Movimento dos Focolares

Páscoa, uma renovação de todos nós

Apesar de ainda estarmos na pandemia do coronavírus, a Páscoa é a ocasião de passar da morte para a vida, da escuridão para a luz por meio do amor ao irmão. A força da solidariedade e da fraternidade universal nos ajudam a manter viva a esperança de um mundo mais unido. Os votos de Páscoa da Presidente do Movimento dos Focolares, Margaret Karram, e de muitas pessoas do mundo inteiro. Ver o vídeo com legendas em italiano, inglês, espanhol, francês e português. https://youtu.be/2BVukpY5b5s

Para sermos um povo de Páscoa

Caros amigos, aproxima-se a Páscoa: a maior festa do ano e, com ela, a Semana Santa repleta dos mais preciosos mistérios da vida de Jesus. Esses mistérios, lembrados principalmente na Quinta, na Sexta-Feira Santa, no Sábado de Aleluia e no Domingo de Páscoa, representam para nós alguns aspectos centrais da nossa espiritualidade. […] Como viver, então, às portas da Semana Santa e durante aqueles dias abençoados? Eu creio que se vivermos a Páscoa, ou seja, se deixarmos que o Ressuscitado viva em nós, celebraremos do melhor modo todos esses acontecimentos. De fato, para que o Ressuscitado resplandeça em nós, devemos amar Jesus Abandonado e estar sempre – como costumamos dizer – “além da sua chaga”[1], onde a caridade reina. É a caridade que nos impulsiona a sermos o Mandamento Novo vivido, que nos leva a aproximarmo-nos da Eucaristia, […]. É a caridade que nos leva a viver a unidade com Deus e com os irmãos. É através dela que podemos ser, de certa forma, “outra” Maria. […] Desta forma, todos juntos, seremos realmente aquele “povo de Páscoa” que alguém entreviu no nosso Movimento. […][2]

Chiara Lubich

https://vimeo.com/529414794 [1]      Ter um amor semelhante àquele de Jesus, o qual, na cruz, embora sentindo-se abandonado pelo Pai (Mt 27, 46) (a «chaga» do abandono), entregou a Ele o seu espírito (Lc 23, 46). A expressão indica a plena aceitação do sofrimento. [2]      Cf. “Para sermos um povo de Páscoa”, Sierre, 24 de março de 1994, in Chiara Lubich, Conversazioni in collegamento telefonico, Roma 2019, pp.461-462.

Uma viagem viva de aprofundamento da fé

Uma viagem viva de aprofundamento da fé

É o caminho para o próximo Jornada Mundial da Juventude em 2023. A história de uma jovem mulher dos Focolares que colabora na realização do evento O próximo Jornada Mundial da Juventude terá lugar em Lisboa, capital de Portugal, em 2023, com o tema “Maria levantou-se e foi à pressa” (Lc 1,39). A pandemia deixa questões em aberto, mas os trabalhos preparatórios já estão em curso há algum tempo. Mariana Vaz Pato, uma jovem mulher do Movimento dos Focolares, faz parte da equipa local que colabora para a realização do evento:

a cruz da JMJ

O lema da JMJ escolhido pelo Papa recorda o “sim” de Maria a Deus e a sua pressa em alcançar a sua prima Elisabetta, como relatado no Evangelho. O que significa isto para os jovens de hoje, especialmente nesta época de pandemia? “Este tema, em primeiro lugar, mostra-nos uma ação “Maria levantou-se” Podemos entender que o Papa está a desafiar-nos a sair da nossa zona de conforto, a levantarmo-nos e a ir ao encontro do outro. Em segundo lugar, temos o “sim” de Maria a Deus, que nos serve de exemplo para dizermos também o nosso “sim” e partir em missão. O Papa lançou o tema em 2019, antes de existir esta pandemia. Neste momento, o tema escolhido pode parecer contraditório com aquilo que estamos a viver, mas diz-nos que a pandemia não pode ser um obstáculo no seguimento de Deus, que torna possível o que parece impossível”. Os jovens de todo o mundo são exortados a identificarem-se com Maria. É um modelo elevado: como ser inspirado por ela na vida quotidiana? “No Panamá, o Papa disse que Maria é a “influencer” de Deus e que na sua simplicidade deu o seu “sim”, tornando-se a mulher com mais influência na história. É verdade que transformar o mundo é uma missão ambiciosa, mas Maria foi capaz de o fazer com as suas virtudes. Se seguirmos o seu exemplo, estamos no caminho certo”. Até onde chegou com a preparação do evento? Quantos jovens são esperados? “Dadas as circunstâncias é difícil fazer previsões. Em outubro foi lançado o logo, em novembro ocorreu a cerimónia de entrega dos símbolos e, mais recentemente, houve o lançamento do hino. Também foi desenvolvido o “Rise Up”, um itinerário de catequeses para que a JMJ não seja apenas um evento, mas um percurso vivo, de aprofundamento da fé. Não sabemos como estará a situação do mundo em 2023, mas as equipas estão a trabalhar para que este evento seja um momento marcante na vida dos jovens e que renove a Igreja e a sociedade”. Alguns jovens do Movimento dos Focolares estão envolvidos neste trabalho preparatório… “A Igreja está a organizar-se em comités que preparam o programa e cuidam dos aspectos logísticos. Nós, como Movimento, estamos presentes nestas comités com jovens, focolarinos, casais e pessoas envolvidas no movimento paroquial, e com várias tarefas: desde a pastoral juvenil, à comunicação com as comunidades locais e o movimento paroquial em Portugal, à comunicação com a Zona da Europa Ocidental e com os centros juvenis do Movimento. Esta experiência é um desafio, com todos os imprevistos destes tempos, mas é uma alegria descobrir a contribuição que podemos dar como Movimento e, sobretudo, poder fazer este percurso em conjunto com a Igreja”.

