Ago 1, 2025 | Ideia do Mes
O “coração” é o núcleo mais íntimo e autêntico, o centro unificador da pessoa, que dá sentido a tudo o que ela vivencia. É o lugar de desejos e escolhas vitais que norteiam a existência. É o lugar da sinceridade, onde não há espaço para engano nem para dissimulação. Geralmente indica as verdadeiras intenções, aquilo que realmente se pensa, se acredita e se deseja.
Essa ideia nos convida a nos perguntarmos: qual é a realidade que mais me importa? Onde coloco a minha esperança, as minhas energias, a minha vida, o meu coração? A resposta pode assumir várias conotações, como o amor, o dom, o relacionamento com os outros, mas também o padrão econômico, a fama, o sucesso, o poder ou as próprias certezas.
A verdadeira liberdade começa no coração. Assim como os bens exclusivamente materiais se acumulam, eles também podem desaparecer devido às mudanças dos acontecimentos da vida. O desapego deles pode nos ajudar a viver nosso trabalho e nosso compromisso diário na sociedade com mais transparência, superando a ansiedade, a inquietação e o medo do futuro.
“Hoje – afirma o papa Francisco – tudo se compra e se paga, e parece que o próprio sentido da dignidade depende de coisas que se podem obter com o poder do dinheiro. Somos instigados a acumular, a consumir e a distrairmo-nos, aprisionados por um sistema degradante que não nos permite olhar para além das nossas necessidades imediatas”. [1]
A experiência nos diz que é preciso retornar continuamente à vida verdadeira, que é o melhor “investimento” pelo qual nos empenharmos. Não pensar em nós mesmos, mas nos outros, experimentando assim a verdadeira liberdade.
O filósofo e humanista Erich Fromm nos lembra disso quando afirma: “Dar é a mais alta expressão de poder. No próprio ato de dar, experimento minha força, minha riqueza, meu poder. Essa experiência de maior vitalidade e poder me enche de alegria”.[2]
Perguntemo-nos antes de cada ação: qual é a razão que me lleva a agir assim? E sepercebermos que precisamos reorientar a nossa intenção, façamos isso de forma decisiva.Veremos que o nosso coração se libertará das amarras e dos condicionamentos.
[1]Papa Francesco “Dilexit Nos” no. 218
[2]Erick Fromm The Art of Loving (1956)
Foto: © Alejandra-Ezquerro-Unsplash
Jul 1, 2025 | Ideia do Mes
Todos os dias observamos tanto sofrimento ao nosso redor, e podemos nos sentir
incapazes, se não nos abrirem um vislumbre de humanidade.
Às vezes, porém, a resposta viaja pelo WhatsApp, como aconteceu com uma pequena
comunidade na Itália que quer viver a unidade: “… no hospital onde trabalho, há um jovem,
um estrangeiro, que está completamente sozinho e está morrendo. Talvez alguém possa passar
alguns minutos com ele, para dar um pouco de dignidade a esta situação?” É um choque: as
respostas surgem rapidamente. A mensagem de alguém que esteve presente nas últimas
horas diz: “Estando ali ao seu lado, vimos imediatamente que a assistência foi pontual,
atenciosa e amorosa e que, portanto, não tínhamos nada de concreto a fazer a não ser ficar
ali. Ele, agora em coma, também não poderia se beneficiar da nossa presença”.
Algo inútil? Naquelas poucas horas, uma pequena comunidade, dentro e fora do
hospital, acompanhou e deu sentido a isso. Quem sabe se uma mãe poderá chorar por ele
no seu país. Certamente a sua “passagem” não foi em vão para aqueles que puderam amar
aquele jovem, não mais desconhecido.
A compaixão é um sentimento que vem de dentro, do profundo do coração humano.
Ela nos dá a possibilidade de interromper o ritmo do nosso dia, cheio de tantos
compromissos frenéticos, e tomar a iniciativa de nos aproximarmos do outro, oferecendo
um olhar atencioso, sem medo de “tocar” nas feridas.
Chiara Lubich explica isso com uma simplicidade incisiva: «Imaginemos estar na sua situação e tratemo-lo como gostaríamos de ser tratados em seu lugar.
[…] Ele está com fome? Estou com fome eu – pensemos. E demos a ele de comer. Sofre injustiça?
