Movimento dos Focolares

Chiara Lubich: somente o Evangelho

Tudo passa, até mesmo a vida. Somente o Evangelho permanecerá para sempre, por não sofrer o desgaste do tempo. Hoje, 14 de março de 2022, 14 anos após a morte de Chiara Lubich, publicamos este trecho em que ela entrega o Evangelho àqueles que a seguem no caminho da unidade. É um convite para viver a Palavra em todas as nossas ações cotidianas. Percebo na alma um pensamento que se repete: “Deixa a quem te segue somente o Evangelho”. Se fizeres assim, o Ideal permanecerá. É claro que no tempo em que vives e os outros vivem, foram úteis os conceitos, as frases, os slogans que tornavam o Evangelho apropriado à época moderna, mas esses pensamentos, esses ditos, essas como que ‘palavras de vida’, passarão. Quando a unidade entre os cristãos estiver praticamente realizada, o ecumenismo o não será mais uma meta distante; quando certa unidade no mundo for alcançada, não se falará mais em homem-mundo como um ideal a ser perseguido; quando o mundo, predominantemente ateu, for permeado pela realidade de Deus, o ateísmo não virá mais tão em evidência; A própria Espiritualidade da Unidade, que hoje é um remédio para os tempos atuais, uma vez atingida sua finalidade, será posta ao lado de todas as outras espiritualidades que surgiram dos vários carismas doados por Deus à Igreja, no correr dos séculos. O que permanece e permanecerá sempre é o Evangelho, que não sofre o desgaste do tempo: ‘Passarão o céu e a terra. Minhas palavras, porém, não passarão’ (Mt 24,35). Aqui se trata de todas as palavras de Jesus”. Percebo que devemos, sem dúvida, adequar-nos com todas as forças ao tempo no qual vivemos, seguindo as inspirações particulares que Deus nos dá a fim de levarmos e cultivarmos, em nós e naqueles que nos foram confiados, o Reino de Deus. Mas devemos fazer tudo isso sabendo da transitoriedade da vida, sabendo que existe a Vida eterna, anunciada por Jesus com o seu Evangelho. Devemos, no nosso coração, subordinar todas as ideias e os modos de fazer úteis, mas não puramente evangélicos e renovar constantemente a nossa fé no Evangelho, que não passa.

Chiara Lubich

(Chiara Lubich, A Palavra de Deus, Cidade Nova 2012, págs. 146 e 147)

