Movimento dos Focolares
Bento XVI: a recordação de Maria Voce

Bento XVI: a recordação de Maria Voce

No período de sua atuação como presidente do Movimento dos Focolares, de 2008 a 2021, Maria Voce teve a possibilidade de conhecer e encontrar várias vezes o Papa Ratzinger. “A impressão, quando fui recebida em audiência no seu escritório, foi a de entrar numa sala de casa, onde se podia falar e ser acolhidos com amor, eu diria, com uma amorosa atenção. Ao mesmo tempo com uma fineza elegante, cuidado, delicadeza”. Diante da notícia do falecimento do Papa Bento XVI, as lembranças de Maria Voce, ex-presidente do Movimento dos Focolares, vão imediatamente ao dia 13 de abril de 2010, quando foi recebida pelo Papa, juntamente com o então copresidente, Pe. Giancarlo Faletti. “Era o segundo ano depois da morte da nossa fundadora, Chiara Lubich – continua Maria Voce -. O copresidente e eu fomos colocar nas mãos do Papa a vida do Movimento. E nos demos conta que ele conhecia bem muitas de suas realidades. Nós também contamos a ele sobre a viagem a vários países asiáticos, que havíamos feito recentemente. Ele mostrou seu contentamento inclusive pela etapa feita na China, já que este país era uma grande fronteira para a Igreja. Alegrou-se por aquilo que o Movimento fazia para ajudar o caminho de reconciliação entre os bispos chineses e o Papa. Deu-nos a sua benção e nos impulsionou a prosseguir no caminho da santidade. Pessoalmente, tocou-me sempre a sua delicada gentileza e ao mesmo tempo a acolhida calorosa e familiar. Tinha um grande senso de harmonia, vindo, talvez, do seu amor pela música, e que se via inclusive na decoração do seu escritório: um lugar acolhedor como uma casa, sagrado como uma igreja”. Quais as outras ocasiões em que encontrou o Papa Bento XVI, como presidente dos Focolares? “Em 2008 recebeu, a mim e ao copresidente Faletti, logo após a Assembleia Geral dos Focolares, na qual tínhamos sido eleitos, a primeira após a morte da nossa fundadora. Depois me convidou, viajando no mesmo trem, com numerosas autoridades, para a “Jornada de reflexão, diálogo e oração pela paz e a justiça no mundo”, realizada em Assis (Itália) em 27 de outubro de 2011, nos 25 anos da primeira Jornada, realizada pelo Papa João Paulo II, em 1986. E, enfim, participei da sua última audiência, dia 27 de fevereiro de 2013, depois do anúncio da sua demissão”. Quais as suas reflexões diante daquela decisão do Papa? “Quando ele se apercebeu de não possuir mais as forças para cumprir o seu papel, teve a coragem de deixar o lugar a outros que, segundo seu parecer, tinham mais forças e possibilidades de fazer melhor. Uma escolha, como eu disse também naquele momento, que me pareceu revelar um concentrado da sua reflexão teológica e espiritual. Evidenciou a primazia de Deus, o sentido de que a história é guiada por Ele. E nos direcionou a colher os sinais dos tempos e responder a eles com a coragem de opções sofridas, mas inovadoras. Com uma clara nota de esperança pela “certeza de que a Igreja é de Cristo”. Penso que não erro ao afirmar que a Igreja para a qual o Papa Bento sempre olhou, inclusive ao cumprir essa escolha, é uma “Igreja-comunhão”, fruto do Vaticano II, mas também numa visão prospectiva, “cada vez mais expressão da essência da Igreja”, como ele mesmo havia sublinhado. E este “cada vez mais” nos diz que ainda não a realizamos plenamente, e convida cada um de nós a trabalhar nesta direção com sempre maior responsabilidade”. No dia seguinte à sua eleição como Pontífice, Chiara Lubich escreveu: “Pelo conhecimento direto que tenho dele, que possui dotes especiais para receber a luz do Espirito, não deixará de surpreender e superar qualquer previsão”. Na sua opinião, qual foi a contribuição mais significativa trazida pelo Papa Bento XVI à Igreja? O que esta diz à Igreja de hoje e àquela que o Sínodo está preparando para o futuro? “O Papa Ratzinger soube perceber a realidade dos Movimentos na Igreja como a “primavera do Espírito”. Foi fundamental o seu discurso, ainda como cardeal, no Congresso dos Movimentos, antes do grande encontro de Pentecostes 1998, com o Papa João Paulo II. Um texto seu, de 1969, que faz parte de um ciclo de aulas para a rádio, é impressionante pensando nos tempos de hoje; revela a sua profunda espiritualidade e essencialidade, numa perspectiva que estará presente em seu coração durante todo o pontificado. Ele afirmava que estavam se preparando tempos muito difíceis para a Igreja, que a sua verdadeira crise tinha só começado e deveria lidar com grandes convulsões. Mas, o então cardeal Ratzinger, se dizia convicto daquilo que restará no final: não a Igreja do culto político, mas a Igreja da fé. Ela não será mais a força social dominante, na medida que era até pouco tempo atrás. Mas a Igreja verá, ele concluía, um novo florescimento e se mostrará como a casa do homem, onde encontrar vida e esperança além da morte”.

