Nestes dias, vi, pela televisão, atletas, muito jovens, na sua maioria dos países do Leste, que se exibiam em maravilhosos exercícios de ginástica artística. Eram magníficas nos seus repetidos saltos mortais, nas piruetas e em todos os seus movimentos. Que perfeição! Quanta harmonia e quanta beleza! Possuíam um domínio tão perfeito do próprio corpo que os exercícios mais difíceis pareciam naturais. São as melhores do mundo.
Enquanto as admirava, senti várias vezes dentro de mim, um convite urgente (talvez do Espírito Santo). Era como se Alguém me dissesse: Você também e todos vocês devem se tornar campeões do mundo. Mas campeões em quê? No amor a Deus. Sabem quanto essas jovens tiveram que treinar? Vocês sabem que dia após dia, hora após hora, elas repetem os mesmos exercícios, sem nunca desistir? Você também e todos vocês devem fazer o mesmo. Quando? No momento presente. Sempre, sem parar jamais. No meu coração nasceu um desejo enorme: o de trabalhar, momento a momento, para atingir a perfeição.
Caríssimos, São Francisco de Sales disse que não existe índole tão boa que de tanto repetir atos viciosos não possa adquirir o vício. Então, podemos pensar que não existe índole tão perversa que à força de atos virtuosos não possa conquistar a virtude. Portanto, coragem! Se treinarmos, nos tornaremos campeões do mundo no amor a Deus. (…)
(…)
Que Palavra Deus disse ao nosso Movimento? Nós sabemos: Unidade. Assim sendo, devemos nos tornar campeões da unidade com Deus, com a sua vontade no momento presente, e campeões da unidade com o próximo, com qualquer próximo que encontrarmos durante o dia.
Treinemos sem perder minutos preciosos! O que nos aguarda, não é uma medalha de ouro, mas o Paraíso
Em 16 de julho de 1949, Chiara Lubich e Igino Giordani fizeram um “Pacto de Unidade”. Foi uma experiência espiritual que deu início a um período particular, de luz e de união com Deus.
E marcou a vida da então primeira comunidade dos Focolares, mas também marcou a história de todo o Movimento e o seu empenho por um mundo mais fraterno e mais unido.
Setenta e cinco anos depois daquele dia, um olhar mais aprofundado sobre o significado daquele Pacto na época e o que pode significar hoje continuar a atuá-lo.
“Nós estávamos felizes porque entendíamos, e Chiara o confirmava, que não éramos feitos para ficar fechados em nós mesmos, mas sim chamados a sair pelo mundo, ir ao encontro de todos os meninos e meninas da terra”.
Era um verdadeiro mandato, aquele a que se refere Maria Chiara Biagioni, hoje jornalista, recebido diretamente da fundadora do Movimento 40 anos atrás, o nascimento de algo, o Movimento Juvenil pela Unidade, que mudou a sua vida e a de muitos adolescentes.
Era o ano de 1984 e, pouco antes da Páscoa, nos Castelos Romanos, próximo a Roma, se realizava pela primeira vez um curso de formação para os e as adolescentes do Movimento, os e as Gen 3. Eram cerca de 80, vindos de várias regiões da Itália com alguns representantes de outros países (Alemanha, Espanha, Portugal, Holanda, Bélgica e Filipinas). Nenhum deles jamais teria imaginado que assistiria ao início de uma “era nova”.
Precisamente no domingo de Páscoa, às cinco da tarde, Chiara Lubich os convidou a irem ao Centro do Movimento dos Focolares, em Rocca di Papa (Roma). Mas, o que os esperava?
Para dar as boas-vindas havia um gigantesco ovo de Páscoa, presente de Chiara para eles, que continha, como se fosse uma boneca-russa, muitos envelopes e, no final, a surpresa: a mensagem de Chiara que anunciava a fundação do Movimento Juvenil pela Unidade.
“Para mim foi super importante viver aquele momento, em 1984 (…) – conta Federica Vivian -. Chiara Lubich nos mandou este seu presente, uma carta longa, e eu senti que aquilo correspondia exatamente ao que nós vivíamos com os nossos amigos e muitos outros. Nós fazíamos muitas coisas para dizer que acreditávamos na fraternidade (…) e aquela semente frutificou dentro de mim com o desejo de jamais colocar limites, construir pontes com todos”.
Em sua mensagem, Chiara exortava os adolescentes a viverem concretamente o Evangelho e a levar a muitos outros o ideal que tinham no coração, com um único e grande objetivo: manter unido o mundo. As respostas não demoraram a chegar. Os “sim” a esta missão vibraram no auditório onde se reuniram e, depois de pouco tempo, começaram a chegar as respostas também de muitas cidades, do mundo todo.
