Movimento dos Focolares
Um condomínio original

Um condomínio original

Em 112 hectares de terra, 23 organizações – comunidades católicas e institutos – escolheram viver uma experiência de comunhão entre carismas. Há 24 anos, essa experiência é conhecida como Condomínio Espiritual Uirapuru (CEU), acrônimo que significa “céu” em português.

Margaret Karram e Jesús Morán continuam sua jornada no Brasil, agora em Fortaleza, para participar de encontros com diferentes realidades carismáticas da Igreja. No CEU, a presidente e o co-presidente se reuniram com líderes de outras comunidades, entre eles Nelson Giovanelli e Frei Hans, da Fazenda da Esperança, Moysés Azevedo, da Comunidade Shalom, e Daniela Martucci, da Novos Horizontes.

Através das organizações que o compõem, o CEU realiza diversas ações de amparo e proteção da pessoa humana, desde a infância vulnerável e ferida pelo abuso e exploração sexual até jovens e adultos em situação de rua e dependência química. A união dos carismas ali presentes é expressão do amor que possibilita o desenvolvimento de atividades de resgate e valorização da dignidade humana, particularmente junto àqueles mais necessitados.

“O CEU é a realização do sonho que Chiara Lubich prometeu ao Papa João Paulo II em 1998, trabalhar pela unidade dos movimentos e novas comunidades” lembra Nelson Giovanelli, fundador da Fazenda da Esperança e recém-eleito presidente do condomínio. O carisma da unidade, difundido por Chiara Lubich, guia o cumprimento da missão por diversas comunidades ali presentes. Jesús Morán acrescenta, “Se existe um lugar em que se pode entender a experiência da Igreja é aqui no CEU. Essa é a Igreja, tantos carismas, pequenos ou grandes, mas todos caminham juntos pela realização do Reino de Deus”.

São 230 habitantes do CEU, entre crianças e adolescentes, jovens e adultos em recuperação, e mais de 500 voluntários. No último fim de semana, a comunidade Obra Lumen organizou o encontro “Com Deus Tem Jeito”, que recuperou 250 dependentes químicos da rua e os encaminhou para tratamento terapêutico em diversas comunidades parceiras, como a Fazenda da Esperança. O espaço também é palco de atividades culturais que possibilitam a ressocialização por meio da arte, como o Festival Halleluya da Comunidade Shalom, que reúne mais de 400 mil pessoas todos os anos.

Nestes dias, também no Brasil, está acontecendo o Genfest, evento da Juventude do Movimento dos Focolares. “Juntos para cuidar” é o lema desta edição, que terá um evento internacional no Brasil e mais de 40 Genfests locais em vários países do mundo. Cada um deles começará com uma primeira fase em que os jovens ganharão experiência de voluntariado e solidariedade em várias organizações sociais. Entre elas está o CEU. Aqui, entre 12 e 18 de julho, um grupo de 60 jovens participantes do GenFest pôde conhecer as diferentes comunidades e realizar várias actividades. “Todas estas comunidades já fazem trabalho de assistência a pessoas marginalizadas e vulneráveis. A nossa proposta foi juntarmo-nos a elas, como um laço de união. Quanto mais nos entregámos, mais nos abrimos aos outros, mais descobrimos a nossa essência”, diz Pedro Ícaro, um participante do GenFest que viveu no CEU durante quatro meses com jovens de diferentes países.

“Quando essa comunhão dos carismas incendeia o coração dos nossos jovens, eles são capazes de transformar o mundo. Essa é a finalidades desses eventos que fazemos no CEU, como o GenFest” conta Moysés Azevedo, fundador da Comunidade Shalom.

Ana Clara Giovani

Fase 3 do Genfest 2024 é concluída, mas isso é só começo…

Fase 3 do Genfest 2024 é concluída,
mas isso é só começo…

A 3ª Fase do Genfest 2024, realizada em Aparecida (SP), contou com a realização de workshops promovidos pelas chamadas United World Communities (Comunidades Mundo Unido), espaços de encontro onde os jovens podem compartilhar seus talentos e paixões. Essas comunidades oferecem oportunidades de descobrir pessoas talentosas, formas concretas de engajamento e dar início a ações e projetos voltados para a construção de um mundo mais unido que visam responder aos desafios locais e globais do mundo de hoje; ativar processos de mudança pessoal e coletiva; elevar a fraternidade e reciprocidade a todas as dimensões da vida humana. Uma característica importante dessas comunidades é que, são fruto de um trabalho entre pessoas de diferentes gerações.

