Movimento dos Focolares

Para que tivéssemos a Luz

Quando Chiara Lubich falava do sofrimento e da dor, não se limitava a uma concepção filosófica, psicológica ou espiritual, mas mantinha sempre o olhar voltado para aquele que amava chamar de “esposo da sua alma”: Jesus no momento em que na cruz experimentou o abandono do Pai: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” (Mt 27,46). No relacionamento íntimo e misterioso com Ele, ela encontrou a força para acolher toda dor e transformá-la em amor. Seria de enlouquecer se não fixássemos os olhos em ti, que transformas, como por encanto, toda amargura em doçura ; em ti, pendurado na cruz, no teu grito, na mais alta suspensão, na inatividade absoluta, na morte viva, quando, tornando-te frio, lançaste todo o teu fogo sobre a terra e, tornando-te estase infinita, lançaste sobre nós tua vida infinita, aquela que agora vivemos, inebriados. Basta-nos que nos vejamos semelhantes a ti, ao menos um pouco, e que unamos nossa dor à tua e a ofereçamos ao Pai. Para que tivéssemos a Luz, veio-te a faltar a vista. Para que tivéssemos a união, sentiste a separação do Pai. Para que possuíssemos a Sabedoria, fizeste-te “ignorância”. Para que nos revestíssemos da inocência, fizeste-te “pecado ”. Para que Deus estivesse em nós, sentiste-o longe de ti.

Chiara Lubich

  Ideal e Luz, Editora Brasiliense e Editora Cidade Nova, São Paulo, 2003 ,pág. 137-138

Síria: servir e compartilhar para ser uma única família

Síria: servir e compartilhar para ser uma única família

Em duas cidades da costa síria, um grupo de voluntários do Movimento dos Focolares promove um projeto para garantir refeições de qualidade para famílias pobres e idosos ou pessoas desfavorecidas. “No trabalho em equipe senti a presença de Deus, e este compromisso coletivo fez de nós uma família”. Hazem conta sua experiência no projeto “Lokmat Mahaba”, que em árabe significa “um pedaço de amor”. A iniciativa, promovida pelo Movimento dos Focolares e também apoiada com fundos do programa “Syria Emergency” da AMU (Ação para um Mundo Unido), nasceu para dar suporte a famílias carentes nas cidades de al-Kafroun e Mashta al-Helou, no noroeste da Síria, e envolve cristãos de diferentes denominações. Em uma realidade marcada pela crise econômica, por um nível muito alto de conflito, pelas medidas restritivas impostas pela União Europeia e pelos Estados Unidos, com a depreciação da lira síria e a expectativa de vida, e exacerbada pela crise de saúde e emprego devido à propagação do Coronavirus, o pequeno grupo de voluntários ajuda cerca de vinte famílias – incluindo pessoas deslocadas e residentes – que vivem em condições econômicas e de saúde precárias. Eles oferecem seu tempo e energia. Alguns até oferecem os frutos de suas terras. Outros uma pequena, mas significativa, contribuição econômica. Graças ao apoio de pessoas de aldeias próximas, de sírios que vivem em outros países, de alguns intelectuais e de pequenas doações, juntos cozinham e distribuem uma refeição por semana para cada família, que entregam pessoalmente ao entrar em cada casa, pouco antes da hora do almoço. “Os poucos minutos em que estamos com cada família durante a distribuição da refeição – diz Micheline, uma das voluntárias – permitem-nos de construir um relacionamento com elas. As orações que ouvimos e partilhamos e a relação que nos une são o verdadeiro tesouro do projeto”. É  uma alegria poder participar do entusiasmo das crianças, e daqueles que não são crianças há muito tempo, que esperam ansiosamente aquele “pedaço de amor”: “Compartilhar as preocupações da vida diária e o desejo de compartilhar a vida deles” é o que anima profundamente o compromisso de cada um. “A força para continuar este trabalho”, dizem, “vem de Jesus Eucaristia e dos momentos de oração”. Um ano após o início do projeto, em setembro de 2019, o grupo de voluntários e colaboradores cresceu e para a realização das refeições Padre Gandhi Muhanna, pastor da Igreja Maronita, forneceu a cozinha de sua casa.  “A dificuldade”, explicam, “é a de preparar refeições saudáveis e nutritivas, feitas com ingredientes de qualidade, muitas vezes difíceis de encontrar, enquanto os preços dos alimentos continuam a subir”. O objetivo é desenvolver o projeto, expandir a rede de colaboradores, aumentar a qualidade e a frequência das refeições, mas principalmente alcançar um número maior de famílias e pessoas necessitadas, para “compartilhar com todos os meios possíveis os dons que cada um recebeu de Deus”.

