Da espiritualidade da unidade à pastoral generativa da Igreja; do encontro entre os jovens e Jesus ao papel fundamental do Espírito Santo no Sínodo sobre a sinodalidade. Esses são alguns dos temas que Jesús Morán, copresidente do Movimento dos Focolares, abordou em uma entrevista à emissora de televisão eslovaca TVLUX, em 6 de outubro de 2023. As imagens nos foram gentilmente cedidas pela TVLUX.Nestes dias, o sacerdote espanhol e copresidente do Movimento dos Focolares, Jesús Morán, visitou a Eslováquia. Ele conheceu vários bispos formadores e mais de 80 seminaristas em Nitra. Agora, está aqui no nosso programa. Seja bem-vindo. Quando dizemos Movimento dos Focolares, o que imaginamos? Qual o seu significado? O Movimento dos Focolares é um movimento da Igreja Católica cujo centro é o carisma da unidade. O grande teólogo Von Balthasar disse que cada carisma da Igreja é como uma visão de todo o Evangelho a partir de um ponto de vista. Pois bem, o carisma da unidade é todo o Evangelho visto a partir do testamento de Jesus: “que todos sejam um”. Portanto, o centro, tudo o que o Movimento faz no campo eclesial, no campo civil, no campo social, tem a ver com a unidade. Nós almejamos a unidade – unidade de tipo evangélico, como emerge do Evangelho. Unidade, que é uma forma de vida comunitária. Na verdade, pode-se dizer que a Espiritualidade da unidade é a espiritualidade de comunhão, por isso, enfatizamos muito o amor mútuo, o encontro com o irmão. Superar as divisões em um contexto social mais amplo. Propagar a fraternidade universal, certamente, mas o centro é essa oração. Por isso, dizemos sempre que queremos viver na terra, na medida do possível, como se vive na Trindade, ou seja, que a Trindade é comunhão de amor. A fundadora do seu movimento foi Chiara Lubich, que é bem conhecida aqui na Eslováquia. Desde o início, a liderança do movimento é sempre ocupada por uma mulher, o Presidente é sempre uma mulher, é por isso que você é copresidente. Por que é assim? Creio que tem a ver com o nome oficial do Movimento na Igreja, porque somos Movimento dos Focolares ou Obra de Maria. Na realidade, nos estatutos aprovados pela Igreja, fala-se de Obra de Maria. Por isso enfatizamos muito o princípio mariano da Igreja, que é um princípio materno, generativo, que revela uma Igreja acolhedora. Obviamente, o princípio mariano é melhor expresso pelas mulheres. Essa é a ideia. Devemos pensar que a Igreja é mariana, ou seja, Maria é o modelo da Igreja. O Vaticano II disse isso muito claramente: Maria é mãe da Igreja. Nesse sentido, queremos ser um reflexo dessa realidade. A presidência feminina, além de destacar a mulher, o que é um sinal dos tempos, almeja sobretudo evidenciar esse princípio mariano, um princípio tão necessário hoje. Parece ser muito necessário, lembrando aquilo que papa Francisco sublinha, ou seja, uma Igreja mais próxima do povo, uma Igreja em saída, uma Igreja menos clerical, menos masculina. Pois bem, tudo isso tem a ver com a presidência feminina do Movimento dos Focolares. Tem a ver com Maria, acima de tudo. Você veio à Eslováquia não só para conhecer os membros do Movimento dos Focolares, mas também os nossos bispos, sacerdotes, seminaristas. Esse encontro aconteceu em Nitra. Quais sentimentos o encontro com nossos sacerdotes despertou em você? A verdade é que estive com o bispo de Nitra e com outros bispos de várias dioceses, que participaram do encontro com seminaristas de 5 dioceses. Eu me senti muito acolhido, antes de tudo, muito acolhido. Depois, na sala, vi pessoas que seguiam Jesus, vi realmente muita pureza nos seminaristas, muita seriedade. Também alguns, depois do encontro e depois do jantar, quiseram aprofundar o que eu havia dito. Quiseram conversar comigo e percebi nas perguntas uma necessidade, uma urgência de querer ser sacerdotes em sintonia com os tempos atuais. Um sacerdote hoje que vive autenticamente o Evangelho, antes de tudo. Fiquei muito, muito edificado. Você deu bastante ênfase à pastoral generativa, do que se trata? A pastoral generativa é um conceito que vem em evidência nos últimos tempos. Especialmente no Ocidente, uma vez que estamos testemunhando – poderíamos dizer assim – um declínio da Igreja