Dando continuidade às experiências realizadas das fases anteriores do Genfest, nessa 3ª Fase, ao se inserirem nas Comunidades, os jovens puderam participar de laboratórios de diferentes áreas cuja metodologia foi baseada na fraternidade e no diálogo, tal qual um ensaio de projetos e ações que, a partir de agora, poderão ser desenvolvidos no âmbito “glocal” (projetos locais com uma perspectiva global). As atividades foram realizadas nas áreas de Economia e Trabalho, Interculturalidade e Diálogo, Espiritualidade e Direitos Humanos, Saúde e Ecologia, Arte e Compromisso Social, Educação e Pesquisa, Comunicação e Mídia, e Cidadania Ativa e Política. As equipes responsáveis pela realização dos workshops foram formadas por jovens e profissionais que, durante meses, trabalharam intensamente na organização dessas atividades.

Daqui em diante, as Comunidades contarão com um método de trabalho que consta de três etapas: Aprender, Agir e Compartilhar. A primeira (Aprender) é a de exploração e análise aprofundada dos temas e questões mais atuais de cada comunidade, tendo em vista identificar problemas e apresentar soluções. A fase seguinte (Agir) consiste na realização de ações de impacto sobretudo local, mas com uma perspectiva global. Por fim, na terceira etapa (Compartilhar), a proposta é que a comunidade fomente espaços de intercâmbio e diálogo contínuo das iniciativas, tendo em vista fortalecer a rede de colaboração global. Um aplicativo – o WebApp United World Community – foi criado para servir de instrumento para partilhar de ideias, experiências e notícias, bem como fomentar projetos de forma colaborativa.

“Deus visitou o coração de todos”

No encerramento da 3ª Fase do Genfest, as Comunidades apresentaram, de forma criativa, impressões e alguns resultados das atividades realizadas nos dias anteriores. Do trabalho realizado nasceu o documento “The United World Community: One Family, One Common Home”, a contribuição dos participantes do Genfest 2024 para o “Summit of the Future” (“Pacto para o Futuro’) da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro próximo. Conforme declararam os jovens que apresentaram o texto, esse não traz um resultado final, mas pretender ser um “programa de vida e trabalho” para as várias United World Communities, além de ser um testemunho a ser apresentado no “Summit of the Future”.

“Com as nossas comunidades, não queremos fazer exigências, formular slogans ou apresentar queixas aos líderes políticos”, afirmaram os jovens. “Em vez disso, tentamos dar um nome aos nossos sonhos partilhados, sonhos de um mundo unido. Sonhos pessoais e comunitários, que nos guiarão nas atividades que realizaremos nos próximos nos”. E concluíram: “Esperamos que, vivendo-os, ‘juntos’ e passo a passo, tornem-se sinais de esperança para os outros”.

Também na conclusão do Genfest 2024 falaram Margaret Karram e Jesús Morán, presidente e copresidente do Movimento dos Focolares. Jesús Morán afirmou que, embora a experiência do cuidado fosse a mais vivida na história da humanidade, ela não foi a mais refletida.

Isso começou a mudar, como foi demonstrado no Genfest, afirmou ele, para quem o cuidado é uma resposta à exigência de dignidade humana. Nesse sentido, ele concluiu da importância dos jovens permanecerem conectados a essa rede mundial de comunidades generativas.
Margaret Karram, por sua vez, disse ter constatado ao longo de toda a experiência do Genfest que os jovens deram um testemunho tangível da fé e de que já atuam na construção do mundo unido. Especificamente sobre a 3ª Fase, ela enfatizou a riqueza dessa experiência por sua criatividade, por sua marca intergeneracional e intercultural e pelo fato de que, por meio das comunidades, surge uma possibilidade concreta de viver a mesma experiência do Genfest no cotidiano da suas vidas. Karram convidou os jovens a se sentirem protagonistas dessas comunidades, cujo fundamento foi a unidade. “Por favor, não percam essa ocasião única que vivemos aqui: Deus visitou o coração de cada um de nós e, agora, chama a todos serem protagonistas e portadores da unidade nos diversos âmbitos em que estão empenhados”, concluiu.

Luís Henrique Marques

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Amazônia, terra do cuidado e do futuro

Amazônia, terra do cuidado e do futuro

Chega-se a Juruti, no estado do Pará, saindo de Santarém, depois de sete horas de barco, o meio mais rápido. Com orgulho, os habitantes dizem que essa região é o coração da Baixa Amazônia brasileira, e a única “estrada” para se chegar até lá é o Rio Amazonas, o “rio-mar”, como é chamado pelos nativos. De fato, é o maior rio do mundo em volume de água e o segundo em extensão. É ele que dita o ritmo, a vida social, o comércio e os relacionamentos entre os cerca de 23 milhões de habitantes dessa região vastíssima, onde vive 55,9% da população indígena brasileira. Além de ser um dos ecossistemas mais valiosos do planeta, os interesses políticos e econômicos causam conflitos e violência que continuam a se multiplicar cotidianamente. Ali, a beleza estupenda da natureza é diretamente proporcional aos problemas de qualidade de vida e sobrevivência.