Claudia Di Lorenzi

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Movimento dos focolares recebe premio internacional por seu compromisso ambiental

Movimento dos focolares recebe premio internacional por seu compromisso ambiental

O Movimento dos Focolares recebeu hoje o prêmio internacional “Eu faço a minha parte” da Academia Kronos, pelo seu compromisso em favor do planeta por intermédio de EcoOne, iniciativa ambiental do Movimento. Entre os premiados nesta edição 2020, também o Papa Francisco e, póstumo, o explorador e antropólogo norueguês, Thor Heyerdahl. Uma antiga fábula africana narra que, durante um incêndio na floresta, um colibri, o menor dos pássaros, voava em direção ao fogo enquanto todos os outros animais fugiam. Quando o leão lhe perguntou o que estava fazendo, o colibri, mostrando uma gota d’água em seu bico, respondeu: “Eu faço a minha parte!”. Foi dessa estória que o prêmio internacional, já na sua quarta edição, tomou o nome, e a Academia Kronos o entrega todo ano, a pessoas, entidades e países que demonstraram ter “feito a sua parte” para proteger o ambiente e o clima terrestre. Entre os oito premiados neste ano está também EcoOne, a iniciativa internacional do Movimento dos Focolares, promovida por uma rede de professores, acadêmicos, pesquisadores e profissionais que atuam nas ciências ambientais, e se esforçam para enriquecer o próprio conhecimento cientifico com uma profunda leitura humanística dos problemas ecológicos contemporâneos (www.ecoone.org). Por causa da pandemia, não foi possível entregar os prêmios, como previsto, na Sala da Promoteca Del Campidoglio de Roma (Itália). A entrega ao Movimento dos Focolares aconteceu hoje, 26 de novembro de 2020, na sede internacional do Movimento, em Rocca di Papa (Roma-Itália), por parte de Vincenzo Avalle, membro da direção nacional da Academia Kronos, acompanhado por Armando Bruni, coordenador da Academia no Centro Itália, e por três guardas ambientais. Em nome do Movimento dos Focolares, o professor Luca Fiorani, presidente de EcoOne, recebeu a escultura de um colibri, realizada em material metálico reciclado, do artista Renato Mancini, e o diploma de conferência do prêmio. “Este prêmio deseja dar um estímulo, uma motivação a todos os que se comprometem pela proteção ambiental – explicou Vincenzo Avalle -. Tocou-me muito a abrangente atividade do Movimento dos Focolares pelo ambiente, como se manifesta em EcoOne, apoiada pela ciência e pela interação com a política”. “Vejo uma grande sinergia entre nós, Academia Kronos e Movimento dos Focolares/EcoOne – explicou Fiorani ao receber o prêmio – porque somos complementares: Kronos parte da ação, EcoOne parte da reflexão. Precisamos uns dos outros. Enquanto Movimento dos Focolares podemos contribuir em diferentes âmbitos de aprofundamento cultural. Salientamos a economia e a política, que são decisivos para o ambiente. E podemos oferecer inclusive a nossa dimensão internacional”. “Vejo – acrescentou – uma possiblidade de cooperação, de sinergia muito forte. Existe uma galáxia de entidades que trabalham pelo ambiente. Penso que chegou o momento no qual todas essas organizações devem colaborar”. A Academia Kronos (www.accademiakronos.it) é a continuação e herdeira espiritual de uma das primeiras organizações ambientais, a “Kronos 1991”. Com cerca de 10 mil sócios na Itália, e sedes e referências internacionais, trabalha pela defesa do ambiente e da qualidade de vida. Em colaboração com institutos científicos e universidades, Kronos oferece um curso de graduação em “Educador e Divulgador ambiental”, e dois cursos de mestrado em “Saúde e Ambiente”, e apoia um corpo de vigilância para a prevenção e a informação ambiental. Mas, principalmente, convidas as pessoas, no mundo inteiro, a “fazerem a própria parte” para salvaguardar o ambiente.

