Dez 30, 2019 | Sem categoria
Uma das coisas mais bonitas do nosso trabalho na redação do Focolare.org é o relacionamento com as comunidades dos Focolares pelo mundo, aliás, aproveitamos destas festas natalinas para agradecer a todos vocês que nos mandam notícias, consentindo, desse modo, que a vida do carisma da unidade torne-se inspiração para muitos. Neste espírito, o email do padre Domenico De Martino, 36 anos, originário de Nápoles (Itália), atualmente em missão em Burkina Faso, foi um verdadeiro presente, porque abre as portas sobre uma parte do mundo que está vivendo um tempo difícil, onde paz, dignidade e liberdade religiosa são gravemente ameaçadas, e que está fora dos radares midiáticos internacionais. Nos últimos cinco anos o Burkina Faso foi atingido pela violência de grupos extremistas que causaram a morte de centenas de pessoas, uma onda de sequestros e o fechamento de muitas escolas e igrejas. Uma violência que levou a um deslocamento maciço e constante de populações das regiões atingidas para a capital e os grandes centros urbanos. Segundo as últimas informações das Nações Unidas, no início de outubro foram registrados 483.360 refugiados internos, mais do que o dobro em relação à cifra de julho, e os números estão em contínuo crescimento. Há quem fala até em um milhão de refugiados internos.
Padre Domenico faz parte da Comunidade Missionária de Villaregia, e teve os primeiros contatos com o Focolare aos 12 anos, quando leu pela primeira vez a Palavra de Vida, o comentário mensal às escrituras, no espírito do carisma da unidade, que Chiara Lubich começou a escrever há mais de quarenta anos. Ele o lia quando ia visitar os missionários. “Depois, quando tinha 17 anos, escrevi a Chiara Lubich para pedir que me indicasse uma palavra do Evangelho que fosse uma luz para a minha vida, e porque queria compartilhar com ela o meu caminho de busca vocacional. Ainda conservo a sua resposta, na minha Bíblia, e de vez em quando a releio. A palavra que me deu é “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23). Uma palavra comprometedora e forte, e sempre mais procuro compreender o significado dela para a minha vida. Em 2012 fui ordenado sacerdote, após uma experiência de um ano no Peru, em Lima”. Faz dois anos que Pe. Domenico está em missão em Ouagadougou, a capital de Burkina Faso, e ocupa-se de projetos de promoção humana. “Burkina Faso significa, literalmente, ‘terra dos homens íntegros’, e entre os valores do povo burkinabé estão a família e o senso de comunidade. Demos início a uma escola de alfabetização que hoje tem 160 inscritos, a maior parte são moças e jovens mães que não puderam estudar. Também iniciamos um projeto para mulheres que montaram pequenas atividades com as quais se sustentam. As necessidades são muitas e optar por alguma delas não é sempre fácil. O Evangelho e o desejo de estar mergulhados nesse povo nos guiam nas escolhas”.
