Movimento dos Focolares
Espaços para a vida: um apelo à unidade de Juntos pela Europa em Timisoara

Espaços para a vida: um apelo à unidade de Juntos pela Europa em Timisoara

A cidade de Timisoara, na Romênia, hospedou recentemente o encontro anual “Juntos pela Europa” com o tema “Chamados à unidade”. Esse encontro reuniu 51 movimentos representando mais de 300 realidades e comunidades cristãs da vasta rede de Juntos pela Europa. Criar espaços de vida nas fissuras No complexo contexto sociopolítico que a Europa está atravessando, os líderes de “Juntos pela Europa” se reuniram de 16 a 18 de novembro de 2023 em Timisoara (Romênia) para responder a uma pergunta importante: “Qual é o papel das comunidades cristãs na Europa hoje?”. Essa pergunta ganhou relevância diante de questões globais como os vários conflitos que estão ocorrendo, as dinâmicas migratórias, a crise climática. Herbert Lauenroth, historiador e membro do Comitê diretivo de Juntos pela Europa, destacou a crise que atinge todas as igrejas e evidenciou o peso do momento: “Onde está hoje a Europa, Juntos pela Europa? Na direção de qual tipo de Europa, na direção de qual tipo de ‘Juntos’ estamos nos movendo?”. Em um contexto de crescente incerteza, os participantes se perguntaram o que significa “Juntos pela Europa”, buscando discernir a direção e as perspectivas futuras. Desde as primeiras sessões era evidente que a escolha de Timisoara como sede do encontro adicionou mais uma camada de significado. A capital europeia da cultura de 2023 é uma testemunha da coexistência harmoniosa de diversas crenças cristãs, na qual comunidades diversas se encontram e prosperam na unidade. Gerhard Proß, moderador de Juntos pela Europa e responsável do CVJM (Christlicher Verein junger Menschen) de Esslingen (Alemanha), ofereceu uma perspectiva a partir da fé cristã: “Deus cria espaço nas fissuras”, disse, “Jesus mesmo entrou nas fendas mais profundas desse mundo”. Depois, explicou que a imagem de Cristo, com os braços abertos entre o céu e a terra, simboliza uma entrada profunda nas fraturas entre Deus e a humanidade, entre indivíduos, grupos, denominações e nações. Jesus desceu até as profundezas: “Ali criou um espaço de vida”. São palavras que tiveram um eco profundo, suscitando reflexões sobre como, diante dos desafios contemporâneos, as comunidades cristãs podem criar espaços de vida em meio a fraturas, tensões e incertezas. Cultivar a unidade Os participantes tiveram sessões de diálogo, se envolveram juntos em discursos intelectuais, laboratórios de experiências e momentos de oração. Seis workshops exploraram temas como a integração social, as perspectivas dos jovens, a ética e a não-violência, promovendo uma compreensão mais profunda da diversidade no interior da comunidade cristã. Um momento importante foi a visita ao Museu da Catedral Ortodoxa, seguido das vésperas na Catedral Ortodoxa da cidade, das quais participaram autoridades e líderes religiosos das diversas Igrejas presentes. Esses momentos de oração comum favoreceram um clima harmonioso, no qual a unidade e a diversidade conviviam. As falas na plenária e as atividades foram intercaladas com música e oração, criando um fio que caracterizou toda a conferência. Durante um dos seus cantos, o Coro Ecumênico Jovem convidou todos a abraçar os diversos modos de oração: “Sabemos que todos oramos do nosso modo. Vamos nos abrir para experimentar a oração do outro durante esses dias em Timisoara”. Foi particularmente forte o momento de oração pela paz no qual foram citados os conflitos no mundo todo, com atenção particular para a Ucrânia e o Oriente Médio. Todos os participantes prometeram se comprometer com a unidade, firmando um pacto de amor recíproco. Foi um momento que simbolizou a pedra angular sobre a qual se funda uma Europa fraterna. Coligar os valores às políticas No âmbito do projeto DialogUE, financiado pela União Europeia, o encontro anual de “Juntos pela Europa” confrontou também temáticas voltadas a desenvolver conselhos e recomendações para as políticas sociais da União Europeia. O professor Philip McDonagh, ex-diplomata irlandês e diretor do “Centro para as religiões, valores humanos e relações internacionais” da Universidade de Dublin, destacou a importância do artigo 17 do Tratado sobre o funcionamento da União Europeia (TFUE). Esse artigo promove um diálogo aberto e transparente sobre as principais questões sociais que a Europa deve enfrentar por meio de encontros de alto nível e seminários de diálogos e trabalho entre as instituições europeias e as Igrejas, assim como as organizações não religiosas e filosóficas. O professor destacou a contribuição das Igrejas no debate público, atingindo seus fundamentos filosóficos, valores de compaixão, cuidado, solidariedade e respeito pelo pluralismo. Espera que as Igrejas se esforcem para preencher os espaços entre os valores de alto nível e as políticas cotidianas, oferecendo uma perspectiva necessária sobre questões como a paz, a inclusão e a integração. Convidando a uma abordagem multilateral, evidenciou a necessidade de que a Europa seja percebida positivamente pela comunidade global e sublinhou a responsabilidade de considerar as perspectivas do Sul do planeta. Esperança na unidade Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, estava presente junto com o copresidente Jesús Morán e falou oferecendo palavras de esperança: “Gostaria de ter, junto com todos vocês, essa convicção: tudo é possível!”. As palavras dela convidaram a ter um olhar otimista, a reconhecer a humanidade compartilhada e a criar redes de fraternidade. Karram encorajou a rede “Juntos pela Europa” a abraçar os carismas nascidos do Evangelho, a se envolver no diálogo e a abrir espaços para buscar respostas tangíveis aos desafios contemporâneos. O bispo Josef-Csaba Pál de Timisoara expressou gratidão por esses dias: “Uma pequena semente dessa fraternidade, unidade e amor foi colocada em nós, nas nossas Igrejas, mas também na sociedade. A rede Juntos pela Europa é uma daquelas iniciativas maravilhosas em que Deus permitiu que as coisas boas crescessem no decorrer dos anos. Continuemos a trabalhar juntamente a todas as pessoas de boa vontade!”. Olhando para o futuro, foi anunciado o próximo encontro anual de Juntos pela Europa:  será em Graz-Seckau, na Áustria, de 31 de outubro a 02 de novembro de 2024. As confissões cristãs presentes foram: Ortodoxos gregos, romenos, armênios e russos, gregos, romanos e veterocatólicos, protestantes, luteranos, reformados, anglicanos e Igrejas livres.