Anna Lisa Innocenti

Bento XVI: reformador em continuidade

Bento XVI: reformador em continuidade

O teólogo Piero Coda recorda o Papa Bento VI e a extraordinária contribuição de sabedoria que ele deu ao progresso da Igreja em nosso tempo.  Monsenhor Coda, em 1998, no Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais, o então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Joseph Ratzinger, fez um discurso histórico sobre o papel dos Movimentos eclesiais. Na sua opinião, quais são os pontos essenciais daquele discurso? Quanto essas palavras contribuíram para mudar o papel dos Movimentos na Igreja? Sim, realmente foi um discurso histórico! Eu estava presente no Congresso e ouvi ao vivo. A grande competência teológica e o conhecimento da história da Igreja, bem como a experiência do Concílio e depois – no papel que desempenhou no Vaticano – da sua realização em nível universal, permitiram a Ratzinger situar com clareza o sentido da missão eclesial dos Movimentos na missão da igreja. O ponto central proposto por ele consiste em reconhecer nos Movimentos eclesiais a ação do Espírito Santo que, ao longo dos séculos, sempre de novo, com ondas sucessivas, renova o Povo de Deus com o dom dos carismas: desde São Bento até as Ordens Mendicantes na Idade Média, a Companhia de Jesus, as Ordens missionárias nos últimos séculos, até o inesperado florescimento carismático em conjunto com o Concílio. Daí a afirmação de João Paulo II, em harmonia com o ensinamento do Vaticano II, segundo o qual a Igreja se edifica graças à coessencialidade dos “dons hierárquicos” – o ministério conferido pelo sacramento da Ordem – e dos “dons carismáticos” – a concessão gratuita de graças especiais de luz e vida entre todos os discípulos de Jesus. Por ocasião da morte de Chiara Lubich, fundadora dos Focolares, o Papa Bento XVI escreveu uma grande mensagem de condolências. Que relação a Lubich tinha com ele? Chiara – disse-me ela pessoalmente – ficou muito impressionada com aquele discurso do Cardeal Ratzinger, em 1998, e sempre lhe foi grata. Além disso, visitando o Centro Mariápolis de Castel Gandolfo, em Roma, e ali celebrando a Santa Missa na festa da Imaculada Conceição, em 8 de dezembro de 1989, retomando a parábola evangélica, ele disse ter visto crescer uma grande árvore nascida de uma pequena semente, onde descansam as aves do céu… Os primeiros anos do pontificado de Bento XVI coincidiram com os últimos anos da vida de Chiara Lubich: ela não podia encontrá-lo pessoalmente, nem se alegrar por ele, um ano depois da sua morte, ter feito menção à economia de comunhão na encíclica Caritas in veritate. O que o pensamento e a vida do Papa Bento XVI dizem à Igreja de hoje e à de amanhã, que o atual Sínodo está ajudando a delinear? Sua contribuição imperdível foi recordar com sua autoridade de homem de Deus e grande teólogo uma verdade decisiva: a obra de renovação iniciada pelo Concílio Vaticano II deve ser promovida diretamente com o núcleo vivo do Evangelho de Jesus e no leito de tradição eclesial. Como assinalou em seu magistral discurso à Cúria Romana em dezembro de 2005, primeiro ano de seu pontificado, quando traçou a chave decisiva para a interpretação do evento conciliar: “a reforma em continuidade”. Não é por acaso que o livro mais conhecido do ainda jovem teólogo Ratzinger, que apareceu em sua primeira edição em 1968 e foi traduzido nas principais línguas, leva o título de Introdução ao Cristianismo, sinalizando que o trampolim para um salto profético é a fé de todos os tempos em Jesus. Também não é sem sentido que, como Papa, ele quis reservar três encíclicas às virtudes teologais: caridade, esperança, fé, sublinhando fortemente o primado da primeira, porque evoca o próprio nome do Deus que se revela em Jesus, aquele Jesus a quem dedicou uma trilogia apaixonante como convite ao encontro com o princípio vivo da fé, o que não é apenas um conceito bonito, mas Ele mesmo. Lealdade, portanto, ao patrimônio da fé, mas porque dela procede a riqueza e a novidade do Evangelho. Este é o segredo da força e do fascínio duradouro do magistério de Bento XVI. E você, pessoalmente, qual é a lembrança mais bonita que leva do Papa Ratzinger? Encontrei-o muitas vezes, primeiro como Cardeal e depois como Papa, experimentando sempre a sua grande cordialidade e a sua primorosa atenção. Também tive a oportunidade de conversar longamente com ele sobre teologia, no contexto de uma série de seminários com outros estudiosos, em nível internacional, quando era Prefeito de Doutrina da Fé, percebendo, com crescente gratidão a Deus, a extraordinária contribuição de sabedoria por ele dada ao caminho da Igreja em nosso tempo. De acordo com Chiara, comuniquei ao Papa Bento XVI a ideia de iniciar o Instituto Universitário Sophia: “Uma coisa linda… – exclamou – se você pode fazer isso…”. Por fim, recordo a sua alegre surpresa quando, ao encontrá-lo durante uma audiência com o primeiro grupo de alunos, Caelison, um aluno cego, espontaneamente lhe confidenciou: “Em Sophia encontramos a luz!”.

