Entre os anos 50 e 60 o apóstolo Paulo tinha visitado a região da Galácia, no centro da Ásia Menor, atual Turquia. Surgiram comunidades cristãs que abraçaram a fé com grande entusiasmo. Paulo lhes revelara Jesus crucificado, e eles tinham recebido o batismo, o qual os revestira de Cristo, comunicando-lhes a liberdade dos filhos de Deus. Eles “corriam bem” no novo caminho, como o próprio Paulo reconhece.
Depois, inesperadamente, buscam a própria liberdade por outros caminhos. Paulo fica admirado com o fato de eles terem voltado as costas a Cristo tão depressa. Daí o convite insistente para reencontrarem a liberdade que Cristo lhes tinha dado:

“Fostes chamados para a liberdade”

A que tipo de liberdade somos chamados? Já não podemos fazer o que queremos? “Nunca fomos escravos de ninguém”, era o que diziam, por exemplo, os contemporâneos de Jesus quando Ele afirmava que a verdade trazida por Ele os tornaria livres. E Jesus respondera: “Todo aquele que comete o pecado é escravo do pecado”1.
Existe uma escravidão traiçoeira, fruto do pecado, que prende o coração humano. Conhecemos bem a variedade de suas manifestações: a preocupação só consigo mesmo, o apego aos bens materiais, o hedonismo, o orgulho, a ira…
Sozinhos, jamais seremos capazes de nos libertar radicalmente dessa escravidão. A liberdade é um dom de Jesus: Ele nos libertou, fazendo-se nosso servo e dando a vida por nós. Daí o convite a sermos coerentes com a liberdade que nos foi dada.
Essa liberdade “não significa tanto a possibilidade de escolher entre o bem e o mal, quanto de caminhar sempre mais rumo ao bem”, afirma Chiara Lubich, dirigindo-se aos jovens. E prossegue: “Tenho constatado que o bem liberta, o mal escraviza. Ora, para ter a liberdade é preciso amar. Pois aquilo que nos torna mais escravos é o nosso eu. Ao passo que, pensando sempre no outro, ou na vontade de Deus quando cumprimos os próprios deveres, ou no próximo, não pensamos em nós e somos livres de nós mesmos”2.

“Fostes chamados para a liberdade”

Como podemos, então, viver esta Palavra de Vida? O próprio Paulo nos dá a indicação quando, logo após ter-nos lembrado que fomos chamados para a liberdade, explica que a mesma consiste em nos fazermos “escravos uns dos outros”, “pelo amor”, “pois toda a lei se resume neste único mandamento: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”3.
Esse é o paradoxo do amor: somos livres quando por amor nos colocamos a serviço dos outros; quando, contrariando os impulsos egoístas, nos esquecemos de nós mesmos e estamos atentos às necessidades dos outros.
Somos chamados à liberdade do amor: somos livres para amar! Sim, “para ter a liberdade é preciso amar”.

“Fostes chamados para a liberdade”

O bispo Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, preso por causa de sua fé, permaneceu encarcerado por 13 anos. Mas também aí ele se sentia livre, porque tinha sempre a possibilidade de amar, pelo menos, os carcereiros.

Ele mesmo conta: «Quando me isolaram dos outros companheiros na prisão, puseram cinco guardas para me vigiar, seguindo um rodízio. Dois deles sempre estavam comigo. Os seus chefes lhes haviam dito: “De quinze em quinze dias vocês serão substituídos por outro grupo, para não serem ‘contaminados’ por esse bispo perigoso”. Após algum tempo mudaram de idéia: “Não vamos mais fazer o rodízio, senão esse bispo ‘contaminará’ todos os soldados”.
No começo, os guardas não falavam comigo. Respondiam apenas sim ou não. Era realmente triste. (…) Evitavam falar comigo.
Uma noite, veio-me à mente um pensamento: “Francisco, você é muito rico, tem o amor de Cristo no coração; ame-os como Jesus amou você”.
No dia seguinte comecei a querer-lhes bem ainda mais, a amar Jesus na pessoa de cada um deles, sorrindo e trocando palavras gentis. Contei como tinham sido minhas viagens ao exterior (…) Quiseram aprender línguas estrangeiras, como o francês, o inglês… Em suma, os meus guardas tornaram-se meus alunos! 4»

Organização de Fabio Ciardi e Gabriella Fallacara

1) Cf. Jo 8,31-34);
2) Respostas às perguntas dos jovens, Palaeur, Roma, 20/05/1995;
3) Cf. Gl 5,13-14;
4) Testemunhas da Esperança, São Paulo: Cidade Nova, 2002, p. 82.

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