Movimento dos Focolares

Economia de Francisco: jovens por uma nova economia

Mais de 1000 jovens do mundo inteiro em Assis (Itália). Objetivo: redesenhar juntos a economia, dando-lhe um espírito novo, tornando-a mais sustentável, inclusiva e atenta aos últimos. O Papa Francisco os encontrou e, com entusiasmo, assinou um “pacto” com eles, convidando-os a transformar seus ideais em ações concretas. Copyright 2022 © CSC Audiovisivi – All rights reserved. (2661M)

60 Anos depois do Vaticano II: sonhando de novo

Em 11 de outubro de 1962, foram abertos os trabalhos do Concílio Vaticano II. Sessenta anos depois, uma reflexão e uma visão deste acontecimento histórico e excepcional na vida da Igreja. “O Concílio que está começando surge na Igreja como um dia brilhante da mais esplêndida luz. Mal amanhece: mas como os primeiros raios do sol da primavera já estão tocando nossas almas”! Com estas palavras, o Papa João XXIII concluiu a solene celebração na Basílica de São Pedro em 11 de outubro de 1962, inaugurando uma nova era. Sessenta anos se passaram desde a abertura do Concílio Vaticano II, um Concílio ecumênico, ou seja, universal, e um momento de grande comunhão para enfrentar, à luz do Evangelho, as novas questões colocadas pela história e responder às necessidades do mundo. O trabalho, realizado sucessivamente por Paulo VI, durou até dezembro de 1965 e apenas um mês antes do final do evento conciliar Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, escreveu: “Oh! Espírito Santo, fazei-nos, através do que já sugeristes no Concílio, uma Igreja viva: este é o nosso único anseio e todo o resto é para isto”[1]. Estas palavras foram fruto do crescente fervor que já animava os movimentos e as novas comunidades eclesiais pré-conciliares; um sinal indelével daquela “circularidade hermenêutica que, em virtude da ação do Espírito Santo na missão da Igreja, se estabelece entre o magistério de um Concílio como o Vaticano II e a inspiração de um carisma como o da unidade”[2]. Mas com que olhos, hoje, devemos olhar para este aniversário? Vincenzo Di Pilato, professor de Teologia Fundamental na Faculdade de Teologia da Púlia (Itália), nos fala sobre isso. Professor Di Pilato, que sonhos animaram o desejo de iniciar este Conselho? A partir da decisão resoluta de convocar um Concílio universal, em 25 de janeiro de 1959, último dia da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, o Papa João XXIII tentou explicar suas intenções usando termos que hoje se tornaram altamente significativos, tais como: atualização, sinais dos tempos, reforma, misericórdia, unidade. Nos meses que antecederam a abertura do Concílio, o Papa esperava que fosse uma epifania do Senhor (cf. Ex. ap. Sacrae Laudis, 6 de janeiro de 1962), o que levaria Roma a tornar-se uma nova Belém. Bispos de todo o mundo, como fizeram os Reis Magos, viriam a adorar Jesus no meio de sua Igreja. Roncalli sonhava com uma Igreja sinodal, uma Igreja que saísse “do recinto fechado de seus cenáculos” (10 de junho de 1962); uma “Igreja de todos, especialmente dos pobres” (11 de setembro de 1962) porque o “propósito” do Concílio coincidia com o da Encarnação e Redenção, ou seja, “a união do céu com a terra… em todas as formas de vida social” (4 de outubro de 1962). Por que fazer hoje uma pausa para refletir sobre este aniversário? Não é um aniversário como qualquer outro, mas a ocasião imperdível para uma consciência renovada de um tempo de graças especiais. A Igreja – talvez um pouco sobrecarregada por seus dois mil anos – é encorajada a voltar a “sonhar”, isto é, a reviver ainda hoje esse acontecimento no Espírito do Ressuscitado, com a certeza de que Ele está aqui e estará “até o fim do mundo” (Mt 28,20). O que mais poderia significar o processo sinodal transmitido pelo Papa Francisco se não o de perpetuar o Pentecostes em todos os tempos e lugares? Além disso, no período antes e, sobretudo, depois do Concílio, a vitalidade crescente de novos movimentos, como o Movimento dos Focolares e outras agregações de fiéis e comunidades eclesiais, fomentou uma maior compreensão do princípio da co-essencialidade entre as dimensões institucional e carismática da Igreja. É importante lembrar esta sinergia do Espírito que garante que a Igreja nunca seja deixada sozinha diante dos imensos desafios que surgem de tempos em tempos no caminho da história. Em uma palavra: a Igreja é o lugar da fraternidade onde começa o Reino de Deus, cujos limites vão para muito além dos limites visíveis da própria Igreja. A “corresponsabilidade” dos leigos na Igreja, uma palavra que pode ser rastreada até o Concílio, é um caminho que ainda está aberto… Sim, certamente é um discurso em gestação, e equivale a reconhecer a igualdade fundamental de todos os batizados; a rever a relação presbíteros-leigos; a apreciar a circularidade das vocações; a implementar todas as estruturas de comunhão e formas de sinodalidade já possíveis; a focalizar a colegialidade episcopal e no próprio presbitério (entre o clero e com o bispo); descobrir a co-essencialidade dos ministérios e carismas; promover a plena reciprocidade homem-mulher na Igreja; engajar-se no diálogo ecumênico e inter-religioso; abrir-se em uma relação autenticamente dialógica com o mundo ao redor, com a(s) cultura(s), aumentando a capacidade e a disposição para escutar, que a familiaridade com Cristo nos dá e nos refina; promover novas tentativas de dar vida a pequenas e animadas comunidades locais. Em uma palavra: deixar Cristo emergir não apenas no que dizemos, mas nas relações que construímos com cada próximo e em todos os níveis.

