Movimento dos Focolares

Pedir, também é amor

Em sua homilia na Sexta-feira Santa de 2020 na Basílica de São Pedro (Roma), o Frei capuchinho, Raniero Cantalamessa, disse que “há coisas que Deus decidiu nos conceder como fruto, junto com sua graça e a nossa oração”. Este escrito de Chiara Lubich é um convite para colaborar com Deus, pedindo graças e colocando-nos nas melhores condições para obtê-las. «Se estiveres para trazer a tua oferta ao altar e ali lembrares de que o teu irmão tem alguma coisa contra de ti, deixa a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e depois virás apresentar a tua oferta»[1] (…). Jesus, com esta Palavra, nos diz claramente que não existe comunhão com Deus, culto verdadeiro, autêntica oração, sem a reconciliação com os irmãos. Esperamos, portanto, que este ensinamento tenha penetrado profundamente em todos os nossos corações. E é por causa desta esperança que eu quero agora falar-lhes um pouco sobre a oração que, observadas estas condições, é, sem dúvida, aceita por Deus. Gostaria de falar-lhes, em particular, da oração de súplica, em que pedimos a ajuda e as graças de Deus. Na verdade, eu tenho a impressão de que pode haver pessoas que não a estejam considerando suficientemente. Por quê? Pode ser até por um motivo bastante nobre: tendo vivenciado mais profundamente a nossa fé, tendo-nos tornado, na prática, mais fervorosos, compreendemos que a religião não consiste apenas em ir à igreja para ficar pedindo coisas, mas sim em amar a Deus e, portanto, em doar! E empenhamos a própria vida para atuar todos aqueles princípios sugeridos também pela nossa espiritualidade evangélica, para cumprir, como dizemos, a nossa parte. Este, certamente, é um raciocínio mais que válido. Todavia, deve-se fazer uma consideração: amar a Deus requer a observância de todos os seus mandamentos. Pois bem, um mandamento que Jesus repete com insistência no evangelho é justamente aquele que se refere ao pedir: «Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto»[2]. O que devemos fazer, então? Pedir mais e melhor, porque Ele quer assim. E também desta maneira estaremos manifestando-lhe o nosso amor. (…) Sem dúvida, se reza, e isto quer dizer que não se conta unicamente com as próprias forças. No entanto, podemos melhorar em duas direções: em primeiro lugar, não se trata de multiplicarmos as orações, mas de nos conscientizarmos daquilo que já pedimos. Reflitamos um pouco e veremos quantas graças pedimos nas orações [que já fazemos]. (…) Em segundo lugar, podemos melhorar se rezarmos, como dizem os santos, de modo a alcançar o que pedimos. Alcançaremos, se pedirmos com a consciência de que nada poderemos fazer, por nós mesmos, portanto, com humildade, com a convicção de que com Deus, pelo contrário, tudo podemos fazer, e, portanto, com a confiança Nele. Devemos ainda pedir com perseverança: pedindo sempre com uma amorosa insistência, como Jesus deseja. Em resumo, é necessário valorizar sempre estes pedidos que já fazemos: apresentá-los de maneira cada vez melhor, de modo condizente com o esforço que fazemos para viver o nosso Ideal. Assim, tudo se tornará mais fecundo. Rezemos enquanto ainda temos tempo. Lembro-me sempre do que nos recomendou a mãe de uma das primeiras focolarinas, antes de morrer: “Rezem durante a vida, porque no final não existe mais possibilidade”.

Chiara Lubich

(em uma conexão telefônica, Rocca di Papa, 16 de fevereiro de 1984) Tirado de: “È amore anche domandare”, in: Chiara Lubich, Conversazioni in collegamento telefonico, pag. 145. Città Nuova Ed., Roma 2019.   [1]              Mt 5,23-24. [2]              Mt 7,7.