em termos numéricos. Antes, as igrejas estavam cheias, as pessoas participavam dos sacramentos. Muitas pessoas recebiam o batismo, faziam a primeira comunhão. Agora isso diminuiu drasticamente. Então, a questão é: o que está acontecendo? Parece que os métodos utilizados com sucesso durante tantos anos ou séculos não funcionam mais. Então, temos que pensar novamente na pastoral? A pastoral da geratividade não é uma nova pastoral, é como ir à origem da pastoral; e a origem de toda pastoral está em Jesus. E como Jesus evangelizou? Ele é o Evangelho vivo, e evangelizou por meio de encontros pessoais muito profundos. Ou seja, se olharmos para os Evangelhos, sempre que Jesus encontra alguém acontece algo significativo para a pessoa. Vemos isso com Nicodemos, com Zaqueu, com Mateus, com o centurião, com a mulher samaritana, com a mulher hemorrágica, com a mulher cananeia. Sempre acontece alguma coisa. Jesus gera algo no outro. Devemos passar do que se chama pastoral de enquadramento, que é o que tivemos de tipo quantitativo – quantos batizados, quantos se casaram este ano nesta paróquia – para uma pastoral que busca a qualidade, qualidade e não tanto quantidade. Perceber o que está acontecendo nas nossas paróquias. Existe vida cristã nas nossas paróquias? Buscar uma maior fecundidade, e não apenas os resultados. Essa é a pastoral generativa. Portanto, enfatiza muito o encontro com o outro: para encontrar o outro não é preciso esperar que ele venha pedir um sacramento, é preciso ir ao encontro do outro. Portanto, a pastoral generativa muda a ideia do Pastor, muda também a ideia dos cristãos. Sem dúvida são necessários apóstolos que gerem, mas acima de tudo é necessária uma comunidade. acolhedora. Deve continuar acontecendo aquilo que acontecia com Jesus: as pessoas participam da comunidade e ali alguma coisa acontece. Elas são tocadas por algo. Isso, em resumo, é o que temos conversado com os seminaristas. Será que os jovens de hoje procuram a vida e o que eles precisam é que lhes levemos essa vida, que é a vida com Jesus? Sem dúvida. Acho que… sempre pensei que Jesus nunca abordava as pessoas com doutrina. Ele estava sempre em busca de um encontro pessoal, depois ensinava. Embora vejamos Jesus ensinando, percebemos que Ele dedicou muito tempo a esses encontros pessoais. Por isso acredito que os jovens de hoje procuram a vida. A doutrina tem que ser baseada na vida e no encontro com Ele, para que possam aceitá-la. Caso contrário, o cristianismo se torna apenas algo ligado à moral ao ensinamento, mas o cristianismo não é isso. O cristianismo é um encontro com Cristo. Esses jovens que você encontrou em Nitra são os futuros pastores da nossa Igreja. Como podem ser os pastores de que necessitamos neste tempo e para que não caiam no clericalismo de que tanto fala o Papa Francisco? Acredito que um Pastor de alguma forma tem que, mais do que pastorear – que é uma palavra que até mesmo o Papa Francisco usa quando fala em italiano, ele a usa assim em espanhol – ele tem que amar. Primeiro amar, depois pastorear. Se alguém se coloca na posição de pastorear, se coloca numa situação de superioridade como se tivesse que ensinar. Depois, por outro lado, o pároco hoje tem que amar primeiro os paroquianos, tem que amar todos os fiéis. E assim ele é um pastor. Esse é verdadeiramente um Pastor, é assim que ele tem autoridade sobre os outros. Isso é fundamental. É o que disse antes: não buscar tanto os resultados, mas a fecundidade. Outra coisa. Hoje o pastor tem que estar muito atento para não anunciar a si mesmo. Ele anuncia Cristo, portanto, tem que estar profundamente inserido em Cristo, profundamente em Cristo. Um pastor isolado, que não vive em uma comunidade cristã, que não vive o amor mútuo com os outros, dificilmente poderá comunicar o amor que Jesus proclamou na sua vida. Você disse uma palavra que me fez pensar que isso acontece não só com os sacerdotes, mas também com os cristãos que vivem profundamente a sua fé, porém, às vezes esquecem que não são eles que salvam as pessoas, mas é Jesus. Exato. Isso é importante. É por isso que enfatizo muito a comunidade. São Paulo, na primeira carta aos Coríntios, alerta contra o personalismo, quando alguns