Maria Grazia Berretta

[1] C. Lubich, Una nuova Pentecoste, do diário, 11 de novembro de 1965, em La Chiesa, por B. Leahy e H. Blaumeiser, Città Nuova, Roma 2018, p. 69. [2] Piero Coda, por ocasião do Simpósio “O Concílio Vaticano II e o carisma da Unidade de Chiara Lubich”, Florença, 11-12 de março de 2022.

Peru: preocupados e confiantes

A intensa experiência vivida por Jenny López, responsável pelo Centro para Idosos Chiara Lubich, em Lámud, na Amazônia peruana. A história de seu encontro com L. Naquela manhã eu estava em meu escritório, na prefeitura, e recebi uma carta pedindo ajuda para internar uma idosa no nosso Centro. O arquivo trazia apenas o nome da pessoa, L., e o número do documento. Solicitei, então, um relatório mais completo e um diagnóstico atualizado do seu estado de saúde. O município de proveniência me explicou que a idosa tinha sido vítima de violência por parte da sua própria família. Era uma pessoa vulnerável, tinha os braços machucados, não podia se movimentar e estava em estado de total abandono. Era prudente que fosse afastada da sua casa e do vilarejo onde morava. Como responsável pelo Centro para Idosos “Chiara Lubich”, pedi às autoridades locais que acelerassem as práticas para este caso, que parecia muito urgente. O tribunal deveria emitir uma sentença para que a senhora pudesse deixar sua casa, mas o juiz estava de férias. Decidi, então, que estaríamos disponíveis para acolhê-la imediatamente, assumindo todas as responsabilidades. Para chegar até ela precisamos fazer sete horas de viagem em estradas acidentadas. Nós a encontramos sozinha em sua casa, adormecida, quase moribunda. Eu me aproximei, chamando-a pelo nome, mas ela não me respondeu. Assinei logo o documento para poder transferi-la e passamos aquela noite em um hotel. Eu não conseguia dormir, a minha mente e a minha alma estavam concentradas naquilo que poderia acontecer. Eu me levantei bem cedo e, na oração, ofereci todos os meus temores. No dia seguinte pedi a ajuda de uma assistente social, para que pudesse finalmente voltar para casa, para meu marido, minhas filhas e meus pais idosos, mas não havia nenhuma disponibilidade. Foi difícil decidir, mas interiormente eu sentia que não devia desistir. A vida de L., que estava por um fio, dependia apenas de um nosso pequeno esforço. E assim passou mais um dia. Eu sussurrei a L.: “Você sofre, como Jesus sobre a cruz, e eu estou aqui com você. Se tiver que ir para o Paraíso não estará sozinha, eu lhe acompanharei”. Passei a noite inteira com ela, depois, na manhã seguinte, chegaram os médicos que cuidaram dela, a hidrataram, e somente depois pudemos transferi-la para o Centro, onde foi acolhida com muito afeto. Ela precisava 23 ampolas de um remédio muito forte. Girei por muitas farmácias e, finalmente, uma delas tinha algumas caixas, mas a funcionária duvidava que chegasse àquele número. Quando abrimos as caixas havia exatamente 23 ampolas. Ela ficou surpresa, e eu lhe disse: “É assim, quando caminhamos com Deus”. Depois daquela longa viagem, L. pode repousar. Há alguns dias Deus a chamou para si, circundada pelo amor e as orações de todos nós, e com a unção dos enfermos. Mesmo na dor, permaneceu em todos a alegria por ter amado essa querida idosa que sofreu tanto, mas que deixou um rastro de amor e de orações de pessoas do mundo inteiro. A sua breve presença foi como um presente, que nos deixou muito apreensivos, mas com uma confiança renovada em Deus. Jenny López Arévalo (Lámud, Amazonas, Peru)

