Movimento dos Focolares

Movimento dos Focolares e abusos, um compromisso decisivo para proteger a pessoa

Propomos a entrevista realizada por Adriana Masotti de Vatican News com Joachim Schwind, focolarino e membro do Conselho Geral do Centro Internacional dos Focolares. Foi publicado recentemente no site internacional do Movimento dos Focolares o primeiro relatório sobre os casos de abusos sexuais de crianças, adolescentes e adultos vulneráveis, e de natureza espiritual e autoritária ocorridos dentro da instituição. Além dos dados das notificações, apresenta as medidas remediadoras, os novos procedimentos de investigação e as atividades de capacitação para a proteção integral da pessoa. Na entrevista, Joachim Schwind, sacerdote focolarino e membro do Conselho Geral, explica o caminho percorrido. “Escrevemos para informar publicamente sobre os dados das comunicações que chegaram e sobre as medidas que tomamos como Movimento dos Focolares, devido ao flagelo do abuso sexual de crianças, adolescentes e pessoas vulneráveis ​​e abuso de consciência, espirituais e de autoridade sobre adultos, o que também nos atingiu.” Com estas palavras, em carta aberta publicada no site do Movimento, a presidente Margaret Karram e o copresidente Jésus Morán apresentam o primeiro relatório sobre a gestão de casos de abuso ocorridos dentro do Movimento. O documento, que será emitido anualmente, surge um ano depois da missão confiada à GCPS Consulting em 2020 para investigar os graves casos de abuso sexual perpetrados por um antigo focolarino francês, J.M.M., caso que deu origem a uma sensibilização para o problema e, portanto, à decisão de iniciar um processo, em várias frentes, para garantir a prevenção e a proteção integral da pessoa em todos os âmbitos e ambientes em que se desenvolvem as atividades dos Focolares e para combater este crime. A centralidade das vítimas: o pedido de perdão Na carta, a presidente e o copresidente pedem, antes de tudo, perdão a cada vítima em nome de todo o Movimento. Eles também expressam profunda gratidão às vítimas e sobreviventes, bem como às famílias e comunidades envolvidas, não apenas na França, mas em todos os países onde surgiram casos de abuso, porque graças à sua colaboração e, acima de tudo, à coragem de enfrentar, trazendo à luz esses crimes, hoje o Movimento cumpre com maior consciência novos compromissos e procedimentos em relação à proteção das pessoas. As pessoas abusadas ocupam um lugar central e prioritário neste processo. A escuta, o pedido de perdão, a oferta de ajuda e o caminho reparador são o ponto de partida. A nova Comissão Central Independente  O relatório é composto por várias partes e apresenta os dados relativos aos abusos recebidos pela Comissão para o Bem-estar e Proteção da Pessoa (CO.BE.TU.) desde 2014, ano de sua constituição e, portanto, a coleta sistemática de relatórios, até dezembro de 2022. Outra seção é dedicada às medidas implementadas ou em implementação, em resposta às recomendações da investigação independente da GCPS Consulting. O texto anuncia que, a partir de 1º de maio de 2023, entrará em funções a Comissão Central Independente para a gestão dos casos e as atribuições da CO.BE.TU. O relatório também apresenta o “Protocolo para o tratamento de casos de abuso no Movimento dos Focolares” e as “Linhas de apoio e reparação financeira em caso de abuso sexual de crianças e adolescentes/adultos vulneráveis”. Por fim, é prevista a existência de um Órgão de Fiscalização nomeado pela presidente e composto por, no mínimo, cinco membros externos ao Movimento. Alguns dados apresentados no relatório De acordo com os dados apresentados no texto publicado, o número total de denúncias de abusos chega a 61. Quanto às vítimas: 17 denúncias referem-se a adultos vulneráveis, 28 a jovens entre 14 e 18 anos, 13 a adolescentes de 14 anos. Duas comunicações dizem respeito à posse de pornografia infantil. 66 o total de perpetradores de abuso dos quais 63 homens e 3 mulheres. Vinte dos autores de abusos confirmados foram dispensados, 9 sujeitos a sanções, outros casos ainda estão pendentes. Finalmente, 39 casos ocorreram na Europa, 15 nas Américas, 3 na Ásia/Oceania e 4 na África. No capítulo dos abusos sexuais, de consciência, espirituais e de autoridade contra adultos, registaram-se 22 denúncias, 31 agressores mais alguns ainda não identificados, 12 homens e 19 mulheres. A distribuição das comunicações por área geográfica observa: 16 casos na Europa, 3 nas Américas, 2 na África e 1 entre a Ásia e a Oceania. Uma rede de acolhimento e a escuta das vítimas Dentro do Movimento dos Focolares, serão fortalecidas ou constituídas as Comissões locais de assistência e proteção de crianças e adolescentes e vulneráveis, com a presença de profissionais das áreas de apoio psicológico, jurídico, pedagógico e formativo, com a tarefa de acolher denúncias, testemunhos e para