Joachim Schwind

Evangelho vivido: a escolha da gentileza

Na escola de Jesus, podemos aprender a ser, uns para os outros, testemunhas e instrumentos do amor terno e criativo do Pai. É fazer nascer um mundo novo, capaz de sanar a convivência humana pela raiz e de atrair a presença de Deus entre os homens, fonte inesgotável de consolação para enxugar toda lágrima. Uma ideia incomum O meu marido e eu viajávamos pela rodovia, quando notei um casal no carro atrás de nós. O homem na direção parecia muito agitado e com o seu modo de dirigir podia representar um perigo. Ao chegarmos à cabine de pedágio, tive uma ideia: por que não pagar o pedágio também por eles? Assim, enquanto o meu marido pagava o nosso, dei ao funcionário a soma pelos viajantes atrás de nós, com a seguinte mensagem: “Bom dia e boas férias, do casal no carro de Massachusetts”. E ao meu marido, que não entendia, expliquei que talvez este pequeno gesto lembraria àquele homem que alguém lhe queria bem: quem sabe se não poderia dar uma nota diferente à viagem dele! Depois, olhando para trás, vi que o funcionário da cabine falava com aquele casal, indicando na nossa direção. Logo depois, ao retomar o percurso, um carro se aproximou do nosso: eram eles. O homem sorria, enquanto ela mostrava um pedaço de papel onde estava escrito em letras garrafais: “A gentileza de vocês funcionou! Obrigado, Massachusetts!”. (D.A. – EUA) Paz na família Há anos que o relacionamento com a nossa filha e o nosso genro nos fazia sofrer. Ele tinha ciúmes de nós até o ponto de que Grazia não podia mais vir nos visitar. Por minha vez, não conseguia perdoá-la por tanta passividade. Depois, um telefonema com o meu genro: uma hora e meia de acusações recíprocas. Naquela noite não consegui dormir. Então, decidi escrever a todos os dois uma carta na qual lhes pedia desculpas e lhes garantia que tínhamos sempre um lugar no nosso coração. Não esperava nada daquela carta, ao invés, ele me telefonou comovido, anunciando a chegada de Grazia no dia seguinte. Não muito tempo depois, um telefonema dos pais do nosso genro, que não ouvíamos há anos, nos confirmou que a situação tinha mudado completamente: de fato, nos convidavam para passar alguns dias com eles. Nunca tanto afeto nos foi demonstrado e passamos dias serenos, que não esqueceremos facilmente. Voltando para casa, o meu marido e eu agradecemos a Deus porque com uma simples carta nos tinha feito o imenso dom da paz na família. (D.R. – Itália) A quantia Para a minha mulher e para mim, parecia que tinha chegado o momento da compra da casa. Feitas as nossas contas, empenhadas todas as nossas economias e a antecipação do saldo, ainda nos faltava uma quantia para poder fazer um financiamento de dez anos. Justamente nestes dias, no trabalho, fizemos uma enorme compra. O fornecedor, depois, me chamou de lado e me informou que quando eu passasse por ele, acharia “o meu”. Entendi o que ele entendia por “o meu”: era uma certa quantia que eu poderia embolsar. Em outras palavras, se tratava de uma forma, se não precisamente de corrupção, com certeza de mau hábito, muito frequente nas negociações comerciais. Por um lado, aquela quantia nos seria vantajosa e a tentação de aceitá-la não foi insignificante. Porém a liberdade de ser “puro de coração”, como diz o Evangelho que quero viver, não tem preço. A certeza de que Deus proverá, como tem provido abundantemente até agora, nos fez recusar a oferta e, por acréscimo, deu o impulso para doarmos o nosso segundo carro a uma pessoa que seguramente precisa dele mais do que nós. (D.A. – Itália)

organizado por Stefania Tanesini

(extraído de Il Vangelo del Giorno, Città Nuova, ano VI, n.6, novembro-dezembro de 2020)

