Movimento dos Focolares

Declaração do Movimento dos Focolares sobre a publicação do livro “La setta divina”[1] de Ferruccio Pinotti (PIEMME Ed.)

O Movimento dos Focolares tomou conhecimento da publicação do livro “La setta divina” do jornalista Ferruccio Pinotti (PIEMME Ed.), lançado hoje nas livrarias italianas. O volume chega em um momento difícil e crucial da história do Movimento dos Focolares: o da passagem da fase de fundação à pós-fundação. Ao longo da história da Igreja, este é um período que muitas vezes pôs à prova ordens religiosas, movimentos e comunidades, nascidos de uma inspiração carismática. O livro de Ferruccio Pinotti pretende demonstrar que também no Movimento dos Focolares o zelo inicial às vezes levou a interpretações errôneas do carisma de Chiara Lubich e/ou a ações equivocadas. Todavia, dos documentos que Pinotti granjeou e publicou no livro referentes a alguns debates internos do Movimento dos Focolares, verifica-se maior conscientização, nos membros, destes e de outros desvios de sua história e da necessidade de remediá-los. No entanto, o volume não logra oferecer uma apresentação objetiva e ponderada de tal carisma, reconhecido pela Igreja Católica, e não considera o empenho de milhares e milhares de pessoas que, inspiradas na vida e no ensinamento da fundadora, dedicam-se diariamente, no mundo inteiro, com generosidade, a criar relações, a sanar feridas e a superar divisões em todos os âmbitos da vida eclesial e social, a fim de construir um mundo mais fraterno e mais unido. Consideramos indiscutível a dor das pessoas que, nessas páginas, contam suas histórias de grandes sofrimentos, decepções, enganos e abusos sofridos, assim como daquelas que não quiseram tornar públicos os próprios testemunhos. O Movimento dos Focolares, na pessoa da Presidente Margaret Karram e do Copresidente Jesús Morán, exprime mais uma vez a vergonha e a dor em relação às vítimas e a todas as pessoas que de algum modo se sentiram ofendidas, bem como a sua proximidade e o desejo de continuar ou de empreender um caminho de diálogo com elas. Reafirma o seu compromisso no combate a todas as formas de abuso, na continuidade dos percursos de prevenção e de formação para os membros e as lideranças. Reitera também o convite a todas as pessoas que tenham fatos ou histórias de abusos a relatá-los, entrando em contato com a Comissão Nacional do Movimento dos Focolares para a Proteção integral de Crianças, Adolescentes e Pessoas Vulneráveis (COPAC[2]) ou com os respectivos órgãos eclesiais. Apesar da leitura parcial, unilateral, por vezes imprecisa ou reducionista da história, da espiritualidade e da atividade do Movimento, consideramos este livro como um impulso a mais na continuação dos processos de conversão e renovação em curso, na fidelidade ao carisma de fundação e no desenvolvimento de um diálogo aberto, livre e crítico dentro do Movimento e com todos os que desejarem compreender plenamente a sua realidade e colaborar com ele.

Stefania Tanesini

[1]Em tradução livre “A seita divina” (n.d.t.). [2]Nome e sigla da Comissão brasileira (n.t.d).

Chiara Lubich: construtores de paz

A Palavra de vida deste mês de novembro de 2021 nos convida a sermos construtores de paz. Chiara Lubich explica neste trecho como isto é possível. Você sabe quem são os construtores de paz de que fala Jesus? Não são aqueles que chamamos de pacíficos, que gostam da tranquilidade, que não suportam conflitos e por sua índole procuram acalmar os ânimos, mas frequentemente revelam um desejo oculto de não serem incomodados, de não terem aborrecimentos. Os construtores de paz não são também aquelas pessoas boas que, confiando em Deus, não reagem quando são provocadas ou ofendidas. Os construtores de paz são aqueles que amam tanto a paz que não têm medo de intervir nos conflitos a fim de levá-la àqueles que estão em discórdia. Só quem tem a paz dentro de si pode levá-la aos outros. É preciso levar a paz, antes de tudo, através das próprias ações de cada momento, vivendo em pleno acordo com Deus e com sua vontade. Os construtores de paz, por conseguinte, se esforçam para criar laços e estabelecer relações entre as pessoas, amenizando as tensões, desarmando a indiferença encontrada em muitos ambientes de família, de trabalho, de escola, de esporte, entre as nações, etc.