Claudia Di Lorenzi

Mae Sot: entre a Tailândia e Myanmar em ajuda aos mais pobres

Mae Sot: entre a Tailândia e Myanmar em ajuda aos mais pobres

Apesar dos violentos confrontos em Myanmar, a comunidade dos Focolares continua ajudando, através da associação “Drop by Drop”, a testemunhar a fraternidade universal em meio à pandemia e a revolução. A viagem dos focolarinos presentes na área no início de março, com ações realizadas de acordo com as regras da Covid no país. Myanmar ainda está passando por uma revolução que começou em 22 de fevereiro passado, chamada ‘22222’. Este país, formado por diferentes grupos étnicos e rico em belezas naturais e matérias-primas, de 1947 a 2010, viveu a mais longa guerra civil da história da humanidade. Entre as várias revoluções tentadas: a de 8 de agosto de 1988 chamada ‘8888’ (com milhares de mortos) e a de 2007, a revolução ‘cor de açafrão’, pelo grande número de monges budistas que começaram o protesto e perderam suas vidas. Nos conflitos de 1988, milhares de pessoas começaram a migrar para a fronteira tailandesa, especificamente para a província de Tak, para a cidade de Mae Sot, depois para Mae Hong Song, e ainda mais para o sul, para Kanchanaburi. Hoje, após 32 anos, ainda existem nove campos de refugiados com milhões de birmaneses trabalhando na Tailândia. Os focolarinos, que estão na área desde 1988, começaram a ajudar muitos jovens que haviam conhecido alguns anos antes em Rangoon e Bassein. “Nosso contato com eles”, diz Luigi Butori, um focolarino que vive em Ho Chi Min, Vietnã, e que viaja nessas áreas há anos, “prosseguiu até que o padre Justine Lewin, um sacerdote ligado aos Focolares, chegou em Mae Sot para ajudar essas pessoas que viviam não apenas nos campos de refugiados, como o mais famoso em Mae La com 50.000 pessoas, mas também na cidade de Mae Sot, espalhada pelo campo, muitas vezes perto das fábricas onde trabalhavam, ou nos campos de milho. No início dos anos 2000, começamos pequenos projetos no acampamento Mae La e gradualmente também na cidade de Mae Sot. O objetivo era alimentar e vestir o povo”. Em 2011, iniciou-se uma ponte de solidariedade entre a Itália e Mae Sot. A comunidade dos Focolares de Latina, no centro da Itália, junto com alguns alunos da professora Maria Grazia Fabietti, começaram a fazer algo para ajudar as crianças e as pessoas que vivem na fronteira entre a Tailândia e Mianmar. “Para o 50º aniversário de um desses amigos italianos, Paolo Magli, foi arrecadado dinheiro para ajudar os grupos étnicos Karen (uma população que fugiu da Birmânia durante os conflitos e foi forçada a viver como refugiada durante muitos anos na fronteira entre Myanmar e Tailândia), tanto no campo de refugiados de Mae La como especialmente fora – explica Luigi. Foi o começo dae uma nova atividade: Gota a Gota. Hoje, com esta iniciativa ajuda-se mais de 3.300 pessoas em três países do sudeste asiático e também colabora-se com a associação Charis de Cingapura, para levar ajuda às pessoas afetadas pela pobreza, solidão, doenças e até mesmo pela pandemia. Vietnã, Tailândia e Myanmar representam para nós a ‘possibilidade de amar concretamente’: há pessoas que conheceram o espírito da fraternidade universal e hoje fazem tudo para ajudar os excluídos, marginalizados, rejeitados, doentes e sozinhos”. Gota a gota ajuda a todos: pessoas das etnias Karen, Bama, Kachin, Thai Yai ou Xtieng e Hmong no Vietnã, mas também muçulmanos carentes que estão em contato com o Focolare em Bangkok. No início de março, os focolarinos foram para Mae Sot com uma van cheia de alimentos, tecidos, brinquedos e muito mais, como mostra o vídeo abaixo. Todas as ações foram realizadas seguindo as regras da Covid do país. “As doações vieram de muçulmanos, budistas, cristãos e muitas outras pessoas que conhecemos. Todos são irmãos”, continua Luigi, “Queremos viver uma das mais belas páginas escritas por Chiara Lubich, a fundadora dos Focolares há muitos anos: ‘Senhor, dá-me todos os que estão sós: sinto meu coração bater por toda a solidão em que o mundo inteiro se encontra*”. O último projeto ajuda seis mães abandonadas em Mae Sot com seus quinze filhos. “Enviamos duas máquinas de costura e 15 kg de tecido de algodão para cortar e costurar, para fazer camisas, saias e calças para quem precisa”, diz Luigi. “É uma alegria e uma celebração ver como as pessoas se ajudam umas às outras. A fraternidade universal é uma realidade que está criando raízes, dia após dia, e Gota a Gota representa exatamente isso”.

