Movimento dos Focolares
O diálogo é um instrumento potente de paz

O diálogo é um instrumento potente de paz

No dia 16 de outubro de 2024, na sede do Parlamento Europeu, em Bruxelas (Bélgica), ocorreu a Conferência final do projeto DialogUE, uma iniciativa voltada para promover o diálogo intercultural e inter-religioso na Europa. O evento foi apresentado pela eurodeputada Catarina Martins (GUE-NGL) e contou com a participação de 50 representantes de parceiros do projeto, instituições europeias, líderes religiosos e membros da sociedade civil.

O foco do evento foi a apresentação das recomendações para a União Europeia do projeto DialogUE – “Diversas Identidades Aliadas, Abertas, para Gerar uma Europa Unida”, com temas cruciais para a situação atual europeia e mundial, resumidas na brochure “DialogUE Kit”.


“Dá para ver a olho nu que algo acontece quando as pessoas de paz falam”, disse a eurodeputada Catarina Martins, da Esquerda Europeia, que abriu o encontro em uma sala do parlamento europeu. “E este é justamente um momento desse tipo. O diálogo é um instrumento potente de paz.”

O projeto nasceu do empenho de décadas de New Humanity, expressão do Movimento dos Focolares, que promoveu de modo significativo as boas práticas de diálogo inter-religioso e intercultural A abordagem favorece o respeito recíproco e a confiança, elementos essenciais para um diálogo produtivo e esforços colaborativos.

Francisco Canzani, conselheiro geral da área de Cultura e Estudo do Movimento dos Focolares, destacou em sua última fala que o diálogo é construído por três elementos: atitude, instrumento, método. Sobre esse último, o método do consenso diferenciado e da discordância qualificada, nascido dentro da plataforma DIALOP entre cristãos e marxistas, é hoje fonte de inspiração e prática para outros grupos de diálogo.

Em 2023 e 2024, o projeto envolveu quatro grupos em três áreas principais: comunicação, ecologia e políticas sociais. Os grupos de diálogo eram:

  • Entre cidadãos cristãos pela plataforma Together4Europe
  • Entre cristãos e muçulmanos por meio do Centro para o Diálogo Inter-religioso do Movimento dos Focolares
  • Entre cristãos e pessoas que não se identificam com uma crença religiosa pela plataforma DIALOP para um diálogo transversal
  • Entre cidadãos da Europa Ocidental e Oriental por meio do grupo de diálogo Multipolar.

O projeto facilitou principalmente a difusão do significado e das metodologias necessárias para um diálogo eficaz. Também reuniu especialistas internacionais nesses três desafios-chaves, os quais ajudaram os participantes a compreender os principais documentos da UE sobre esses assuntos e a explorar as diversas dimensões de cada tema.

Os grupos colaboraram para identificar princípios compartilhados e propostas em comum. O trabalho deles levou à formulação de recomendações que foram apresentadas ao Parlamento Europeu.

O projeto DialogUE – foi promovido por um consórcio de 14 organizações da sociedade civil provenientes de nove países membros da União Europeia.

Entre os resultados principais do projeto estão: 12 encontros internacionais e uma formação para facilitadores e especialistas; o envolvimento direto de 1200 cidadãos e mais de 10.000 indiretamente; a criação do “Dialogue Kit”, destinado a educadores, ONGs e decisores políticos para promover o diálogo e a coesão social. Esses encontros levaram a recomendações compartilhadas para os tomadores de decisão da União Europeia, a fim de promover políticas mais inclusivas e sustentáveis.

Na tarde do dia 16 de outubro, um grupo de discussão se reuniu na KU Leuven (Universidade de Lovaina), em Bruxelas, e os participantes analisaram algumas boas práticas que emergiram do projeto, além de discutir como difundir mais essas iniciativas por meio do “Dialogue Kit”.