Evangelho vivido: uma fé que vence tudo

“A fé”, escrevia Chiara Lubich, “é o novo modo de ‘ver’, por assim dizer, de Jesus” . Com ela, podemos nos aproximar d’Ele em cada próximo e compreendê-Lo em profundidade, encontrá-Lo no mais profundo do coração. Não nos faltou nada Um dia, o dono da empresa em que trabalho reuniu o pessoal e, depois de ter enumerado os problemas para conduzi-la adiante, nos fez a proposta de reduzir o número de horas de trabalho, com 30% a menos do salário, para evitar demissões e manter todos os funcionários. O que poderia ser feito? Foi um momento difícil, considerando que tenho uma família numerosa e tantos gastos… mas, como isso permitiria que muitos de nós continuássemos a trabalhar, aceitei. Em casa, eu e minha esposa nos empenhamos em confiar na providência de Deus e também envolvemos as crianças para rezar, não só pelas necessidades da nossa família, mas também pelas outras famílias em dificuldade. Um dos primeiros sinais de que Deus havia nos escutado foi a chegada de uma quantia de dinheiro que eu havia emprestado a um amigo há muito tempo e que já tinha quase desistido de recuperar. Agora que já se passaram tantos meses, nos damos conta de que não só não nos faltou nada, mas cresceu a sensação de responsabilidade dos nossos filhos. S.d.O. – Brasil Telemarketing Muitas vezes, encontro-me na situação embaraçosa de ter de dizer não a uma pessoa de telemarketing. Geralmente, esses telefonemas indesejados vêm no momento menos propício do dia. Com o passar dos anos, adotei uma variedade de respostas que vão desde fingir um sotaque estrangeiro e não entender o que está sendo dito até o comum “estou sem tempo”, e desligo rapidamente. Porém, cada vez que uso essas e outras táticas similares, me sinto incomodada, sabendo que passei uma negatividade a uma pessoa que não teve escolha a não ser trabalhar com telemarketing. Então, o que fazer? Recusar delicada, mas firmemente antes que a pessoa faça suas propostas para evitar que perca tempo comigo? Quando lembro que a pessoa que está prestando aquele serviço é sempre um próximo que deve ser amado, mais escuto e mais fico triste quando finalmente devo recusar a oferta. Estou procurando aprender a dizer ao menos um rápido “tenha um bom-dia” antes de desligar. C.C. – EUA Sentir o amor No meu setor, estava internado um homem de 52 anos que tinha atirado na própria cabeça por conta de problemas familiares. Por sorte, o cérebro não tinha sofrido danos, mas os olhos estavam comprometidos. A cirurgia foi muito complicada. Durante as visitas, não dizia outra coisa a não ser que queria morrer. Depois do período de tratamento intensivo, foi levado ao meu setor, onde eu não perdia nenhuma oportunidade de cumprimentá-lo. Um dia, perguntei: “Sabe quem está ao seu lado?”, e ele: “Não vejo, mas acho que é a doutora que me operou. Durante a cirurgia, senti muito amor”. Prometi que faria o possível para salvar pelo menos um olho. A confirmação veio quando ele disse em uma manhã que havia começado a perceber um vislumbre de luz. A visão foi melhorando dia após dia. Alguns meses depois de ter recebido alta, veio me visitar. Era outra pessoa: para ele, uma nova vida havia começado, inclusive no casamento. Mas sobretudo, dizia, havia encontrado a fé. Eu lhe disse, fazendo uma brincadeirinha, que ele teve de perder um olho para enxergar melhor! F.K. – Eslováquia

por Stefania Tanesini

(tirado de Il Vangelo del Giorno (O Evangelho do Dia), Città Nuova, ano VI, n.2, março-abril/2020)

Enraizar-nos no momento presente

Enraizar-nos no momento presente

Uma maneira inesperada de viver o centenário de Chiara Lubich. Artigo de Maria Voce no “Osservatore Romano” 02 de abril de 2020 «Celebrar para encontrar» é o lema que, como Movimento dos Focolares, escolhemos para lembrar em 2020, em todo o mundo, os 100 anos do nascimento da nossa fundadora Chiara Lubich. Até algumas semanas atrás, esse lema nos parecia uma escolha apropriada para celebrar, das mais variadas formas, a pessoa da nossa fundadora e o carisma que Deus lhe deu e que ela transmitiu generosamente. De fato, queremos que as pessoas a encontrem viva hoje e não a recordem com uma memória nostálgica; que a encontrem em sua espiritualidade, em suas obras e, sobretudo, no seu “povo”, isto é, naqueles que vivem no presente seu espírito de fraternidade, de comunhão, de unidade. E, a partir do dia 7 de dezembro, nos regozijamos com os muitos eventos que se realizaram no mundo inteiro. E gostaríamos que a festa continuasse. Mas, em pouco tempo, o cenário mudou e o lema «Celebrar para encontrar» corre o risco de parecer anacrônico: nós também suspendemos todo tipo de celebração ou evento. A epidemia causada pelo Coronavírus está forçando muitos países do planeta a tomar medidas drásticas para deter o contágio: o isolamento e o distanciamento físico são os instrumentos mais eficazes no momento. Podemos constatar isso através dos sinais que nos chegam da China, que há semanas acompanhamos com apreensão. Mas aqui na Itália e em vários outros países do mundo a situação ainda é muito grave.