Ana Clara Giovani

Todos responsáveis ​​por todos: formação em rede

A partir de hoje, 20 de novembro de 2023, estão disponíveis as novas Diretrizes para a Formação sobre a Proteção de Crianças, Adolescentes e Pessoas em Situação de Vulnerabilidade desenvolvidas pelo Movimento dos Focolares. Margarita Gómez e Étienne Kenfack, Conselheiros do Centro Internacional do Movimento para o aspecto Vida Física e Natureza, oferecem-nos alguns esclarecimentos. Ilustrar as características necessárias para se comprometer concretamente com a proteção da vida e da dignidade de cada pessoa: é isso que distingue as novas Diretrizes para a Formação sobre a Proteção de Crianças, Adolescentes e Adultos Vulneráveis ​​(FPCV) no Movimento dos Focolares, lançada hoje, 20 de novembro de 2023, Dia Internacional da Criança e do Adolescente. O trabalho contou com a colaboração direta de 40 especialistas e pessoas envolvidas neste campo de todos os continentes e teve como objetivo fornecer os elementos necessários para que, em cada país onde o Movimento dos Focolares atua, possa-se desenvolver uma estratégia de formação adequada, orientada para prevenir e erradicar qualquer tipo de abuso, tanto dentro do Movimento como nos ambientes onde os seus membros se encontram (trabalho, bairro, escola). Desde 2013, o Movimento aposta na formação para a proteção de crianças e adolescentes, com um trabalho capilar em todos os países onde atua e com a realização de um curso de seis horas que continha os princípios fundamentais. Este esforço de formação atingiu 17.000 pessoas até dezembro de 2022 e, embora a formação fosse aberta a todos, foi realizada principalmente por pessoas que tinham responsabilidades ou contato direto em atividades com crianças. Depois da publicação do relatório sobre os graves casos de abusos sexuais registrados na França, publicado um ano depois da investigação da consultoria GCPS, surgiu a forte necessidade de oferecer uma formação mais específica a todos os membros do Movimento dos Focolares, de qualquer nação, idade, vocação ou função. Por esta razão, as Diretrizes representam uma ferramenta universal, deixando amplo espaço para uma inculturação adequada e uma implementação específica no contexto particular de origem. “A formação dirige-se a todos, e por ‘todos’ entendemos não só os pertencentes ao Movimento, mas também as pessoas que trabalham nas nossas estruturas – afirma Étienne Kenfack. As Diretrizes, no entanto, dirigem-se aos dirigentes do Movimento nas diversas geografias e às suas equipes que serão responsáveis ​​pela sua implementação”. As Diretrizes entrarão em vigor em 1º de janeiro de 2024, por um período de 20 meses ad experimentum. Um período de checagem para poder perceber todas as mudanças e transformações que serão necessárias no futuro. “O documento – continua Margarita Gómez – baseia-se num recurso fundamental para nós, isto é, a comunhão: portanto, trabalharemos em rede. Haverá uma comissão internacional e várias equipes que realizarão o projeto localmente. Haverá momentos de troca, com links online para nos ajudar a tirar dúvidas, para partilhar boas práticas. Não é por acaso que decidimos intitular o nosso programa de formação como “Todos responsáveis ​​por todos”. Espero que estas Diretrizes sejam muito bem acolhidas nas nossas comunidades e que, em poucos meses, tenhamos dado um impulso significativo à formação nesta matéria”.