Chiara Lubich

(Chiara Lubich, in Parole di Vita, a cura di Fabio Ciardi, Opere di Chiara Lubich, Città Nuova, 2017, pag. 196)

Proteção de menores e pessoas vulneráveis: criada a nova CO.BE.TU

São 15 profissionais das diferentes áreas do Direito, Formação, Psicologia, vindos de diversas áreas geográficas e culturais. Uma equipe independente que colabora e supervisiona tanto as garantias dos direitos e a proteção de menores como em casos de abuso de poder dentro dos Focolares. Foi designada em 17 de setembro e seu coordenador é o advogado italiano Orazio Moscatello, advogado criminal e civil, especialista em Direito de Família e Juvenil. A Comissão para o Bem-Estar e Proteção dos Menores e Pessoas Vulneráveis (CO.BE.TU.) foi ampliada e reforçada para oferecer um serviço cada vez mais competente e completo àqueles que sofreram ou estão sofrendo abusos dentro do Movimento dos Focolares e àqueles que desejam denunciá-lo. Há duas áreas de intervenção dos 15 profissionais que compõem a equipe:

  • formação e prevenção
  • tratamento de denúncias de abuso sexual infantil e abuso de poder.

“A questão dos abusos foi uma das prioridades tratadas pela Assembleia Geral dos Focolares em janeiro passado”, explica o advogado Moscatello. “Embora ciente do que já foi feito e está sendo feito neste campo, a Assembleia pediu a todos os membros do movimento um compromisso renovado para a prevenção de abusos, como consta no documento final de trabalho”. Deste modo, o ponto 2 do texto, que expõe as conclusões e os compromissos dos Focolares para os próximos cinco anos, afirma que: “Comprometemo-nos a fortalecer o que já existe para a prevenção de todas as formas de abuso físico, sexual, de poder e de consciência. Pedimos perdão às vítimas e asseguramos nosso total apoio, reconhecendo, com profundo pesar, todas aquelas situações em que não fomos capazes de protegê-las. Estamos empenhados em promover ainda mais uma cultura de prevenção e promover o bem-estar de cada pessoa, com treinamento apropriado e comunicação transparente”. Portanto, como primeira consequência desta declaração, a presidente dos Focolares, Margaret Karram, providenciou que a Comissão para o Bem-Estar e Proteção dos Menores e a Comissão Independente para a Proteção da Pessoa fossem unificadas em uma única entidade. Além disso, a fim de garantir a total independência da comissão dos órgãos centrais e periféricos do governo, seus membros não terão nenhum papel de responsabilidade dentro do Movimento durante seus três anos de mandato.

Stefania Tanesini

Para qualquer esclarecimento ou denúncia de abuso, pode-se escrever para cobetu@focolare.org

A coragem da unidade – Encontro de Bispos de várias Igrejas

181 bispos amigos do Movimento dos Focolares de 45 países e 70 Igrejas e comunidades eclesiais participaram, presencialmente e via zoom, do encontro “A coragem de ser Um. A dádiva da unidade em um mundo dividido”, que aconteceu de 23 a 25 de setembro de 2021. A gênese e o significado deste encontro por meio de entrevistas com cinco dos bispos participantes. https://vimeo.com/620772886