Concílio Vaticano II e carisma à serviço da unidade

Concluiu-se, em Florença, na belíssima moldura do Palazzo Vecchio, após o primeiro dia realizado na Faculdade Teológica da Itália Central, a conferência “O Concílio Vaticano II e o carisma da unidade de Chiara Lubich”. Um evento inserido em um debate de grande atualidade, da sinodalidade ao compromisso pela paz e o diálogo entre os homens e os povos. O grande tempo dos novos movimentos eclesiais, que viu o seu ápice durante o pontificado de João Paulo II, certamente teve a sua origem no período pré-conciliar. Encontrou a sua razão de ser, mais tarde, na assembleia vaticana, em especial na valorização do laicato católico e na redefinição da presença da Igreja no mundo (Lumen gentium), além de que na centralidade da Palavra compartilhada em comunhão (Dei verbum). O período pós-conciliar permitiu, em seguida, a explosão numérica e qualitativa desses movimentos, que Paulo VI valorizou e desenvolveu, e que o magistério de João Paulo II aplaudiu e apoiou. Um enredo de unidade e distinção, particularmente na Igreja da segunda metade do século XX, que encontrou no carisma de Chiara Lubich, um carisma ao serviço da unidade da Igreja e da humanidade, a sua expressão mais madura. O evento esteve inserido no grande movimento de solidariedade com as vítimas da guerra na Ucrânia, e com todos os homens e mulheres de paz que atuam na Ucrânia e na Rússia, na Europa e na Ásia, em todos os lugares. Testemunhou assim a competência do carisma da unidade ao serviço da unidade, na complexa e às vezes turbulenta atualidade. Como notou o vereador Alessandro Martini, num dia em que, na cidade de Florença, foi realizda uma manifestação pela paz de nível internacional. Por estes motivos, dado que o Movimento dos Focolares aparece como o primeiro e o mais difundido movimento eclesial da era conciliar, por ocasião do centésimo aniversário do nascimento da sua fundadora – adiado duas vezes por causa da pandemia – o Instituto Universitário Sophia e o Centro Chiara Lubich organizaram um encontro internacional intitulado: “O Concílio Vaticano II e o carisma da unidade de Chiara Lubich: Dei Verbum e Lumen Gentium”. Sede: Florença (Itália). Data: 11 de março na Faculdade Teológica da Itália Central e 12 de março no Palazzo Vecchio, Sala dei Cinquecento. Patrocinado pela Prefeitura de Florença, o evento teve a participação da Associação Teológica Italiana, da Faculdade Teológica da Itália Central, do Instituto Paulo VI, do Centro Internacional de Estudantes Giorgio La Pira, da Editora Città Nuova, da Escola Abbà e, obviamente, do Movimento dos Focolares. O comitê científico era composto por Alessandro Clemenzia (FTIC), Piero Coda (IUS) e, pelo Centro Chiara Lubich, Florence Gillet, João Manoel Motta e Alba Sgariglia. Em novembro de 1965, no encerramento da plenária vaticana, Chiara Lubich sintetizou, em uma significativa oração, a peculiaridade talvez mais evidente do Concílio, a Igreja que nasce da presença de Jesus entre nós: “Ó Espírito Santo, faz que nos tornemos Igreja viva, por meio daquilo que sugeriste ao Concílio: este é o nosso único anseio e todo o resto serve a isso”. Foi com este espírito que a Conferência assumiu o objetivo de iniciar uma profunda análise com dois propósitos: perceber se e como a mensagem do Concílio tenha encontrado, na experiência suscitada pelo carisma, ao serviço da unidade, um espaço fecundo de interpretação e desenvolvimento; perceber se e como o horizonte descortinado pelo Vaticano II tenha tornado possível e propiciado o florescimento de vida eclesial promovido pelo carisma da unidade.                              Na primeira etapa a atenção foi concentrada nas Constituições Dei Verbum e Lumen Gentium, a fim de evidenciar os pontos de convergência e as contribuições da doutrina conciliar e da inspiração do carisma da unidade, em torno do nexo crucial para o qual a Igreja nasce e cresce como encarnação histórica, no sopro do Espírito, da Palavra que “se fez carne” (Jo 1,14). O programa do encontro foi muito denso, como acontece com frequência, quando é o resultado de um trabalho sério de idealização e preparação. Muitas palavras que, aos poucos, adquiriam um sentido completo, pela contribuição diversificada dos estudiosos. No primeiro dia houve a palestra de Piero Coda, ex-diretor do Instituto Universitário Sophia (“Uma coincidência cronológica e kairológica: um concílio e um carisma. Para um discernimento teológico da correlação entre Vaticano II e carisma da unidade”); de Paolo Siniscalco, da Universidade Sapienza de Roma (“Chiara Lubich na época do Vaticano II”); e do teólogo Severino Dianich (“O evento do Concílio Vaticano II: sacramento… da unidade de todo o gênero humano”). Coda salientou como o carisma, ao serviço da unidade, deu uma contribuição decisiva para a história da Igreja, no caminho da comunhão edificada em Cristo crucificado, abandonado e ressuscitado. Siniscalco traçou, com sabedoria e precisão histórica, os vários passos da aventura existencial de Chiara Lubich, antes, durante e depois do Concílio Vaticano II. E Dianich, com sua conhecida clareza e franqueza, deu uma interpretação do Vaticano II como berço de uma reinterpretação mais leiga e mais comunitária do Evangelho. Sábado, 12, o encontro transferiu-se para um ambiente civil, após a primeira sessão realizada em um ambiente eclesial, como para reiterar o duplo valor operacional do carisma ao serviço da unidade. No prestigioso Palazzo Vecchio, na Sala dei Cinquecento – que, desde 1964, foi sede de vários encontros do Movimento dos Focolares, e onde a própria Chiara Lubich recebeu, no ano 2000, a cidadania honorária de Florença – os trabalhos foram abertos pela atual presidente do Movimento dos Focolares, Margaret Karram, salientando a importância da sede de Florença, na memória de Giorgio La Pira, o prefeito santo, homem de paz e de “Igreja viva”. Ainda em 1974, juntamente com o cardeal Benelli, a Lubich fundou o Centro Internacional de Estudantes Giorgio La Pira, ligando, dessa forma e de movo incancelável, o seu nome à cidade. Florença como cidade da paz, com ligações privilegiadas com o Oriente Médio de onde provém Margaret Karram, palestina de passaporte israelense. “Trabalhamos para tecer, em toda parte, relações de paz, o bem mais precioso que a humanidade possa possuir”, disse a presidente dos Focolares. Afirmação reiterada pelo cardeal Giuseppe Betori, ausente por motivos de saúde, em sua mensagem: “A experiência do diálogo em todos os níveis, que caracterizou a vida de Chiara Lubich, tinha o fundamento em uma intuição evangélica a respeito da relação entre interioridade e exterioridade, onde a relação com o outro era a prolongação, como causa e efeito, da união íntima com Deus”. Dando prosseguimento à conferência, no Palazzo Vecchio, falando da Dei Verbum com um timbre eminentemente teológico, Vincenzo di Pilato (FTP) abordou o tema: “O alfabeto para conhecer Cristo. A Palavra de Deus, evento permanente de salvação na Dei Verbum”. E Florence Gillet, do Centro Chiara Lubich enfrentou um tema na fronteira entre história e eclesiologia: “A Palavra de Deus em Chiara Lubich: presença viva de Cristo que gera a Igreja”. Em seguida, uma mesa-redonda com Giovanna Porrino (IUS) sobre “A Palavra na vida da Igreja”, Declan O’Byrne (IUS). “A Palavra e o Espírito”, Angelo Maffeis (FTIS) sobre “A Palavra de Deus como princípio de unidade”, e com o teólogo evangélico Stefan Tobler (USBL), sobre “Uma mística da Palavra como via ao ecumenismo”. A terceira e última sessão do encontro, dedicada à Lumem Gentium, teve a aguardada palestra de D. Brendan Leahy (Bispo de Limerick, na Irlanda), sobre “A Igreja e o princípio mariano”. A mesa-redonda que se seguiu contou com as intervenções de Alessandro Clemenzia (FTIC/IUS), “A Igreja da Trindade”; de Assunta Steccanella (FTV/TV), “O povo messiânico”; de Erio Castellucci, bispo de Modena-Nonantola e vice-presidente da CEI, “Colegialidade episcopal e sinodalidade na Igreja”; e de Cristiana Dobner (carmelita descalça), “Os carismas na missão da Igreja”. Para terminar, a palavra da teóloga Yvonne Dohna Schlobitten, da Pontifícia Universidade Gregoriana, sobre o tema “Um ícone da eclesiologia do Vaticano II”. A Sala dei Cinquecento, que embora cheia de símbolos de guerra propostos nas grandes pinturas penduradas nas paredes, ouviu as palavras de paz de La Pira, Bargellini, e Lubich, recebeu assim, dias 11 e 12 de março de 2022, um evento que mostrou como a Igreja e a sociedade civil podem ser um testemunho de comunhão e diálogo, estimulando a política a tomar a paz e a sua construção como seu horizonte.