“Eu tinha 12 anos – diz Fiammetta Megli, professora – e quando quebramos aquele enorme ovo de Páscoa senti uma grande alegria, mas não me dava conta do que estava realmente acontecendo. Eu sentia que pertencia a uma grande família, maior do que a família de fato. Tudo o que penetrou em mim, naqueles anos, como jovem, não apenas permaneceu, mas é a base da qual parto em tudo o que faço hoje, inclusive no trabalho com os adolescentes, na escola”.
Passados 40 anos, o Movimento Juvenil pela Unidade, com os e as adolescentes do Movimento dos Focolares, está presente em 182 países. Eles falam línguas diferentes, pertencem a várias religiões e alguns não se reconhecem em nenhum credo religioso, mas o que os une é ainda o mesmo objetivo: trabalhar para realizar a fraternidade universal. Estão comprometidos nas mais variadas ações e em todas as latitudes para que desabem as barreiras e divisões, para que um mundo unido e de paz se torne logo uma realidade entre todos os povos da terra.
Desde aquele dia, continua Maria Chiara Biagioni “não existia mais espaço no meu coração para a indiferença. Tudo o que via ao meu redor, tudo o que acontecia no mundo me pertencia, de algum modo me envolvia e eu trabalhava para ir ao encontro das necessidades, dos problemas, dos desafios que, passo a passo, se apresentavam também na minha vida. A segunda coisa foi acreditar (…) que o bem é mais forte do que o mal. Acreditar não obstante tudo, apesar das lágrimas das pessoas, das bombas que continuam a cair em tantos países do mundo, não obstante as muitas perversidades que encontramos ao nosso redor (…), que a luz é mais forte do que as trevas, sempre”.
Violência, ódio, atitudes de disputa ocorrem com frequência inclusive nos países que vivem “em paz”. Todo povo, toda pessoa sente um profundo desejo de paz, de concórdia, de unidade. Mesmo assim, apesar dos esforços e da boa vontade, após milênios de história, continuamos incapazes de manter uma paz estável e duradoura. Jesus veio trazer-nos a paz, uma paz – diz Ele – que não é “à maneira do mundo”, porque não consiste em ausência de guerra, de lutas, de divisões, de traumas. A “sua” paz é também tuto disso, mas é muito mais: é plenitude de vida e de alegria, a salvação integral da pessoa, é liberdade, é fraternidade no amor entre todos os povos. Mas o que fez Jesus para nos dar a “sua” paz? Ele pagou em primeira pessoa. Justamente enquanto nos prometia a paz, Ele era traído por um dos seus amigos, era entregue nas mãos dos inimigos, condenado a sofrer uma morte cruel e humilhante. Ele se colocou em meio aos rivais, assumiu os ódios e as separações, abateu os muros que separavam os povos. Morrendo na cruz, depois de ter provado por amor a nós o abandono do Pai, reuniu os homens a Deus e entre si, trazendo à terra a fraternidade universal. Também de nós, a construção da paz requer um amor forte, capaz de amar até mesmo aqueles que não retribuem, capaz de perdoar, de superar o conceito de “inimigo”, capaz de amar a pátria alheia como a própria. (…)
A paz inicia justamente aqui, a partir do relacionamento que eu sou capaz de estabelecer com cada um de meus próximos. “O mal nasce do coração do homem” – escreveu Igino Giordani – e “para remover o perigo da guerra é preciso remover o espírito de agressão, de exploração, de egoísmo, do qual a guerra provém. É preciso reconstruir uma consciência”. (…) O mundo só muda se nós mudarmos. É verdade que devemos trabalhar – cada um de acordo com as suas possibilidades – para solucionar os conflitos, para elaborar leis que favoreçam a convivência das pessoas e dos povos. Mas é sobretudo colocando em evidência aquilo que nos une que poderemos contribuir para criar uma mentalidade de paz e trabalhar juntos para o bem da humanidade. Se testemunharmos e difundirmos valores autênticos tais como a tolerância, o respeito, a paciência, o perdão, a compreensão, então as outras atitudes que contrastam com a paz desaparecerão por si mesmas. Foi essa a nossa experiência durante a Segunda Guerra Mundial, quando entre nós, poucas moças que éramos, decidimos viver somente para amar. Éramos jovens e tímidas, mas, tão logo fizemos o esforço de viver umas pelas outras, de ajudar os outros começando pelos mais necessitados, servindo-os, dispostas inclusive a dar a vida, tudo mudou. Brotou nos nossos corações uma força nova e vimos a sociedade começar a mudar de fisionomia: uma pequena comunidade cristã foi se renovando, como semente de uma “civilização do amor”. No final, é o amor que vence, porque ele é mais forte do que tudo.