Ana Clara Giovani – Tomaso Comazzi e Luisa Sello
Foto: ©Marcelo Pardo

Para informações sobre o projeto: https://www.new-humanity.org/en/project/dialogue/

Para rever o evento, clique no link:

Uma viagem que enriqueceu minha vida

Uma viagem que enriqueceu minha vida

Paola Iaccarino Idelson é uma bióloga nutricionista, especialista em alimentação. Mora em Nápoles, no sul da Itália. Eu soube, por meio de uma amiga querida, que ela viajou para o Brasil durante o verão deste ano. Curioso, tentei encontrá-la nas redes sociais. Fiquei encantado com as fotos lindas de sua estadia no Brasil e com as histórias intensas que revelam uma experiência profunda. Portanto, decidi contatá-la para uma entrevista.

Paola, de Nápoles para o Brasil: por que decidiu fazer essa viagem?

É uma longa história. Estive no Brasil pela primeira vez há 14 anos, em Florianópolis. E fui para lá porque sou apaixonada pela língua portuguesa. Não queria ir como turista, então, por meio de uma amiga que é médica, fui ajudar um colega dela, como voluntária. Acompanhamos um sacerdote em sua missão cotidiana. Ele tinha aberto uma escola para ajudar adolescentes a não entrar no crime, e abriu uma oficina de conserto de pranchas de surfe, para oferecer um trabalho digno aos jovens do local. Durante três semanas, pesei e medi as crianças daquela escola: foi uma experiência tão forte, intensa e bonita que, quando voltei para a Itália, tive de removê-la da minha mente para pode continuar a viver a minha vida como antes.

E depois? O que aconteceu?

No ano passado, terminei com o meu namorado, que não gostava do Brasil. Então disse a mim mesma: chegou o momento de retomar aquele sonho. Porém, dessa vez, eu também queria fazer uma experiência não como turista, mas ajudando a comunidade local de alguma maneira. Falei com uma amiga focolarina, e ela me colocou em contato com a comunidade do Movimento dos Focolares da Amazônia.

Eu queria fazer um trabalho voluntário como nutricionista, a minha profissão, mas estava disposta a tudo. Uma das focolarinas do Brasil, Leda, me falou sobre o Barco Hospital “Papa Francisco”, no qual eu poderia trabalhar. Então, no fim, parti em agosto de 2024. Leda foi um anjo, organizou todo o meu itinerário, colocando-me em contato com a comunidade do Movimento dos Focolares e cuidou de mim durante todo o período em que estive no Brasil.

O Barco Hospital Papa Francisco: o que você fez lá?

Não havia um trabalho específico para mim, que sou especialista em alimentação. Havia uma dezena de médicos, cada um com o seu consultório. Ajudei como podia. O despertador tocava às 6h da manhã porque, a partir das 6h30, já chegavam pessoas de vilarejos próximos para as consultas. Era preciso acolhê-los, cadastrar quem chegava e controlar o fluxo. Fiz consultas nutricionais e entendi que havia um problema de sobrepeso e obesidade, principalmente entre as mulheres. Então, me perguntei muito sobre as razões daquelas condições de obesidade, era um problema bem comum naquele lugar. Falando com algumas pessoas, percebi que havia um problema de sedentarismo e de difusão do consumo de bebidas cheias de açúcar, doces e carne.

Você pôde ver com os próprios olhos tanta pobreza…

Vi pessoas realmente pobres, mas muito dignas, que conseguem fazer dar estudo aos filhos. Fiquei muito tocada com uma família. Eles têm 10 filhos, via-se que viviam em condições muito precárias. O pai também tem algum problema de saúde. Apesar disso, os pais conseguiram fazer com que os filhos estudassem e uma das filhas está para se formar como fotógrafa. Uma grande dignidade, apesar daquelas condições de vida.

Você viu a abundância de diversidade, natureza, cor de pele das pessoas, comidas, cheiros, sabores…

Foi uma das coisas que mais me marcou nesta viagem e que levarei comigo. Uma diversidade enorme no modo de viver, principalmente a variedade incrível de frutas, verduras, cereais, flores, plantas, as cores dos rios, os animais, as pessoas. Quando eu cadastrava quem chegava para as consultas, havia um campo no software para preencher a cor da pele e eu tinha quatro opções ligadas à diversidade das etnias, das origens, da cor da pele… Viver essa diversidade foi uma experiência forte e tenho certeza de que é só uma grande riqueza.