iniciar o processo investigativo. As comissões locais também poderão oferecer um ponto de escuta para quem quiser compartilhar sua experiência de abuso, violência, desconforto de vários tipos, valendo-se também – se solicitado – de conselhos para um caminho posterior. Em alguns países, como França, Alemanha e outros países, esses pontos de escuta já estão ativos. Além disso, será criada uma comissão disciplinar central, composta principalmente por profissionais externos, para avaliar a responsabilidade dos líderes do Movimento dos Focolares na gestão de abusos de vários tipos. Schwind: uma vergonha que exige uma grande mudança Joachim Schwind é um sacerdote do Movimento dos Focolares, teólogo e jornalista de origem alemã. É membro do Conselho Geral do Movimento e corresponsável da Comissão encarregada de implementar as recomendações do relatório elaborado pela GCPS Consulting. Aos nossos microfones, ele relata o que foi feito sobre a questão dos abusos, a partir dessa investigação, e descreve como as lideranças e comunidades do Movimento vivenciaram o que emergiu: Qual foi o ponto de partida desse novo caminho para a proteção da pessoa? Por onde se iniciou? Não sei se falo de um ponto de partida, mas sim de um ponto decisivo. E foi sem dúvida, há um ano, a publicação do relatório da empresa inglesa GCPS que investigou o caso de abuso na França. Não foi o ponto de partida, porque as medidas já existiam desde 2011, mas absolutamente eram insuficientes, insatisfatórias. Pelo contrário, este relatório causou um grande choque e uma grande vergonha em todo o Movimento, pela extensão, pela duração deste caso, pelo número de vítimas, mas também pela falha na gestão desta situação, na coordenação das nossas estruturas organizacionais e governamentais. E a decisão de publicar este relatório “sem ses e mas” foi importante, mesmo que alguém quisesse discutir algumas partes, mas para nós significou aceitar a humilhação contida neste relatório, aceitar o fato de que não somos melhores que ninguém. Mas é preciso dizer que a base disso não foi uma escolha nossa, mas sim a coragem das vítimas que falaram e denunciaram o ocorrido. Deve ter sido muito doloroso saber de casos de abuso sexual perpetrados dentro do Movimento. Quais foram as primeiras reações? Quais são, em particular, as reações dos responsáveis ​​do Movimento em nível central? Claro, como eu disse, foi profundamente doloroso, chocante e vergonhoso. As primeiras reações foram reconhecer os fatos, pedir perdão. A então presidente, Maria Voce, já havia feito isso em 2019 e a atual presidente, Margaret Karam e nosso copresidente Jésus Morán o fizeram novamente. Não é fácil dizer quais foram naquele momento as reações de um Movimento global, porque estamos espalhados por todo o mundo, em todos os contextos culturais, e por isso experimentamos toda a gama de reações que podem existir: choque, descrença, vergonha, mas também busca de justificativas. Houve quem tentasse explicar a situação como um caso singular, dizendo que os perpetradores estavam doentes, que estas coisas não nos dizem respeito, ou que não diziam respeito ao seu próprio país, etc. os pais que confiaram seus filhos e filhas ao Movimento. Houve algumas pessoas que saíram do Movimento, outras que quiseram ir a fundo nestas situações, houve quem sentisse que tinha de fazer alguma coisa e depois “virar a página”. E neste contexto foi muito indicativo o que o nosso copresidente nos disse numa reunião: que “esta página deve ser lida até ao fim antes de ser virada”. Diante desta realidade, que decisões foram tomadas, em primeiro lugar, relativamente às reclamações que tinham chegado? A primeira coisa que fizemos em nível de dirigentes foi uma peregrinação conjunta, com uma liturgia de pedido de perdão, de reconciliação perante Deus. Criamos uma Comissão, da qual faço parte, que tem a função de especificar as medidas a serem tomadas. Muitos de nós, começando pela presidente e o copresidente, buscamos contato com as vítimas, e também eu, pessoalmente, devo dizer que os contatos com as vítimas e sobreviventes foram as coisas mais preciosas de todo esse processo. Talvez a decisão mais importante tenha sido então a da reforma da Comissão independente que tem a tarefa de investigar casos de abuso. E nessa reforma a parte mais evidente e importante é que a partir de agora todo abuso sexual será denunciado às autoridades judiciais. Nos países onde existe a obrigatoriedade de denúncia, a denúncia é feita imediatamente assim que chega até nós e, onde a lei não o preveja, é feita uma espécie de investigação e a verificação da verossimilhança; uma vez feito isso, o relatório também é repassado para as autoridades judiciais. Depois, com a reforma desta Comissão, procuramos agilizar os trâmites, sempre pensando nas vítimas que não precisam esperar muito já que tiveram a coragem de denunciar. Também tentamos