Testemunho colhido por Gustavo E. Clariá

O Balanço de Comunhão do Movimento dos Focolares

O Balanço de Comunhão do Movimento dos Focolares

O Movimento dos Focolares publicou um Balanço de Comunhão do período 2020-2021, instrumento de informação para apresentar as principais ações dessa realidade no mundo; é um documento detalhado que serve para todos para viver e caminhar juntos em direção à realização da unidade e da fraternidade. Pela primeira vez, o Movimento dos Focolares publica um balanço da missão e decide fazê-lo em meio a este tempo de crises e incerteza, que traz consigo os rastros da pandemia e as feridas ainda abertas dos tantos conflitos no mundo. Mas é justamente quando as problemáticas parecem maiores e mais comuns que parece emergir um sentimento popular de verdadeira fraternidade e solidariedade. Portanto, esse Balanço de Comunhão, mais do que ser um simples relatório, se propõe a restituir ao leitor uma narrativa explicativa das ações do Movimento dos Focolares, trazendo à luz o que une e o que ainda precisa melhorar. O Balanço dá uma importância particular ao elemento-chave que carrega o mesmo nome: a comunhão. O estilo de vida proposto pelo Movimento, de fato, tem como base a intenção de colocar em prática o amor que obtém suas raízes no Evangelho. Um amor que – como dizia a fundadora do Movimento dos Focolares Chiara Lubich (1920-2008) – pede para amar a todos, amar por primeiro, “colocando-se no lugar do outro”, de modo que esse amor se estenda até se tornar recíproco, até se tornar, exatamente, comunhão. Sob essa ótica, o documento quer esclarecer os efeitos da comunhão, daquilo que se tem e daquilo que se é, uma partilha voluntária e livre. Ao mesmo tempo, quer fazer com que esse mesmo instrumento se abra ao diálogo e à comunhão, como afirmou a Presidente Margaret Karram em suas palavras introdutórias: “É com esses sentimentos que desejo oferecê-lo a todos vocês para que também ele possa se tornar um instrumento de diálogo, para construir pontes e difundir uma cultura e prática de fraternidade. Tenho muito no coração que possamos aprender a viver sempre melhor essa comunhão, essa troca, em um relacionamento recíproco que nos torna irmãs e irmãos e promove uma autêntica família na qual as diversidades nos enriquecem e nos ligam em uma unidade harmônica.”