Chiara Lubich
(Chiara Lubich, Parole di Vita, Città Nuova, 2017, p. 709/12)
Na sexta-feira, 17 de maio de 2024, ocorreu no Auditorium do Centro internacional do Movimento dos Focolares (Rocca di Papa, Roma), a premiação do Concurso nacional para as escolas. Uma cidade não basta. Chiara Lubich, cidadã do mundo , promovido pelo Centro Chiara Lubich, New Humanity, Fundação Museo Storico del Trentino, com apoio do Ministério da Educação e Mérito italiano.
Em sua quarta edição, o Concurso, aberto a todas as escolas italianas, em território nacional e internacional, foi mais uma vez uma oportunidade para muitas crianças e adolescentes das escolas primária e secundária de primeiro e segundo graus refletirem sobre temas atuais como a paz, a sustentabilidade ambiental e os assentamentos, com referência aos objetivos da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável e, sobretudo, à luz do pensamento e do testemunho de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, promotora de uma cultura de unidade e fraternidade entre os povos.
Participaram cerca de 330 alunos de 14 escolas que, do norte ao sul da Itália, incluindo as ilhas, apresentaram 21 trabalhos de naturezas diferentes, resultado de percursos articulados e cuidadosos feitos nesse tempo, com o suporte de seus professores.
A premiação, da qual participaram presencialmente e de forma online as escolas ganhadoras e aquelas que receberam uma menção honrosa pelo valor dos trabalhos, foi um momento de partilha e troca, que evidenciou não só a criatividade dos adolescentes, mas em particular a grande atenção deles pelos temas propostos pelo regulamento do Concurso. Uma ideia dessas gerações novas que muitas vezes nos escapa é aquela de imaginá-los capazes de olhar ao redor, de refletir, levantando questões sobre a possibilidade de um futuro e um mundo melhores, idealizando caminhos que podem ser percorridos para alcança-los.
Entre as personalidades presentes e entre elas os que entregaram os prêmios às escolas vencedoras, estavam o doutor Luca Tucci, diretor no departamento III (área do bem-estar biopsicossocial, educação transversal e legalidade) da Direção Geral do estudante, inclusão e orientação escolar do Ministério da educação e Mérito; doutor Fabrizio Bagnarini, do terceiro departamento do Ministério da Educação e Mérito; o doutor Giuseppe Ferrandi, diretor da Fundação Museu Histórico do Trentino; o professor Maurizio Gentilini, , historiador e pesquisador do CNR (Centro Nacional de Pesquisa); odoutor Marco Desalvo, presidente de New Humanity.
Pouco antes de a premiação entrar ao vivo, em sua saudação, o doutor Tucci, conectado online com a sala, ao reafirmar o apoio que o Ministério garante a essa iniciativa, afirmou: “levar para frente certos valores por meio da sensibilização dos adolescentes e dos estudantes é, acredito eu, uma operação fundamental não só para o crescimento deles, mas em geral para a nossa sociedade”.
Quem ficou em primeiro lugar na categoria Escola primária foi a classe 4C do I.C. 2° círculo “Garibaldi” complexo “A. Moro”, de Altamura (Bari), com o trabalho O país da Fraternidade, um texto poético que não só exprime conceitos-chave do pensamento de Chiara Lubich de maneira original, mas propõe uma visão confiante no futuro do mundo.
Para a Escola Secundária de I grau o segundo lugar foi para a 1C do I.C. “San Nilo” complexo “I. Croce”, Grottaferrata (Roma), com Construamos a paz! TgPeace um telejornal inovador feito inteiramente pelos adolescentes, imagem de um percurso articulado que restitui a esperança concreta da classe e o empenho cotidiano deles pela paz. Já o primeiro lugar foi para a 3D, do I.C. “Filippo Mazzei”, Poggio a Caiano (Prato) com o Jogo: origami pelo meio ambiente, uma atividade que supera o aspecto lúdico e se propõe como instrumento de reflexão e ação concreta em favor do meio ambiente.
Na categoria Escola Secundária de II grau em segundo lugar, um empate merecido: as classes 2 e 3C do Liceu clássico “A. Doria”, Gênova, com A casa comum, trabalho digital que se apresenta como fruto de um trabalho de reflexão realizado ao redor dos temas já citados para restituir às pessoas da mesma idade como proposta de percurso didático; o trabalho textual O amor que faz alargar corações e braços de Estelle Le Dauphiin, classe 5I do I.I.S. Liceu “A. Bafile”, L’Aquila, uma reflexão a partir de uma experiência pessoal e concreta, sobre o pensamentode Chiara Lubich, focalizando a atenção no conceito de dom como expresso também pelo antropólogo e sociólogo francês Marcel Mauss.
