Jesus é o pobre cuja vida teve início numa manjedoura e o término numa cruz – e como filho do carpinteiro, quando dá início à sua grande atividade pública, não tem um lugar para estar, nada sobre o que repousar a cabeça. Nada para comer.
A sua atividade não age sobre o sofrimento e sobre os abismos dos homens pelo lado de fora: ele entra neles pessoalmente, carrega o nosso peso, e o leva até ao abandono e à morte.
Não anula com um raio os superpoderes dos próprios inimigos, mas se deixa flagelar e insultar, e perdoa a quem lhe faz mal.
Não transforma as pedras em pão para matar a própria fome, mas suscita em nós a fome da Palavra de Deus, fome de vida, de justiça, de verdade, tão maiores do que aquilo que sacia e causa bem-estar imediato.
Quando encontra os pequenos, os pobres e os sofredores, Jesus não continua seu caminho porque tem coisas mais importantes a fazer do que ajudá-los. A criança, o doente, o pecador, a mãe aflita reviram os seus programas, tocam seu coração.
Jesus não tem interesses ofuscados, não tem bastidores recônditos e misteriosos, é completamente franco e transparente. Quem o vê, por meio dele vê, em transparência, o Pai.
Diante da culpa do mundo, diante da nossa miséria, Jesus não diz: “veja só…!”, mas toma tudo sobre si, e assim instaura a paz no próprio sangue.
Jesus não se esquiva das contradições, mas as suporta até ao extremo, e é o primeiro da infinita cadeia humana dos perseguidos e dos miseráveis.
Este é Jesus, e os homens que o seguem experimentam, já agora, uma liberdade, uma alegria e uma profundidade da própria humanidade que jamais encontraram em outro lugar.
(de uma homilia de 1.11.1979)
Klaus Hemmerle – La luce dentro le cose – Città Nuova 1998 pp. 49-50
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