Stefania Tanesini

“A última palavra na história do mundo será comunhão”.

“A última palavra na história do mundo será comunhão”.

As palavras de Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares por ocasião do falecimento de Sua Santidade, o Papa Bento XVI Estima, gratidão e grande comoção invadem agora meu coração, enquanto expresso a mais profunda gratidão pela obra e a vida do Papa Bento XVI, pessoalmente e em nome do Movimento que ele seguiu e acompanhou com proximidade e amor. Com toda a Igreja nos unimos ao Papa Francisco para restituí-lo a Deus, certos de que ele já foi acolhido na glória do Céu e o farei pessoalmente, em 5 de janeiro próximo, assistindo à missa fúnebre na Praça de São Pedro. Tive o dom de receber Papa Bento XVI em Jerusalém em maio de 2009, participando de várias etapas de sua peregrinação à Terra Santa. Dois momentos, em particular, permanecem comigo, suas palavras no Santo Sepulcro: “A paz é possível aqui”. O Túmulo Vazio, continuou ele, “nos fala de esperança, aquela esperança que não decepciona, porque é o dom do Espírito da vida”. Também foi muito marcante para mim, assistir a uma missa privada na Delegação Apostólica de Jerusalém, celebrada pelo próprio Papa Bento XVI. Percebi sua ternura paternal e a dimensão de sua caridade que se expressou em um gesto de gratidão por tudo o que o Movimento dos Focolares havia feito para preparar sua visita. Em 1989, quando ele ainda era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o Card. Joseph Ratzinger foi convidado por Chiara Lubich para um diálogo com as focolarinas reunidas para os exercícios espirituais anuais, dos quais eu também participava. Ele respondeu a uma variedade de perguntas e em um certo momento proferiu palavras que eu não esqueci. Sobre o futuro da Igreja e da humanidade, ele disse: “A última palavra na história do mundo será comunhão, será tornar-se comunhão, não apenas entre nós, mas, estando incorporados no amor trinitário, tornar-se comunhão universal, onde Deus está em tudo e em todos” [1]. Hoje, que o nosso amado Papa Bento XVI voltou à casa do Pai, esta sua expressão ressoa em mim quase como um testamento espiritual. São palavras de extraordinária atualidade, que hoje iluminam e dão esperança a uma humanidade afligida por conflitos cujo fim não conseguimos ver. Fomos nutridos por seu pensamento iluminado, o de um grande teólogo que, ainda muito jovem, participou do Concílio Vaticano II, transmitindo e apresentando ao