Há 50 anos testemunhas e construtores de paz

Há 50 anos testemunhas e construtores de paz

Nos 50 anos do Religions for Peace, vamos fazer um resumo do caminho feito até aqui e saber as perspectivas futuras com Azza Karram, eleita secretária-geral. Azza Karram foi eleita secretária-geral do Religions for Peace em agosto de 2019. De origem egípcia, cidadã holandesa, docente de estudos religiosos e diplomacia, ex-funcionária da ONU, alma da dimensão universal, dirige hoje um movimento ao qual aderem mais de 900 líderes religiosos de 90 países comprometidos com ela em fazer da paz um lugar de encontro e um caminho a ser percorrido comunitariamente. Religions for Peace, de 16 a 21 de agosto de 1970, abria sua primeira assembleia. Quem a conduziu foi Nikkyo Niwano, japonês e fundador da Rissho Kosei-kai, um espírito de grande visão. Nos anos 90, ele envolveu também Chiara Lubich nessa assembleia mundial: encontrou nela uma consonância espiritual e pragmática única. Neste ano, Religions for Peace comemora seus 50 anos. Encontramos Azza Karram em Nova York para lhe pedir uma análise do caminho feito e as perspectivas para o futuro. Depois de 50 anos da fundação de Religions for Peace, qual missão e qual mensagem o movimento continua a dar? Depois de 50 anos de vida, o nosso testemunho é de que é inevitável para as religiões trabalhar juntas, além das diferenças institucionais, geográficas ou de doutrina. Essa é a mensagem que passamos mesmo se ainda não a executamos perfeitamente, porque sabemos que é um processo de aprendizagem constante e que também tem o esforço de trabalhar juntos. A Covid colocou ainda mais em evidência a necessidade de um trabalho comum. As comunidades religiosas ou as ONGs inspiradas por valores religiosos estão sobrevivendo porque foram as primeiras a responder a essa crise humanitária. É verdade que as instituições sanitárias também intervieram, mas não teriam podido fazer isso de maneira tão precisa sem as instituições religiosas que nessa crise deram não só uma resposta sanitária, financeira, psicológica, mas souberam olhar para as necessidades espirituais de uma comunidade e estão respondendo 100% a todas as frentes. No entanto, quantas dessas instituições religiosas, mesmo respondendo aos necessitados de uma mesma comunidade, estão trabalhando juntas? Muito poucas e não porque faltem as necessidades, ou a eficiência, ou o conhecimento. Às vezes, tenho a suspeita de que na verdade estamos tentando salvar nossas instituições, e colaborar nesse tempo complexo requer ainda mais esforço e empenho porque é mais simples se preocupar com a santidade e coesão dos nossos grupos que nos abrir a um comprometimento universal e a Covid nos obriga a fazer diferente. Quisemos deixar um fundo humanitário multirreligioso justamente para mostrar que responder juntos a uma necessidade é construir o futuro comum com intencionalidade e vontade e os resultados são e serão abundantes: sabemos pela nossa história e queremos continuar mostrando o quanto é frutuosa a colaboração inter-religiosa. Quais desafios Religions for Peace está enfrentando? Acho que os desafios de Religions for Peace são os mesmos de todas as instituições, não só religiosas, mas políticas, institucionais, judiciárias e financeiras em termos de confiança, eficiência, legitimidade, competências. Na minha opinião, as instituições religiosas estão sofrendo com essas crises há muito tempo e as instituições civis sofrem há ainda mais tempo. Volto novamente à pandemia. Os bloqueios e fechamentos criaram um breakdown institucional nas nossas comunidades. Vocês entendem bem o que quer dizer não poder mais nos reunir, que é um dos propósitos básicos e fundamentais das nossas experiências e, ao invés, esses propósitos estão ameaçados com as igrejas, templos, mesquitas e sinagogas que acolhiam milhares ou centenas de centenas de pessoas e agora devem se limitar a 50 ou a poucas dezenas. A falta de se reunir, portanto, requer uma reestruturação também do nosso serviço religioso e, de fato, mudamos isso, mas quanto está incidindo na prática religiosa? Também quem dirige essas comunidades, e não só os membros, deve reconfigurar seu papel e o modo de atuá-lo no mundo. Por isso, se já estou lutando para sobreviver como instituição, como posso trabalhar com outros que têm os mesmos problemas em outras partes do mundo? Somos todos desafiados nesse repensar: as Nações Unidas, os governos, e também nós como religiões. E depois, há as ameaças à existência das crenças em países e sociedades em que o autoritarismo não permite as práticas de fé e onde os regimes se sentem ameaçados em sua intrínseca fragilidade por essas vozes que ressoam por direitos humanos, justiça, pluralismo. Para responder a esses desafios, é preciso ter mais colaboração, é preciso ter recursos financeiros e ouso dizer que também seria bom ter mais consciência política do papel social das colaborações multirreligiosas que seriam sustentadas também economicamente porque são espaços de serviço, de encontro, de recursos únicos para o crescimento de uma sociedade. E, em vez disso, vejo que as crenças são muitas vezes marginalizadas e depois se juntam-se nos trabalhos são majoritariamente as últimas nas perspectivas dos governos. A senhora citou antes a colaboração como um pilar de base da experiência inter-religiosa. Sabemos que entre Religions for Peace e o Movimento dos Focolares há uma colaboração de longa data. Como continuar e implementar esse trabalho comum? É uma colaboração de longa data, nascida em 1982 e que viu em Chiara Lubich uma das presidentes honorárias de Religions for Peace desde 1994 e agora também Maria Voce continua a ser desde 2013 um dos nossos copresidentes. Eu me comprometi, no começo do meu mandato, a honrar todos aqueles que me precederam e que permitiram que Religions for Peace fosse o que é e, portanto, também Chiara. Devo encontrar um espaço, também no nosso site, para falar sobre essa amizade. O que mais me toca da nossa ligação, seja no passado seja agora, é que nossa colaboração foi vital, viva, feita de pessoas. É fruto dessa herança se até hoje a comunicação de Religions for Peace é feita por uma pessoa do Movimento dos Focolares e no decorrer dos anos, muitos desse movimento serviram o nosso nos modos mais variados. E a Rissho Kosei-kai fez o mesmo. Muitas colaborações inter-religiosas em grau de compartilhar recursos humanos, imagens do divino vivo que honram com a sua presença o espaço sagrado do diálogo são para mim um sinal da reciprocidade para com Deus porque por meio desde trabalho comum no diálogo inter-religioso o estamos servindo, mostrando a todos a beleza de nos ter criado de tantas religiões. Como imagina o futuro para Religions for Peace? Imagino sob a bandeira do multilateralismo. Assim como as Nações Unidas são o multilateralismo dos jovens, vejo o nosso movimento como o multilateralismo das religiões. No fundo, nós nos empenhamos como seres humanos a nível micro e macro em preservar a diversidade que o Criador quis em salvá-la para todos, inclusive as instituições. Imagino o benefício que as instituições poderiam ter com essa visão e o nosso trabalho e, se colaborarmos juntamente, ambas florescerão. Se as instituições políticas estiverem focadas em salvar a si mesmas, se as entidades religiosas estiverem interessadas em salvar a si mesmas, isso levará à destruição não só dos nossos grupos, mas do planeta inteiro. E, ao invés, o papa mesmo, primeiro com a Laudato Sì e agora com a sua encíclica, nascida daquele documento comum com o líder máximo sunita nos chama, é um chamado comum a proteger a Terra, mas sobretudo à fraternidade humana, inclusive de todas as religiões. Nós apoiamos essa encíclica e esse chamado à fraternidade não exclui ninguém, nem quem não tem uma e lutaremos para que seja realmente um patrimônio de todas as religiões.