Maria Grazia Berretta

Ver o vídeo (ativar legendas em português) https://youtu.be/OsZW-DC_E7U

 

Um patrimônio a ser aprofundado

Um patrimônio a ser aprofundado

Nos dias 10 e 11 de novembro de 2023 ocorreu em Bolonha o seminário “Escrever sobre Deus. Chiara Lubich e a tradição mística feminina da Idade Média ao século XX. Uma jornada com muitas vozes”. O padre Gianni Festa, que estava entre os promotores do evento, faz um balanço e traça perspectivas. Uma polifonia de vozes que viaja através dos séculos. As protagonistas da tradição mística feminina e seus escritos estiveram no centro dos trabalhos do seminário que, nos dias 10 e 11 de novembro de 2023, reuniu em Bolonha (Itália), estudiosos de diversas áreas, desde teólogos até linguistas, de historiadores a especialistas em literatura e arquivistas. O seminário ofereceu aprofundamentos e reflexões a partir de textos de místicas, em particular dos anos 1900s. Figuras femininas diversas, emersas em sua singularidade e originalidade, mas também ligadas por traços comuns entre elas “falar e escrever sobre Deus”, traços que revelam o caminho do Espírito Santo e seu desdobramento por meio de uma pluralidade de vozes, diversas, mas em profunda harmonia. Falamos com o padre Gianni Festa, docente na Faculdade Teológica da Emília-Romagna e membro do Instituto Histórico Dominicano.