O vencedor do primeiro prêmio foi o trabalho Horizontes, fotografia de Bilardello Giulia, Marino Sara, Parrinello Chiara, alunas da 3G do Liceu cinetífico “P. Ruggeri”, Marsala (Trapani). Uma mensagem de paz e a esperança de um horizonte em que mar e céu se unem e no qual todos, juntos, podem colaborar para construir um mundo mais fraterno.
Recentemente foi publicado o volume “Diário 1964-1980” de Chiara Lubich. O texto foi organizado por Pe. Fabio Ciardi, OMI, e lançado pela Editora Città Nuova, em colaboração com o Centro Chiara Lubich. “O Diário revela-se um instrumento extremamente precioso, que permite ultrapassar o limiar dos acontecimentos externos (a ‘vida externa’) e penetrar na maneira como estes são vividos (a ‘vida íntima’)”. Com estas palavras o Pe. Fabio Ciardi, OMI, explica o conteúdo dos Diários de Chiara Lubich,fundadora do Movimento dos Focolares, recentemente organizados por ele e publicados pela Editora Città Nuova, em colaboração com o Centro Chiara Lubich. Esta publicação faz parte da coleção “Obras de Chiara Lubich” que já possui 5 tomos. “Estão sendo elaborados cerca de quinze volumes. Não é a opera omnia – esclarece Pe. Fabio Ciardi – porque a opera omnia exigiria um enorme volume de trabalho. A impressão em papel inclui a obra de Chiara Lubich, ou seja, as obras principais, sobretudo as escritas. Desde um primeiro volume introdutório, que será uma biografia histórica”, até as cartas, os discursos públicos, os discursos de fundação, os diálogos. “Certo que as cartas e os diários talvez sejam a parte mais íntima de Chiara – acrescenta -. Aquela que a revela totalmente. Quando Chiara apresenta um discurso é um texto elaborado, preparado, revisto. Ao invés, quando tenho acesso à sua correspondência, ao seu diário, não existem filtros. Trata-se de um enxerto direto com a alma de Chiara. Diário e cartas são páginas que nos consentem ter um relacionamento com ela imediato, direto, não filtrado”. “O diário de Chiara Lubich tem a sua particularidade – explica ainda Pe. Fabio – porque é escrito não como um diário pessoal, mas quer justamente envolver todos os membros do Movimento em suas viagens. (…). Ela inicia com a descrição do que acontece, é como uma crônica, mas logo depois torna-se um diário íntimo. Porque o que ela deve comunicar não são simplesmente os fatos que está vivendo, mas como os está vivendo”. Os diários percorrem dezesseis anos, e para ajudar o leitor a situar e entender melhor os textos de C. Lubich, Pe. Fabio fez uma opção editorial precisa: “Após ter feito uma introdução geral a todo o Diário, proponho uma introdução para cada ano, contextualizando-o inclusive na vida da Igreja, na vida do mundo, de forma que se possa perceber o que Chiara está vivendo, mas com o horizonte mais amplo da vida da Obra, da Igreja e da humanidade”. A quem deseja saber como é melhor ler este livro e por onde começar, Pe. Fabio responde assim: “O primeiro conselho que eu daria é de abri-lo aleatoriamente e ler uma página. Certamente será envolvente. Por isso será um convite a ler mais uma e outra ainda. Não importa ler, digamos, de uma forma continuada. Pode-se ler um dia, outro dia, um ano, depois outro. E talvez isso possa suscitar o desejo de descobrir o fio que liga tudo. E então, recomeçar do começo, aos poucos, a percorrer este caminho, porque é um caminho… não é fácil o caminho de Chiara. É um caminho atribulado. Há momentos de provação, de doença. São períodos nos quais ela não escreve o diário. E por que não escreve? Talvez porque viva um momento de escuridão. Portanto, percorrer todo o caminho cronologicamente também ajuda a entender este mundo. Mas, para começar, talvez abrir aleatoriamente e ler, aqui e ali. Depois virá a vontade de uma leitura contínua e completa”. “O diário é seu, é pessoal, é a sua vida – conclui -. E isso se pode deduzir sobretudo pelo colóquio constante, que existe no diário, com Deus, com Jesus, com Maria, com os santos. (…). Faz-nos ver a sua alma, ver o que existe dentro dela. E isso ressoa em mim, porque é como um convite a fazer a mesma viagem, a possuir, eu também, a mesma intimidade. Lendo Chiara, no fundo eu me espelho não naquilo que sou, infelizmente, mas naquilo que eu sinto que deveria ser”.
Carlos Mana
Vídeo: Em diálogo comPe. Fabio Ciardi (ativar as legendas em português)