“Observar e escutar é a primeira coisa que podemos aprender na Amazônia”, explica o monsenhor Bernardo Bahlmann, bispo de Óbidos, a Margaret Karram e Jesús Morán, presidente e copresidente do Movimento dos Focolares, que foram até lá para conhecer e passar alguns dias com as comunidades do Movimento da região. Estão sendo acompanhados por Marvia Vieira e Aurélio Martins de Oliveira Júnior, corresponsáveis nacionais do Movimento, juntamente com Bernadette Ngabo e Ángel Bartol, do Centro Internacional.

O bispo fala da cultura diferenciada de lá, na qual características nativas convivem com aspectos do mundo ocidental. A convivência social apresenta muitos desafios: pobreza, falta de respeito dos direitos humanos, exploração das mulheres, destruição do patrimônio florestal. “Tudo isso exige que repensemos o que significa cuidar das riquezas desta terra, das suas tradições, da criação, da individualidade de cada pessoa, para encontrar, juntos, uma estrada nova em direção a uma cultura mais integrada.”

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É uma tarefa impossível sem o envolvimento dos leigos, explica o monsenhor Ireneu Roman, bispo da arquidiocese de Santarém: “eles são a verdadeira força da Igreja amazônica”. Em suas comunidades paroquiais, os catequistas são cerca de mil e dão suporte à formação cristã, à liturgia da palavra e aos projetos sociais. O monsenhor Roman pede à comunidade do Movimento dos Focolares na Amazônia que levem sua contribuição específica: “a unidade nas estruturas eclesiais e na sociedade, porque o que é mais útil nesta terra é reaprender a comunhão”.

O primeiro focolare permanente masculino chegou a Óbidos em 2020, a pedido do monsenhor Bahlmann, e, há seis meses, o focolare feminino se instalou em Juruti. Hoje, na Amazônia, vivem sete focolarinos, entre os quais um médico, dois sacerdotes, uma psicóloga e um economista.

“Estamos na Amazônia para apoiar o grande trabalho missionário que a Igreja desenvolve com os povos indígenas”, explicam Marvia Vieira e Aurélio Martins de Oliveira Júnior. “Em 2003, umas das linhas-guias da Conferência Episcopal Brasileira era incrementar a presença da Igreja nesta região da Amazónia, porque a vastidão do território e a falta de sacerdotes tornavam difícil uma assistência espiritual e humana adequada”.

Assim, há 20 anos, nasceu o “Projeto Amazônia”, no qual membros do Movimento dos Focolares provenientes de todo o Brasil vão a lugares escolhidos de comum acordo com as dioceses por um período, para realizar ações de evangelização, cursos de formação para as famílias, jovens, adolescentes e crianças, visitas médicas e psicológicas, cuidados odontológicos, entre outros.

“Talvez não consigamos resolver os tantos problemas dessa gente”, diz Edson Gallego, focolarino sacerdote do focolare de Óbidos e pároco, “mas podemos ser vizinhos deles, compartilhar alegrias e dores. É o que procuramos fazer desde que chegamos, em comunhão com as diversas realidades eclesiais da cidade”.

As focolarinas explicam que nem sempre é fácil deixar de lado a própria mentalidade: “Frequentemente nos iludimos em dar respostas, mas somos nós que saímos enriquecidas de cada encontro, pela forte presença de Deus que emerge de todos os lugares: da natureza, mas sobretudo das pessoas”.

Em Juruti, as focolarinas colaboram com as realidades da Igreja que desenvolvem ações de promoção humana e social. O casulo Bom Pastor é uma das 24 escolas infantis da cidade, com uma linha pedagógica específica que forma as crianças de acordo com a sabedoria da própria cultura e tradições, com o senso de comunidade, com a consciência de si e do outro. É uma escolha importante para a formação integral e integrada. Já o hospital 9 de Abril na Providência de Deus é gerenciado pela Fraternidade São Francisco de Assis na Província de Deus. Está a serviço da população da cidade (cerca de 51.000 habitantes), das localidades vizinhas e das comunidades fluviais, com uma atenção particular a quem não pode pagar pelos cuidados. Já os Apóstolos do Sagrado Coração de Jesus animam o centro de convivência Mãe Clelia, onde acolhem uma centena de jovens por ano, criando alternativas de formação profissional e contribuindo para o desenvolvimento pessoal, em particular dos jovens em risco.