Anna Maria Rossi, Padre Gianni Festa

Padre Festa, a Faculdade Teológica da Emilia Romagna é promotora, juntamente ao Centro Chiara Lubich e ao Instituto Universitário Sophia, deste seminário, e o senhor, em particular, trabalhou muito para a realização dele. Qual é a sua impressão ao final dos trabalhos? Quais foram os aspectos mais interessantes que emergiram? O primeiro aspecto interessante, isso é indiscutível, foi ter colocado, no âmbito desse seminário, a figura de Chiara Lubich, a sua teologia, a sua espiritualidade em um contexto muito mais vasto do que aquele no qual ela sempre foi lida ou interpretada. Ter ligado Chiara Lubich com a tradição da escrita feminina, seja medieval seja contemporânea, fez emergir aspectos do ensinamento teológico e espiritual dos escritos dela que realmente receberam uma luz nova. O segundo é a abertura da busca pela mística contemporânea feminina, que é um assunto pouco estudado, com exceção de grandes figuras sobre as quais também nós falamos, como Etty Hillesum, Simon Weil, Adrienne von Speyr. Mas a escritura mística do século XX das mulheres não é tão frequentada, tão estudada como a da Idade Média ou da primeira idade moderna, tivemos dificuldade em encontrar relatórios justamente porque é um campo ainda muito virgem. O terceiro aspecto importante foi a colaboração entre instituições acadêmicas que tiveram a oportunidade de falar, de dialogar, de encontrar-se e colaborar sobre temas de pesquisa teológica e esse “estar em comum” foi realmente importante e positivo. Das relações, emergiram características peculiares das figuras aprofundadas, mas também aspectos comuns que emergem em seus textos e que unem as diversas místicas: do relacionamento com a escrita às características da linguagem, mesmo que sejam mulheres que viveram em épocas e contextos muito diversos. Como, segundo o senhor, essas experiências podem se tornar testemunho de vida e testemunho de Deus? Como podem falar ainda com o homem de hoje? O que sempre me tocou quando estudava, em particular a Idade Média, foi a absoluta tenacidade da mulher em não retroceder a uma condição de inferioridade ou de marginalização, apesar dos preconceitos e exclusões. As místicas sempre quiseram afirmar o próprio relacionamento com Deus, dizê-lo, manifestá-lo. Comunicá-lo, “dizer Deus” e o modo que a mulher tem de dizer tem um efeito muito importante, muito atual também, sem cair na retórica, dentro do ensinamento do papa Francisco, os ensinamentos femininos que devem respirar com os ensinamentos masculinos, não porque sejam contrapostos, mas porque são os dois pulmões da Igreja, portanto eu diria que esse é realmente um aspecto importante. Chiara Lubish: o que em seu “escrever sobre Deus” e do que emergiu dos trabalhos e da experiência mística dela são, segundo o senhor, mais característicos e originais no panorama do pensamento místico feminino? Eu conhecia pouco de Lubich, mas duas peculiaridades, duas qualidades dos seus escritos, dos seus ensinamentos, depois de ter escutado também os relatórios me parecem ser hoje muito claros, quase inequívocos: in primis o profundo enraizamento dos escritos de Chiara dentro de uma tradição robusta. Disso não há dúvidas. Chiara Lubich não é ingênua em suas afirmações, em seus raciocínios e em seus escritos. Colhi essa cultura espiritual, teológica que se respira em seus escritos. Em segundo lugar, e talvez porque sou dominicano e, portanto, sou ligado também a figuras como Catarina de Sena, me tocou muito o aspecto eclesiológico, de comunhão, da sua espiritualidade. Esse é um elemento que observei também no contato com o Movimento dos Focolares mesmo, a comunhão, a união, a dimensão eclesial; um destaque da singularidade excessiva do sujeito a favor de uma partilha que está presente desde as primeiras experiências de Lubich. Quais perspectivas de estudo e de pesquisa esse seminário pode abrir? Com certeza é um passo em direção a uma abertura maior, uma ampliação dos estudos sobre a escritura feminina, dos séculos XIX e XX. Portanto, é necessário se equipar também no plano da instrumentalização linguística, teológica, para poder estudar essas figuras muito marginalizadas, muito esquecidas e pouco notadas. Também acredito que, com relação aos ensinamentos de Chiara Lubich, pode-se aprofundar melhor certos escritos dela, sob o perfil exegético, teológico e espiritual, como o texto do qual se falou continuamente durante o seminário, o “Paraíso de 49”, seria algo importante a se fazer.