Nos últimos meses recomeçaram as aulas nas escolas da capital, mas, infelizmente, não se pode dizer o mesmo para outras regiões do país. No norte, nordeste e noroeste muitas escolas foram queimadas por grupos terroristas e no final do último ano letivo vários professores foram assassinados. “As modalidades são sempre as mesmas: os bandidos ou terroristas chegam nos povoados, pegam tudo – animais e colheita – esvaziam as pequenas lojas e depois procuram os professores dizendo que se não forem embora serão as próximas vítimas, a menos que não ensinem o árabe ou aquela que eles definem ‘a verdadeira religião’. Tive ocasião de falar com alguns professores que, apesar desta situação de crise, devem ir ao trabalho nessas províncias, porque o estado não pode permitir que interrompam as atividades, mas o medo é grande. Ainda que a nossa região seja tranquila procuramos estar próximos ao nosso povo, compartilhando medos e angústias. Em setembro passado, num ataque a uma base militar, perderam a vida 40 soldados, entre os quais três jovens nossos paroquianos. Éramos próximos especialmente a um deles, primogênito de uma família que conhecemos muito bem. Quando fomos à sua casa para as condolências, diante da viúva e seus dois filhos que sofriam tremendamente, eu não conseguia dar uma resposta ao porquê de tanto ódio e horror. Ao encontrar o olhar de Jean, o pai do jovem morto, que sempre me diz: ‘vocês, padres, são o sinal de Deus para nós; podemos pedir tudo a vocês, porque nos dão a palavra de Deus, o seu conforto e a sua vontade’, não pude fazer nada além de apertar suas mãos impotentes, sem poder dizer-lhe nada, mas apenas fazê-lo sentir que Deus está ao seu lado”. Nesta situação de grande instabilidade, um sinal de esperança é a crescente comunhão entre as várias igrejas cristãs e com pessoas de outras religiões, especialmente os muçulmanos, com quem se reúnem em oração e invocam a paz. Outro sinal de esperança de que Pe. Domenico nos conta é o projeto para sustentar o pagamento da escola de algumas crianças. Até hoje 96 crianças usufruíram dele. “Ficamos desconcertados quando vimos que muitas crianças não possuem nenhuma certidão de nascimento e por isso, para o estado e para o mundo, não existem. As situações que encontramos são muito complexas e exigem acompanhamento sob vários aspectos. É muito bonito ver como um projeto que coloca Deus como centro leva a uma compreensão e a uma gestão das situações mais profunda, porque se olha à pessoa na sua integridade. Para as certidões de nascimento estamos nos organizando, e isso nos permitirá dar dignidade às crianças dos nossos bairros”. Compreendemos, nas entrelinhas, que Pe. Domenico poderia nos contar ainda muitas coisas, e as suas palavras carregadas de amor pelo povo burkinabé nos aproximam a esse país. “A comunhão – conclui Pe. Domenico – nos ajuda a ser Igreja no verdadeiro sentido do termo, com os pés na terra e as mãos na massa, por todos os filhos de Deus que se encontram na provação e em necessidade”.
Stefania Tanesini
Dez 28, 2019 | Sem categoria
Uma Ong que atua há 13 anos na capital italiana recuperando alimentos que sobram ou que não foram vendidos, prepara todos os dias 250 refeições para os pobres e trabalha para favorecer sua inclusão social.
Acúmulo e desperdício são chagas do nosso tempo e de muitas de nossas sociedades, mas existe quem, silenciosamente, recolhe a comida que seria jogada fora e a doa a pessoas mais pobres. E faz isso não somente para dar assistência, mas como gesto concreto de acompanhamento em um caminho de resgate. É a história de Dino Impagliazzo e de Romaamor, a Ong que ele fundou nesta capital, em resposta ao convite feito por Chiara Lubich no ano 2000, ao receber a cidadania honorária de Roma, quando pediu a cooperação por uma “revolução de amor” na cidade. São 13 anos que Romaamor serve 250 refeições por dia aos moradores de rua que estão nas estações Tuscolana e Ostiense, e na