A comunidade do Movimento dos Focolares também opera há anos em sinergia com as paróquias e organizações eclesiais. Ao encontrá-la, com outras comunidades vindas de longe, Margaret Karram agradeceu pela generosidade, concretude evangélica e acolhimento: “Vocês reforçaram em todos nós a sensação de ser uma única família mundial e mesmo que vivamos de forma diferente, estamos unidos pelo mesmo dom e missão: levar a fraternidade onde vivemos e em todo o mundo”.

Por meio de uma rede de canais que se entrelaçam pela floresta amazônica, a uma hora de barco de Óbidos, chega-se ao Mocambo Quilombo Pauxi, uma comunidade indígena de mil afrodescendentes. É acompanhada pela paróquia de Edson, que procura ir até lá pelo menos uma vez por mês para celebrar a missa e, juntamente com os focolarinos, compartilhar, escutar, brincar com as crianças. A comunidade é composta por cerca de mil pessoas que, mesmo imersas em uma natureza paradisíaca, vivem em condições particularmente precárias. Isolamento, luta pela sobrevivência, violência, falta de muitos direitos, de acesso à educação e à saúde básica estão entre os desafios cotidianos que essas comunidades ribeirinhas enfrentam. Também ali, há dois anos, a diocese de Óbidos ativou o projeto Força para as mulheres e crianças da Amazônia. É endereçado para as mulheres e crianças e promove uma formação integral da pessoa em âmbito espiritual, sanitário, educativo, psicológico e econômico. Uma jovem mãe conta com orgulho sobre seu progresso no curso de economia doméstica: “Aprendi muito e descobri que tenho capacidade e ideias”.

Com certeza, trata-se de uma gota no grande mar de necessidades desses povos, “e é verdade”, reflete Jesús Morán, “que, sozinhos, não resolveremos nunca os tantos problemas sociais. A nossa missão, também aqui na Amazônia, é mudar os corações e levar a unidade na Igreja e na sociedade. O que fazemos tem sentido se as pessoas orientam suas vidas para o bem. É esta a mudança”.

Acolher, compartilhar, aprender: é essa a “dinâmica evangélica” que emerge, escutando os focolarinos na Amazônia, onde cada um se sente chamado pessoalmente por Deus a ser seu instrumento para “escutar o grito da Amazônia” (47-52) – como escreve o papa Francisco na extraordinária exortação pós-sinodal Querida Amazônia – e para contribuir em fazer crescer uma “cultura do encontro em direção a uma ‘harmonia plural’” (61).

Stefania Tanesini

Todos responsáveis ​​por todos: formação em rede

A partir de hoje, 20 de novembro de 2023, estão disponíveis as novas Diretrizes para a Formação sobre a Proteção de Crianças, Adolescentes e Pessoas em Situação de Vulnerabilidade desenvolvidas pelo Movimento dos Focolares. Margarita Gómez e Étienne Kenfack, Conselheiros do Centro Internacional do Movimento para o aspecto Vida Física e Natureza, oferecem-nos alguns esclarecimentos. Ilustrar as características necessárias para se comprometer concretamente com a proteção da vida e da dignidade de cada pessoa: é isso que distingue as novas Diretrizes para a Formação sobre a Proteção de Crianças, Adolescentes e Adultos Vulneráveis ​​(FPCV) no Movimento dos Focolares, lançada hoje, 20 de novembro de 2023, Dia Internacional da Criança e do Adolescente. O trabalho contou com a colaboração direta de 40 especialistas e pessoas envolvidas neste campo de todos os continentes e teve como objetivo fornecer os elementos necessários para que, em cada país onde o Movimento dos Focolares atua, possa-se desenvolver uma estratégia de formação adequada, orientada para prevenir e erradicar qualquer tipo de abuso, tanto dentro do Movimento como nos ambientes onde os seus membros se encontram (trabalho, bairro, escola). Desde 2013, o Movimento aposta na formação para a proteção de crianças e adolescentes, com um trabalho capilar em todos os países onde atua e com a realização de um curso de seis horas que continha os princípios fundamentais. Este esforço de formação atingiu 17.000 pessoas até dezembro de 2022 e, embora a formação fosse aberta a todos, foi realizada principalmente por pessoas que tinham responsabilidades ou contato direto em atividades com crianças. Depois da publicação do relatório sobre os graves casos de abusos sexuais registrados na França, publicado um ano depois da investigação da consultoria GCPS, surgiu a forte necessidade de oferecer uma formação mais específica a todos os membros do Movimento dos Focolares, de qualquer nação, idade, vocação ou função. Por esta razão, as Diretrizes representam uma ferramenta universal, deixando amplo espaço para uma inculturação adequada e uma implementação específica no contexto particular de origem. “A formação dirige-se a todos, e por ‘todos’ entendemos não só os pertencentes ao Movimento, mas também as pessoas que trabalham nas nossas estruturas – afirma Étienne Kenfack. As Diretrizes, no entanto, dirigem-se aos dirigentes do Movimento nas diversas geografias e às suas equipes que serão responsáveis ​​pela sua implementação”. As Diretrizes entrarão em vigor em 1º de janeiro de 2024, por um período de 20 meses ad experimentum. Um período de checagem para poder perceber todas as mudanças e transformações que serão necessárias no futuro. “O documento – continua Margarita Gómez – baseia-se num recurso fundamental para nós, isto é, a comunhão: portanto, trabalharemos em rede. Haverá uma comissão internacional e várias equipes que realizarão o projeto localmente. Haverá momentos de troca, com links online para nos ajudar a tirar dúvidas, para partilhar boas práticas. Não é por acaso que decidimos intitular o nosso programa de formação como “Todos responsáveis ​​por todos”. Espero que estas Diretrizes sejam muito bem acolhidas nas nossas comunidades e que, em poucos meses, tenhamos dado um impulso significativo à formação nesta matéria”.