Sou eu que a sofro! […] E lhe digamos palavras de conforto, e dividamos com ele suas angústias, e
não nos demos sossego enquanto ele não se sentir iluminado e aliviado. […] Veremos, lentamente,
o mundo mudar ao nosso redori» 1.
A sabedoria africana também confirma isso com um provérbio marfinense: “Quem
acolhe um estrangeiro hospeda um mensageiro”.
Esta Ideia nos oferece a chave para realizar o humanismo mais autêntico: ela nos
torna conscientes da humanidade que temos em comum, na qual se reflete a dignidade de
cada homem e mulher; ela nos ensina a superar com coragem os esquemas da
“proximidade” física e cultural.
A partir dessa perspectiva, é possível expandir os limites do “nós” até o horizonte do
“todos” e descobrir os próprios fundamentos da vida em sociedade. E é importante
cuidarmos de nós mesmos, com a ajuda dos amigos com quem caminhamos juntos, quando
sentimos que estamos sucumbindo ao sofrimento que nos cerca. Lembrando que – como diz
o psiquiatra e psicoterapeuta Roberto Almada – “se os bons abandonarem a batalha por
cansaço, a humanidade que temos em comum correrá o maior dos riscos: o empobrecimento dos
valores”2.
1. Chiara Lubich, A arte de amar, Città Nuova, p. 60
2. R. Almada, O Cansaço dos Bons, Editora Cidade Nova
Foto: © Alexandra_Koch en Pixabay
A IDEIA DO MÊS, é preparada pelo “Centro do Diálogo com pessoas de convicções não religiosas” do Movimento dos Focolares. É uma iniciativa que nasceu no Uruguai em 2014 para compartilhar com os amigos que não creem em Deus os valores da Palavra de Vida, uma frase da Escritura que os membros do Movimento se comprometem a colocar em prática. Atualmente, A IDEIA DO MÊS é traduzida em doze idiomas e distribuída em mais de 25 países, adaptada em alguns deles segundo as exigências culturais. dialogue4unity.focolare.org
Jun 1, 2025 | Ideia do Mes
Todos os dias acontecem coisas terríveis, em tão grande escala que nos fazem sentir impotentes: migrantes que enfrentam viagens de morte em condições desesperadoras, populações que vivenciam a tragédia diária da guerra ou as dramáticas injustiças sociais que afligem o planeta.
“O que eu posso fazer?”: esta pergunta pode nos paralisar, fechando-nos em um resignado individualismo. O primeiro desafio para a nossa consciência é justamente deixar-se questionar por essa pergunta. “O que eu posso fazer?”
Foi essa pergunta que os pescadores da costa de Lampedusa, na Itália, fizeram a si mesmos, formando verdadeiras correntes humanas junto com a generosa população local, para estender a mão e tentar salvar, um de cada vez, pelo menos um (e depois dez, cem, mil…) dos náufragos desesperados abandonados às ondas do Mar Mediterrâneo. Também as comunidades nas fronteiras de zonas de guerra (na Europa, África, Ásia…) se fizeram essa pergunta, abrindo as portas de suas casas não com base em cálculos políticos ou econômicos, mas em uma escolha natural de compaixão e acolhimento. É justamente nessas situações que é possível observar pequenos ou grandes “milagres” cotidianos, que não são sonhos utópicos, mas gestos que constroem a sociedade do futuro.
Buscar a esperança, não esperar que ela venha até nós: é o que enfatiza o Prof. Russell Pearce [1], da FordhamSchool of Law, [Faculdade de Direito Fordham] em Nova York. Ele coordenou as entrevistas feitas em duas organizações que promovem o diálogo e a paz entre israelenses e palestinos – Parents Circle e Combatants for Peace [Círculo de Pais e Combatentes pela Paz] – para entender como seus membros conseguiram manter relações mútuas após 7 de outubro de 2023 e durante a guerra subsequente em Gaza.
Por que esses grupos conseguiram manter os seus laços, que se tornaram ainda mais fortes? Tanto palestinos quanto israelenses relatam que o diálogo entre eles foi transformador. Eles dizem que esse diálogo é um diálogo de amor. Um participante palestino observou: “A transformação que vivenciamos foi uma experiência muito sagrada para cada um de nós. Deixou uma marca e uma profunda união nas nossas almas. É um percurso e um processo que transforma o outro em um irmão.”