longo dos anos a novidade de uma Igreja-comunhão, feita de conhecimento da Palavra e da caridade traduzida na prática. No dia seguinte à sua eleição como Pontífice, Chiara Lubich se expressou assim: “Pelo conhecimento pessoal que tenho dele, possuindo dons especiais para captar a luz do Espírito, ele não deixará de surpreender e superar todas as previsões” [2]. Não esqueceremos o papel fundamental que desempenhou em 1998, quando o Papa João Paulo II convocou os Movimentos Eclesiais e as Novas Comunidades por ocasião da festa de Pentecostes a se reunirem na Praça São Pedro. Naquela ocasião, Card. Ratzinger fez um discurso magistral intitulado: “Os Movimentos Eclesiais e sua Colocação Teológica”, na qual ele delineou o perfil dos Movimentos e das Novas Comunidades e sua indispensável relação com a Igreja. Alguns trechos do seu discurso continuam sendo para mim e para o Movimento um farol, a fim de que sejamos instrumentos de comunhão na Igreja e os braços de Cristo para a humanidade: “(…) é muito evidente que o Espírito Santo age também hoje na Igreja e lhe concede novos dons”, disse naquela ocasião, “graças aos quais ela revive a alegria de sua juventude (cf. Sl 42,4). Gratidão por aquelas muitas pessoas, jovens e anciãs, que aderem ao chamado do Espírito e, sem olhar ao redor ou para trás, se lançam alegremente ao serviço do Evangelho. Gratidão pelos bispos que se abrem aos novos caminhos, que abrem espaço para si mesmos nas suas respectivas Igrejas, debatendo pacientemente com seus líderes para ajudá-los a superar qualquer unilateralidade e conduzi-los a uma correta configuração[3]. Com toda a Igreja, agradeço a Deus pelo dom que Papa Bento XVI foi para o nosso tempo e rezo para que possamos colher e traduzir em vida a profundidade do seu pensamento teológico, sua fidelidade ao Evangelho e a coragem de um testemunho de vida capaz de conduzir a Igreja nos caminhos da verdade, da fraternidade e da paz.

Margaret Karram Presidente Movimento dos Focolares

[1] Visita do Card. Joseph Ratzinger ao Encontro das focolarinas, respostas às perguntas. Castel Gandolfo, 8 de dezembro de 1989. Arquivo Chiara Lubich no Arquivo Geral do Movimento dos Focolares. [2] Declaração de Chiara Lubich no: Comunicado à Imprensa do Movimento dos Focolares, 20 de abril de 2005 [3] Os Movimentos na Igreja. Anais do Congresso mundial dos Movimentos Eclesiais, Roma, 27-29 de maio de 1998, Col. Leigos hoje 2, Livraria Editora Vaticana, Cidade do Vaticano 1999