Maria Grazia Berretta

Ver o vídeo (ativar legendas em português) https://youtu.be/OsZW-DC_E7U

 

A força para não se render ao mal

Depois da agressão terrorista sofrida por Israel, do horror da violência desencadeada, da onda de medo que abalou os dois povos, da angústia pelos reféns e da suspensão pelo destino do povo de Gaza: notícias das comunidades dos Focolares na Terra Santa e um apelo mundial à oração e ao jejum pela paz, em 17 de outubro. Deixamos as nossas casas e todos os cristãos se refugiaram nas igrejas”. Esta é a breve mensagem que recebemos esta manhã de alguns membros da comunidade dos Focolares em Gaza. São as últimas notícias que recebemos deles. Segundo o padre Gabriel Romanelli, pároco da paróquia católica da Sagrada Família em Gaza, ainda vivem na Faixa 1017 cristãos e entre eles há vários aderentes do Movimento dos Focolares com quem a comunicação é cada vez mais esporádica e difícil. E, apesar disso, nos últimos dias circulou uma mensagem de um deles para agradecer a todos pela proximidade e orações pela pequena comunidade de Gaza.  “Vocês me deram a força para não me render ao mal”, escreve, “para não duvidar da misericórdia de Deus e acreditar que o bem existe. Em meio a todas as trevas, tem uma luz oculta. Se não pudermos rezar, rezem vocês. Nós oferecemos e assim é completo aquilo que fazemos. Queremos gritar ao mundo que desejamos a paz, que a violência gera violência e que a nossa confiança em Deus é grande. Mas se Deus nos chamasse para Si, tenham a certeza de que do céu continuaremos a rezar com vocês e a implorar com mais força para que tenha compaixão do seu povo e de vocês. Paz, segurança, unidade e fraternidade universal, é isso que desejamos e essa é a vontade de Deus e também nossa“. Margaret Karram: em meio ao ódio, notícias da fraternidade É preciso coragem para dizer isso hoje, quando o horror e a violência ocupam todo o espaço da mídia, mas estas não são as únicas notícias. Existem aquelas que são menos gritadas, mas que não podem ser silenciadas, como a rede mundial de oração que existe em todos os pontos da Terra, independentemente da crença religiosa e filiação, juntamente com gestos e palavras de fraternidade. Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, disse isso ontem no habitual briefing na Sala de Imprensa do Vaticano, fora do âmbito do Sínodo da Igreja Católica em curso, do qual participa como convidada especial. Amigos judeus que conheço em Israel “, diz ela, “ligaram para mim, uma árabe-palestina, dizendo que estão preocupados com aqueles que vivem em Gaza. Para mim, é uma coisa muito bela. Todos conhecem as histórias negativas entre esses dois povos, mas muitas pessoas, muitas organizações trabalham para construir pontes e ninguém fala sobre isso. Só se fala em ódio, divisão, terrorismo. Criam-se imagens coletivas desses dois povos que não correspondem à realidade. Não podemos esquecer que ainda hoje muitas pessoas trabalham para construir pontes. É uma semente plantada, mesmo nesta hora difícil.” Dos amigos judeus: formar uma comunidade de oração Para confirmar isso, de uma cidade no distrito de Tel Aviv, um amigo judeu nos escreve: “Se estiverem em contato com os amigos dos Focolares em Gaza, enviem para eles o meu amor e proximidade. Espero que estejam todos a salvo. Hoje estou em casa com a minha família, as escolas estão fechadas e ficamos perto dos refúgios. Nos bate-papos aparecem continuamente apelos e ofertas de ajuda para as famílias que fugiram, para os soldados e suas famílias. Chegam também pedidos de ajuda para os enterros, para homenagear os mortos como devem ser honrados. Parece que todos os jovens foram chamados às armas e tememos por amigos e parentes. Tememos o que vem pela frente. Tento proteger meus filhos do medo, mas o nosso horror é insignificante em comparação com o que aconteceu com os nossos irmãos e irmãs no Sul. Penso nos meus amigos árabes em Israel, que correm para os refúgios como nós. Procuro rezar na mesma hora do meu amigo muçulmano, para que possamos ser uma comunidade de oração, embora muitas coisas nos dividam. Aprecio o desejo de vocês de estarem conosco, juntos, e as suas orações muito além das minhas palavras“. O que podemos fazer? Na conferência de imprensa, Margaret Karram exprimiu a dor e a angústia que sente pelo seu povo, por ambos os lados: “Eu me perguntei, o que estou fazendo aqui? Neste momento não deveria unicamente agir para promover a paz? Mas depois disse a mim mesma: também aqui posso associar-me ao convite de Papa Francisco e às orações de todos. Com estes irmãos e irmãs de todas as partes do mundo, podemos pedir a Deus o dom da paz. Acredito no poder da oração“. Ela depois falou da ação: “Chega de guerras!! VAMOS CONSTRUIR A PAZ!” que as crianças, adolescentes e jovens dos Focolares lançaram juntamente com a associação Living Peace [Viver a Paz]. Reúnem os seus coetâneos para rezar pela paz às 12:00 [meio-dia], todos os dias e em todos os fusos horários; depois propõem-se preencher o dia com gestos que construam a paz no coração de cada um e à sua volta; convidam a enviar mensagens de apoio às crianças, adolescentes e jovens da Terra Santa e os encorajam a pedir aos governantes de seus países que façam tudo o que puderem para obter a paz. O Movimento dos Focolares também adere ao apelo do Patriarca Latino de Jerusalém, o Cardeal Pizzaballa, para um dia de jejum e oração pela paz, no dia 17 de outubro: “Que sejam organizados momentos de oração com adoração eucarística e o terço à Santíssima Virgem. As circunstâncias em muitas partes de nossas dioceses provavelmente não permitirão a reunião em grandes assembleias. Nas paróquias, comunidades religiosas e famílias, será possível se organizar com momentos simples e sóbrios de oração comum”.