liberar esta Comissão de outras tarefas, em particular da formação, para garantir um andamento mais rápido de todos os procedimentos, enquanto a formação passa para uma Comissão especial. Também criamos pontos de escuta em diferentes países para facilitar as denúncias, porque muitas vezes não é tão fácil reunir coragem para fazê-lo. A outra frente de compromisso foi a prevenção do abuso e a formação na proteção integral da pessoa de todos os membros do Movimento. Houve uma mobilização importante nisso…. Claro que a prevenção é talvez o ponto mais importante e neste contexto alguns especialistas externos também nos ajudaram, porque depois da publicação do relatório da GCPS queríamos fazer tudo, mas também havia o risco de nos perdermos um pouco no mar de medidas que pretendíamos tomar. E nos aconselharam a focar, antes de tudo, em criar ambientes seguros no Movimento, ou seja, que os espaços do Movimento, as reuniões, os lugares das atividades sejam espaços seguros. Claro que nunca existe 100% de segurança, mas a atenção e a conscientização de todos devem ser aumentadas a todo custo e isso requer treinamento, treinamento, treinamento. A nossa opção foi não só continuar a formação para os próprios formadores, educadores e animadores, que já estava em andamento, mas criar cursos de formação para todos os membros do Movimento e lançamos o desafio muito ambicioso de que dentro de dois anos cada membro do Movimento dos Focolares deve ter frequentado pelo menos um curso básico de prevenção e proteção de crianças e adolescentes contra o abuso sexual. Não apenas abuso sexual de pessoas vulneráveis, mas também abusos espirituais e de autoridade. Isso também é mencionado no relatório publicado. E aqui entramos numa zona talvez mais sutil, mais difícil de decifrar. O que você pode nos dizer sobre isso? Como eles se configuram? Houve alguma reclamação sobre isso? É muito importante falar de abuso espiritual, de autoridade, de poder, de consciência. Importante porque os abusos sexuais são quase sempre abusos de poder. Então o problema subjacente não é a questão da sexualidade, mas, sim, precisamente o abuso de consciência, o abuso espiritual, o abuso de vícios ligados ao poder. E é verdade, como você diz, que é muito difícil decifrar o que é abuso espiritual. Já o termo ainda não está claro e bem definido e acho que isso também se reflete nos números relativamente baixos de casos desse tipo que publicamos em nosso relatório. Há um processo que começou e os pontos de escuta que já mencionei nos ajudarão nisso. Depois, há também pessoas que sofreram abuso de poder e que não querem denunciar a uma comissão, mas que realmente pedem para falar com quem as prejudicou. Eles pedem uma mediação, uma entrevista, talvez até um processo de reconciliação. E depois há outros que ainda não tiveram coragem de denunciar. Em tudo isso acho muito importante uma mudança de cultura e para nós foi um momento muito significativo quando, em setembro passado, os líderes do Movimento de todas as partes do mundo se reuniram em nosso Centro Internacional junto com o Conselho Geral, e durante vários dias falamos sobre as nossas experiências, tivemos coragem para ouvir, coragem para falar e procuramos criar uma nova cultura de abertura, escuta e relato de histórias. Então, também aí é preciso formação, distinção entre foro interno e foro externo, como aconselha o Papa à Igreja, formação da consciência, formação na prevalência absoluta da dignidade humana. Sabemos que o poder sempre traz um risco, então o nosso é um caminho que já começou e ainda estamos refinando. Os processos de escolha dos responsáveis ​​precisam ser revistos e agora há muito mais envolvimento da base na escolha dos candidatos e também deve haver alternância nos cargos de governo. O que significa para o Movimento dos Focolares tornar público o que diz respeito à questão dos abusos? Também se poderia ter optado por não fazer isso… Qual é a mensagem que se quer passar? Eu não diria que queremos passar uma mensagem com este relatório, porque isso pode soar como uma reparação da nossa imagem. Acho que antes de tudo devemos pedir perdão a todas as pessoas que sofreram com a inadequação de nossas formas de governo, de controle, de responsabilidade. E então temos que agradecer a quem teve a coragem de denunciar e de nos deixar sentir sua raiva também. A eles, sobretudo, com a publicação deste relatório, queremos dizer que não o fizeram em vão e que o caminho da nossa conversão e da reparação apenas começou, mas continuará. E acho que um dos sinais mais fortes desse relatório é o simples fato de ser o início de uma série, porque estamos comprometidos em publicar esse relatório todos os anos a partir de agora. E isso permite que as vítimas e a opinião pública sigam e controlem nosso caminho e também dentro de nosso Movimento, e esse fato nos obrigará a nunca desistir.