Lorenzo Russo

https://youtu.be/xv5W3hxZInc * Meditação “Senhor, dá-me todos os sós”, de Chiara Lubich – setembro de 1949

Até os 100%

Amar a Deus e o próximo quando estamos bem é muito fácil. Mas quando sofremos, inclusive fisicamente, pode se tornar um grande desafio. Chiara Lubich propõe um programa de treinamento, para nos prepararmos bem, um programa que também prevê o fracasso. Todos sabemos que o nosso Ideal pode ser definido com uma só palavra: amor. O amor é toda a nossa vida. O amor é a alma da nossa oração, do nosso apostolado, de todas as expressões da nossa existência. O amor é também a saúde da nossa vida espiritual individual, assim como o amor recíproco é a nossa saúde enquanto comunidade, como Corpo Místico de Cristo. Quando amamos, nada nos falta, nos encontramos “inteiros”, diante de Deus, quer gozamos de boa saúde, quer estejamos doentes. Mas, amar quando gozamos de saúde é fácil. É fácil amar a Deus e os irmãos. Amar quando estamos doentes é mais difícil. […] [Gostaria] de fazer a mim mesma e a vocês a seguinte pergunta: É justo que uma pessoa, mesmo encontrando-se em momentos tão difíceis de sua vida terrena, viva com tanto empenho o matrimônio de sua alma com Jesus Abandonado, enquanto nós, com mais saúde física, vivemos com mediocridade a nossa “tensão à santidade”? Será que devemos esperar que Deus nos mande provações especiais, daquelas que nos fazem chegar ao limite de nossas forças, para nos decidirmos a amá-Lo de modo total? […] Mas então […] não podemos perder mais tempo! Todos nós temos o Espírito Santo no coração e conhecemos suas exigências e indicações. É Ele que nos diz: Agora é preciso amar Jesus Abandonado, nesta dor, neste cansaço. Nesta outra situação devemos preferi-Lo vivendo uma virtude, como o amor fraterno, por exemplo. Nesta outra, ainda, devemos escolhê-Lo num aspecto da Obra, da Igreja ou da humanidade… Devemos cumprir o propósito de amá-Lo dia após dia, sempre, até os 100%, […]. E […], antes de cada ação, devemos repetir: “Por Ti, Jesus!” Se uma vida assim tão comprometida nos causa medo […], recordemo-nos da frase de Jesus: “A cada dia basta o seu afã” (Mt 6,34). Amemos, portanto, aquele aspecto de Jesus Abandonado que encontramos hoje, a cada momento. Para o amanhã teremos outras graças. Deste modo poderemos acumular dias totalmente plenos, consagrados a Ele e com os quais construiremos a nossa santidade. Se, porém, fracassarmos, se O trairmos, se nos bloquearmos, saibamos que também por trás de todas estas circunstâncias existe o seu semblante. Que no fim de cada dia possamos responder a nós mesmos, ou melhor, a Jesus, que nos interroga no fundo do coração sobre o andamento do dia: “Hoje foi bom, foi 100%!” […] Abraçando 100% Jesus Abandonado, o Ressuscitado resplandece em nós e entre nós e dá testemunho. […]