Praça de São Pedro. E hoje, já com 90 anos, Dino experimenta todo dia a mesma alegria de doar-se aos outros: “Ao ajudar estas pessoas, às vezes surgem muitas dificuldades – explica –, é preciso sacrificar-se, mas depois você sente uma grande alegria por ter feito o bem. Cristo ensinou-nos que a essência do cristianismo é amar Deus e o próximo, e Chiara Lubich nos convida a viver pela fraternidade universal: este é o fundamento do nosso serviço aos pobres”. Pelo seu trabalho, Dino recebeu o Prêmio Internacional Cartago 2018, porque “a sua obra de sensibilização e formação restitui ética à cidade e cria concretamente alternativas válidas, que dão justo valor às pessoas e às coisas”. Nós o entrevistamos:
Como começou a experiência de Romaamor? Eu comecei sozinho, por acaso, levando um sanduiche a uma pessoa pobre que encontrei na estação, e aos poucos pensei em envolver o maior número de pessoas possível. Começando pela minha esposa, as pessoas do condomínio, do bairro. Desde sempre nos dirigimos aos pobres com a consciência de que no próximo, seja ele rico, pobre, sadio ou doente, está o meu irmão, e quando o meu irmão está em dificuldades deve ser ajudado e considerado como tal. Para o Dia da Alimentação 2019, o Papa salientou a necessidade de um retorno à sobriedade nos estilos de vida, para cultivar uma relação sadia consigo mesmo, com os irmãos e com a criação… É uma escolha essencial. Se você é cristão e sabe bem que cada pessoa é seu irmão, porque Jesus disse isso a você, se vive não apenas por si mesmo mas em relação com os outros, e sabe que entre nós há pessoas que estão bem e outras que estão mal, então, como pode pensar de outra forma? A sua disponibilidade deve ser sempre total e oferecida com alegria. Diante do predomínio da “cultura do descarte”, vocês, que decidiram servir os pobres, caminham contracorrente… Isso é importante, mas nós não nos limitamos a pegar os alimentos que estão para vencer, cozinhá-los e levá-los às pessoas em dificuldade. Buscamos estabelecer um relacionamento com elas para fazer algo a mais do que simplesmente matar a fome. Procuramos adequar as refeições às pessoas que ajudamos: crianças, idosos, mulheres, doentes, têm exigências diferentes, e para os nossos hóspedes muçulmanos preparamos refeições sem usar carne de porco. O nosso objetivo é favorecer a inclusão: convido os voluntários a tentarem instaurar uma relação estreita ao menos com algumas dessas pessoas. Quando servem as refeições peço que levem duas bandejas, uma para o pobre e outra para eles, para sentar-se e comer juntos. Qual é o valor do grupo? É fundamental, estamos juntos em tudo: para decidir o cardápio, cozinhar, dividir as tarefas. Alguns se encarregam de ver se há pessoas doentes, outros ajudam quem precisa do contato com o serviço público, e um dá força ao outro. As horas que passamos juntos são muitas: começamos a cozinhar à tarde, terminamos às oito, saímos e ficamos na rua por duas horas. Tudo é compartilhado, inclusive alegrias e dificuldades. Alguma das pessoas ajudadas em seguida tornou-se voluntária? Sim! Entre os voluntários, por exemplo, um terço são estrangeiros que estão nos centros de acolhida e aguardam serem reconhecidos como refugiados políticos. Os juízes nos indicam alguns deles para fazerem serviços sociais, e há também seminaristas enviados pelas dioceses. Temos proveniências diferentes, mas agimos todos com a mesma finalidade. Qual o motivo para um jovem vir a Romaamor? Entre os voluntários há um mar de jovens, e o número cresce sempre. Fazem esta experiência com alegria, são felizes, e tentam trazer os seus amigos.
Claudia Di Lorenzi
Dez 26, 2019 | Sem categoria
Foi assinado um acordo de parceria entre a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e New Humanity (Humanidade Nova), a ONG internacional do Movimento dos Focolares. Objetivo: continuar trabalhando juntos para eliminar a fome no mundo até 2030.

©FAO/Giulio Napolitano.