Adriana Masotti – Città del Vaticano

Fonte: Vatican News

O fruto da redenção

Jesus ressuscitou. Feliz Páscoa! A partir da narração do Evangelho, Igino Giordani nos revela a dimensão fraterna da ressurreição. Jesus, ressuscitando dos mortos, apareceu às mulheres que tinham ido ao túmulo; e lhes disse: “Não tenhais medo; ide anunciar a meus irmãos que vão para a Galileia. Lá me verão”. E assim, no momento final, deu aos discípulos o nome definitivo: o de irmãos. Vencendo a morte, na glória, assim Ele definiu a relação com os homens. Ele se apresenta agora assim como se apresentou antes, ou seja, como irmão: o primogênito. Ressuscitando, venceu a morte e recuperou a fraternidade. Ele veio à terra para restabelecer a paternidade do Pai; desceu ao inferno para derrotar o inimigo dos homens; e agora declarava reconstituída a fraternidade dos filhos, na família de Deus. Estamos todos incluídos na redenção e, portanto, somos todos irmãos. Se não agimos como irmãos, estamos excluídos da redenção.

Igino Giordani

Igino Giordani, Il fratello, (I edizione Città Nuova 2011 – III edizione, Figlie della Chiesa 1954).

“Vem, Senhor Jesus!”