© Horacio Conde – CSC Audiovisivi

Para muitos de nós que vivemos isolados, é uma experiência totalmente nova. Possui não apenas uma dimensão social ou psicológica, mas também uma forte repercussão espiritual. Isso se aplica a todos, especialmente a nós, cristãos. Uma situação que também toca, no seu âmago, a nossa espiritualidade específica como Focolares. Nós somos feitos para a comunhão e a unidade. Saber como criar relacionamentos é talvez a qualidade mais característica de uma pessoa que conheceu e acolheu o espírito de Chiara. E precisamente essa dimensão poderia parecer agora limitada ao máximo. Mas o amor não se deixa limitar. Esta é a grande experiência que está sendo feita nesses dias dramáticos e dolorosos. Mais do que nunca e de todos os lugares, recebo testemunhos de pessoas que colocam em ação a criatividade e a imaginação e que se doam a outras pessoas, mesmo em condições difíceis e incomuns: crianças que contam pequenos e grandes atos de amor que fazem para superar as dificuldades de ficar em casa; adolescentes que compartilham nas redes sociais um turno de oração; empresários que vão contra a corrente para não tirar proveito da emergência, mas se colocam a serviço do bem comum, prejudicando os ganhos pessoais. São muitas as maneiras com as quais se procura oferecer apoio e conforto: com a oração em primeiro lugar, com um telefonema, uma mensagem WhatsApp, um e-mail…, para que ninguém se sinta sozinho, não só aqueles que estão em casa, mas também os doentes e todas as pessoas que fazem o máximo para tratar, consolar, acompanhar, todos aqueles que sofrem as consequências desta situação. E existem mensagens de solidariedade que nos ajudam a escancarar o coração também para além da emergência do coronavírus, como o dos jovens na Síria que, apesar de suas condições dramáticas, encontram forças para pensar em nós na Itália. São os jovens que nos ensinam que essas experiências compartilhadas nas redes sociais podem se multiplicar, porque também o bem poder ser contagioso. Através desse testemunho amadureceu em mim uma convicção: o centenário de Chiara Lubich não foi suspenso e o lema «Celebrar para encontrar» é mais atual do que nunca. É o nosso Pai no Céu, ou talvez a própria Chiara, que nos convida a viver este ano jubilar de uma maneira mais profunda e autêntica. Para além dos condicionamentos, inclusive na impossibilidade de celebrar juntos a Eucaristia, estamos redescobrindo a presença de Jesus, viva e forte no Evangelho vivido, no irmão que amamos e no meio de todos aqueles que – mesmo à distância –  estão unidos em seu nome. Mas, de maneira especial, a nossa fundadora nos faz redescobrir o seu grande amor, o seu Esposo: Jesus Abandonado — «o Deus de Chiara», como o arcebispo de Trento, dom Lauro Tisi, gosta de chamá-lo. É o Deus que foi até o limite para acolher em si mesmo toda experiência limite e dar-lhe valor. É o Deus que se fez periferia para nos fazer entender que, mesmo nas experiências mais extremas, ainda podemos encontrá-Lo. É o Deus que tomou sobre si todo tipo de dor, de angústia, de desespero e de melancolia para nos ensinar que, quando acolhemos a dor e a transformamos em amor, encontramos uma fonte inesgotável de esperança e de vida. Eis aqui o desafio desta emergência planetária: não fugir, não tentar apenas sobreviver para chegar sãos e salvos à meta, mas enraizar-se bem no presente, olhando, aceitando e enfrentando todas as situações dolorosas – pessoais e dos outros – para transformá-las em um lugar de encontro com “Jesus Abandonado” e encontrar, no amor a Ele, a força e a criatividade para construir relacionamentos de fraternidade e de amor, também nesta situação difícil. Para Chiara, cada encontro com “o Esposo”, com Jesus Abandonado, era uma festa, era uma celebração. Encontrando-o – estou convencida – encontraremos também Chiara, e aprenderemos, como ela procurou fazer, a olhar para todas as situações com os olhos de Deus. Também nós poderemos repetir a experiência de Chiara e de suas amigas, que, de certa forma, sequer perceberam a guerra ou seu fim, porque, fixas em Deus e no seu amor, a realidade que viviam, o amor concreto que circulava entre elas e com muitos em sua cidade, era mais forte que tudo. Não sabemos quanto tempo durará essa emergência: talvez semanas ou meses. No entanto, vão passar. O mundo que encontraremos no fim do túnel, estamos construindo agora.