Stefania Tanesini

Coreia: o diálogo é a cultura da família humana

Coreia: o diálogo é a cultura da família humana

Margaret Karram e Jesús Morán, Presidente e Co-presidente do Movimento dos Focolares, acabaram de concluir a etapa coreana da sua primeira viagem oficial à Ásia e Oceânia, que prosseguirá com visitas ao Japão, Ilhas Fiji, Austrália e Indonésia, até 25 de Maio. Eis um breve resumo do que aconteceu na Coreia.

“Ensina-nos, Senhor, a caminhar juntos, olhando na mesma direção, unidos pelo mesmo objetivo, buscando os mesmos valores rumo Àquele que nos ama e nos espera: é a base de toda nova amizade”.

Essa oração, que abriu o encontro de 160 focolarinos e focolarinas da região Ásia Leste no dia 22 de abril (com vários deles conectados online), expressa bem o significado da primeira viagem oficial de Margaret Karram e Jesús Morán à Ásia e à Oceania. A primeira etapa foi na Coreia,  a seguir eles vão visitar o Japão, as Ilhas Fiji, a Austrália e, no fim, a Indonésia. Eles estão acompanhados por Rita Moussallem e Antonio Salimbeni, conselheiros da região e corresponsáveis ​​pelo diálogo inter-religioso do Movimento dos Focolares. No Leste Asiático (a região inclui a Coreia, o Japão e a área geográfica de língua chinesa), o Movimento está presente desde o final dos anos 1960. O padre Francesco Shim levou a espiritualidade da unidade à Coreia em 1967 e o primeiro focolare de Hong Kong foi inaugurado em 1970. Entre membros internos e aderentes, cerca de 10.000 pessoas vivem a Espiritualidade da Unidade nesta parte da Ásia.

Margaret Karram: recomeçar a partir do diálogo

“Por que você escolheu a Ásia para sua primeira viagem?”, perguntou a Margaret o repórter do “Catholic Chinmoon”, principal jornal católico da Coreia. Ela respondeu: “Estou aqui para escutar, conhecer, aprender, mas sobretudo para amar o ‘continente da esperança’”. A riqueza espiritual desses povos será um dom para todos. Sinto que é muito importante reavivar o caminho do diálogo no Movimento, instrumento por excelência para construir a paz, bem de que o mundo mais precisa hoje”.