No coração da Semana Santa publicamos este pensamento de Chiara Lubich extraído de uma conferência telefônica da Quinta-feira Santa de 1989. Hoje é Quinta-Feira Santa, dia muito especial para nós. Lembra-nos diversas realidades divinas que constituem o centro da nossa espiritualidade. Por isso, todos os anos nesta ocasião, sentimos todo o grande fascínio deste dia. E não raramente, algo paradisíaco invade a nossa alma. De fato, como não sentir o coração dilatar, se a Quinta-Feira Santa enfatiza de modo particular o Mandamento Novo de Jesus, a Unidade, seu Testamento, a Eucaristia, com seu extraordinário dom, e o Sacerdócio que torna possível a Eucaristia? Pois bem, reflitamos hoje, com um gesto de imensa gratidão, sobre esses mistérios sublimes, fundamentais para todo cristão, e para nós, de modo especial. Amanhã será Sexta-Feira Santa e este dia também nos leva ao coração do cristianismo e da nossa espiritualidade: Jesus morre, morre abandonado. Parece-me ser este o momento de tratar um tema que, numa época e num mundo como o nosso, impregnado pelo consumismo e por outros males, ninguém, ou bem poucos estão dispostos a tratar o tema da morte. Vocês não acham? Devemos fazê-lo por uma questão de coerência com o nosso Ideal que nos ensina como enfrentar cada momento da vida e, portanto, também o momento da passagem para a Outra, ou seja, para a vida Eterna. Trataremos desse assunto, procurando permanecer no âmbito da oração, nosso assunto preferido das últimas semanas. Existe uma oração bem curta, também ela extraordinária! O Espírito Santo colocou-a nos lábios da Esposa (a Igreja), e é dirigida ao Esposo, Jesus. O Apocalipse, último dos livros da Bíblia, termina justamente com aquela oração: “Vem, Senhor Jesus” [1]. “Vem, Senhor Jesus!” Esta oração poderia ser a nossa oração, pensando, esperando, preparando-nos para a morte. Sim, porque temos ou precisamos ter um conceito próprio e verdadeiro da morte: ela não é o fim, mas o início, o encontro com Jesus. E ainda, ela não é facultativa: faz parte do programa de todos, chegará um dia para todos, é vontade de Deus para todos. Sim, é vontade de Deus para mim, para nós, para qualquer um. Então é preciso saber acolhê-la como é: como vontade de Deus. Mas em geral, como aceitamos a vontade de Deus? Entendemos que ela, seja qual for, é expressão do amor de Deus por nós. Então não será lógico, nem justo, aceitá-la somente por resignação. É preciso considerá-la como o que de melhor nos pode acontecer. Por isso, nós nos esforçamos por viver de modo que a vontade de Deus seja a nossa vontade. E nos propomos a vivê-la não apenas com todo o amor, mas com entusiasmo. Sabemos que por meio dela nos encaminhamos para uma divina aventura, em parte já conhecida, em parte a ser descoberta, realizando assim o desígnio de Deus sobre nós. Na verdade, é por este modo de acolher a vontade de Deus que se reconhece um focolarino. Foi através dela que teve início nossa conversão e nossa vida mudou de rota. (…) “Vem, Senhor Jesus!”. (…) Esta oração é oportuna também para outras ocasiões. Podemos dizer “Vem, Senhor Jesus” quando recebemos a Eucaristia; podemos dizê-la antes de um encontro com alguém ou com algum grupo, quando então queremos unicamente amar a Ele. E também antes de realizarmos qualquer outra vontade sua. “Vem, Senhor Jesus”. Olhando para ti, o amor – a nossa vocação – não conhecerá temor. Esperando tua vinda, construiremos bem esta vida; e logo que despertarmos para a Outra Vida, mergulharemos na aventura sem fim. Tu venceste a morte. E com esta oração percebemos que, desde agora, Tu a venceste também em nós, no nosso coração. “Vem – então – Senhor Jesus”, sempre em todos nós.

Chiara Lubich

(Chiara Lubich, Conversazioni, Città Nuova, 2019, pag. 357/9) [1] Ap 22, 20.