dizem que são de Apolo, outros dizem que são de Paulo, outros que são de Pedro… Não, somos todos de Cristo, mas Cristo vive na comunidade, na comunidade paroquial. Na comunidade, Ele está presente na Eucaristia, que é mistério de comunhão. Isso é fundamental. Muitas vezes caímos no erro de anunciarmos a nós mesmos com as nossas ideias, em vez de deixar que seja Cristo a falar. A Eslováquia é considerada um país bastante conservador, agora no momento do Sínodo que se realiza em Roma, no Vaticano. Existem vários movimentos que querem avançar e outros que retrocedem. Como manter todo o bem, mas também avançar com a novidade e o bem? Fiquei muito impressionado com o que o papa Francisco disse anteontem, na primeira sessão do Sínodo. Insistiu muito que o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo. E o Espírito Santo está além desses esquemas que são humanos. Um cristão, enquanto cristão, não é conservador nem progressista, é uma pessoa nova, é uma nova criatura. Lemos isso nestes dias na Carta de São Paulo aos Gálatas. É o Espírito Santo quem nos torna novas criaturas, com a nossa mentalidade. Permanecemos com a nossa mentalidade, aquilo que somos. Acredito que temos que superar esses dualismos que não são bons para a Igreja. O Espírito Santo sempre gera novidades. Ele, está na origem de todos os carismas, de todas as novidades da história da Igreja. Ao mesmo tempo, tudo o que o Espírito Santo promove na Igreja vem do Pai. Portanto, Ele também está ancorado na origem. Isso nos diz que é necessária uma maior presença do Espírito Santo na Igreja. Essa é a única maneira de superar esses dualismos que não nos fazem bem. Muito obrigado. Obrigado ao padre Jesús Morán pela presença no nosso programa. Obrigado por me receberem. Muito obrigado a todos e até o próximo programa.Ver o vídeo (ativar legendas em português)
Um compromisso que envolve forças políticas, instituições, movimentos eclesiais, organizações da sociedade civil e, na linha de frente, os jovens. Este foi o clima que se vivenciou durante a Conferência “Corpo Europeu de Solidariedade e Função Pública na Europa”, em 24 de outubro de 2023, em Bruxelas (Bélgica). Jesús Morán, Copresidente do Movimento dos Focolares, presente no encontro, compartilha suas impressões. Na terça-feira, 24 de outubro, Bruxelas (Bélgica) estava inesperadamente ensolarada, ao contrário do que prevíamos na tarde do dia 23, quando chegamos à capital belga e fomos recebidos por uma forte chuva. Para os habitantes de Bruxelas, cidadãos de inúmeros países europeus, ver tanto sol em pleno outono era uma novidade; para nós, foi um bom sinal do que iríamos viver naquela manhã no imponente edifício do Parlamento Europeu. Às 9h15min, numa sala de seminários com capacidade para 30 pessoas, teve início o encontro promovido por três associações de inspirações muito diferentes: o Movimento Europeu, a Associação Caterinati e o Movimento dos Focolares, no âmbito do Corpo Europeu de Solidariedade (CES), uma iniciativa da Comissão Europeia capaz de reunir parlamentares de todos os setores políticos graças ao seu background de grande valor e construtivo. O evento foi também uma homenagem e recordação de David Sassoli – Presidente do Parlamento Europeu que morreu em 11 de janeiro de 2022. Para mim foi a segunda participação em um evento desse tipo. O primeiro remonta ao período anterior à pandemia e foi realizado no Parlamento Europeu em Roma. A providência quis que justamente nesta terça-feira a Comissão para a Cultura do Parlamento Europeu aprovasse quase por unanimidade, enquanto estávamos iniciando a sessão, o relatório sobre as atividades do CES para o período 2021-27. O Movimento dos Focolares não foi representado apenas por mim, como Copresidente, mas também por membros do Movimento Político pela Unidade, New Humanity (presente com 3 jovens) e do “focolare europeu”, com sede em Bruxelas e que interage com muitas pessoas das instituições europeias, acolhendo também imigrantes e promovendo atividades de diálogo e partilha de ideais. Não vou me deter nos detalhes do evento que podem ser lidos nos vários comunicados de imprensa divulgados nos últimos dias. Gostaria, sim, de enfatizar a enorme importância destes