Michele Zanzucchi

Na casa de Chiara “Luce” Badano

Na casa de Chiara “Luce” Badano

Nos dias 06 e 07 de março de 2022, a presidente e o copresidente do Movimento dos Focolares estiveram em Sassello (Itália), cidade natal da beata. Foi um encontro íntimo e pessoal com Chiara Luce e com a Fundação que cuida e promove a memória dela. Tem um antes e depois da passagem por Sassello, cidade natal de Chiara “Luce” Badano, na província de Savona (Itália). Certamente, pode-se conhecer a jovem beata por livros, documentários ou pela maciça presença nas mídias sociais, mas se tiver a sorte de poder ir a Sassello, tudo muda, porque no campo-santo, ou por meio de sua mãe Maria Teresa e seus amigos-testemunhas, o relacionamento com ela passa imediatamente a outro plano: aquele do encontro pessoal. E foi isso que aconteceu nos últimos dias 06 e 07 de março também com Margaret Karram e Jesús Morán, que foram para lá: uma das primeiras viagens fora da sede da presidente e do copresidente do Movimento dos Focolares, a um ano da assembleia que os elegeu. Uma visita particular, que nasceu do desejo de encontrar Chiara Luce, mas não só isso. “Nesses dias, compreendi como Chiara Luce é extraordinária; as raízes da sua santidade”, comentou a presidente que pôde abraçar Maria Teresa Badano, conhecer o bispo de Acqua, monsenhor Luigi Testore, e encontrar os membros da Fundação Chiara Badano. Foram dias importantes, vividos em um clima de crescente afeto, diálogo e partilha para a reconstrução de relações de confiança, colaboração e olhar comum sobre numerosos desafios e projetos futuros. Uma visita rápida, certamente marcada pelas preciosas “minilembranças” de Maria Teresa, que recordava o cotidiano de Chiara Luce, como a sua constante e total abertura em acolher qualquer um que fosse visitá-la até o último dia de sua vida. No campo-santo, em um face a face com Chiara, “lhe confiamos antes de tudo a paz na Ucrânia e nos muitos lugares onde os conflitos não estão sob os holofotes da mídia”, disse Jesús Morán, “e todos os jovens para quem ela é um modelo extraordinário e extremamente necessário, hoje mais do que nunca”.