A caminho de uma cultura de proteção integral da pessoa

A caminho de uma cultura de proteção integral da pessoa

O Movimento dos Focolares publica o primeiro relatório sobre casos de abuso praticados contra crianças, adolescentes e adultos vulneráveis; sobre abusos espirituais e de autoridade que ocorreram no âmbito do Movimento. O relatório expõe também as medidas reparatórias, os novos procedimentos de investigação e as atividades de formação para a proteção da pessoa.   “Escrevemos a vocês para apresentar publicamente os dados relativos às notificações, denúncias e medidas tomadas como Movimento dos Focolares diante do flagelo dos abusos sexuais de crianças, adolescentes e pessoas vulneráveis e abusos de consciência, espirituais, de autoridade sobre adultos, que também nos afetou”. Em uma carta pública, a Presidente do Movimento dos Focolares Margaret Karram e o Copresidente Jesus Morán apresentam o primeiro relatório sobre a gestão dos casos de abuso ocorridos no âmbito do Movimento. O documento, com publicação anual, será divulgado em 31 de março de 2023, um ano após a realização do inquérito da GCPS Consulting sobre os graves casos de abuso sexual cometidos por um ex-focolarino francês, J.M.M. O Movimento tem trabalhado para tomar as medidas necessárias para garantir a prevenção e a proteção integral da pessoa em todas as áreas e ambientes nos quais exerce as suas atividades. Portanto, o documento publicado hoje – explica a Presidente e o Copresidente do Movimento dos Focolares – é um primeiro relatório sobre as medidas de prevenção, investigação, transparência, formação e mudança efetuadas pelo Movimento dos Focolares, para contrastar este crime. Antes de tudo, em nome do Movimento dos Focolares, a Presidente e o Copresidente pedem sinceramente perdão a cada vítima e sobrevivente. Expressam profunda gratidão às vítimas e aos sobreviventes, bem como às famílias e comunidades envolvidas não apenas na França, mas em todos os países onde surgiram casos de abuso, porque, graças à colaboração dessas pessoas e principalmente à coragem delas de enfrentar e denunciar esses crimes, o Movimento hoje pode exercer com maior consciência os seus novos compromissos e procedimentos em relação à proteção das pessoas. O relatório é composto por várias partes e apresenta os dados relativos aos abusos recebidos pela Comissão de Proteção Integral e Garantia dos Direitos de Crianças, Adolescentes e pessoas vulneráveis (CO.BE.TU.) a partir de 2014, ano de sua criação e, portanto, da coleta sistemática das notificações e denúncias, até dezembro de 2022. Também são apresentados os dados relativos aos “cursos básicos sobre a tutela” realizados nos diversos países em que o Movimento dos Focolares está presente. Outra seção é dedicada às medidas prioritárias implementadas ou em fase de implementação, em resposta às recomendações da investigação independente da GCPS Consulting; cursos e ferramentas de formação para a proteção da pessoa, disponíveis para todos os membros do Movimento, especialmente para formadores e acompanhadores de crianças e adolescentes. Já foram lançados encontros de formação para os dirigentes do Movimento em vários níveis: desde a liderança central aos responsáveis territoriais nas diversas áreas geográficas. Novidade: a Comissão Central Independente e os procedimentos para notificações, denúncias e inquéritos A partir do dia 1° de maio de 2023 tomará posse a Comissão Central Independente e terminará a função da CO.BE.TU. O novo órgão tratará exclusivamente da gestão das notificações, enquanto a formação será coordenada em nível central e local por outra equipe de especialistas e consultores. O relatório também apresenta o “Protocolo para a gestão de casos de abuso no Movimento dos Focolares”, as “Competências da Comissão Central Independente” e as “Linhas de apoio e reparação financeira em caso de abusos sexuais de crianças, adolescentes e adultos vulneráveis”. No que diz respeito aos procedimentos de notificações, denúncias e inquéritos nos países onde a denúncia é exigida, a notificação é encaminhada imediatamente às autoridades judiciárias. Se a lei nacional não previr a obrigatoriedade da denúncia, mas os fatos constituírem crime, a comissão fará a denúncia às autoridades judiciárias imediatamente após apuração da verossimilhança dos fatos, salvo se a vítima ou os seus pais forem contra. De acordo com as normas legislativas internacionais, a denúncia de um abuso ocorrerá mesmo que o crime já tenha prescrito.

Stefania Tanesini

Descarregar PDF Relatório sobre a gestão dos casos de abuso ocorridos no âmbito do Movimento dos Focolares

