SMU 2020: mensagem do Secretário Geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI)
Ele foi um dos primeiros religiosos a aderir à espiritualidade do Movimento dos Focolares. Um contemplador plenamente em ação, um homem de Deus imerso na humanidade. O que significa e para que serve “contemplar” atualmente? E como se contempla no século 21? Em tempos como estes, trancados em casa devido ao Covid e pressionados pelas preocupações com o futuro, tomar um tempo para nos colocar em contato com o Absoluto poderia não parecer uma prioridade. Porém, há poucos dias, fui obrigada a crer novamente: conheci a extraordinária figura do padre Ermanno Rossi, dominicano italiano, pioneiro do Movimento dos Focolares nos anos 1950, que nos deixou na segunda-feira passada, após a Páscoa. Sua parábola existencial afirma que só uma relação íntima com Deus poderia torná-la possível. Um texto seu, escrito para o 90º aniversário dele, confirma isso: “Foram tantos os acontecimentos da minha vida! Lembro-me de que somente uma convicção interior me guiou em todas as escolhas: ‘Nada pedir e nada recusar’. Isso significava o seguinte: valorizar bem a tarefa confiada a mim, colocar todas as minhas forças com a certeza de que Deus pensaria no resto. Por esse motivo, nunca pedi nada nem recusei nada. Ao chegar nesta idade, porém, posso assegurar que valeu a pena confiar em Deus. (…) Juntamente com as dificuldades, tive graças extraordinárias. Entre elas, tem um lugar totalmente relevante o encontro com Chiara Lubich e com o Movimento dela. Esse encontro foi o farol da minha vida.” E a vida dele foi, digamos, um tanto intensa: de 1950 a 1955, foi o responsável pelos jovens aspirantes à vida dominicana; escrevia que a sua cela era o carro: “Eu vivia rodando pela região central da Itália”. Foi naqueles anos que o padre Ermanno encontrou uma das primeiras comunidades romanas do Movimento dos Focolares e conheceu Graziella De Luca: “Fiz somente uma pergunta: ‘Agora, enquanto vocês estão vivos, tudo caminha bem; mas, quando a primeira geração se for, inevitavelmente haverá um declínio, como aconteceu com todas as fundações’. Graziella respondeu: ‘Não! Enquanto houver Jesus no meio, isso não acontecerá’.”. A partir daquele momento, a vida dele deu, se é que era possível, mais uma acelerada: foi reitor e tesoureiro de um seminário; docente de Moral em Loppiano, rodou pela Europa apresentando a espiritualidade do Movimento dos Focolares a inúmeros religiosos. Foi responsável pelo Centro Missionário da sua província religiosa, depois pároco em Roma e superior de uma pequena comunidade. Com qual espírito padre Ermanno viveu tudo isso? Ele mesmo conta: “Em todos esses fatos, houve algo constante: todas as vezes tive de começar do zero; tive de ‘reciclar-me’. Era como se a cada vez me confiassem um trabalho novo. Outra constante: no começo, a nova situação sempre revelava-se dolorosa, depois, eu a via como providencial. Agora tenho certeza de que aquilo que a Providência coloca à minha disposição é o que poderia me acontecer de melhor”. Na espiritualidade da Unidade, padre Ermanno encontrou a estrada para um novo relacionamento com Deus. Até então, havia procurado Deus sozinho. Descobriu, por meio de Chiara Lubich, que o irmão é o caminho direto para chegar a Deus; uma estrada que não requer, necessariamente, a solidão: pode ser percorrida também no meio da multidão.
Stefania Tanesini
O seguinte escrito de Chiara Lubich nos leva ao coração da fé cristã. “Acreditamos no amor de Deus – deste modo o cristão pode expressar a escolha fundamental de sua vida”[1]. É uma escolha que atualmente se revela muito ousada, mas não menos verdadeira. Hoje, falaremos mais uma vez sobre a oração. Ela é o respiro da alma, oxigênio para toda nossa vida espiritual, expressão do nosso amor a Deus, combustível para cada uma de nossas atividades. Mas de que oração trataremos? Da oração que, encerrando infinitas e divinas riquezas, está toda contida numa palavra, numa única palavra ensinada por Jesus e colocada pelo Espírito Santo em nossos lábios. Mas vamos à sua origem: Jesus rezava, rezava a seu Pai. Para Ele, o Pai era «Abba», isto é, papai, paizinho, a quem Ele se dirigia com palavras de infinita confidência e amor sem fim. Jesus rezava ao Pai, permanecendo no seio da Trindade da qual Ele é a segunda Pessoa divina. Foi justamente através dessa oração muito especial que Jesus revelou ao mundo quem realmente Ele é: o Filho de Deus. Entretanto, uma vez que veio à terra por nossa causa, não lhe satisfazia permanecer sozinho nesta condição privilegiada de oração. Morrendo por nós e nos redimindo, tornou-nos filhos de Deus, seus irmãos, e nos deu também, através do Espírito Santo, a possibilidade de sermos introduzidos no seio da Trindade, n’Ele, junto com Ele, por meio d’Ele. Deste modo, Ele tornou possível também para nós aquela sua divina invocação: «Abba, Pai»[2]: «Papai, paizinho meu!», nosso pai, com tudo o que isto implica: certeza da sua proteção, segurança, abandono cego ao seu amor, consolo divino, força, ardor; ardor que brota do coração de quem está certo