de Maria Voce

Fonte Osservatore Romano – https://www.vaticannews.va/it/osservatoreromano/news/2020-04/radicarci-bene-nel-presente.html

 Terminou a corrida Regina Betz (3 de janeiro de 1921 – 17 de março de 2020)

Aos 99 anos, dia 17 de março, faleceu Regina Betz, focolarina alemã, professora de sociologia, pioneira dos Focolares na Alemanha e na Rússia. Amava o ecumenismo e o compromisso pela renovação cristã da sociedade. Estava sempre correndo. Desde quando conheci Regina Betz lembro dela com um passo acelerado. Não como alguém que se sente empurrado ou perseguido, e sim como quem tem uma meta a alcançar e não quer perder tempo inutilmente. Mas quando se detinha com você estava plenamente presente: com seu olhar atento e vivo, com o sorriso inconfundível e brincalhão que iluminava todo o seu dia. Regina Betz teve o que fazer na vida. Era a primeira de dois filhos, nasceu em Gottingen (Alemanha), numa família católica, e cresceu numa região de maioria luterana, com um ecumenismo natural, ulteriormente reforçado pela resistência de todos ao nacionalismo de Hitler. Tendo passado, durante a Segunda Guerra Mundial, alguns anos na Itália, após os estudos em Economia Social estabeleceu-se por três anos em Roma (1955-1958), para trabalhar no Conselho Pontifício para os leigos. Ali conheceu o Movimento dos Focolares e foi tocada “por uma luz e uma força”, como mais tarde escreveu num seu livro1. Para conhecer melhor o Movimento participou da Mariápolis de 1958, onde encontrou – como contava – “cristãos que voluntariamente viviam a unidade” e o modelo de uma “sociedade nova e humana”. “Finalmente eu tinha encontrado o que buscava a tanto tempo. Em mim havia um canto de júbilo”. Retornando à Alemanha, aonde ainda não havia o focolare, continua o seu trabalho na Igreja e realiza importantes viagens à Ásia e à América do Sul. Em 1966 está entre as voluntárias do Movimento dos Focolares quando recebe o convite para ensinar sociologia na escola de formação de Loppiano (Itália). E lá, aos 46 anos, sente-se impulsionada a consagrar-se como focolarina. De 1968 a 1990 trabalha como professora de sociologia em Regensburg (Alemanha) e como colaboradora do Instituto para as Igrejas Orientais, o que lhe permite conhecer os cristãos do leste da Europa e viajar a vários países dos Balcãs, à Bulgária e à Romênia. A impressionava muito o entusiasmo dos jovens comunistas, que agiam impulsionados pelo amor aos mais necessitados. Em 1989 recebe a proposta de um trabalho em Moscou e isso torna possível a abertura de um focolare. “A vida em Moscou – comenta – revelou-se como uma vida em conjunto: junto no Focolare, junto com os muitos russos que vinham conhecer a nossa vida. Conheci um pouco a alma russa, cheia de generosidade, de cordialidade. Experimentei uma hospitalidade grandiosa onde tudo era compartilhado. Nada de estruturas, mas muitos amigos”. Mas o florescimento da vida ao redor do Focolare tem um preço. Como ela confidenciou pessoalmente, Regina gostaria que, depois da sua morte, ao falar dela, fosse comunicada também a parte “escura” da sua vida: “Não tenho mais nada para dar – escreve num diário daquele período – mas para mim é uma consolação saber que Ele está comigo no buraco… Para mim cada instante é extenuante, tenho medo e não consigo imaginar que ainda posso concluir algo”. Em 2008 Regina volta à Alemanha, vai morar na Mariápolis permanente de Ottmaring. São anos marcados por relacionamentos com pessoas muito variadas, que ela acompanha com visitas e com milhares de cartas, escritas à mão e ricas de sabedoria. Com grande atenção acompanha os eventos da Igreja e da sociedade. E mesmo quando as forças diminuem é fiel à Palavra de Vida que havia recebido de Chiara Lubich: “Quem quiser salvar a própria vida vai perdê-la, mas quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (Mt 16,25). “Quantas vezes deixei tudo para recomeçar em outro lugar! E quanto ganhei com isso: quantas experiências, quanto conhecimento da vida de países e culturas, quantos relacionamentos com inúmeras pessoas!”. No dia 17 de março Regina terminou a sua corrida e deixou tudo definitivamente. Tenho certeza de que ela encontrou uma vida inimaginável.