Gen Rosso em Madagascar e no Líbano

Duas etapas para vivenciar intercâmbios culturais, formar caminhos de inclusão através da arte e desenvolver talentos musicais. Yann Dupont é um professor de francês e leciona no Instituto Sainte Catherine em Villeneuve-Sur-Lot, na França. Ele tinha um sonho: levar alguns de seus alunos para Madagascar, em Moramanga, para um intercâmbio cultural com a escola em Antsirinala. Por acaso, um dia a Dupont conheceu Valerio Gentile do Gen Rosso. Um diálogo animado, simples e sincero. Nasceu uma ideia: por que não ir juntos a Madagascar, Gen Rosso e cinco de seus alunos, para um intercâmbio cultural e humanitário? Dito e feito! Os jovens franceses foram assim incluídos no grupo de treinamento “train the trainer” (formar o treinador, n.d.t.) onde alguns jovens interessados em artes cênicas também participaram. Eles tinham como lema as palavras que haviam experimentado durante as oficinas em Madagascar: “chamar pelo nome, colocar-se no lugar um do outro, viver um pelo outro com alegria, recomeçar”. Uma tourné de 8 dias em novembro – graças ao apoio financeiro da ONG Edugascar – para 4 cidades diferentes: Ambatondrazaka, Moramanga, Antsirinala, Antingandingana. Os dias passaram-se entre oficinas de dança, percussão, canto e concertos. Mais de 500 jovens estavam envolvidos. “Acreditamos que todos nós experimentamos um pedacinho de um mundo mais unido aqui em Madagascar”, dizem do Gen Rosso. “Descobrimos um povo que transmite esperança, paciência, um senso de adaptação, serenidade e coragem para enfrentar a vida com seus desafios diários.” Nancy Judicaelle, uma jovem de Madagascar, diz: “Por um lado estou triste por meu tempo com eles ter sido tão curto, mas estou tão feliz e profundamente emocionada, experimentando uma alegria inexplicável.” Angel, um dos jovens participantes, acrescenta: “O show foi fantástico, porque tivemos um intercâmbio sobre música, educação das crianças e respeito pelo meio ambiente. Foi um grande espetáculo onde até mesmo as crianças puderam dar sua contribuição para toda a nossa comunidade.” Os cinco estudantes franceses junto com o Gen Rosso continuaram o passeio, primeiro para Antsirinala onde foram recebidos – em um ambiente festivo e amigável – por uma escola de 200 crianças e jovens geminados com a escola Villeneuve, e depois para Ambatondrazaka. Aqui houve o encontro com a comunidade dos Focolares, em comemoração, porque foi a primeira vez que o Gen Rosso desembarcou em Madagascar. “Vivi momentos incríveis de intercâmbio cultural que aconteceram muito naturalmente entre o Gen Rosso e o povo humanitário malgaxe”, diz Dumoulin Nicolas, repórter francês, que acompanhou a turnê, junto com um grupo de estudantes franceses que estavam ali em um intercâmbio. Foi uma grande aventura de uma vida”. Etapa no Líbano Outra viagem importante para a banda internacional foi ao Líbano para o projeto HeARTmony. Após a experiência na Bósnia, este programa formativo, no mês de novembro, fez uma etapa em Beirute, para jovens interessados em metodologias de inclusão social para migrantes e refugiados através da arte. Um estímulo para fortalecer as habilidades interculturais e refletir sobre as causas e os efeitos da migração no Mediterrâneo. Adelson, Michele, Ygor e Juan Francisco, representando o Gen Rosso, reuniram-se com jovens da Cáritas do Egito, Cáritas do Líbano e membros da Humanité Nouvelle Lebanon. Eles pousaram em Beirute e foram calorosamente recebidos pelos membros dos Focolares. O principal objetivo da viagem era aprender a usar a música e a arte como ferramentas para aproximar as pessoas, especialmente as que vivem à margem da sociedade, como os migrantes, para fazê-las se sentirem bem-vindas em uma comunidade. “A arte é um meio poderoso”, enfatiza o Adelson do Gen Rosso, “a música chega onde muitas vezes não podemos chegar com as palavras. Uma pessoa pode se sentir amada e responder ao amor de muitas maneiras”. O método é o mesmo de sempre: através de oficinas de canto, música e percussão, os talentos dos participantes são aprimorados em vista da construção da apresentação final. Uma noite, a banda e os participantes do projeto também foram convidados para uma festa organizada pela comunidade dos Focolares de Beirute: fazer música e conhecer uns aos outros. Foi uma oportunidade para compartilhar algumas experiências de vida e descobrir mais sobre a realidade que os jovens libaneses vivem hoje. “Eu quero partir, mas sinto que o Líbano só vai mudar se eu tiver coragem de ficar, se eu colocar em prática o que aprendi”, disse uma jovem durante a noite. “Neste momento, é difícil dizer aos jovens para ficarem, mas as palavras desta garota me impressionaram profundamente”, continua Adelson. “Acho que é aqui que podemos recomeçar: colocar amor nas coisas que fazemos, para nos tornarmos protagonistas de nossa própria realidade. Talvez não veremos os resultados imediatamente, mas estou certo de que em breve o Líbano renascerá, como uma fênix”!