Coreia: entre contradições e esperança de paz

Com seus quase 10 milhões de habitantes, a capital Seul mostra a fisionomia de um país que vem acelerando há 50 anos e se transformou em um dos lugares mais avançados e tecnológicos do planeta. “Rapidez, eficiência e competitividade são os traços distintivos da sociedade coreana moderna – explica Matteo Choi, jornalista e focolarino coreano –, tanto do ponto de vista econômico quanto cultural, mas isso traz consigo muitas contradições”. “Aqui há grande ênfase nos resultados – acrescenta Kil Jeong Woo, responsável pelo Movimento Político pela Unidade na Coreia –, com um sistema acadêmico altamente competitivo e uma forte ética do trabalho. Temos problemas ligados às desigualdades sociais, mas existe o esforço para resolver isso por meio de reformas sociais e políticas, porém o progresso é lento.”

A Igreja coreana, ponte em uma sociedade dividida

O Arcebispo de Seul, dom Pietro Chung Soon-taek, destaca entre os desafios sociais os conflitos intergeracionais e o envelhecimento da população. “Na Igreja – explica –, existe o risco de nos fecharmos em nossas comunidades. É preciso se abrir, e essa é a contribuição que o Movimento dos Focolares pode dar”. Margaret Karram e Jesús Morán se encontraram com dom Taddeo Cho, arcebispo de Daegu, dom Augustino Kim, bispo de Daejeon, e dom Simon Kim, bispo de Cheng-ju. No clima social e político de forte polarização entre progressistas e conservadores, a Igreja procura ser uma ponte e um antídoto contra a secularização que atinge particularmente os jovens.

Diálogos e Inundações: um caminho que já começou

O Movimento dos Focolares na Coreia oferece sua contribuição ao diálogo ecumênico e inter-religioso, assim como aos diversos âmbitos culturais. Um exemplo foi o evento de 14 de abril em Seul, intitulado: “O diálogo se torna a cultura da família humana“. Houve a participação e a contribuição de representantes de várias Igrejas Cristãs, de várias Religiões, expoentes da esfera social, animados por um espírito construtivo de colaboração para a reconciliação social e a paz. “É muito importante que todos possam gerar ambientes que abram as portas para o ‘diálogo da vida’ – disse Margaret Karram em seu discurso –, colocando em prática os ensinamentos da própria fé religiosa”. Jesús Morán encorajou a continuar nesse caminho comum: “Não importa quão grandes ou pequenas sejam as coisas que fazemos. O importante é levar a semente de algo novo. Os testemunhos que vocês apresentaram têm essa marca”. Sa Young-in, Diretora do Departamento ONU para o Budismo Won, disse que, quando jovem, sonhava com uma “aldeia religiosa”, onde fiéis de várias religiões pudessem compartilhar amor, graça e misericórdia. “Parece que estou vendo realizado aqui – disse –, hoje, aquilo que imaginei”.

Gen 2: “Coragem, vão em frente!”

No dia 15 de abril, no Centro Mariápolis, estavam presentes 80 pessoas: 70 gen da Coreia, 9 de Hong Kong e outros conectados do Japão e de áreas de língua chinesa. Trouxeram para Margaret e Jesús o fruto do trabalho realizado em quatro oficinas sobre como encarnar a Espiritualidade da Unidade na vida cotidiana; as relações dentro e fora do Movimento; as dificuldades em encontrar a própria identidade humana e espiritual e como “sonham” o Movimento. “A nossa identidade é uma só – disse-lhes Margaret. Não somos primeiramente gen e depois nos tornamos outra coisa quando, por exemplo, vamos para a universidade. O dom da espiritualidade que recebemos nos torna pessoas livres; dá coragem e força para proclamar quem somos e em que acreditamos. Gostaria de dizer a vocês o que me disse o Papa quando fui eleita presidente: ‘coragem e vá em frente’”. “Depois da morte de Chiara – conta um gen –, houve momentos em que senti saudade e escuridão. Hoje a proximidade, a confiança e a escuta de Margaret e Jesús me incentivaram muito. Eles me fizeram entender mais uma vez que o legado de Chiara é um dom de Deus adequado para todas as épocas”.

Mariápolis permanente Harmonia

No dia 16 de abril, Margaret Karram e Jesús Morán foram ao terreno que o Movimento recebeu de presente, a cerca de setenta quilômetros ao sul de Seul, para realizar um sonho já expresso por Chiara em sua visita à Coreia em 1982: o nascimento de uma mariápolis permanente, de uma cidadezinha de formação e testemunho da vida evangélica e da Espiritualidade da Unidade para esta parte da Ásia. Na presença de cerca de 200 pessoas – membros do Movimento dos Focolares, benfeitores e amigos que contribuíram das mais diversas formas –, o terreno foi abençoado e confirmado com a colocação de uma medalha de Nossa Senhora. “Confiemos a ela esta Obra – concluiu Margaret Karram – pedindo-lhe que nos ajude a aderir aos desígnios de Deus, que talvez não conheçamos, mas Ele é maior do que nós e se lhe dermos a nossa disponibilidade e generosidade, Ele poderá agir.”