Um acordo que reforça uma colaboração já existente, um documento que confirma o comprometimento comum para fazer a fome e a pobreza desaparecerem do nosso planeta. É esse o significado do acordo de parceria assinado em 19 de dezembro de 2019 em Roma entre a FAO, a maior agência das Nações Unidas, responsável pela alimentação e agricultura, e New Humanity, a ONG internacional do Movimento dos Focolares. O acordo é dirigido à promoção, em particular com as novas gerações, de ações, atividades, iniciativas para realizar o projeto Fome Zero, segundo os objetivos da Agenda 2030 da ONU para o desenvolvimento sustentável. “Obrigada pelo trabalho que já fizeram conosco como New Humanity, colaborando com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com o Fome Zero e com o futuro do planeta e do mundo.” Com essas palavras, a dra. Yasmina Bouziane, diretora de comunicação institucional da FAO, acolheu na sede da Organização em Roma o dr. Marco Desalvo, presidente da ONG New Humanity, juntamente com uma pequena delegação de jovens do Movimento dos Focolares. “Sabemos que temos somente mais 10 anos para alcançar nossos objetivos. Aquilo que vocês fazem com os jovens de todas as classes sociais é extremamente importante, porque os jovens são a inovação, a mudança, são aqueles que esperam informações, sem eles, não podemos chegar às ações concretas que queremos fazer”. “O que assinamos hoje”, continuou, “é mais uma confirmação de que é somente com parceiras que podemos ir em frente. Já apreciamos muito o que o Movimento dos Focolares e New Humanity fizeram com as próprias iniciativas, portanto, juntos, acho que podemos ir em frente e realmente sustentar os países e o planeta todo para chegar aos Objetivos da Agenda 2030”. “Obrigado. Também para nós, esta assinatura significa muito”, disse Marco Desalvo falando do acordo, “Penso nos milhares de jovens que já estão trabalhando pelo projeto Fome Zero. Mas isso também é um novo comprometimento para nós. Ontem estava pensando que Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares que começou indo ao encontro dos que tinham fome, em Trento, pensava em resolver o problema social da cidade. Agora estamos no mundo inteiro e queremos continuar a buscar esse objetivo”. A colaboração entre a FAO e New Humanity já começou há um tempo. Respondendo ao convite da FAO aos adolescentes e jovens a se empenhar em particular pelo Fome Zero, foram muitas as iniciativas às quais deram vida. Um grupo de adolescentes de 11 países elaborou a “Carta de comprometimento” (http://www.teens4unity.org/cosa-facciamo/famezero/) do Movimento Juvenil pela Unidade com a Fome Zero. Todo ano, em maio, a “Semana Mundo Unido” e a corrida de revezamento “Run4Unity” são dedicadas também à sensibilização e ação sobre Fome Zero. A revista bimestral Teens tem uma seção dedicada a essas temáticas de Fome Zero (https://www.cittanuova.it/riviste/9772499790212/). Em junho de 2018, foram recebidas na sede da FAO de Roma 630 jovens (de 9 a 14 anos) do Movimento dos Focolares (https://www.focolare.org/news/2018/06/26/prime-cittadine-famezero/). Pelo seu empenho para cumprir esse objetivo, foi entregue a cada uma um passaporte e se tornaram “as primeiras cidadãs Fome Zero”. Recentemente foi feito um livro (http://new-humanity.org/it/pdf/italiano/diritto-allo-sviluppo/214-new-humanity-e-fao-libro-generazione-fame-zero-ragazzi-in-cammino-verso-un-mondo-senza-fame/file.html), fruto da colaboração entre FAO e New Humanity para os adolescentes (12 a 14 anos) com o título “Geração #FomeZero. Adolescentes a caminho de um mundo sem fome”. E assim se propõe, partindo de testemunhos reais, um novo estilo de vida que possa realizar um mundo unido, portanto, vencer também a fome e a pobreza. Um exemplar também foi entregue à dra. Bouziane: “Vou proteger este livro, obrigada!”. Continuou afirmando que, como jovens e adolescentes, devem avaliar juntos quais são as prioridades às quais se dedicar. Sobre isso, explicaram os jovens presentes, se falará também nos próximos encontros internacionais de formação para as novas gerações em Trento no começo de 2020 e nos Laboratórios do Movimento Juvenil pela unidade no Quênia e na Costa do Marfim. “Nosso comprometimento”, concluiu a dra. Bouziane, “é trabalhar com vocês, nas suas prioridades para poder chegar ao Fome Zero, porque nossa prioridade é chegar ao Fome Zero com vocês, juntos”.