eventos, aparentemente menores e minoritários, que, pelo contrário, podem traçar a linha de uma mudança de rumo nas relações internacionais, nas dinâmicas da configuração social das nações e dos povos; que oferece à Europa um fisionomia diferente, mais alinhada com a ideia dos fundadores da União do que estamos habituados a ver, sobretudo nestes tempos, e mais coerente com a sua verdadeira identidade baseada em valores com indiscutíveis raízes greco-latinas e cristãs, como a solidariedade, a abertura, a tolerância, a comunhão, a democracia, a transcendência, a liberdade, a fraternidade e a paz. Além disso é extremamente significativo que iniciativas como o CES tenham os jovens como protagonistas. De fato, compete a eles liderar a mudança de paradigma que todos esperamos. Os mais de 300 000 jovens que participaram do programa de solidariedade da Comissão ao longo dos anos mostram que estes são os objetivos para os quais estão dispostos a empregar todas as suas energias intelectuais e morais. Os jovens não recuam se lhes oferecermos metas elevadas e facilitarmos o seu caminho. Neste momento dramático do mundo, a esperança vem deles e do seu desejo de mudança. Os jovens, que possuem a solidariedade em suas veias, podem deter a deriva de incompreensão, polarização, ódio e violência que aflige o mundo. Com iniciativas como essa, esses jovens criam cultura – uma cultura de alto nível – porque não só trabalham pelas causas mais nobres, mas constroem novas relações, compartilham experiências e tradições e são enriquecidos por sua diversidade. Ao final do encontro, percebeu-se uma alegria especial em todos os participantes, o que não era uma certeza, sobretudo entre os parlamentares, acostumados a confrontos intermináveis e, por vezes, disputas de poder implacáveis. O sol de Bruxelas nos revelou, enquanto nos dirigíamos ao aeroporto, que o nevoeiro se dissipará dos nossos corações se formos um pouco mais generosos e dermos importância ao que realmente tem valor. Só isso já torna tudo mais bonito, até mesmo esta bela cidade.
Na frase “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21), está iminente o pedido de viver radicalmente a nossa fé, e amar significa precisamente isto: fazer a vontade de Deus que nos dá tudo e faz isso sem meias medidas; reconhecer Sua voz no barulho ensurdecedor do mundo e escolhê-la como caminho principal na vida cotidiana.Nas periferias entre os pobres Provocados pela situação de degradação e pobreza de muitas famílias do nosso território, e estimulados pela Palavra de Deus, alguns de nós, depois de termos apresentado a proposta às autoridades religiosas e civis, agimos para nos dedicarmos em particular às crianças das periferias. Primeiro, algumas mães que moram em barracos se ofereceram para ajudar famílias ainda mais pobres. Nosso atendimento começa com o cadastramento e pesagem das crianças de zero a cinco anos, orientação às mães sobre alimentação alternativa (de baixo custo e com alto valor nutricional), vacinação, amamentação e educação. É apenas um primeiro contato para depois enfrentar problemas mais graves: desemprego, alcoolismo, abandono, fome, falta de moradia, drogas, pobreza. Com as nossas famílias vamos todos os fins de semana em auxílio dos que vivem nos barracos para lhes oferecer, com a ajuda de outros cristãos, melhores condições de vida. A comunhão de bens criada entre nós contribui para melhorar a qualidade de vida destas crianças para que não só vivam, mas tenham a garantia de uma vida digna. (M.N. – Brasil) Um trabalho inesperado Na cidade onde moramos, há algum tempo, chegou um casal com cinco filhos. O pai estava desempregado e teve que mudar de casa por motivos de saúde. Como a sua profissão era compatível com a do meu marido e, como além disso, nos foi prometido um trabalho importante, decidimos contratá-lo para a nossa empresa. Depois de alguns meses, porém, o trabalho com que contávamos desapareceu e começamos a nos preocupar com o futuro. Naquele período, a Palavra do Evangelho que nos propuséramos viver convidava-nos à oração porque, dizia o comentário, existem duas tentações: «A presunção de conseguir sozinhos e o medo de não conseguir. Pelo contrário, Jesus assegura-nos que