Por Maddalena Maltese

 

É necessário o Sol se pôr para que se vejam as estrelas.

  O sofrimento é mestre de sabedoria. Esta é a convicção que Chiara Lubich expressa na seguinte reflexão. É preciso aproximar-nos daqueles que sofrem não apenas com compaixão, mas com uma atitude de reverência e escuta. É preciso que o Sol se ponha Por que alguns homens, sem conhecimento das ciências, inclusive ciências religiosas, tornaram-se santos tendo como único livro o Crucificado? Porque não se limitaram a contemplá-lo, ou a venerá-lo e a beijar-lhe as chagas, mas procuraram revivê-lo em si mesmos. E quem sofre e está na escuridão enxerga mais longe do que quem não sofre, exatamente como é necessário o Sol se pôr para que se vejam as estrelas. O sofrimento ensina aquilo que não se pode aprender de nenhuma outra maneira. Ele ocupa a mais alta cátedra. É mestre de sabedoria e quem possui a sabedoria é bem-aventurado (cf. Provérbios 3,13). “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados” (Mateus 5,5), não só com o prêmio na outra vida, mas também com a contemplação de realidades celestes já na terra. É preciso aproximar-se de quem sofre com aquela reverência – e até mais – com que outrora nos aproximávamos dos anciãos, quando deles esperávamos a sabedoria.

Chiara Lubich

Chiara Lubich, É preciso que o Sol se ponha – Ideal e Luz, Editora Cidade Nova – São Paulo 2003, pag. 100.