Joachim Schwind

  1) Regina Betz, Immer im Aufbruch, immer getragen, Verlag Neue Stadt, München 2014.

Estar próximo de quem sofre

O seguinte escrito de Chiara Lubich aborda uma questão que também a pandemia atual destacou muito: a do sofrimento. Ajuda-nos a compreender nele uma presença misteriosa de Deus, de cujo amor nada escapa. Esse olhar genuinamente cristão infunde esperança e estimula-nos a tomar sobre nós todo sofrimento pessoal, o que nos toca diretamente, bem como o sofrimento daqueles que nos rodeiam.  (…) O sofrimento! Aquele que por vezes envolve totalmente o nosso ser ou aquele que nos toca levemente e que mistura a amargura com a serenidade dos nossos dias. O sofrimento: uma doença, uma desgraça, uma provação cruel, uma circunstância dolorosa. O sofrimento! Como considerar este fenômeno,  (…) que está sempre na iminência de aparecer em toda existência? Como defini-lo, como identificá-lo, que nome lhe dar? O que representa para nós? Se olharmos para o sofrimento com olhos mera­mente humanos, seremos tentados a procurar a sua causa em nós, ou fora de nós, na maldade do homem, por exemplo, ou na natureza, e assim por diante (…) E tudo isso pode até ser verdade, mas se pensar­mos apenas desta maneira, esqueceremos o mais impor­tante: esqueceremos que, por trás do maravilhoso enredo da nossa vida Deus está presente, com seu amor, que tudo quer ou permite por motivo superior, que é o nosso bem. Por isso, os santos acolhem todo acontecimento doloroso que os atinge, como se fosse originado dire­tamente das mãos de Deus. É impressionante como eles nunca erram neste sentido. Para eles a dor é a voz de Deus e isto basta. Imersos como estão na Sagrada Escritura, eles com­preendem o que é e o que deve ser o sofrimento para o cristão. Compreendem a transformação que Jesus reali­zou em relação ao sofrimento, veem como Ele o trans­formou de elemento negativo em elemento positivo. A verdadeira explicação do sofrimento deles é o próprio Jesus, Jesus Crucificado. Por isso, a dor torna-se até mesmo amável, torna-se algo de benéfico. Por isso os santos não a maldizem, mas a suportam, a aceitam, a abraçam. Procuremos, também nós, abrir as páginas do Novo Testamento e teremos a confirmação. São Tiago afirma na sua carta: “Meus irmãos, tende por um motivo de maior alegria para vós as várias tribulações que caem sobre vós”[1]. Portanto, o sofrimento é até mesmo motivo de alegria. Jesus, depois de nos ter convidado a tomar a nossa cruz para segui-lo, não afirma que “Quem perder a própria vida (e isto é o máximo do sofrimento) a salvará?”[2]. A dor é, portanto, esperança de salvação. Para São Paulo, o sofrer é até mesmo uma glória, mais ainda, é a única glória. “Quanto a mim – diz ele – não existe outra glória que não a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo”[3]. Sim, a dor, para quem a vê na ótica cristã, é algo de grande, é até mesmo a possibilida­de de completar em nós a paixão de Cristo, para nossa purificação e para a redenção de muitos. Pois bem, o que dizer hoje a todos aqueles mem­bros do Movimento que se debatem no sofrimento? O que desejar a eles? Como nos comportar com relação a eles? Aproximemo-nos deles, antes de tudo, com sumo respeito, pois, mesmo que ainda não o saibam, neste momento eles estão sendo visitados por Deus. (…) Asseguremos a eles também que estarão presentes continuamente em nossa lembrança, em nossa oração, a fim de que saibam receber diretamente das mãos de Deus tudo aquilo que os angus­tia e os faz sofrer. Que possam unir o seu sofrimento à paixão de Jesus, de modo que seja potencializado ao máximo. Ajudemos ainda para que eles se lembrem sempre do valor do sofrimento e recordemos a eles aquele maravilhoso princípio cristão da nossa espiritualidade, através do qual uma dor, quando amada como um dos semblantes de Jesus crucificado e abandonado, pode transformar-se em alegria.