Visita a Sungsimdang

Tudo começou em 1956, com dois sacos de farinha para fazer pão cozido no vapor e vender em frente à estação de Daejeon. Hoje Sungsimdang se tornou a empresa mais famosa de restaurantes da cidade e, com seus 848 funcionários, vive em todos os aspectos o espírito da Economia de Comunhão (EdC) desde 1999. Margaret Karram e Jesús Morán o visitaram, encontrando com alegria Fedes Im e sua esposa Amata Kim, proprietários e voluntários do Movimento. “Não estudei administração nem gestão – diz Fedes –, mas segui Chiara”. “Procurar fazer o bem diante de todos os homens”, é o lema que ela deu à empresa, que atende 10.000 clientes por dia e desde o início vive a partilha, levando pão a mais de 80 centros de assistência social todos os dias. Mas o que chama a atenção é o estilo de relacionamento e de trabalho: “Para nós – diz sua filha Sole, responsável pelo setor de distribuição aos centros de assistência social –, todas as pessoas têm o mesmo valor: homens e mulheres, ricos e pobres, gerentes e funcionários, fornecedores e clientes. Procuramos colocar a pessoa no centro de todas as nossas decisões”. Jesús enfatizou a importância do impacto da empresa no território, prerrogativa das empresas que atuam segundo o estilo da EdC, e Margaret comparou o testemunho dessa empresa ao de uma mariápolis permanente, da qual se pode dizer “venham e vejam”. “Esse – disse – é o maior remédio que o mundo espera”.

Escutar, conhecer, compartilhar

Os dias de Margaret Karram e Jesús Morán na Coreia foram intensos e variados: também houve tempo para uma parada turística no antigo local de Bulguksa, para conhecer as raízes da cultura budista nacional. Com seus templos milenares, imersos no frescor da natureza, foi um dia realmente revigorante! Seguiram-se os numerosos encontros com os membros do Movimento desta vasta região, como a tarde alegre com os focolarinos e alguns membros de língua chinesa da região. O momento com os 80 sacerdotes, religiosos e religiosas foi uma experiência de “cenáculo”, com testemunhos de fidelidade e de vida evangélica autêntica, em uma conversa íntima com Margaret Karram e Jesús Morán. No dia 23 de abril, foi a vez do tão esperado encontro com todos os membros do Movimento; estavam presentes 1.200 pessoas, com cerca de 200 conectadas online de vários países. Uma celebração extraordinária, que reuniu povos e culturas que dificilmente veríamos dançando e cantando no mesmo palco e se alegrando com a beleza e riqueza de cada um. Talvez seja por isso que alguns chamaram o evento de “um milagre” e de semente de uma sociedade renovada pela unidade. No momento de diálogo, Margaret Karram e Jesús Morán responderam sobre vários assuntos, com os conselheiros Rita Moussallem e Antonio Salimbeni: o “desígnio” do continente asiático, a atualidade do diálogo entre as religiões. Respondendo à pergunta sobre como ter uma relação mais profunda com Jesus Eucaristia, Jesús explicou que não se trata de “sentir” a relação com Ele, mas de vivê-la, “porque a Eucaristia alimenta toda a nossa pessoa e nos faz viver como um corpo, no amor pelos outros”. Sobre a diminuição das vocações no Movimento, Margaret afirmou que as relações pessoais e o testemunho autêntico dos adultos são importantes para os jovens. “Se a nossa vida for fruto da união com Deus e se for coerente com o Evangelho, eles serão atraídos, porque se inspiram naqueles que ‘ousam’ viver por Deus e assim compreenderão para onde Ele os chama”. A última pergunta foi sobre como devem ser as nossas relações para poder dialogar com todos, e Margaret respondeu com uma experiência: “Este ano aprofundamos nossa vida de oração e nosso amor a Deus, um amor ‘vertical’, poderíamos dizer, como aqueles dos pinheiros cujos ramos se estendem para cima. Outro dia, enquanto caminhava, gostei muito de uma árvore que vi pelo caminho: seus ramos eram abertos, se estendiam para fora e se entrelaçavam com outras árvores. Assim devem ser as nossas relações: os nossos braços devem estar sempre abertos, voltados para os outros; devemos ter o coração bem aberto para compartilhar as alegrias, as tristezas e a vida de todas as pessoas que passam ao nosso lado”. É a vez da Ásia”, escreveu Chiara Lubich em 1986, durante sua primeira viagem a estas terras; são palavras que demonstram hoje toda a sua atualidade e valor profético.

Stefania Tanesini