Stefania Tanesini
Dez 23, 2019 | Sem categoria
Felicitações de Natal de Maria Voce, presidente do Movimento dos Focolares
Natal é para todos nós, que o celebramos todos os anos, um momento muito esperado, cheio de emoções, de alegria, de relacionamentos. Mas em meio à atmosfera natalina tão festiva e alegre, muitas vezes nos esquecemos de que na base desta festa há um evento misterioso, eu diria quase escandaloso: o escândalo de um Deus que se abaixa e se torna homem, do Onipotente que se torna uma criança frágil, do Ilimitado que entra nos limites da carne humana. E Deus não faz isso apenas por solidariedade, para estar perto de nós e compartilhar a nossa existência. Ele entra na condição humana para nos demonstrar com a nossa linguagem, com os nossos gestos, com as nossas emoções, a sua própria vida: a de um Deus; uma vida capaz de recompor fraturas, curar feridas, reconstruir relacionamentos. Ele fez isso 2000 anos atrás e quer fazê-lo novamente hoje. Daqui a um mês, no dia 22 de janeiro, comemora-se o centenário do nascimento de Chiara Lubich, a fundadora do nosso Movimento dos Focolares. E nesta ocasião não posso deixar de lembrar o núcleo da sua mensagem, da sua espiritualidade de unidade: a descoberta de que Jesus pode nascer ainda hoje, lá onde dois ou mais se querem bem “com aquele amor de serviço, de compreensão, de participação nas dores, nos fardos, nas angústias e nas alegrias dos nossos irmãos, com aquele amor que tudo cobre, que tudo perdoa, típico do cristianismo” . Daqui a proposta de fazer das nossas relações humanas o presépio, o berço que acolhe Jesus no nosso meio, que quer recompor o nosso mundo, hoje tão fragmentado. Os meus votos para este Natal é de que seja para todos uma festa de profunda alegria, no empenho de nos exercitarmos todos os dias para atrair, com o amor mútuo, a presença de Jesus entre nós, permitindo-lhe, assim, transformar o mundo.
Dez 22, 2019 | Sem categoria
Figura de primeiro plano do budismo theravada tailandês, o Venerável Phra Phron Mongkol faleceu dia 12 de dezembro passado aos 97 anos. De grande valor a experiência de diálogo budista-cristão entre ele e Chiara Lubich. Na metade dos anos 1990, graças a Phramaha Thongratana, monge que havia tido a ocasião de encontrar-se com João Paulo II e conhecer o Movimento dos Focolares e Chiara Lubich, o Grã-Mestre transcorreu um período na Mariápolis permanente de Loppiano, juntamente com o seu jovem discípulo, conhecido, no âmbito católico, com o nome de Luz Ardente. Após os primeiros encontros deste com a fundadora dos Focolares nasceu o desejo de um diálogo entre budismo e cristianismo na Tailândia, que, segundo as palavras do monge, deveria ser realizado “docemente, com uma caridade refinada, com muito amor e envolvendo nele o coração”. E acrescentava uma consideração fundamental para o diálogo: “estes dois termos – budismo e cristianismo – são somente duas palavras […], o bem, o amor, é o que une todos os homens, de qualquer raça, religião, língua, e faz com que todos possam encontrar-se e viver juntos”. Partia daqui o seu empenho decidido e, por vezes, surpreendente: “Até que terei respiro, até que terei vida, buscarei construir relacionamentos verdadeiros e belos com todos no mundo”. Chiara Lubich confirmava estes sentimentos com um convite que era também profecia: “Continuemos a preparar o caminho vivendo segundo a Luz que recebemos, e muitos nos seguirão”. Com esta preparação o ancião e venerável monge havia chegado à Mariápolis de Loppiano, onde fora alojado no Centro de Espiritualidade Cláritas, que recebe regularmente religiosos de várias congregações com o intuito de viverem uma experiência de comunhão entre carismas. Dois monges theravada ao lado de franciscanos, salesianos, jesuítas, dominicanos e outros: uma verdadeira profecia. O venerável Phra Phrom Mongkol ficara profundamente tocado pela acolhida recebida e, ao encontrar Chiara Lubich, comentara: “o fato de você ter convidado dois monges budistas a estarem aqui, no meio do seu povo, é algo extraordinário”. Tudo isso não era apenas formalidade e gentileza, aspectos típicos da cultura tailandesa. Tratava-se dos primeiros passos de uma profunda experiência espiritual, da qual os dois monges estavam plenamente conscientes. Chiara Lubich havia confirmado a sua expectativa por aquele primeiro encontro com uma atitude de escuta, voltada a aprender mais do que a ensinar: “Eu estou feliz por essa visita, inclusive para aprender algo belo. Qual é o coração do ensinamento de vocês?”