de ser amado… É esta a oração cristã, oração extraordinária. Não a encontramos em outros lugares, nem em outras religiões. No máximo, quando se acredita numa divindade, esta é venerada, adorada, suplicada, mas se permanece, por assim dizer, fora dela. No nosso caso, ao invés, penetramos diretamente no Coração de Deus. E então o que fazer? Lembremo-nos, antes de tudo, da vocação sublime e altíssima a que fomos chamados como filhos de Deus e, consequentemente, da nossa extraordinária possibilidade de rezar. Naturalmente só podemos dizer «Abba, Pai!» com todo o significado que essa palavra encerra, se for pronunciada pelo Espírito Santo em nós. E para que isto aconteça é preciso ser Jesus, nada mais, nada menos que Jesus. De que modo? Nós sabemos: Ele já vive em nós pela graça, mas é preciso fazer a nossa parte, que consiste em amar, em permanecer no amor para com Deus e para com o próximo. E, com maior plenitude ainda o Espírito Santo a colocará nos nossos lábios se estivermos em perfeita unidade com os nossos irmãos, mantendo a presença de Jesus entre nós. «Abba, Pai!» Que esta seja a nossa oração. (…) Rezando assim, corresponderemos perfeitamente ao apelo que nos é feito para acreditar no Amor, para ter fé no Amor, neste Amor do qual se originou o nosso carisma. Sim, o Amor, o Pai nos ama. É o nosso papai. O que devemos temer? E ainda, diante do desígnio de Amor que Ele tem sobre cada um de nós, que nos é revelado dia após dia, como é possível deixar de reconhecer a mais extraordinária aventura para a qual poderíamos ser chamados? «Abba» é a oração característica do cristão, e de modo particular a nossa, como membros da Obra de Maria. Se temos então certeza de estarmos vivendo o nosso Ideal, ou melhor, se estivermos no amor, dirijamo-nos ao Pai como Jesus o fazia. E experimentaremos no coração as imensas consequências disso.
Chiara Lubich
(em uma conexão telefônica, Rocca di Papa, 9 de março de 1989) Tirado de: “Abbà, Padre!”, in: Chiara Lubich, Conversazioni in collegamento telefonico, pag. 355. Città Nuova Ed., Roma 2019. [1] Bento XVI, Deus Caritas est, 1. [2] Mc 14,36; Rm 8,15.
Este ano, mais do que nunca, a Semana Mundo Unido é um evento local e global ao mesmo tempo. Mais de 400 micro e macro eventos, em 65 países. Todos rigorosamente online. Sábado, 2 de maio, às 12 horas (UTC +2), o streaming ‘#inTimeForPeace Web Event”. O que existe é o embaraço da escolha: pode-se começar a Semana Mundo Unido (SMU) participando do Run4Unity na Austrália ou no Texas, para depois unir-se à oração pela paz em Cuba e dar uma olhada no “café político” na Argentina. De grande interesse é também a série de webinar promovida pelo Projeto Mundo Unido, e para os amantes da World Music há os eventos e concertos em vários países africanos. E o melhor é que não precisa nem escolher: pode-se participar de tudo, e além do mais comodamente, da própria casa. O Covid poderia ter se tornado o dono da Semana Mundo Unido, mas não, ou melhor, não só. #intimeforpeace, ainda há tempo para a paz, é o título e o slogan dos mais de 400 eventos programados em pelo menos 65 países. Significa que, ao menos por uma semana, paz, direitos humanos e legalidade serão objeto de reflexão e ação, a cada 24 horas e em diferentes latitudes; significa que um número sempre crescente de pessoas acredita que a construção de um mundo regulado por normas, economias, culturas, que se inspiram na paz em todos os matizes possíveis, não pode mais ser adiada. O começo é dia 1º de maio, e até o dia 7 – como dizem os jovens – “tem pra todo mundo”. Na página web do Projeto Mundo Unido há uma escolha ampla, a demonstrar que não existe um único modo para apoiar a paz, lutar pelos direitos humanos, praticar a legalidade. Seja que façamos máscaras, distribuamos alimentos, façamos companhia a quem está só ou simplesmente façamos o nosso dever ficando em casa, cada gesto de proximidade, solidariedade, apoio à distância, cabe embaixo do grande guarda-chuva da paz. Entre as ações de destaque desta SMU há a petição para solicitar o fim do embargo contra a Síria, promovida pela Ong New Humanity e assinada por numerosas personalidades: o apelo, enviado ao Secretário Geral das Nações Unidas e ao presidente do Parlamento Europeu, tem a força de uma convocação mundial para salvar um país já prostrado após 10 anos de guerra, e que agora se arrisca a precipitar no abismo pela ameaça do Covid. Como, onde e quando seguir os eventos da SMU O espaço da maratona multimídia “In time for peace” é o site www.unitedworldproject.org onde será possível inclusive consultar o calendário dos eventos locais. Os eventos centrais Sábado, 2 de maio, às 12 horas (UTC +2), o streaming “#InTimeForPeace Web Event” irá conectar várias cidades do planeta, contando histórias e ações, recebendo debates e performances artísticas. Domingo, 3 de maio, das 11 às 12 horas, em cada fuso horário, virtualmente acontecerá a corrida Run4Unity, um evento esportivo, um revezamento sem paradas que abraçará o globo com jogos, desafios, testemunhos, para estender simbolicamente um arco-íris de paz sobre toda a Terra.