o Pai celeste não nos deixará faltar a força do Espírito se estivermos vigilantes e o pedirmos com fé”. Então, com fé voltamo-nos para ele, confiando-lhe a nova situação, certos de que ele pensaria nisso. No dia seguinte, meu marido recebeu um trabalho importante e inesperado. Desde então não nos faltou mais trabalho e o recém-chegado continua a trabalhar para nós. (M.R. – Suíça) O empréstimo Durante o primeiro período escolar, compartilhei minha bolsa com outro aluno, de uma família muito pobre, que não tinha condições de pagar o cartão da cantina. No início do segundo trimestre, ele me confidenciou que seus pais precisavam urgentemente de dinheiro e me pediu um empréstimo. Eu havia reservado uma quantia para livros e comida, mas por amizade decido atendê-lo. Depois disso, fiquei alguns dias sem vê-lo, enquanto antes ele sempre vinha falar comigo. Estava começando a me preocupar e até a ficar com raiva. Então, de repente, o Evangelho veio em meu auxílio com o pensamento de que é certo ajudar um próximo que está em situação pior do que a minha. Assim que me acalmei, fui visitá-lo em sua casa. Assim que nos vimos, ele me disse que não tinha aparecido novamente porque estava com vergonha de ainda não ter dinheiro para me pagar e que não sabia o que fazer. Eu o tranquilizei, dizendo que ele me devolveria quando pudesse e que, caso contrário, estaria tudo bem: o importante era a nossa amizade, que não devia falhar. (J.B. – África)
Por Maria Grazia Berretta
(extraído de Il Vangelo del Giorno, Città Nuova, ano IX – nº 1 setembro-outobro de 2023)
Viver experiências de fraternidade, gerar relacionamentos de unidade, criar laços de reciprocidade estão entre os objetivos das relações que construímos cotidianamente. Mas onde nasce aquela centelha de luz que nos impulsiona a ousar e ir ao encontro das outras pessoas? Chiara Lubich sugere uma resposta baseada em um acontecimento da sua vida. E agora passemos ao segundo aspecto: a irradiação. O assunto é muito extenso. Vamos nos limitar a recolher algumas indicações aqui e ali nos escritos dos primeiros anos. Mas, só de ler algumas páginas relativas a este aspecto, entendemos que: “A primeira centelha inspiradora foi o amor”. Sim, o amor, uma centelha que se acendeu, difundiu luz ao redor e explodiu num incêndio no mundo. O amor irradia; o amor por si só dá testemunho. Mesmo quando a palavra entra em ação, deve ser apoiada pelo testemunho, pelo amor e acompanhada pela experiência. Assim foi com os primeiros cristãos, assim deve ser também agora. Há um episódio que ficou impresso no fundo do meu coração e que me pareceu muito belo. Nele está o segredo da nossa irradiação, o ponto de onde é necessário partir. “Eu ia pelas ruas de Einsiedeln e vi passar muitas pessoas de várias Ordens religiosas – porque é um ambiente de santuário, maravilhoso –. Entre outros, causavam-me impressão particular, as Pequenas Irmãs de Foucauld. Passavam de bicicleta e tinham um rostinho muito vivo, com aqueles lenços de lavadeiras na cabeça. O rosto vivo lembrava à minha alma aquela frase que se referia ao fundador, Foucauld, o qual – como se dizia – gritou o Evangelho com toda a sua vida. De fato, parecia que aquelas irmãs diziam: ‘Bem-aventurados os pobres de espírito; bem-aventurados aqueles que choram…’. Não eram as bem-aventuranças que o mundo gostaria de ter, era o escândalo do Evangelho. Surgiu, então, dentro de mim um grande desejo de eu também dar, inclusive externamente, o meu testemunho. Mas a resposta não me vinha. A um determinado ponto, encontrei-me com uma companheira – era a Natália – e lhe disse: ‘Veja, aquelas irmãs exercem seu apostolado sobre a minha pessoa, não com palavras, mas com o traje delas…’, e gostaria que nós também pudéssemos fazer isso. Mas através de quê os outros podem conhecer Deus, por meio de nós? Ah! – digo eu –, ‘disto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros’”. Portanto, o amor mútuo era o nosso traje