Stefania Tanesini

A linha que une: um Concílio e um Carisma

A linha que une: um Concílio e um Carisma

Nos dias 11 e 12 de março se realizará, no coração da cidade de Florença (Itália), o Encontro intitulado “O Concílio Vaticano II e o carisma da unidade de Chiara Lubich”, evento que partiu da colaboração entre o Centro Chiara Lubich e o Instituto Universitário Sophia e que poderá ser acompanhado por streaming, em italiano e inglês. Florença, o berço do Renascimento, será a moldura que receberá o encontro “O Concílio Vaticano II e o carisma da unidade de Chiara Lubich”, nos dias 11 e 12 de março de 2022. A conferência, partindo de uma atenta análise do evento conciliar, deseja ir ao coração deste caminho que prossegue, um momento que, após se ter fixado na história, realiza-se no tempo. Dois dias intensos que, graças a presença de numerosas personalidades e autoridades, abrirão uma trajetória de verificação e aprofundamento, delineando a ligação vital entre o carisma da fundadora do Movimento dos Focolares e o Vaticano II. Três sessões com títulos significativos: Uma coincidência cronológica e Kairológica: um Concílio e um carisma; A Palavra se faz Igreja; A Igreja se faz Palavra. Entre os relatores do encontro estão Vincenzo Di Pilato, docente de Teologia Fundamental na Faculdade Teológica Pugliese, e Florence Gillet, do Centro Chiara Lubich, teóloga e estudiosa da fundadora dos Focolares, que responderam a algumas perguntas sobre o evento. Prof. Di Pilato, o que é, de modo especial, que este momento de intercâmbio deseja evidenciar? Na sua intenção originária, o encontro se inseria no Centenário de nascimento de Chiara Lubich (1920 – 2020). Todavia, devido à emergência sanitária mundial, foi adiado até hoje. O seu objetivo era, e continua a ser, o de sondar a reciprocidade fecunda entre o carisma da unidade e as duas Constituições promulgadas pelo Concílio Vaticano II, sobre a Revelação de Deus e sobre a Igreja: Dei Verbum e Lumen gentium. Quanto os dois documentos encontraram, como seu espaço fecundo de interpretação e desenvolvimento, na experiência eclesial suscitada pelo carisma da unidade? E, vice-versa: quanto o florescimento da vida eclesial promovida pelo carisma da unidade tornou-se possível precisamente pelo horizonte descortinado pelo extraordinário evento do Concílio? São as questões básicas que acompanharão o diálogo entre os participantes. É preciso recordar, no entanto, que foi o Vaticano II que reafirmou esta unidade essencial entre dons hierárquicos e dons carismáticos (cf. Lumen gentium, n.14). Seja João Paulo II que Bento XVI consideraram esses dons “coessenciais”, e o Papa Francisco salientou, recentemente, quanto a ação do Espírito Santo produza “harmonia” entre os vários dons, chamando as agregações carismáticas à abertura missionária e à sinodalidade. Dra. Gillet, a partir de quais interrogações vocês começaram a organizar esta conferência? É possível perguntar-se se não seria ousado demais fazer um paralelo entre dois eventos tão diferentes. Que relação poderia haver entre um Concílio ecumênico, que contou com a presença de 3000 bispos e grandes teólogos, com visões proféticas para a Igreja, e um carisma nascido de uma jovem mulher vinte anos antes, do qual nasceu um Obra espalhada no mundo inteiro? Para responder, notamos, em primeiro lugar, a sintonia na origem: o Espírito Santo que quis falar ao mundo no início do terceiro milênio. Depois, trata-se de dois eventos que prosseguem e que, cada vez mais, deverão fecundar-se mutuamente. O Concílio Vaticano II ainda não foi plenamente implementado, ainda que sua recepção esteja agora significativamente em curso, no processo sinodal desejado pelo Papa Francisco. Haverá ainda surpresas. O carisma da unidade deve ainda revelar toda a sua potencialidade, deve traduzir-se em vida no povo de Deus, enfim, está só no início, como disse o Papa Francisco na sua visita à Loppiano, em 2018. Prof. Di Pilato, qual leitura do carisma da unidade de Chiara Lubich pode ser feita diante daquilo que está acontecendo hoje no mundo? Se a pandemia parecia um contexto funesto, no qual, inicialmente, o evento deveria acontecer, a opção de adiá-lo nos lançou improvisamente em outro cenário, não menos dramático. Neste sentido, a experiência paradigmática de Chiara Lubich, e das suas primeiras companheiras, em Trento, durante o segundo conflito mundial, nos oferece uma chave de leitura do encontro. Todos conhecem o papel que a Palavra de Deus assumiu para aquelas jovens mulheres num tempo marcado pelo desmoronamento dos ideais nos quais tinham crescido. A luz que brotava das palavras do pequeno Evangelho que levavam consigo durante os bombardeios, as conduziu a sanar feridas físicas e existenciais, a inspirar milhões de pessoas em todo o mundo, e a envolvê-las na realização do sonho de Deus: a fraternidade universal, “que todos sejam um”. E foi a Palavra de Deus transformada em compromisso social em favor dos mais pobres e mais necessitados que gerou uma Igreja viva, o que foi confirmado, com grande maravilha e alegria, pelo bispo de Trento daquele tempo. E também hoje, quando tudo parece novamente desmoronar sob os golpes de uma política míope e sem memória, nada nos resta de seguro entre as mãos a não ser a Palavra de Vida, a única capaz de gerar a Igreja. E é por este testemunho de vida que a Igreja poderá tornar-se, para o mundo inteiro, uma palavra autorizada de paz e de unidade. Para acompanhar a transmissão em streaming do evento: https://live.focolare.org/firenze2022 .