Stefania Tanesini
Tudo depende de como vemos “o outro”, o irmão, a irmã: as situações podem mudar completamente se optamos pela estrada do amor. Tempos difíceis Krystyna contava-me sobre os tempos difíceis na Polônia durante a guerra: «Faltavam alimentos e produtos de higiene, recebíamos algumas coisas de amigos da então Alemanha Oriental. Ao contrário, os nossos vizinhos faziam festas com uso abundante de bebidas alcoólicas. Um dia, porém, notamos no apartamento deles um silêncio fora do comum, e que a filha deles, ainda criança, tinha ficado sozinha. Depois soubemos que a mãe tinha sido hospitalizada. Fui visitá-la, levando sabonete e pasta dental, produtos que na época quase não se encontravam. Quando viu-me, ficou muito surpresa: “Justamente você, a quem sempre disturbei, veio visitar-me? Não veio nenhum dos amigos que frequentam a nossa casa.” Quando saí do hospital, convidou-me à sua casa. A acolhida foi calorosa. Depois, começou a contar-me da sua infância triste, a falta de sentido na sua vida e a necessidade de sair de um certo círculo. Escutei-a com amor e garanti-lhe a minha oração. Em seguida, o homem que vivia com ela foi embora e a companhia barulhenta deixou de frequentar aquela casa. Assim, aquela mãe podia oferecer uma vida “normal” à sua filha». B.V. – Polônia Jovem casal do sul Vindos do sul da Itália, transferiram-se ao norte para sair de um lugar dominado pela máfia. Tinham que encontrar uma casa e trabalho para os dois. A minha situação econômica não era das melhores, mas com fé comecei a ajudá-los a procurar hospedagem. Infelizmente, quando eu dizia que eram do sul, muitos fechavam a porta. Cheguei a chorar com eles e mais uma vez dei-me conta de que somente um pobre pode compreender um outro pobre. Vivi junto com aquele jovem casal muitas humilhações e, quando no fim encontramos a casa e o trabalho, sentia-me enriquecida por esta experiência vivida junto com eles. V.M. – Itália As toalhas roubadas Trabalho como caixa em um restaurante. Não exito em pedir as sobras de comida à cozinha para dar às crianças que vivem na rua. Encontro muitas todos os dias no caminho para a casa. Um dia, quando estava descendo do ônibus, alguém arranca-me a bolsa da mão e sai correndo! Fico chocada: dentro da bolsa tinha dez toalhas de mesa do restaurante, que havia recém retirado da lavanderia. O que fazer? Como direi ao meu patrão? Não sabia como contar nem à minha mãe, nem ao diretor do restaurante. Porém, tinha certeza que o Eterno Pai iria me ajudar. No dia seguinte, conto ao dono do restaurante o que aconteceu e ele, sem demonstrar muita preocupação, diz que espera as toalhas de volta o quanto antes. No mesmo momento, uma cliente que ouve a nossa conversa aproxima-se e diz que pode comprar o tecido necessário para fazer outras novas. Eu não podia acreditar! E o primeiro pensamento de alegria que tive foi lembrar das crianças que poderia continuar ajudando com a comida. D.F. – Filipinas Confiança Encontrei Álvaro num restaurante: 35 anos, mal vestido e com a barba por fazer. Quando pediu-me ajuda para preencher o formulário para um emprego, marquei um horário para ele no dia seguinte no meu escritório. Chegou no fim da tarde, dizendo que na realidade buscava apenas amizade. Tive compaixão e, superando a repugnância pelo cheiro que tinha, ofereci-lhe um licor. Ele entendeu que não o julgava e começou a contar-me seus problemas, desde quando, ainda criança, tinha sido abandonado pela mãe e o pai tinha sido preso. As horas passavam e ele, como em uma confissão, continuava a contar de si. Já estava clareando, quando percebeu que era dia e, desculpando-se, despediu-se. Reencontramo-nos outras vezes, apresentei-lhe meus amigos que o acolheram com familiaridade. Ele retribuía a amizade com vários pequenos trabalhos: um verdadeiro faz de tudo. Depois conseguiu encontrar um trabalho fixo e até fez carreira, casou-se e tornou-se pai de dois filhos. Quando, alguns anos depois, contou-me tudo isso, era uma outra pessoa. Tinha encontrado a sua dignidade, graças à confiança que lhe tínhamos demonstrado A.C. – Itália
Por Stefania Tanesini
(extraido de “Il Vangelo del Giorno”, Città Nuova, ano VI, n.2, março-abril 2020)