Oito anos depois da encíclica Laudato Si, o pontífice, com a Exortação Apostólica “Laudate Deum“, faz um apelo a todos os homens de boa vontade para que reajam de modo adequado à crise climática.Muito pouco foi mudado de fato. O mundo “está-se esboroando e talvez aproximando dum ponto de rutura” [2]. Na semana passada, veio a notícia do observatório climático da União Europeia (Copernicus) segundo a qual “setembro foi o mês mais quente da história (a partir de 1850). O aumento da temperatura é, com certeza, um dos sintomas mais aparente da mudança climática. No último mês de julho, a mais renomada revista mundial do segmento “Natureza” demonstrou que as ondas de calor do verão de 2022 causaram quase 63 mil mortes na Europa. Obviamente, não devemos fazer considerações catastróficas porque as margens de mudanças de rota ainda são possíveis, mas é preciso rejeitar categoricamente todo negacionismo irracional e não-científico. Depois de ter respondido com uma atitude decisiva a todas as objeções comuns contra a crise climática em curso, o pontífice destaca: “Vejo-me obrigado a fazer estas especificações, que podem parecer óbvias, por causa de certas opiniões ridicularizadoras e pouco racionais que encontro mesmo dentro da Igreja Católica” [14]. Evita culpar os pobres. “Como esquecer que a África, que alberga mais de metade das pessoas mais pobres do mundo, é responsável apenas por uma mínima parte das emissões no passado?” [9]. Bergoglio dirige a cada um de nós um chamado a “acompanhar este percurso de reconciliação com o mundo que nos alberga e a enriquecê-lo com o próprio contributo” [69]. Infelizmente, alguns efeitos da crise climática já são irreversíveis: algumas espécies “deixaram de ser nossas companheiras de viagem para se tornar nossas vítimas” [15]. E não podemos não “reconhecer que a vida humana não se pode compreender nem sustentar sem as outras criaturas” [67]. Tudo o que não pode nos deixar ainda mais indiferentes. Para consentir a mudança é preciso mudar seja o modo como “olhamos” os outros e a natureza, seja o modo como exercitamos o poder de alcançar um escopo. Mesmo os pequenos passos individuais são importantes: podem não trazer um resultado imediato e significativo, mas podem abrir caminho para uma mudança cultural e “realizar grandes processos de transformação que agem a partir do nível profundo da sociedade” [71]. Cuidar de cada dimensão do nosso planeta é um desafio coletivo que requer uma resposta coletiva. Nesses anos foram muitos os esforços globais, mas com resultados desapontadores: promessas não mantidas e objetivos adiados. Mas “se temos confiança na capacidade do ser humano transcender os seus pequenos interesses e pensar em grande, não podemos renunciar ao sonho de que a COP28 leve a uma decidida aceleração da transição energética, com compromissos eficazes que possam ser monitorizados de forma permanente” [54]. Nós também não podemos renunciar a esse “sonho”. É uma aposta conquistar todas as pessoas de boa vontade para trabalhar por um mundo no qual valha a pena viver.
Depois da agressão terrorista sofrida por Israel, do horror da violência desencadeada, da onda de medo que abalou os dois povos, da angústia pelos reféns e da suspensão pelo destino do povo de Gaza: notícias das comunidades dos Focolares na Terra Santa e um apelo mundial à oração e ao jejum pela paz, em 17 de outubro. “Deixamos as nossas casas e todos os cristãos se refugiaram nas igrejas”. Esta é a breve mensagem que recebemos esta manhã de alguns membros da comunidade dos Focolares em Gaza. São as últimas notícias que recebemos deles. Segundo o padre Gabriel Romanelli, pároco da paróquia católica da Sagrada Família em Gaza, ainda vivem na Faixa 1017 cristãos e entre eles há vários aderentes do Movimento dos Focolares com quem a comunicação é cada vez mais esporádica e difícil. E, apesar disso, nos últimos dias circulou uma mensagem de um deles para agradecer a todos pela proximidade e orações pela pequena comunidade de Gaza. “Vocês me deram a força para não me render ao mal”, escreve, “para não duvidar da misericórdia de Deus e acreditar que o bem existe. Em meio a todas as trevas, tem uma luz oculta. Se não pudermos rezar, rezem vocês. Nós oferecemos e assim é completo aquilo que fazemos. Queremos gritar ao mundo que desejamos a paz, que a violência gera violência e que a nossa confiança em Deus é grande. Mas se Deus nos chamasse para Si, tenham a certeza de que do céu continuaremos a rezar com