por Anna Lisa Innocenti e Maria Grazia Berretta

Dizer Deus no feminino: Chiara Lubich e a linguagem mística

“Escrever sobre Deus: Chiara Lubich e a tradição mística feminina” é o título da conferência que acontecerá de 10 a 11 de novembro de 2023 em Bolonha (Itália). Será um seminário dedicado ao que significa “dizer Deus no feminino” que terá lugar hoje, 10 de novembro e sábado, 11, na Salone Bolognini do Convento de São Domenico de Bolonha (Itália) intitulado “Escrever sobre Deus. Chiara Lubich e a tradição mística feminina da Idade Média ao século XX. Uma jornada com muitas vozes.” Promovido pela Faculdade Teológica de Emilia-Romagna (Fter) em conjunto com o Centro Chiara Lubich e o Instituto Universitário Sophia, este percurso visa oferecer insights e reflexões sobre a questão da linguagem mística com atenção ao misticismo do século XX e, especificamente, com atenção à linguagem das mulheres. Uma verdadeira viagem “a uma página da história do misticismo feminino realmente pouco explorada” – afirma o padre Gianni Festa, professor dominicano da Fter, um dos promotores do evento. De que maneira a linguagem pode testemunhar uma experiência tão íntima e profunda como aquela com Deus? Como é que os místicos, desde a tradição medieval até ao século XX, garantiram que a palavra preservasse esta experiência e como a devolveram ao mundo? Todas estas são questões que serão examinadas no contexto do seminário, a partir de análises históricas, literárias e linguísticas, testemunham – como nos diz o Padre Gianni Festa – “que dizer Deus no feminino significa dizê-lo de uma maneira diferente e é por isso que a linguagem feminina, que fala de Deus, que fala da experiência mística, deve ser absolutamente compreendida”. Uma dimensão que, através da intervenção de numerosos convidados e estudiosos, será explorada por ocasião desta conferência a partir da figura do século XX de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares. “A experiência da Lubich – continua Padre Festa – estará ligada tanto a nível diacrônico a figuras importantes da tradição mística medieval como alguns doutores da Igreja, como Catarina de Sena ou Teresa de Ávila, mas sobretudo a outras experiências místicas e escritos do século XX, alguns mais conhecidos, como Etty Hillesum, Madeleine Delbrêl; outras menos conhecidas, como a irmã Maria, a grande amiga mística de Dom Primo Mazzolari. A questão da linguagem mística, da teologia subjacente ao misticismo feminino, será, portanto, explorada, e os caminhos individuais desta experiência serão certamente identificados.” Para mais informações, entre em contato com a secretaria da Fter ou consulte o site do Centro Chiara Lubich. Para participar do evento, inscreva-se para os dois dias na seção “Eventos” do site do Fter.

Maria Grazia Berretta

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Construir uma ecovila global: dicas do GreenCare da Bélgica

Construir uma ecovila global: dicas do GreenCare da Bélgica

Em diálogo para o bem do planeta: esse é o ímpeto por trás do Programa Green Care, um evento organizado por iniciativa do Multipolar Dialogue que ocorreu na Bélgica de 25 a 29 de outubro de 2023 A ecologia, um tema de crescente interesse global, atrai sempre mais a atenção de muitas pessoas. O papa Francisco sublinha a necessidade urgente de enfrentar as questões ambientais por meio da sua encíclica “Laudato Si’”. Apesar desses apelos, a dura realidade permanece: houve pouquíssimas melhoras tangíveis. O que falta nos nossos esforços coletivos e o que podemos fazer a mais para proteger o nosso planeta? Para buscar as respostas a essas perguntas e encontrar maneiras de agir coletivamente, um grupo heterogêneo de 50 pessoas provenientes de mais de 13 países diversos se reuniu no Centrum Eenheid, em Rotselaar, Bélgica, de 25 a 29 de outubro de 2023 para um evento “transformador” de quatro dias. A missão: empenhar-se em dialogar, adquirir conhecimento e trocar experiências para