Lorenzo Russo

2022 através dos olhos do Gen Verde

2022 através dos olhos do Gen Verde

As emoções vividas em um ano inesquecível e as perspectivas para o novo ano Dificilmente esqueceremos o ano 2022. A guerra na Ucrânia, comparável a um vírus ainda sem vacina, tem nos marcado todos os dias deste ano que está chegando ao fim. No entanto, foi uma oportunidade para muitos artistas de darem mensagens de paz e esperança. E assim nasceu a música “We Choose Peace”, gravada pelo grupo artístico internacional Gen Verde, logo no início do conflito na Ucrânia. O vídeo clipe, gravado junto com os jovens da cidadela Loppiano e lançado durante a Semana Mundo Unido, esteve em destaque ao longo de 2022, especialmente em vários concertos em toda a Europa. A banda também gravou outra canção, “Walk On Holy Ground”, escrita especialmente para os seguidores de São Vicente de Paulo, mas também para todos aqueles que se sentem chamados a seguir Jesus. “Sentir-me olhada e amada por Aquele que me escolheu como sou”, diz a cantora venezuelana Andreína Rivera, do Gen Verde, “me deu a força para continuar com ainda mais convicção”. Este ano também foi marcado pelo retorno de concertos em praças e teatros, com oficinas e laboratórios, após mais de dois anos de parada devido à pandemia. Houve vários concertos do Gen Verde na Itália e uma turnê europeia muito especial. A experiência mais forte foi na prisão feminina de Vechta, na Alemanha. “Pela primeira vez eu pude me sentir como se não estivesse na prisão. Foi tão bonito”, disse uma detenta após o concerto. “Não senti nenhuma diferença entre nós e as artistas, elas eram exatamente como nós. Algumas delas até tinham lágrimas nos olhos. Elas realmente nos entenderam”. E ainda: “Muitas canções foram tão apropriadas para a nossa situação, especialmente a canção ‘Do outro lado’, porque ajuda a não julgar aqueles que são diferentes de você”. Outra reclusa enfatizou como “o tempo passou tão rápido e nós não queríamos que o show acabasse. As histórias nas canções exprimem o meu passado e é por isso que não me sinto mais sozinha com o meu sofrimento. Agora eu sei que outras pessoas, com a mesma história, com a mesma dor, conseguiram encontrar a felicidade novamente”. Estávamos falando sobre o retorno após a pandemia. Para o Gen Verde, foi emocionante retomar com o Start Now Workshop Project (Projeto Oficina Começar Agora, n.d.t.), ou seja, conhecer os jovens nas oficinas de arte e subir ao palco com eles. “Foi ótimo conhecer jovens de diferentes partes da Europa”, confidenciou Raiveth Banfield, uma cantora panamenha, que faz parte do Grupo. “Ao compartilhar nossas experiências, vimos um brilho novo nos olhos dos jovens. Uma confirmação de que vale a pena viver pela fraternidade universal”. Estas palavras são ecoadas pelas de duas jovens eslovacas que participaram do projeto: “Antes de virmos, não sabíamos realmente no que estávamos nos metendo. No início nem sequer queríamos sair do nosso comodismo para participar. Então, nas oficinas descobrimos que todos nós tínhamos muito em comum, embora não nos conhecêssemos ou não pudéssemos entender uns aos outros por causa dos diferentes idiomas. Assim, descobrimos que cada um de nós tem um pouco de luz dentro de si, apesar de alguma pequena escuridão. Esta experiência é inesquecível: vamos levá-la conosco para o resto de nossas vidas”. O Gen Verde está começando a vislumbrar um 2023 cheio de surpresas e novidades. “Estamos nos preparando, há vários meses, porque o novo ano será cheio de viagens, turnês, concertos e também de várias surpresas”, diz Alessandra Pasquali, cantora e atriz italiana. “Ainda não podemos revelar muito, porque estamos criando muita coisa, há muito trabalho em andamento”. No início de 2023, o Gen Verde estará de volta à Alemanha e depois na Áustria, Romênia e no verão em Portugal para a Jornada Mundial da Juventude, assim como em várias cidades italianas. Entre estas, em 24 de fevereiro, em Assis, haverá um concerto dedicado à paz.

