Movimento dos Focolares

Padre Enrico Pepe: uma vida doada pela unidade e pela Igreja

Abr 4, 2025

Padre Pepe, sacerdote focolarino da diocese de Teramo-Altri (Itália) concluiu no dia 2 de março a sua viagem nesta terra. Na década de 1960 foi enviado como missionário ao nordeste do Brasil e, num momento de forte crise do clero, formou centenas de padres e seminaristas brasileiros na espiritualidade da unidade. Por 25 anos foi o responsável mundial do Movimento Sacerdotal, dos Focolares.

“Creio que o Pe. Pepe, depois do Pe. Silvano Cola, tenha sido o sacerdote focolarino mais carismático que eu conheci”, assim se exprimiu um sacerdote italiano diante da notícia da morte de Pe. Enrico Pepe, no dia 2 de março de 2025, no focolare sacerdotal de Grottaferrata (Roma). “Era uma pessoa de olhar puro. Via as pessoas na verdade e também na misericórdia”, disse um outro, dos Estados Unidos. E o cardeal João Braz de Aviz, prefeito emérito do Dicastério para a vida consagrada, na Santa Missa presidida por ele, durante o funeral: “Agradeço ao Senhor pelo cuidado que teve conosco, sacerdotes, ajudando tantos a não perderem o dom da vida cristã e do sacerdócio ministerial, porque reforçados pela constante busca da unidade entre nós, com a Igreja e com a Obra de Maria”.

Mas, quem era Pe. Enrico Pepe? Ele mesmo contou muitas coisas, no livro Uma aventura na unidade.

Enrico nasceu em 15 de novembro de 1932, em Cortino (Téramo, Itália), primeiro de nove irmãos e irmãs. Mesmo com as sombras da guerra, viveu uma infância feliz. Retornou, mais tarde, à sua terra natal para reencontrar o calor de sua família: a “tribo” Pepe, com 76 netos e bisnetos.

Durante o ensino médio Enrico sentiu a vocação ao sacerdócio e entrou no seminário. Viveu um momento de dúvida, quando uma jovem manifestou a ele o próprio afeto, mas justamente naquela circunstância renovou a sua escolha com maior consciência.

Foi ordenado sacerdote em 1956 e, em 1958, o bispo o enviou para Cerchiara, uma pequena cidade aos pés do maciço Gran Sasso, dividida em duas facções políticas que tocavam inclusive a paróquia. Pe. Enrico, com a sua “esperteza” evangélica, conseguiu abrir os caminhos e pacificar a situação.

Em 1963 conheceu o Movimento dos Focolares. A cada quinze dias, junto com Pe. Annibale Ferrari, viajava para Roma ao encontro do Pe. Silvano Cola, no primeiro focolare sacerdotal. Um ano depois recebeu a proposta de transferir-se para Palmares, no estado de Pernambuco, nordeste do Brasil. Diante da grave falta de sacerdotes, o bispo, Dom Acácio Rodrigues, havia se dirigido ao Movimento dos Focolares. Em 1965 Pe. Pepe tornou-se pároco em Ribeirão, região de monocultura de cana-de-açúcar, uma zona com candentes problemas sociais e morais. Com uma pastoral iluminada pelo Concílio Vaticano II, e pelo seu bom senso, foi encontrando as respostas a tais desafios. Com os anos teve início ali um focolare sacerdotal, do qual, frequentemente, participava também Dom Acácio.

Depois de alguns meses passados na Itália, Pe. Pepe retornou ao Brasil, desta vez para dedicar-se inteiramente ao Movimento dos Focolares, e levar adiante o espírito de unidade entre os sacerdotes. Em 1972 transferiu-se para a Mariápolis Araceli, nos arredores de São Paulo. “A Igreja no Brasil – escreveu Pe. Pepe anos depois, ao Papa Francisco – atravessava naquela época uma tremenda crise, especialmente no clero. Junto com os focolarinos e focolarinas, comecei a oferecer a espiritualidade da unidade aos sacerdotes e seminaristas diocesanos e religiosos. Dessa forma, uma vida nova e alegre reacendeu-se em muitas dioceses e congregações religiosas”. Com um fruto inesperado: “No início dos anos 80 a Santa Sé começou a nomear como bispos alguns sacerdotes que viviam esta espiritualidade”.

Em 1984, Pe. Pepe foi chamado ao Centro Sacerdotal do Movimento dos Focolares, em Grottaferrata (Roma), para dedicar-se, junto com Pe. Silvano Cola, aos milhares de sacerdotes que vivem a espiritualidade da unidade e à vida que floresce em paróquias do mundo inteiro. No tempo livre ele estudava a vida de mártires e santos. Daí foi criado um livro, lançado pelo Editora Città Nuova, que tendo uma grande apreciação foi, em seguida, ampliado em três volumes.

Em 2001 explodiu o caso do arcebispo da Zâmbia, Milingo. Diante do seu arrependimento, a Santa Sé procurou alguém que o acompanhe em sua retomada, e dirigiu-se ao Movimento dos Focolares. A tarefa foi confiada a Pe. Pepe. Anos depois, o cardeal Bertone, então Secretário do Dicastério para a Doutrina da Fé, escreveu a Pe. Pepe: “Nós nos conhecemos em um momento especial da vida da Igreja em Roma, sem nunca nos encontrar, mas percebemos uma convergência de ideais, de missão e de transmissão do amor misericordioso de Deus, que marcaram as nossas relações”.

Nos últimos anos chegaram os grandes desafios para a sua saúde. “No Brasil – comentou Pe. Pepe – eu passei por muitos aeroportos, e agora me vejo muitas vezes na pista de decolagem, pronto para o último voo, o mais belo, porque nos leva para o Alto”.

Hubertus Blaumeiser

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