melhorar o cuidado com o nosso planeta. Organizado pela Multipolar Dialogue, iniciativa que reúne cidadãos da Europa Ocidental e Oriental em uma metodologia baseada na prática de um “pacto de amor”, sobre o qual se pode construir um espaço de confiança, o evento ofereceu um mix rico de conferências, discursos, diálogos e boas práticas, criando um espaço dinâmico para a partilha de experiências e conhecimento. Os participantes se envolveram em diálogos estimulantes sobre uma série de assuntos, como o desenvolvimento sustentável, a biodiversidade, a ecologia integral e a redução de barulho. Além desses diálogos, os participantes tiveram a oportunidade de compartilhar suas experiências, como iniciativas como hortas escolares e comunitárias, “Greening Africa Together“, “Grüne Dach Impulse” que participaram dos workshops. Além disso, o evento ficou ainda melhor com a presença de especialistas que enriqueceram os diálogos e forneceram aos participantes uma compreensão completa dos desafios e das soluções. O dr. Helmut Maurer, uma autoridade em matéria ambiental, compartilhou perspectivas preciosas durante uma entrevista focada na atuação do Green Deal, iluminando passos práticos necessários para enfrentar questões ambientais. Lorna Gold, presidente do Movimento Laudato Si’ e CEO da FaithInvest, levou sua bagagem de experiência ao evento, inspirando os participantes com a sua sabedoria e visão. Uma iniciativa multiprojeto Esse evento não foi apenas um encontro por si só, mas um componente crucial da iniciativa mais ampla “Project DialogUE“. O objetivo geral dessa iniciativa é aquele de envolver ativamente os cidadãos, dando a eles uma plataforma para exprimir as próprias preocupações e ideias. No âmbito dessa missão, o evento tinha um escopo bem preciso: facilitar diálogos significativos e formular propostas a serem apresentadas para a União Europeia. Para perseguir esse objetivo, os participantes tiveram a oportunidade única de visitar as instituições da UE, aprofundando os processos e os caminhos por meio dos quais suas propostas e requerimentos puderam ser encaminhados. O “Progetto DialogUE” se alinha ao comprometimento do Movimento dos Focolares de escutar o grito da terra e responder às suas necessidades. Esse empenho foi incluído no EcoPlan – a declaração do Movimento dos Focolares para a ecologia integral – que foi apresentado durante o evento, delineando um percurso em direção a um futuro mais sustentável e consciente da ecologia integral. Conectar-se para a mudança Além dos conhecimentos preciosos adquiridos e das experiências compartilhadas, esses quatro dias causaram um impacto profundo nos participantes. Eles se sentiram mais do que simples participantes; tornaram-se parte de uma comunidade global com uma preocupação em comum pelo bem-estar do nosso planeta. O senso de conexão, o diálogo e o escopo coletivo eram palpáveis, já que indivíduos provenientes de contextos e países diversos se reuniam para responder ao grito da Terra. Como disse Anna Waibel, uma das forças principais do projeto Hortas Escolares na Áustria, “Para mim foi realmente fantástico ver que a minha escola não é o único lugar que procura mudar algo, mas que outros também querem fazê-lo. Notei que nada funciona sem a comunidade e sem agir juntos”. Anny Hesius, coordenadora do Diálogo Multipolar da Bélgica, resumiu de modo apropriado o sentimento coletivo, dizendo: “A proposta era de nos abrir um ao outro para escutar e trocar conhecimento e isso nos tornou mais conscientes, mais fortes, mas corresponsáveis e mais decididos. Nós nos tornamos uma verdadeira família. Protagonistas da paz e da justiça, do amor para com os habitantes da terra e da nossa casa comum”. Nesses quatro dias, os participantes não só ampliaram seus conhecimentos em matéria de ecologia, mas também encontraram um sentido de determinação e de comunidade, partindo com uma vontade renovada de colaborar para realizar uma mudança significativa em escala global.  