Assembleia Continental na África: a vitalidade de uma Igreja sinodal

Em união com a Igreja universal, a Igreja na África celebrou a Assembleia sinodal continental que se reuniu em Adis Abeba, na Etiópia, de 1 a 6 de março de 2023. Aqui vão algumas impressões de quem participou desse momento tão importante para a família do Povo de Deus. “Compreender o processo sinodal significa abrir os nossos corações ao Espírito Santo que fala conosco e escutar-nos uns aos outros para desenvolver melhor a missão da Igreja.” Com essas palavras, o arcebispo dom Lúcio Muandula, vice-presidente do SECAM (Simpósio das Conferências Episcopais da África e do Madagascar), deu início aos trabalhos da Assembleia continental que aconteceu em Adis Abeba (Etiópia) no começo de março de 2023. Mais de duzentos delegados, entre cardeais, bispos, consagrados, leigos, seminaristas, noviços, juntamente com representantes de outras crenças, se encontraram para refletir sobre o documento da fase continental do Sínodo sobre sinodalidade, experimentando a alegria da escuta e a beleza de se sentir parte da grande “família de Deus”. “Discutimos sobre vários temas e identificamos os chamados do nosso caminho sinodal para preparar um documento final que representa a voz autêntica da África”, conta o monsenhor Markos Gebremedhin, vigário apostólico de Jimma-Bonga (Etiópia) e amigo do Movimento dos Focolares, “foi uma experiência de sinodalidade verdadeira, um momento de diálogo profundo, de escuta recíproca e de discernimento, entre as igrejas locais e com a Igreja universal”. O continente africano é abençoado por valores e princípios ricos, frutos de tantas culturas e tradições, e radicados no sentimento do espírito comunitário, da família, da solidariedade, da inclusão, da convivência. “Esses princípios e valores”, continua o monsenhor Gebremedhin, “são uma semente boa e saudável para o nascimento e crescimento de uma Igreja verdadeiramente sinodal na África, onde todas as vocações devem ser valorizadas. A assembleia sentiu com grande caridade a dor e o sofrimento das nossas irmãs e dos nossos irmãos na África e essa família caminha com aqueles que são mais atingidos, em particular pela guerra, pelas lutas étnicas, pela intolerância religiosa, pelo terrorismo e por todas as formas de conflito, tensão e angústia”. Entre as temáticas abordadas, estava também a reflexão sobre o papel fundamental dos jovens, fonte de energia, paixão e criatividade para a Igreja, e a das mulheres africanas, espinha dorsal da comunidade, para reconhecer o talento e o carisma delas e a grande contribuição que podem trazer. Já tomar a palavra, dar espaço ao outro e construir juntos foram as três fases do método de trabalho da “conversa espiritual”, indicado aos participantes pelo padre Giacomo Costa, consultor da Secretaria geral do Sínodo. “Participei da Assembleia como católico adulto nomeado pela Conferência episcopal de Benin”, nos conta Guy Constant, voluntário de Deus da comunidade do Movimento dos Focolares. “Nós nos reunimos em pequenos grupos para discutir sobre a experiência pessoal do caminho da sinodalidade durante o primeiro ano do Sínodo. Os relatórios de cada grupo foram apresentados em uma plenária e depois teve a apresentação e a reflexão sobre o documento de síntese preparado para a fase continental.” “Invocar o Espírito Santo para deixá-lo guiar o processo e a intervenção de cada pessoa”, continua Guy Constant, “foi o fruto colhido mais belo. Isso permitiu que as propostas dos outros fossem aceitas rápida e facilmente, em vez de querer necessariamente impor as próprias. O segundo fruto foi experimentar um clima de trabalho de verdadeira unidade entre nós, com os sacerdotes, bispos e cardeais sem distinções. Havia muita humildade em acolher as falas de todos”. Esse percurso de sinodalidade parece ter reavivado a sede de uma Igreja que quer levar em consideração os pensamentos e sentimentos de cada membro, que não caminha sozinha, mas que aprende com os outros. Uma Igreja vital que mira o “nós”. “Participei da Assembleia Continental para o sínodo na África como acompanhante dos jovens”, nos conta Fidely Tshibidi Musuya, focolarina no Congo, “e foi realmente uma experiência única sentir que também eu tenho uma voz que pode ser escutada. Pela primeira vez me senti realmente filha da Igreja. Nasci em uma família cristã católica e muitas coisas eram óbvias para mim. Porém essa experiência me fez ter uma consciência nova sobre o meu pertencimento à Igreja, que não é somente aquela dos bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, mas é realmente a Igreja de todos”.

Maria Grazia Berretta

Argentina: Domus – reciprocidade em rede

Domus nasceu do desejo de algumas famílias argentinas de realizar, como muitas pessoas, o direito à casa própria; sonho que se tornou possível graças ao projeto de construção participativa de moradias, iniciado no município de Lincoln (Argentina) em 2019. Pessoas de todas as idades, com a ajuda de profissionais, uniram as forças e se prepararam na arte da construção, gerando reciprocidade, cidadania e comunidade fraterna. https://www.youtube.com/watch?v=gZEKgm58mcQ&list=PL9YsVtizqrYs9kzV8Q0iQ9WA5Kae-HLYJ Copyright 2023 © CSC Audiovisivi – All rights reserved.