Na escola da “unidade”: tradição e inovação com Sophia Web Academy

“Sophia Web Academy (SWA)” – A Academia Web Sophia – é uma metodologia original de capacitação em cultura da unidade, uma experimentação iniciada no âmbito do IUS (Instituto Universitário Sophia) que tem como objetivo responder às necessidades desta época. Trata-se de um curso de alta formação e um dúplice percurso na esfera da cultura e da liderança da unidade, dirigido ao Movimento dos Focolares e não só. O professor Michele Zanzucchi, docente de comunicação da Sophia e coordenador da SWA, nos fala sobre isso. Qual é a missão da Sophia Web Academy? Sophia Web Academy (SWA) se propõe em pesquisar e apresentar as principais declinações conceituais e operacionais do carisma da unidade, explicitando assim a tentativa de se confrontar com aqueles que iniciaram uma reflexão cultural a partir da intuição mística de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares. Como surgiu a ideia de criá-la? Surgiu durante a pandemia, constatando que a demanda de formação sobre os fundamentos do carisma da unidade estava aumentando e verificando que era possível oferecer uma capacitação on-line satisfatória. No Movimento dos Focolares se sente de fato a necessidade de um dúplice percurso de formação do grupo dirigente, tanto no âmbito central como local. Itinerários que possam proporcionar aos participantes, por um lado, uma preparação adequada para os desafios da atualidade, a fim de poder responder ao dom recebido do carisma da unidade e, por outro lado, capacitar culturalmente alguns de seus membros para conduzir os vários grupos de diferentes dimensões. Como é estruturado? O curso de especialização começa no primeiro ano on-line com um total de 700 horas – 180 presenciais, 60 horas de trabalho sob a instrução de orientadores ou em diálogo com professores, e 460 horas de estudo pessoal – correspondendo a aproximadamente 30 créditos acadêmicos, distribuídos em 8 meses, de 28 de novembro de 2021 a 3 de julho de 2022. A partir de uma base comum de aproximadamente 44 horas de ensino frontal comum, outras 120 horas frontais serão divididas em um dúplice percurso: “Cultura da unidade” e “Liderança dialógica”. Enquanto, em uma última etapa “três dias”, serão ministradas as 16 horas restantes, em caráter definitivamente interdisciplinar. Quais são os requisitos para a admissão? É possível inscrever-se no curso como estudantes ou como ouvintes. No primeiro caso requer um diploma, ainda que de cursos superiores de curta duração. Eles participam dos cursos, têm direito a um orientador, prestam os exames e recebem um certificado universitário. Os ouvintes, por outro lado, podem inscrever-se sem nenhuma qualificação especial, frequentar os cursos, não têm acesso a um orientador, não prestam exames e recebem um certificado de extensão universitária de frequência. Como ouvinte, é possível inscrever-se em módulos isolados. O curso completo para o estudante tem duração de um ou dois anos. Um dos dois percursos que a SWA propõe se refere à “cultura da unidade”. Quais são os objetivos a serem alcançados? Uma das qualidades de um líder em um mundo de mudança acelerada é a sabedoria. A tarefa específica de Sophia, segundo Chiara Lubich, é justamente a de “ensinar a sabedoria”, que também é adquirida ouvindo as vozes daqueles que buscaram a verdade ao longo dos séculos e entrando em diálogo com eles. Para um líder, isto significa adquirir a capacidade de ser um visionário e também de pensar estrategicamente sobre os processos a serem implantados hoje para preparar um futuro mais humano. Uma parte essencial do percurso é dedicada à experiência e ao pensamento de Chiara Lubich no contexto do Movimento dos Focolares, uma contribuição muito válida para a formação integral de líderes. Qual a relação entre o termo “liderança” e o termo “unidade”? A SWA oferece um espaço de conhecimento e aprendizado sobre liderança com fortes características de diálogo e serviço, atenção aos menos favorecidos, comunhão, participação ativa e flexibilidade; tudo isso com o objetivo de conduzir decisões e escolhas estratégicas, trabalho em equipe e comunicação. O curso de Leadership (Liderança) é baseado em 5 unidades didáticas que se complementam de forma orgânica, combinando aspectos teóricos e práticos: “Fundamentos da liderança”, “Gestão de grupo”, “Desenvolvimento pessoal”, “Flexible Work” (Trabalho flexível), “Tipos e modelos de liderança” são de fato as etapas deste curso inovador e atraente. Para inscrição e informações: https://swa.sophiauniversity.org