vocês e a implorar com mais força para que tenha compaixão do seu povo e de vocês. Paz, segurança, unidade e fraternidade universal, é isso que desejamos e essa é a vontade de Deus e também nossa“. Margaret Karram: em meio ao ódio, notícias da fraternidade É preciso coragem para dizer isso hoje, quando o horror e a violência ocupam todo o espaço da mídia, mas estas não são as únicas notícias. Existem aquelas que são menos gritadas, mas que não podem ser silenciadas, como a rede mundial de oração que existe em todos os pontos da Terra, independentemente da crença religiosa e filiação, juntamente com gestos e palavras de fraternidade. Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, disse isso ontem no habitual briefing na Sala de Imprensa do Vaticano, fora do âmbito do Sínodo da Igreja Católica em curso, do qual participa como convidada especial. “Amigos judeus que conheço em Israel “, diz ela, “ligaram para mim, uma árabe-palestina, dizendo que estão preocupados com aqueles que vivem em Gaza. Para mim, é uma coisa muito bela. Todos conhecem as histórias negativas entre esses dois povos, mas muitas pessoas, muitas organizações trabalham para construir pontes e ninguém fala sobre isso. Só se fala em ódio, divisão, terrorismo. Criam-se imagens coletivas desses dois povos que não correspondem à realidade. Não podemos esquecer que ainda hoje muitas pessoas trabalham para construir pontes. É uma semente plantada, mesmo nesta hora difícil.”Dos amigos judeus: formar uma comunidade de oração Para confirmar isso, de uma cidade no distrito de Tel Aviv, um amigo judeu nos escreve: “Se estiverem em contato com os amigos dos Focolares em Gaza, enviem para eles o meu amor e proximidade. Espero que estejam todos a salvo. Hoje estou em casa com a minha família, as escolas estão fechadas e ficamos perto dos refúgios. Nos bate-papos aparecem continuamente apelos e ofertas de ajuda para as famílias que fugiram, para os soldados e suas famílias. Chegam também pedidos de ajuda para os enterros, para homenagear os mortos como devem ser honrados. Parece que todos os jovens foram chamados às armas e tememos por amigos e parentes. Tememos o que vem pela frente. Tento proteger meus filhos do medo, mas o nosso horror é insignificante em comparação com o que aconteceu com os nossos irmãos e irmãs no Sul. Penso nos meus amigos árabes em Israel, que correm para os refúgios como nós. Procuro rezar na mesma hora do meu amigo muçulmano, para que possamos ser uma comunidade de oração, embora muitas coisas nos dividam. Aprecio o desejo de vocês de estarem conosco, juntos, e as suas orações muito além das minhas palavras“. O que podemos fazer? Na conferência de imprensa, Margaret Karram exprimiu a dor e a angústia que sente pelo seu povo, por ambos os lados: “Eu me perguntei, o que estou fazendo aqui? Neste momento não deveria unicamente agir para promover a paz? Mas depois disse a mim mesma: também aqui posso associar-me ao convite de Papa Francisco e às orações de todos. Com estes irmãos e irmãs de todas as partes do mundo, podemos pedir a Deus o dom da paz. Acredito no poder da oração“. Ela depois falou da ação: “Chega de guerras!! VAMOS CONSTRUIR A PAZ!” que as crianças, adolescentes e jovens dos Focolares lançaram juntamente com a associação Living Peace [Viver a Paz]. Reúnem os seus coetâneos para rezar pela paz às 12:00 [meio-dia], todos os dias e em todos os fusos horários; depois propõem-se preencher o dia com gestos que construam a paz no coração de cada um e à sua volta; convidam a enviar mensagens de apoio às crianças, adolescentes e jovens da Terra Santa e os encorajam a pedir aos governantes de seus países que façam tudo o que puderem para obter a paz. O Movimento dos Focolares também adere ao apelo do Patriarca Latino de Jerusalém, o Cardeal Pizzaballa, para um dia de jejum e oração pela paz, no dia 17 de outubro: “Que sejam organizados momentos de oração com adoração eucarística e o terço à Santíssima Virgem. As circunstâncias em muitas partes de nossas dioceses provavelmente não permitirão a reunião em grandes assembleias. Nas paróquias, comunidades religiosas e famílias, será possível se organizar com momentos simples e sóbrios de oração comum”.