Ana Clara Giovani

TVLUX Eslováquia entrevista Jesús Morán

Da espiritualidade da unidade à pastoral generativa da Igreja; do encontro entre os jovens e Jesus ao papel fundamental do Espírito Santo no Sínodo sobre a sinodalidade. Esses são alguns dos temas que Jesús Morán, copresidente do Movimento dos Focolares, abordou em uma entrevista à emissora de televisão eslovaca TVLUX, em 6 de outubro de 2023. As imagens nos foram gentilmente cedidas pela TVLUX. Nestes dias, o sacerdote espanhol e copresidente do Movimento dos Focolares, Jesús Morán, visitou a Eslováquia. Ele conheceu vários bispos formadores e mais de 80 seminaristas em Nitra. Agora, está aqui no nosso programa. Seja bem-vindo. Quando dizemos Movimento dos Focolares, o que imaginamos? Qual o seu significado? O Movimento dos Focolares é um movimento da Igreja Católica cujo centro é o carisma da unidade. O grande teólogo Von Balthasar disse que cada carisma da Igreja é como uma visão de todo o Evangelho a partir de um ponto de vista. Pois bem, o carisma da unidade é todo o Evangelho visto a partir do testamento de Jesus: “que todos sejam um”. Portanto, o centro, tudo o que o Movimento faz no campo eclesial, no campo civil, no campo social, tem a ver com a unidade. Nós almejamos a unidade – unidade de tipo evangélico, como emerge do Evangelho. Unidade, que é uma forma de vida comunitária. Na verdade, pode-se dizer que a Espiritualidade da unidade é a espiritualidade de comunhão, por isso, enfatizamos muito o amor mútuo, o encontro com o irmão. Superar as divisões em um contexto social mais amplo. Propagar a fraternidade universal, certamente, mas o centro é essa oração. Por isso, dizemos sempre que queremos viver na terra, na medida do possível, como se vive na Trindade, ou seja, que a Trindade é comunhão de amor. A fundadora do seu movimento foi Chiara Lubich, que é bem conhecida aqui na Eslováquia. Desde o início, a liderança do movimento é sempre ocupada por uma mulher, o Presidente é sempre uma mulher, é por isso que você é copresidente. Por que é assim? Creio que tem a ver com o nome oficial do Movimento na Igreja, porque somos Movimento dos Focolares ou Obra de Maria. Na realidade, nos estatutos aprovados pela Igreja, fala-se de Obra de Maria. Por isso enfatizamos muito o princípio mariano da Igreja, que é um princípio materno, generativo, que revela uma Igreja acolhedora. Obviamente, o princípio mariano é melhor expresso pelas mulheres. Essa é a ideia. Devemos pensar que a Igreja é mariana, ou seja, Maria é o modelo da Igreja. O Vaticano II disse isso muito claramente: Maria é mãe da Igreja. Nesse sentido, queremos ser um reflexo dessa realidade. A presidência feminina, além de destacar a mulher, o que é um sinal dos tempos, almeja sobretudo evidenciar esse princípio mariano, um princípio tão necessário hoje. Parece ser muito necessário, lembrando aquilo que papa Francisco sublinha, ou seja, uma Igreja mais próxima do povo, uma Igreja em saída, uma Igreja menos clerical, menos masculina. Pois bem, tudo isso tem a ver com a presidência feminina do Movimento dos Focolares. Tem a ver com Maria, acima de tudo. Você veio à Eslováquia não só para conhecer os membros do Movimento dos Focolares, mas também os nossos bispos, sacerdotes, seminaristas. Esse encontro aconteceu em Nitra. Quais sentimentos o encontro com nossos sacerdotes despertou em você? A verdade é que estive com o bispo de Nitra e com outros bispos de várias dioceses, que participaram do encontro com seminaristas de 5 dioceses. Eu me senti muito acolhido, antes de tudo, muito acolhido. Depois, na sala, vi pessoas que seguiam Jesus, vi realmente muita pureza nos seminaristas, muita seriedade. Também alguns, depois do encontro e depois do jantar, quiseram aprofundar o que eu havia dito. Quiseram conversar comigo e percebi nas perguntas uma necessidade, uma urgência de querer ser sacerdotes em sintonia com os tempos atuais. Um sacerdote hoje que vive autenticamente o Evangelho, antes de tudo. Fiquei muito, muito edificado. Você deu bastante ênfase à pastoral generativa, do que se trata? A pastoral generativa é um conceito que vem em evidência nos últimos tempos. Especialmente no Ocidente, uma vez que estamos testemunhando – poderíamos dizer assim – um declínio da Igreja em termos numéricos. Antes, as igrejas estavam cheias, as pessoas participavam dos sacramentos. Muitas pessoas recebiam o batismo, faziam a primeira comunhão. Agora isso diminuiu drasticamente. Então, a questão é: o que está acontecendo? Parece que os métodos utilizados com sucesso durante tantos anos ou séculos não funcionam mais. Então, temos que pensar novamente na pastoral? A pastoral da geratividade não é uma nova pastoral, é como ir à origem da pastoral; e a origem de toda pastoral está em Jesus. E como Jesus evangelizou? Ele é o Evangelho vivo, e evangelizou por meio de encontros pessoais muito profundos. Ou seja, se olharmos para os Evangelhos, sempre que Jesus encontra alguém acontece algo significativo para a pessoa. Vemos isso com Nicodemos, com Zaqueu, com Mateus, com o centurião, com a mulher samaritana, com a mulher hemorrágica, com a mulher cananeia. Sempre acontece