Um israelense observa de forma semelhante: “Trabalhamos para construir confiança e nos tornarmos uma família, anos de trabalho sagrado com todos os desafios, dinâmicas e dúvidas”. Pearce conclui: os sábios judeus ensinam que “quando salvamos uma vida, salvamos o mundo inteiro”. Um palestino que lidera o programa para os jovens do Parents Circle explicou: “Quando mudamos uma pessoa, mudamos o mundo inteiro”.
Chiara Lubich disse: “A fraternidade é o aspecto mais visível da unidade. Esta certamente me parece a estrada mais adequada para caminhar contra a corrente (…) para alcançar mais plenamente a liberdade e a igualdade. (…) É um caminho válido para aqueles que têm nas mãos o destino da humanidade, mas também para as mães, para os voluntários que constroem porções de solidariedade no mundo, para aqueles que disponibilizam parte dos lucros de suas empresas para eliminar espaços de pobreza, para aqueles que não se rendem à guerra. A fraternidade ‘do alto’ e a fraternidade ‘de baixo’ se encontrarão na paz” [2]
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A IDEIA DO MÊS, é preparada pelo “Centro do Diálogo com pessoas de convicções não religiosas” do Movimento dos Focolares. É uma iniciativa que nasceu no Uruguai em 2014 para compartilhar com os amigos que não creem em Deus os valores da Palavra de Vida, uma frase da Escritura que os membros do Movimento se comprometem a colocar em prática. Atualmente, A IDEIA DO MÊS é traduzida em doze idiomas e distribuída em mais de 25 países, adaptada em alguns deles segundo as exigências culturais. dialogue4unity.focolare.org
[1] R. Pearce: “Dialogo e Pace sostenibili” [Ekklesia-Sentieri di Comunione e Dialogo- n.4 ottobre dicembre 2024].
[2] C. Lubich, No alla sconfitta della pace, in «Città Nuova» n. 24/2003
©Fotos: Rineshkumar Ghirao – Unsplash
Mai 1, 2025 | Ideia do Mes
A vida muitas vezes nos coloca em situações em que, pouco a pouco e sem querer, nos fechamos em nós mesmos: uma discussão, as nossas certezas, o nosso ego ou os nossos medos.
Mas às vezes basta parar diante de uma pergunta simples, feita de palavras simples, para observar possibilidades inesperadas de mudança: “Quem é você para mim?” ou, em outras palavras, “Quem sou eu para você?” Perguntas que, como diz Margaret Karram, abrem caminho para ações concretas: “dar o primeiro passo, escutar, não economizar no tempo, deixar-se tocar pela dor”[1]. É óbvio: se pensamos nos outros, não pensamos em nós mesmos, nem nas nossas fraquezas, fracassos ou feridas. Pensar no outro nos leva a nos colocarmos no lugar dele, numa atitude de reciprocidade: “Como eu me sentiria se o outro me dissesse o que eu estou dizendo a ele?” ou “o que posso fazer por ele?”
Se as nossas ações partem do desejo de priorizar o bem-estar de quem está ao nosso lado, tudo pode adquirir uma dimensão maior, a ponto de podermos dizer ao outro que o amamos gratuitamente e sem esperar nada em troca.
Mas às vezes podemos nos deixar abater pelo desânimo, pela frustração, pelo cansaço. O médico americano Ira Robert Byock diz que os momentos de maior desespero surgem quando nos sentimos presos em “uma gaiola de raiva, medo e desconfiança”[2]. Nesses momentos, confiemos na força do amor que tudo pode, que nos liberta de todas asamarras e nos encoraja a recomeçar sem medo. O grupo musical Gen Rosso expressa isso da seguinte maneira em uma de suas canções: “Recomeçar é como dizer novamentesim à vida, para depois nos libertarmos e voarmos em direção a horizontes sem fronteiras, onde o pensamento não tem medo. E ver a nossa casa se tornar tão grande quanto o mundo. Recomeçar é acreditar no amor e sentir que mesmo na dor a alma pode cantar e nunca parar”.
Uma atitude desse tipo pode desencadear uma mudança pessoal, mas também comunitária, quando compartilhamos, em um diálogo sincero e construtivo, os nossos desconfortos. Nesse clima de verdadeira amizade, poderemos reconstruir um tecido social que substitua a raiva pela reflexão, o medo pela busca de novos caminhos e a desconfiança pela esperança. Assim, seremos sinal de uma nova forma de construir a sociedade.
Às vezes, é suficienteuma simples palavra:
“Você é importante para mim… porque você é você!”