. Iniciou assim um percurso imprevisível. No início de 1997, com efeito, a líder católica foi convidada por estas personalidades do monaquismo budista a ir à Tailândia, e não se tratava apenas de uma visita de cortesia. Chiara foi convidada a dirigir a sua palavra de testemunho cristão a vários grupos de monges, monjas e leigos budistas, seja em Bancoc, seja, principalmente, em Chiang Mai. Justamente ali, no templo Wat Rampoeng, o Grã-Mestre a introduziu com palavras surpreendentes: “Todos vocês, meus seguidores, se perguntam porque a Mamãe, que é uma mulher, foi convidada. Gostaria que vocês, monges e seminaristas, esquecessem essa pergunta e não pensassem que ela é uma mulher. Quem é sapiente e é capaz de indicar o caminho certo para a nossa vida, seja mulher ou homem, merece respeito. É como quando estamos no escuro: se alguém vem trazer-nos uma lâmpada para nos guiar ficamos muito gratos, e não nos importa se aquela pessoa é uma mulher ou um homem, uma criança ou um adulto”. Nestas palavras parece condensar-se a grande sabedoria deste homem, capaz de caminhar sem medo na estrada do diálogo, arrastando outros nesta experiência. A própria Chiara Lubich, impressionada por esta abertura e sensibilidade, captou algo superior nesta relação, e dirigiu-se ao Grã-Mestre com palavras que parecem proféticas: “Continuemos a preparar o caminho vivendo segundo a Luz que recebemos e muitos no seguirão”. E assim aconteceu. Há 25 anos esta experiência de diálogo continua e se desenvolve. Até na morte há algo que parece acomunar este ancião monge da milenar tradição Theravada com a mulher católica fundadora de um movimento eclesial deste tempo. No último dia 7 de dezembro, com efeito, foram abertas, em Trento, as comemorações do centenário do nascimento de Chiara Lubich, que serão concluídos com um evento inter-religioso no dia 7 de junho de 2020. O venerável Grã-Mestre havia expresso o desejo de estar presente naquela ocasião. Uma amizade destinada a continuar pela eternidade.
Roberto Catalano (Corresponsável pelo Diálogo Inter-religioso do Movimento dos Focolares)
Em conversa com o Grande Mestre Ajahn Thong, um serviço da Collegamento CH de 13 de fevereiro de 2016 https://vimeo.com/155673663
Dez 20, 2019 | Sem categoria
O centro “Nueva Vida”, dos Focolares, há 15 anos desenvolve uma importante ação social de apoio a crianças e suas famílias, num bairro da periferia de Montevideo. Uma conversa com Luis Mayobre, diretor do Centro. “O motor do ‘Nueva Vida’ são os jovens, e esta ação social nos interpela e estimula a não perder de vista o mais importante, isto é, o amor mútuo que gostaríamos que fosse a única lei do nosso Centro”. Assim inicia Luis Mayobre, presidente do Centro desde quase o seu início, em 2004, quando o arcebispo de Montevideo pediu aos Focolares que continuassem a administrar uma obra social iniciada por uma religiosa num bairro de periferia da capital uruguaia. Nasceu assim “Nueva Vida”, cujos objetivos estão inscritos em seu próprio nome: abrir à esperança de um novo início todos aqueles que passam pelas portas do Centro. Este é parte da associação CO.DE.SO (Comunhão para o Desenvolvimento Social, instituída pelo Movimento) e colabora com o INAU, Instituto da Criança e do Adolescente, órgão público que gerencia as políticas para a infância e a adolescência no Uruguai. “O ano de 2018 foi marcado por um clima de violência no bairro Borro – conta Mayobre -. Foram meses de angústia. Por causa das brigas entre duas famílias rivais, de narcotraficantes, qualquer pessoa arriscava a vida. A população, junto com os educadores e funcionários do Nueva Vida, enfrentou com coragem os constantes tiroteios, de dia e de noite. Tivemos que dobrar a nossa presença no Centro porque as famílias o solicitavam, muitas delas foram roubadas e tiveram suas pobres habitações ocupadas pelos traficantes”.