Editado por Maria Grazia Berretta

A alquimia de Sophia

A alquimia de Sophia

Inaugurado na cidadela dos Focolares em Loppiano (Itália), o novo ano acadêmico do Instituto Universitário. No centro do debate estava a ecologia integral e suas implicações para a universidade. O Instituto Universitário Sophia tem uma ambição: reintroduzir no sistema pedagógico universitário o modelo utilizado pelos filósofos gregos antes de Cristo, como o Ginásio ou o Liceu, onde a convivência entre professores e alunos era a fonte educacional fundamental, introduzindo, porém, os valores cristãos da pessoa e da comunhão. Isto não é uma proeza sem importância em um lugar de pesquisa e “ecologia integral”. Federico Rovea, ex-aluno de Sophia, agora professor, diz: “Sophia significa fazer universidade, buscar a verdade em um ambiente de amizade”. Tudo isso foi vivido em 29 de outubro de 2021, em Loppiano (Itália), no Instituto Universitário Sophia, durante a cerimônia de inauguração do ano acadêmico de 2021-2022. O tema era: “Que implicações para a universidade na era da ecologia integral?”. A presidente do Movimento dos Focolares, Margaret Karram, vice grã chanceler do Instituto, reiterou em seu discurso que “os objetivos que Sophia propõe são elevados e envolventes, exigindo que cada um dê o melhor de si em uma contínua abertura ao diálogo e à escuta, um lugar onde o compromisso intelectual esteja sempre buscando novas formas de responder às necessidades culturais de nosso tempo”. Também houve emoção nas palavras do novo reitor, Giuseppe Argiolas, que retratou a grande provação ligada à pandemia: “Conseguimos o que imaginávamos, no passado, fazer durante vários anos: 1) completar o ano acadêmico de 2019/20 via Internet; 2) criar as condições para uma oferta de alto nível, com uma plataforma profissional; 3) oferecer um diploma específico para aqueles que desejam estudar na Sophia, mas não têm a possibilidade de vir a Loppiano. Esta é Sophia Web Academy: Cultura de Unidade e Liderança Dialógica”. Em um discurso muito apreciado por todos, Valeria Garré, representando os estudantes, enfatizou três palavras: jornada, compromisso e abertura: “Sophia é minha casa toda vez que me dou conta de que a ecologia é verdadeiramente integral onde não é fácil, desde as relações, até o cuidado com o espaço, até ser fiel na realização de uma tarefa”. Finalmente, o Cardeal Giuseppe Betori, Arcebispo de Florença (Itália) e Grande Chanceler de Sophia, focalizou a reunião, prevista para fevereiro próximo em Florença, de alguns Bispos e de tantos Prefeitos de países mediterrâneos. “Nossas Igrejas sentem a necessidade de redescobrir sua própria identidade, a partir de uma pertença mediterrânea comum. É a partir desta última que toda Igreja local e todo governo pode se colocar nesta atitude de escuta e acolhimento ao grito da humanidade, sem ter medo de reconhecer, precisamente neste grito de natureza política, religiosa, social, cultural, econômica, sanitária, alimentar, hídrica e ecológica, o grito de Cristo, seu ‘por quê’? O foco da cerimônia era, portanto, a ecologia integral. O professor Sergio Rondinara quis assumir o desafio ecológico ligando-o a um desafio antropológico mais profundo e invasivo: “Se no passado recente a relação entre a pessoa humana e a natureza era equilibrada e muitas vezes colaborativa (basta pensar na sociedade agrícola e campesina), hoje assumiu uma configuração crítica à qual comumente damos o nome de crise ambiental”. Ele explicou como sair de tal crise, trabalhando em quatro níveis: “Nível antropológico cultural, nível de pensamento, nível ético e nível religioso, ou seja, tantos caminhos de um persurso educativo pessoal e social”. No debate, o Prof. Mario Taccolini, da Universidade Católica de Milão (Itália), sublinhou a experiência de sua universidade em focalizar a necessidade de uma ecologia integral, enquanto o Prof. Stefania Papa, da Universidade Vanvitelli de Campania (Itália), enfatizou a necessidade de que os programas universitários sejam impulsionados por uma cultura tão vital. Uma convicção permanece: a ecologia integral não é apenas um objetivo científico ou político, mas uma forma de “estar no mundo”.

Michele Zanzucchi