Chiara Lubich

  (em uma conexão telefônica, Rocca di Papa, 16 de janeiro de 1986) Tirado de: “100%”, in: Chiara Lubich, Conversazioni in collegamento telefonico, Città Nuova Ed., 2019, pag. 228.

A nossa aventura em Huaycán

A nossa aventura em Huaycán

Na periferia da zona leste de Lima, no Peru, a comunidade dos Focolares dá assistência todos os dias às pessoas que vivem em extrema pobreza, compartilhando alimentos, dando ajuda material, alfabetização e experiências do Evangelho. Huaycán fica na periferia da zona leste de Lima, Peru. Dos 200.000 habitantes, 90% são imigrantes dos Andes que fugiram da pobreza. Conservam suas tradições e seu idioma, o quíchua, a antiga língua dos incas. Nas partes mais altas das colinas, as pessoas vivem em extrema pobreza. Suas casas têm chão de terra batida e somente um cômodo (com as camas ao lado do fogão), não há água potável, eletricidade, saneamento básico… Em sua maioria, são vendedores ambulantes. Algumas mulheres fazem faxina e alguns homens trabalham em construção civil ou recolhendo materiais recicláveis. A comunidade de Lima notou e escolheu essa “ferida de Cristo” para ser amada com predileção. “Chegamos em Huyacán”, recorda Elsa, “em 1998, quando Tata, Carmen, Maria, Milagros e eu levamos a Palavra de Vida a uma comunidade próxima da ‘Escola Fe y Alegría’ das irmãs franciscanas. Mais tarde, juntaram-se a nós Elba, Mario, Lula, Yeri, Fernando e Eury, Cristina… Fomos até as regiões altas das colinas e compartilhamos com os mais pobres dentre os pobres as experiências do Evangelho. Eles sofriam com doenças, violências familiares, promiscuidade, desemprego, drogas, fome”. “Nós nos sentávamos sobre as pedras”, diz Elba, “mas, à medida que se sentiam mais seguros, começaram a trazer as cadeiras deles. No inverno, nos convidavam para entrar em seus cômodos humildes. Encontramos Olinda, a cozinheira da escola, que abriu as portas de sua casa para nos encontrar. Era uma pessoa linda, nosso ponto de referência local. A morte do seu filho e, mais tarde, a morte inesperada dela, nos causaram muita dor”. Para atenuar as necessidades, a comunidade de Lima lançou diversas iniciativas: ajuda material, suporte educacional para as crianças, formação e alfabetização para os adultos, apoio psicológico, acompanhamento e assistência sanitária, venda de roupas usadas. “Todos os anos, comemoramos o Natal e o dia das mães juntos, organizamos passeios e alguns participam da Mariápolis anual”, lembra Mario. “Um casal, depois de ter se preparado, se casou durante uma das Mariápolis, na presença de seus cinco filhos e parentes. Foi um evento que marcou a vida deles, assim como a vida de tantos outros que encontraram o Deus do Amor.” “Com a pandemia”, continua Cristina, “muitos perderam o trabalho e não têm o suficiente para alimentar seus filhos. Com algumas famílias, nos organizamos para procurar os alimentos necessários e distribuir aos mais necessitados. Uma mulher instalou um forno, que estava inutilizado, para assar pães. De março a junho, distribuímos 140 cestas básicas e 12.720 pães. Encontramos a comunidade mais pobre, Granja Verde, que precisava de uma cozinha onde preparar a comida. Nós nos organizamos: eles ofereceram um pedaço de terra e o chão de cimento. Nós fornecemos o fogão, utensílios necessários e um reservatório de 2500 litros de água potável. A cozinha foi inaugurada no dia 15 de novembro de 2020 e começou a funcionar no dia seguinte. Hoje, produzimos 100 refeições por dia. Sabemos, como recorda o Papa Francisco, que se nos esquecemos dos pobres, Deus se esquecerá de nós. Huaycán, o ponto mais dolorido de Cristo, é o nosso preferido e a nossa grande oportunidade de obter as bênçãos de Deus”.

Gustavo E. Clariá