Maria Grazia Berretta

COMUNICADO DE IMPRENSA

Chiara Lubich: a beleza do cristianismo

A Palavra de Vida de março de 2022 nos convida a colocar em prática a frase que repetimos todos os dias no Pai Nosso: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Mas como é que perdoamos? Perdoar. Perdoar sempre. O perdão não é o esquecimento que muitas vezes significa não querer olhar a realidade face a face. O perdão não é fraqueza, não é deixar de considerar uma ofensa por medo de quem a cometeu. Perdoar não consiste em negar aquilo que é grave, ou julgar bom aquilo que é mal.  Perdão não é indiferença. O perdão é um ato de vontade e de lucidez – e, portanto de liberdade – que consiste em acolher o irmão assim como ele é, apesar do mal que nos tenha feito. Acolhê-lo como Deus acolhe a nós pecadores apesar dos nossos defeitos. O perdão não consiste em responder a uma ofensa com outra ofensa, mas em fazer aquilo que diz São Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem”. (Rm 12:21) O perdão consiste em dar a quem lhe prejudica, a possibilidade de estabelecer um novo relacionamento com você; consiste, portanto, em oferecer a ambos a possibilidade de recomeçar a vida, de ter um futuro onde o mal não tenha a última palavra. (…) Por isso, é antes de tudo com os outros irmãos na fé que você deve agir desta maneira: na família, no trabalho, na escola, ou na sua comunidade. Você bem sabe que temos a tendência de querer retribuir a ofensa sofrida com um ato ou uma palavra à altura. Sabe também que por diversidade de temperamento, por nervosismo ou por outras causas, as faltas de amor podem ser frequentes entre pessoas que vivem juntas. Pois bem, lembre-se de que só uma atitude de perdão, sempre renovada, pode manter a paz e a unidade entre os irmãos. Você terá sempre a tendência a pensar nos defeitos dos seus irmãos, a lembrar do passado deles, a pretender que sejam diferentes daquilo que são… Todavia é preciso acostumar-se a vê-los como pessoas novas, aceitando-os sempre, logo e totalmente, mesmo quando não se arrependem. Você poderá dizer: “Mas isto é difícil”. Não há dúvida. Mas é esta justamente a beleza do cristianismo. Não acaso você está seguindo um Deus que, morrendo na cruz, pediu a seu Pai que perdoasse os que o haviam crucificado. Coragem. Comece uma vida assim. Eu lhe garanto uma paz e uma alegria tão grande como você jamais experimentou.