alguma coisa. Jesus gera algo no outro. Devemos passar do que se chama pastoral de enquadramento, que é o que tivemos de tipo quantitativo – quantos batizados, quantos se casaram este ano nesta paróquia – para uma pastoral que busca a qualidade, qualidade e não tanto quantidade. Perceber o que está acontecendo nas nossas paróquias. Existe vida cristã nas nossas paróquias? Buscar uma maior fecundidade, e não apenas os resultados. Essa é a pastoral generativa. Portanto, enfatiza muito o encontro com o outro: para encontrar o outro não é preciso esperar que ele venha pedir um sacramento, é preciso ir ao encontro do outro. Portanto, a pastoral generativa muda a ideia do Pastor, muda também a ideia dos cristãos. Sem dúvida são necessários apóstolos que gerem, mas acima de tudo é necessária uma comunidade. acolhedora. Deve continuar acontecendo aquilo que acontecia com Jesus: as pessoas participam da comunidade e ali alguma coisa acontece. Elas são tocadas por algo. Isso, em resumo, é o que temos conversado com os seminaristas. Será que os jovens de hoje procuram a vida e o que eles precisam é que lhes levemos essa vida, que é a vida com Jesus? Sem dúvida. Acho que… sempre pensei que Jesus nunca abordava as pessoas com doutrina. Ele estava sempre em busca de um encontro pessoal, depois ensinava. Embora vejamos Jesus ensinando, percebemos que Ele dedicou muito tempo a esses encontros pessoais. Por isso acredito que os jovens de hoje procuram a vida. A doutrina tem que ser baseada na vida e no encontro com Ele, para que possam aceitá-la. Caso contrário, o cristianismo se torna apenas algo ligado à moral ao ensinamento, mas o cristianismo não é isso. O cristianismo é um encontro com Cristo. Esses jovens que você encontrou em Nitra são os futuros pastores da nossa Igreja. Como podem ser os pastores de que necessitamos neste tempo e para que não caiam no clericalismo de que tanto fala o Papa Francisco? Acredito que um Pastor de alguma forma tem que, mais do que pastorear – que é uma palavra que até mesmo o Papa Francisco usa quando fala em italiano, ele a usa assim em espanhol – ele tem que amar. Primeiro amar, depois pastorear. Se alguém se coloca na posição de pastorear, se coloca numa situação de superioridade como se tivesse que ensinar. Depois, por outro lado, o pároco hoje tem que amar primeiro os paroquianos, tem que amar todos os fiéis. E assim ele é um pastor. Esse é verdadeiramente um Pastor, é assim que ele tem autoridade sobre os outros. Isso é fundamental. É o que disse antes: não buscar tanto os resultados, mas a fecundidade. Outra coisa. Hoje o pastor tem que estar muito atento para não anunciar a si mesmo. Ele anuncia Cristo, portanto, tem que estar profundamente inserido em Cristo, profundamente em Cristo. Um pastor isolado, que não vive em uma comunidade cristã, que não vive o amor mútuo com os outros, dificilmente poderá comunicar o amor que Jesus proclamou na sua vida. Você disse uma palavra que me fez pensar que isso acontece não só com os sacerdotes, mas também com os cristãos que vivem profundamente a sua fé, porém, às vezes esquecem que não são eles que salvam as pessoas, mas é Jesus. Exato. Isso é importante. É por isso que enfatizo muito a comunidade. São Paulo, na primeira carta aos Coríntios, alerta contra o personalismo, quando alguns dizem que são de Apolo, outros dizem que são de Paulo, outros que são de Pedro… Não, somos todos de Cristo, mas Cristo vive na comunidade, na comunidade paroquial. Na comunidade, Ele está presente na Eucaristia, que é mistério de comunhão. Isso é fundamental. Muitas vezes caímos no erro de anunciarmos a nós mesmos com as nossas ideias, em vez de deixar que seja Cristo a falar. A Eslováquia é considerada um país bastante conservador, agora no momento do Sínodo que se realiza em Roma, no Vaticano. Existem vários movimentos que querem avançar e outros que retrocedem. Como manter todo o bem, mas também avançar com a novidade e o bem? Fiquei muito impressionado com o que o papa Francisco disse anteontem, na primeira sessão do Sínodo. Insistiu muito que o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo. E o Espírito Santo está além desses esquemas que são humanos. Um cristão, enquanto cristão, não é conservador nem progressista, é uma pessoa nova, é uma nova criatura. Lemos isso nestes dias na Carta de São Paulo aos Gálatas. É o Espírito Santo quem nos torna novas criaturas, com a nossa mentalidade. Permanecemos com a nossa mentalidade, aquilo que somos. Acredito que temos que superar esses dualismos que não são bons para a Igreja. O Espírito Santo sempre gera novidades. Ele, está na origem de todos os carismas, de todas as novidades da história da Igreja. Ao mesmo tempo, tudo o que o Espírito Santo promove na Igreja vem do Pai. Portanto, Ele também está ancorado na origem. Isso nos diz que é necessária uma maior presença do Espírito Santo na Igreja. Essa é a única maneira de superar esses dualismos que não nos fazem bem. Muito obrigado. Obrigado ao padre Jesús Morán pela presença no nosso programa. Obrigado por me receberem. Muito obrigado a todos e até o próximo programa. Ver o vídeo (ativar legendas em português)