Fotos: © Pixabay
[1] M. Karram: “Prossimità” – 2024
[2] in: The Economist – The 2015 Quality of Death Index. Ranking palliative care acrosstheworld
A IDEIA DO MÊS, é preparada pelo “Centro do Diálogo com pessoas de convicções não religiosas” do Movimento dos Focolares. É uma iniciativa que nasceu no Uruguai em 2014 para compartilhar com os amigos que não creem em Deus os valores da Palavra de Vida, uma frase da Escritura que os membros do Movimento se comprometem a colocar em prática. Atualmente, A IDEIA DO MÊS é traduzida em doze idiomas e distribuída em mais de 25 países, adaptada em alguns deles segundo as exigências culturais. dialogue4unity.focolare.org
Abr 1, 2025 | Ideia do Mes
A nostalgia é um sentimento decisivo para as questões morais, filosóficas e espirituais dos seres humanos. Etimologicamente significa “dor do retorno”, num sentido às vezes indeterminado, porque não se dirige tanto a um passado feito de lugares, pessoas ou acontecimentos concretos, mas a uma emoção profunda que nos faz desejar algo belo, justo e universal, como se, no fundo, soubéssemos que fazíamos parte dele ou que éramos chamados para isso.
O tema do exílio percorre a história do pensamento humano: a viagem de Ulisses (cantada na Odisseia de Homero) é uma viagem que evoca o infinito porque é sempre incompleta, mas que engloba uma experiência de sabedoria.
(…)
“Guarda sempre Ítaca em teu pensamento. É teu destino aí chegar. Mas não apresses absolutamente tua viagem. É melhor que dure muitos anos (…) Embora a encontres pobre, Ítaca não te enganou. Sábio assim como te tornaste, com tanta experiência, já deves ter compreendido o que significam as Ítacas.”[1]
Toda narrativa de exílio, desde as civilizações mais antigas até os dias atuais, aborda questões existenciais, fundamentais não só para aquela época: existe um “fio” que dá sentido à história? Essa pergunta também pode ser feita na esfera pessoal: qual é o significado de tudo o que estou vivenciando ou que vivenciei? Por que o mal, a dor, a morte? São questionamentos não expressos, mas profundamente representados nas pesquisas mais recentes sobre as necessidades autênticas dos jovens. A nostalgia de infinito é frequentemente descrita como melancolia, solidão da alma, busca por uma razão2[2].
Mas essas questões são difíceis de emergir: somos distraídos pelos acontecimentos que nos afetam, pelas mil preocupações que angustiam a nossa alma, por pensamentos que ficam nos importunando. Talvez não estejamos nos detendo para observar,ao nosso redor, pequenas respostas que podem ser um farol que nos ajuda a não perder o sentido da nossa caminhada.
Procuremos, então, buscar as ocasiões em todos os sentidos — em tempos e espaços de escuta, de reflexão, de partilha — e, com aqueles que partilham conosco o caminho da nossa existência, a nossa comunidade, os amigos, os colegas de trabalho, procuremos trabalhar, confrontar nossas opiniões e não perder a confiança de que as coisas podem mudar para melhor. Nós também nos sentiremos mudados.
Nas comunidades cristãs espalhadas pelo mundo, a Páscoa ocorre neste mês. A mensagem dos “três dias” é forte e continua a questionar todas as pessoas capazes de questionamento e de diálogo[3]. O mistério do sofrimento, a capacidade de “permanecer” nas feridas da humanidade, a força de recomeçar são os valores presentes nos corações que acompanham a nossa caminhada pelos desertos, orientam a História e a nossa vida.
© Foto da StockSnap/Pixabay
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A IDEIA DO MÊS, é preparada pelo “Centro do Diálogo com pessoas de convicções não religiosas” do Movimento dos Focolares. É uma iniciativa que nasceu no Uruguai em 2014 para compartilhar com os amigos que não creem em Deus os valores da Palavra de Vida, uma frase da Escritura que os membros do Movimento se comprometem a colocar em prática. Atualmente, A IDEIA DO MÊS é traduzida em doze idiomas e distribuída em mais de 25 países, adaptada em alguns deles segundo as exigências culturais.
