontrados com a separação de seus pais: “Houve momentos em que eu não entendia porque viviam separados, e queria que estivessem juntos novamente. Contudo, quando tive uma consciência maior do que havia acontecido entre eles, pude fazer perguntas sinceras, e nenhum dos dois escondeu a verdade. Isso me ajudou a aceitar a realidade da nossa família. Hoje eles têm uma relação de amizade e, para mim, este é um exemplo de maturidade, perdão e amor verdadeiro, que supera as dificuldades e os erros. Recomeçar é possível quando realmente nos deixamos envolver”.
Em vários momentos, o Papa Leão fez intervenções e saudações fora do programa, como quando, na conclusão da Missa de boas-vindas, quis se fazer presente, percorrendo, no “papamóvel”, toda a Praça de São Pedro e a Via da Reconciliação, lotada de jovens. Falando de improviso, ele disse: “Esperamos que todos vocês sejam sempre sinais de esperança. (…) Caminhemos juntos com a nossa fé em Jesus Cristo e o nosso grito deve ser também pela paz no mundo”.
No sábado, 2 de agosto, enquanto a natureza presenteava um pôr do sol maravilhoso, respondendo às perguntas dos jovens, em Tor Vergata, O Papa reafirmou o seu apelo: “Queridos jovens, queiram-se bem entre vocês! Querer-se bem em Cristo. Saber ver Jesus nos outros. A amizade pode verdadeiramente mudar o mundo. A amizade é um caminho para a paz ”. E acrescentou: “Para ser livres é preciso partir do alicerce estável, da rocha que sustenta os nossos passos. Esta rocha é um amor que nos precede, nos surpreende e nos supera infinitamente: é o amor de Deus. (…) Encontramos a felicidade quando aprendemos a doar a nós mesmos, a doar a vida pelos outros”. E indicou o caminho para seguir Jesus: “Vocês querem realmente encontrar o Senhor Ressuscitado? Escutem a sua palavra, que é Evangelho de salvação! Busquem a justiça, renovando o modo de viver, para construir um mundo mais humano! Sirvam o pobre, testemunhando o bem que queremos sempre receber do próximo!”.
Na Santa Missa de domingo, o Papa Leão disse aos jovens que somos feitos “para uma existência que se regenera constantemente na doação, no amor. E assim aspiramos continuamente a algo ‘a mais’, que nenhuma realidade criada nos pode dar; sentimos uma sede grande e avassaladora, a tal ponto que nenhuma bebida deste mundo a pode extinguir”. E concluiu a homilia com um convite de coração: “Queridos jovens, a nossa esperança é Jesus. (…) Aspirem a coisas grandes, a santidade, em qualquer lugar onde estejam. Não se contentem com menos”.
Na saudação final definiu estes dias “uma cascata de graça para a Igreja e para o mundo inteiro”. Reafirmando ainda o seu grito pela paz: “Estamos com os jovens (…) de cada terra ensanguentada pelas guerras. (…) Vocês são o sinal que um mundo diferente é possível: um mundo de fraternidade e amizade, onde os conflitos são enfrentados não com as armas, mas com o diálogo”.
Um companheiro ao teu lado
Conclui-se a experiência única e irrepetível do Jubileu dos Jovens 2025. Nesta viagem incrível nós caminhamos, cantamos, caminhamos, dançamos, nos alegramos, caminhamos, rezamos, rimos e caminhamos… arrastados por um objetivo comum a tantos companheiros de viagem. Sim, porque além do programa fantástico que nos enriqueceu culturalmente e espiritualmente, ficará para sempre impressa nos nossos olhos a imagem de milhares de jovens, como nós, que caminhavam. Talvez, se tivéssemos perguntado a algum deles qual era o seu objetivo, teria respondido algo como: “estamos indo à igreja de Santa Maria Maior”, ou “finalmente vamos descansar…”, mas estou convicto que, se tivéssemos perguntado como estavam fazendo aquilo, teriam contado, com olhos cheios de energia, sobre as canções que cantaram, os jovens com quem fizeram amizade e a plenitude de espírito que estas caminhadas deram a eles. No fundo, para nós o Jubileu foi isso, um caminho como nenhum outro, numa cidade como nenhuma outra,
onde unem-se sonhos, esperanças, alegrias e dores de um mar de pessoas, onde, se você caminha sozinho de qualquer forma tem um companheiro ao seu lado, onde o mundo é contemporaneamente minúsculo e imenso, onde tudo grita unidade. Voltamos para casa com uma recordação que não se apagará facilmente, a recordação de um Mundo Unido que se toma pela mão e caminha, com a cabeça erguida e o coração cheio de um espírito maior.