Lorenzo Russo

Info: https://www.genverde.it/

Peru: a oração, lugar de encontro

A oração não é somente o melhor caminho para buscar Deus, mas, mais do que qualquer outra coisa, é estar disponível para deixar-se encontrar por Ele. É desta experiência de graça que deriva a nossa força, e é justamente na oração que alguns jovens do Peru, diante de uma situação dolorosa, encontraram a resposta. Como viver a oração? É sobre este tema que as comunidades do Movimento dos Focolares serão chamadas a refletir durante este ano e que teve um papel de protagonismo durante o Gen2day, dia 13 de novembro de 2022, um dia que contou com o envolvimento das realidades juvenis do Movimento dos Focolares de várias partes do mundo, conectados em streaming. Foram muitos os testemunhos sobre a oração. Entre estes o de um grupo de Gen de Arequipa (Peru), transmitido, em um vídeo, por Veronica, Alejandra, Anel e Katy. “Queremos compartilhar com vocês uma experiência de amor, unidade e oração que vivemos recentemente e que diz respeito a uma Gen, nossa grande amiga, Pierina. Uma semana depois do seu aniversário aconteceu algo inesperado, uma notícia que abalou a todos: Pierina tinha tido um mal-estar com consequências muito sérias. Logo compreendemos a gravidade da situação e que haveria um processo longo e delicado. Estávamos muito preocupados e sentíamos as mãos atadas. O que fazer? De repente nasceu no nosso coração a ideia de rezar um terço e uma oração à Bem Aventurada Chiara Luce Badano, pela saúde da Pierina. Juntamente com a comunidade dos Focolares de Arequipa, começamos a nos encontrar, de modo virtual, todos os dias às oito ou às nove da noite. Observamos como, aos poucos, este momento vivido juntos produziu muitos frutos, inclusive em nós. Esse terço era a nossa força, todas as noites. Ainda que a situação continuasse difícil, colocávamos tudo nas mãos de Deus: a saúde da Pierina, a sua cura e também a força para a sua família. Passaram os meses e foi uma alegria ver que Pierina conseguiu sair da terapia intensiva e começou uma lenta recuperação. Pareceu-nos um sinal de que esta oração devia continuar. Percebemos que este espaço precioso, que tínhamos conseguido preservar, havia se tornado um momento para experimentar a unidade entre nós, no qual cada um podia não apenas confiar a Deus a vida da Pierina, mas levar suas próprias dores, cansaços, compartilhar e descobrir a beleza do encontro com Deus. Uma experiência maravilhosa que até hoje é uma força para todos nós”.

Aos cuidados de Maria Grazia Berretta