Chiara Lubich

(Chiara Lubich, in Parole di Vita, Città Nuova, 2017, pag. 218-219)

A porta ao lado

Viver no mesmo prédio como estranhos. É o que acontece na maioria dos casos. Bastaria uma pitada de coragem e um simples gesto para realmente nos encontrarmos, um pouco como fez a família Scariolo. “O encontro com o outro é um enriquecimento recíproco, para além das culturas, das religiões e ideologias. Continuamos a fazer a descoberta de que o outro foi criado como um dom de amor para mim e eu para ele”. Com estas palavras Adriana e Francesco Scariolo, focolarinos suíços, 42 anos de casados, contam uma experiência que os enriqueceu de modo especial, alguns meses atrás. “Moramos no Cantão Ticino, na Suíça italiana, e faz um ano e meio que estamos em um edifício com 13 apartamentos. Nos dias antes do Natal de 2021, pensamos em fazer um giro porta a porta, para transmitir os nossos votos. A surpresa e a gratidão de todos os vizinhos foi muito grande: ‘Eu fui o primeiro inquilino deste prédio e nunca aconteceu que alguém viesse nos fazer os votos de Natal’, disse um deles. ‘Nós somos muçulmanos, mas também queremos desejar a vocês um Bom Natal’, reagiu um outro. Distribuímos também um convite a todos, para um momento de festa de Fim de Ano e de boas entradas de 2022, na nossa casa. Assim, no dia 29 de dezembro, tivemos um pequeno jantar com três famílias, uma muçulmana e duas cristãs, das quais uma evangélica e outra católica, respeitando as normas de segurança e usando rigorosamente as máscaras! Foi um lindo momento para cada um se apresentar com espontaneidade. ‘É muito bom saber que temos vizinhos com quem podemos nos ajudar, cumprimentar – afirmou o marido da senhora muçulmana – faz com que nos sintamos menos sós’. É algo que vocês já tinham feito no passado? Sim, não é a primeira vez que procuramos criar relacionamentos com os outros moradores. Tudo começou muitos anos atrás, quando ouvimos falar da “festa dos vizinhos”, uma iniciativa para criar ocasiões para que as pessoas se encontrassem. Percebemos que precisava um pouco de coragem e de fantasia para fazer a nossa parte, e tentamos. No início aproveitamos do Ano Novo colocando nas caixas do correio um cartão com os votos, depois, segundo as reações das pessoas, fazendo mais amizades, tentando organizar um almoço no jardim, com todos, antes do verão. Aconteceu, depois, que deixamos aquele condomínio para um período de voluntariado no exterior, que durou sete anos, mas na volta, desde que estamos neste novo edifício, quisemos manter a tradição. O que surpreendeu vocês nas reações deles? Ver os rostos sorridentes. Eles não esperavam por isso, especialmente num período delicado como este da pandemia. Além disso, era um presente poder terminar os últimos dias de 2021 com um momento de socialização, depois de tanto isolamento, um sinal de dá esperança e não freia a vontade de amar os outros e construir relacionamentos fraternos. No dia 2 de janeiro de 2022 recebemos outras famílias que tinham aceitado o convite, mas que, pelo distanciamento, não podíamos receber junto com as outras. Algumas contraíram a Covid e não puderam participar, mas o jantar com eles foi apenas adiado para tempos melhores. O que significa para vocês ir ao encontro do irmão? Quer dizer ir ao encontro da humanidade com gestos de amor simples e diários. Por exemplo, ajudar a vizinha que de vez em quando tem problemas com a TV, escutar o casal que acabou de ganhar um bebê, dissolver os muros da indiferença, do anonimato, que marcam os relacionamentos, e que a pandemia tornou enormes. A frase de Jesus, “tudo o que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” nos interpela. Sendo assim, cada próximo é realmente a pessoa que Ele coloca ao nosso lado para ser acolhida e amada. E quem está mais próximo do que os nossos vizinhos?

Maria Grazia Berretta