Stefania Tanesini

Para ler o Balanço de Comunhão em italiano, clique aqui

Chiara Lubich: viver “para” os outros

Se quisermos imitar Jesus, devemos tentar colocar em prática o que Ele disse e fez: palavras e gestos que encontramos no Evangelho. Um texto sempre atual e que é preciso viver integralmente. Constataremos que é possível encontrar um caminho para solucionar os conflitos e os problemas que quotidianamente temos que enfrentar. Lavar os pés… Não há dúvida de que este gesto de Jesus é um exemplo claro, concreto e eficaz do mandamento do amor. Jesus quer ensinar a seus discípulos que a humildade é a base do amor. […] Justamente porque Jesus é o Senhor e Mestre, seu exemplo se transforma em modelo de comportamento para os seus discípulos. A comunidade cristã, e, portanto, cada um de nós, é convidado a fazer dele a regra de ouro da própria vida. Pouco depois Jesus vai indicar a sua conduta como lei fundamental da Igreja, isto é, o discípulo deve amar os seus irmãos como Ele mesmo amou. […] A imitação que Jesus nos pede não consiste em repetir maquinalmente o seu gesto, embora devamos conservá-lo sempre diante de nós como um luminoso e inigualável exemplo. Imitar Jesus significa compreender que nós cristãos temos sentido se vivermos “para” os outros, se concebermos a nossa existência como um serviço aos irmãos, se basearmos a nossa vida nestes fundamentos. Então, teremos realizado aquilo que Jesus mais valoriza. Teremos penetrado no âmago do Evangelho. Seremos realmente felizes.

Chiara Lubich

(Chiara Lubich, Parole di Vita, Città Nuova, 2017, p. 234/5)

Evangelho Vivido: ‘Mesmo sendo livre de tudo, eu me fiz o servo de todos para ganhar o maior número’

Aproximar-se do outro significa diminuir a distância entre nós e ele, e isso implica perder aquele pedaço de espaço que é só nosso; significa deixar de lado o que temos que fazer para abraçar a vida do outro. Escolher o último lugar para se colocar a serviço. Uma paciente exigente No setor do hospital, onde eu trabalhava como enfermeira, uma senhora em um quarto individual exigia ser atendida a cada pequena necessidade. Eu podia ver que ela estava sofrendo: talvez ela sentisse que o fim estava se aproximando. Um dia, depois de mandar rudemente o padre embora para que fosse visitar outros pacientes, ela colocou um aviso escrito na porta: não queria visitas, especialmente de padres. Todas as manhãs, ao começar meu turno, a fim de amar Jesus sofredor naquela senhora, eu tentei satisfazer todos os seus desejos: arrumar seu travesseiro, trazer-lhe um copo de água, abrir mais a janela, fechá-la, etc. Um dia ela me perguntou: “Como você pode ser tão paciente comigo? Apontei para o crucifixo pendurado na parede: “É ele quem me dá a paciência”. Desde então, a relação entre nós começou a crescer. Uma noite, quando ela estava pior, insistiu com a enfermeira de plantão para que telefonasse à paróquia para conseguir um padre para vir imediatamente. Pouco tempo depois, ela quis se confessar e recebeu a comunhão. No outro dia, quando cheguei ao trabalho, ela estava quieta. Às dez horas, faleceu. (Vreni – Suíça) Fazer o mundo sorrir Mohammed ainda não tem 22 anos de idade, é curdo do Iraque e já viveu alguns anos na Suécia. Agora ele veio para a Itália para uma questão de documentos. Ele tem dois olhos claros e bondosos. Convido-o a sentar-se no meu escritório para explicar como funciona o dormitório da Cáritas onde ele ficará temporariamente alojado. Graças ao inglês, podemos nos entender um pouco. Tento me interessar por ele e pela sua família, suas razões para deixar sua pátria e seu breve mas já intenso passado, esquecendo as situações – por mais dolorosas que fossem – que conheci antes de sua chegada. Quando ele entrou, parecia cansado e tenso, agora eu o vejo relaxar lentamente. Frequentemente sorri. No final, ele me diz: “Em seis anos, nunca conheci uma pessoa que me acolhesse como você fez esta manhã. Você fez com que meu estresse desaparecesse”. Depois, ele me agradece e me pede para escrever meu nome em um papel, mas quando a entrevista termina e ele se despede e me chama de “pai”. (S.U. – Itália)

Por Maria Grazia Berretta

(extraído de Il Vangelo del Giorno, Città Nuova, ano VIII, nº.2, setembro-outubro de 2022)