Chiara Lubich

  (em uma conexão telefônica, Rocca di Papa, 25 de dezembro de 1986) Tirado de: “Natal com quem sofre”, in: Chiara Lubich, Conversazioni in collegamento telefonico, pag. 265. Città Nuova Ed., Roma 2019.   [1]            Tg 1, 2. [2]            Mt 10, 39. [3]            Gl 6, 14.

O 50° aniversário do Dia Internacional da Terra transfere-se para a rede

O 50° aniversário do Dia Internacional da Terra transfere-se para a rede

Na Itália, a celebração da “Vila para a Terra” se transforma numa maratona multimídia. Tudo está interconectado. Esta é a chave que une as celebrações do 50º Aniversário do Dia Internacional da Terra, dia 22 de abril, à pandemia do coronavírus que, neste momento, desafia a humanidade. No Dia da Terra a emergência sanitária suscita uma comunidade global que exige modelos econômicos e sociais mais justos. As celebrações acontecem no 5º aniversário da Encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, sobre o tema da ecologia integral, e a rede web receberá eventos em 193 países. Na Itália, a “Vila para a Terra”, já tradicional na Villa Borghese, em Roma, transforma-se numa maratona multimídia com transmissão direta da Ray Play e com incursões de outras emissoras. Conversamos com Pierluigi Sassi, presidente de Earth Day Itália. O 50º aniversário do Dia Internacional da Terra acontece enquanto a humanidade se depara com o desafio do coronavírus, que nos leva a rever as nossas prioridades, os valores e os objetivos… Mais do que nunca, sentimos hoje a urgência de mudar o modelo econômico e social que governou o desenvolvimento dos últimos decênios, e queremos dar uma mensagem de esperança, oferecer uma chave de leitura que saliente a centralidade do homem e a necessidade de respeitar o planeta. Chamou-se a atenção do mundo sobre estes assuntos e a Encíclica do Papa Francisco, Laudato Si, foi determinante, com o princípio da ecologia integral. Atualmente se criou uma sensibilidade mundial, mas é preciso passar à ação. O coronavírus alimenta esta exigência de mudança.

VILLAGGIO PER LA TERRA, Earth Day Italia, Villa Borghese, Roma 21 abril 2018
© Lorenzo Gobbi/Smile Vision Srls

O que emerge, observando o desenvolvimento da pandemia, é a interdependência dos problemas e das soluções. Um elemento chave, inclusive na batalha pela tutela da terra… O grande conceito que o Papa transmitiu ao mundo é que não existe uma questão ambiental, uma questão social e uma econômica, mas existe uma questão humana, na qual todos esses fatores são interdependentes. Esta consciência se torna operativa quando nos damos conta que basta pouco para que uma crise sanitária como esta mostre problemas que pareciam desconectados. Aqui emerge a importância das relações humanas e do compromisso por uma solidariedade econômica e social. Este Dia tem uma dimensão mundial. Que relação existe entre as celebrações na Itália e as dos outros países? O coronavírus constrangeu todos nós a digitalizar as celebrações e lavá-las para a rede. Vimos que iniciando uma maratona digital foram sendo criadas muitas conexões. É a beleza de um passo para frente que, quase milagrosamente, na emergência, aconteceu em espírito de unidade,  que faz que nos sintamos mais conectados nos 193 países em que se festeja o Dia da Terra, e nos leva a unir esforços por um maior respeito pelo homem e pelo planeta. Na Itália, como serão as celebrações? Organizamos uma maratona multimídia chamada “OnePeople, OnePlanet” (“Um povo, um planeta”), para recordar que pertencemos a uma única família humana e vivemos num só planeta. A faremos com muitos parceiros midiáticos, entre eles a Rai, que transmitirá de modo integral, das às 8 às 20 horas, na Ray Play, mas com a inserção de outras emissoras e com conexões internacionais com muitos países, onde se falará de populações indígenas, de desmatamento, da beleza do nosso planeta.

Claudia Di Lorenzi