Como vocês se comportaram numa situação tão hostil? “Procuramos o Ministério do Interior, mas como a resposta custava a chegar, precisamos acolher e proteger algumas famílias que, em seguida, direcionamos aos serviços públicos de quem receberam novas casas. Uma dessas famílias – dois de seus filhos participam das atividades do centro juvenil – havia sido ameaçada de morte. A nossa coordenadora contatou uma filha do casal, mesmo se não era simples ter sua ajuda pois tinha uma relação problemática com os pais. No final tudo se resolveu da melhor maneira porque ela colocou à disposição parte de um terreno de sua propriedade para a construção de uma nova casa, mais digna e segura. Lembro também de um caso de violência familiar que a nossa equipe acompanhou e que precisou da intervenção das autoridades para garantir a segurança das crianças e da mãe. Apesar de receber ameaças e insultos nós fomos adiante, consentindo à família reencontrar paz e segurança”. A quem o Centro se dirige e quais serviços vocês oferecem? “Levamos para frente três projetos: o CAIF, o Clube Crianças e o Centro Juvenil. Neste clima de violência nos propomos ser construtores de paz, de esperança e principalmente de alegria, para vencer o ódio e o medo. O ambiente favorável que se criou permitiu que 48 crianças entre 2 e 3 anos, e 60 ainda menores – de 0 a 2 anos – participassem de vários workshops junto com suas mães. Organizamos também excursões didáticas para criar espaços de beleza e harmonia. Foi uma experiência positiva, da qual participaram inclusive famílias, assim chamadas, “rivais”, e que permitiu que os relacionamentos melhorassem notavelmente. No Clube Crianças cuidamos de 62 crianças em idade escolar (de 5 a 11 anos). Estamos atuando na luta contra o abandono escolar e trabalhamos para garantir que todos avancem para as classes seguintes. Atualmente apenas 5% das crianças abandona a escola, diante dos 36% de 2004. Incentivamos os workshops de arte, música, recreação, para sensibilizar as crianças a desenvolverem os valores culturais da convivência, da atenção ao outro e para aprender a ‘cultura da partilha’. E os ajudamos a excluir a violência dos estilos de comportamento. Além disso, as aulas de natação favorecem a aprendizagem do cuidado com o corpo e a higiene. No Centro Juvenil recebemos 52 adolescentes e jovens, de 12 a 18 anos. Este ano cerca de 95% participa das atividades que desenvolvemos no contraturno escolar, uma meta que tínhamos desde o início. Entre eles há seis jovens que frequentam o ensino médio, um grande sucesso visto que no bairro a média não supera os primeiros anos de escola. Organizamos ainda cursos complementares para a formação deles, como manufatura de tecido, marcenaria e comunicação. Essas oficinas são conduzidas, de modo voluntário, por pessoas do Movimento dos Focolares”. Qual é a relação do Centro com as outras associações que atuam nessa região? “Com os anos foi construída uma rede com todas as instituições que trabalham no Borro, com quem colaboramos, em ajuda recíproca. Participamos inclusive da vida da paróquia, Nossa Senhora de Guadalupe. O pároco e um outro sacerdote, nos visitam uma vez por semana. Com frequência chegam voluntários de outros países, como aconteceu este ano com Elisa Ranzi e Matteo Allione, italianos, que nos marcaram muito com sua presença. Agradecemos sempre a quem nos ajuda. A colaboração deles é muito importante para sustentar parte das atividades que desenvolvemos. Cada ajuda, por menor que seja, é preciosa”.
Stefania Tanesini