[1]Konstandinos P. Kavafis. Poesie, Mondadori, Milano 1961
[2]Istituto Giuseppe Toniolo: Cerco, dunque credo? (Vita e Pensiero, 2024) cura di R. Bichi e P. Bignardi
[3]Convegno Internazionale “Il senso nel dolore?” (Castel Gandolfo, 2017) https://www.cittanuova.it/senso-neldolore/?ms=006&se=007
Mar 1, 2025 | Ideia do Mes, Testimonianze di Vita
Parece evidente que fomos feitos para estabelecer relacionamentos. Na verdade, toda a nossa vida é feita de relacionamentos que se entrelaçam. Mas às vezes corremos o risco de destruí-los com julgamentos severos ou superficiais.
Ao longo da história encontramos muitas imagens que também fazem parte da linguagem comum. Na tradição antiga encontramos uma expressão muito conhecida que diz: “Por que reparas no cisco no olho do teu irmão, e a trave no teu próprio olho não percebes?”[1]; igualmente proverbial é a imagem dos dois alforjes: um diante dos olhos, com os defeitos dos outros, que vemos facilmente, e o outro atrás, com os nossos defeitos, que temos dificuldade de reconhecer [2] ou, como diz um provérbio chinês, “o homem é cego para os seus próprios defeitos, mas tem olhos de águia para os dos outros”.
Isso não significa aceitar o que acontece, de modo indiscriminado. Não podemos fechar os olhos à injustiça, à violência ou à opressão. Devemos nos comprometer com a mudança, começando por olhar primeiro para nós mesmos, ouvindo sinceramente a nossa consciência para descobrir o que precisamos melhorar. Somente assim poderemos nos perguntar como ajudar os outros concretamente, também com conselhos e correções.
É necessário um “outro ponto de vista” que ofereça uma perspectiva diferente da minha, enriquecendo minha ‘verdade’ e me ajudando a evitar a autorreferencialidade e aqueles erros de avaliação que, afinal, fazem parte da nossa natureza humana.
Existe uma palavra que pode parecer antiga, mas que se enriquece de significados sempre novos: misericórdia, que deve ser vivida primeiro em relação a nós mesmos e depois aos outros. De fato, somente se formos capazes de aceitar e perdoar as nossas próprias limitações seremos capazes de aceitar as fraquezas e os erros dos outros. Ou melhor, quando percebemos que inconscientemente nos sentimos superiores e levados a julgar, torna-se essencial estar disposto a dar “o primeiro passo” em direção ao outro para não prejudicar o relacionamento.
Chiara Lubich conta a um grupo de muçulmanos a sua experiência na pequena casa de Trento, na qual iniciou a sua aventura com algumas amigas. Nem sempre era fácil e não faltavam incompreensões: “Nem sempre era fácil […] viver o radicalismo do amor. […] Também entre nós, em
nosso relacionamento, podia-se ‘depositar um pouco de poeira’, e a unidade podia esmorecer. Isso acontecia, por exemplo, quando percebíamos defeitos, imperfeições nos outros, e os julgávamos. Então, a corrente do amor mútuo esfriava. Para reagir a essa situação, pensamos um dia estabelecer um pacto entre nós, e o chamamos de ‘pacto de misericórdia’. Decidimos ver, cada manhã, o próximo que encontrávamos – em casa, na escola, no trabalho etc. –, como novo, sem nos lembrar de maneira
alguma dos seus defeitos, mas cobrindo tudo com o amor.[…]”[3]. Um verdadeiro “método” que vale a pena colocar em prática nos grupos de trabalho, na
família, em reuniões de todo tipo.
© Fotos: Cottonbro studio – Pexels
A IDEIA DO MÊS, iniciada no Uruguai, é preparada pelo “Centro do Diálogo com pessoas de convicções não religiosas” do Movimento dos Focolares. É uma iniciativa que nasceu no Uruguai em 2014 para compartilhar com os amigos que não creem em Deus os valores da Palavra de Vida, uma frase da Escritura que os membros do Movimento se comprometem a colocar em prática. Atualmente, A IDEIA DO MÊS é traduzida em doze idiomas e distribuída em mais de 25 países, adaptada em alguns deles segundo as exigências culturais. dialogue4unity.focolare.org
[1] (Lc 6,41)
[2] Esopo (μῦθοι) , Fedro (Fabulae)
[3] LUBICH,Chiara, O amor ao próximo, Conversação com os amigos muçulmanos, Castel Gandolfo, 1°/11/2002. Cf. LUBICH, Chiara, O amor mútuo, São Paulo: Cidade Nova, 2021, p. 102-103.