Como a comunidade do Movimento dos Focolares a acolheu e ajudou nessa experiência?

Foi fundamental em toda a minha experiência no Brasil. Eu me senti acolhida em todos os lugares por onde passei. Vi com meus próprios olhos a arte de amar a todos. Sempre senti um amor para comigo, uma abertura muito grande e desinteressada. Isso me fez muito bem, realmente uma acolhida comovente.

Você foi para lá para doar tempo e profissionalismo, mas recebeu muito mais. Essa viagem mudou um pouco a sua vida?

Olha, eu tenho 50 anos, não 20. Mas por que estou dizendo isso? Porque aos 20 anos, ou talvez aos 30, ainda tinha a ideia de ir a um lugar para doar. Agora, é muito, muito claro para mim que a possibilidade de me doar me restitui alguma coisa. Eu sabia muito bem que a palavra “voluntariado” incluía bastante coisa. Doar o próprio tempo faz bem. Primeiramente a quem o doa. Eu, com certeza, fiz uma experiência de partilha muito forte com a comunidade do Movimento dos Focolares. Apesar de não conhecer tão bem a espiritualidade, aprecio bastante todas as suas outras formas de expressão do amor concreto. Acho que foi uma experiência realmente muito, muito, muito bonita. Essa ideia de poder viver juntos, colocando em comum tudo o que tem, é justamente a ideia da comunidade. Poder fazer o bem aos outros e viver com os outros é uma coisa de que eu realmente gosto muito.

Essa viagem me enriqueceu demais. Teve e terá um grande impacto na minha vida. Ela me fez conhecer pessoas maravilhosas, realidades completamente diferentes da minha. Entendi que a partilha é realmente possível.

Quando você voltou para Nápoles, teve uma acolhida inesperada!

Sim, muitas pessoas que encontrei quando voltei, e que ainda encontro hoje, me dizem que leram meus diários de viagem nas redes sociais, e me agradecem por ter compartilhado essa experiência. Estou recebendo muitos agradecimentos e várias pessoas me dizem que querem saber mais sobre essa viagem. Então, tive a ideia de organizar as fotografias e mostrá-las em um evento, no qual também posso contar alguma coisa a mais. Isso me tocou muito: vivemos em uma sociedade na qual não existe mais tempo para os relacionamentos. Ouvir pessoas me pedindo para passar um tempo juntas para saber mais sobre a minha experiência é algo muito lindo.

Para concluir, vamos rebobinar a fita e olhar tanto para a primeira quanto para a segunda viagem ao Brasil: como você vive hoje a sua vida?

Minha primeira experiência brasileira de muitos anos atrás, como eu disse, tive de removê-la. Agora, estou fazendo um grande esforço para não remover essa última viagem, para não esquecer, para manter essa experiência também na minha vida em Nápoles, na Itália. Quero manter essa memória viva. Por quê? Porque tem um sentido na minha vida que me dá tanta força e me gratifica muito.

A primeira coisa que fiz, ao voltar a Nápoles, foi contatar novamente a minha professora de português, que é brasileira, para aprender melhor a língua. Outra coisa que eu gostaria de fazer é uma geminação entre uma escola infantil napolitana e uma brasileira, que está sendo construída. Seria lindo ajudar aquelas crianças, enviando mochilas e todo o material necessário. Mas, sobretudo, gostaria de fazer com que compartilhassem as experiências entre crianças brasileiras e italianas.

Lorenzo Russo
(foto: © Paola Iaccarino Idelson)

7 de outubro de 2024: dia de oração e jejum para implorar a paz no mundo

7 de outubro de 2024: dia de oração e jejum para implorar a paz no mundo

No meio das crescentes tensões no barril de pólvora do Médio Oriente, no meio das bombas e mísseis que continuam a cair na “martirizada” Ucrânia, no meio dos muitos pequenos e grandes conflitos que dilaceram e matam de fome os povos de África, enquanto, em suma, “os ventos da guerra e os fogos da violência continuam a perturbar povos e nações inteiras”, O Papa Francisco chama às “armas” do jejum e da oração – aquelas que a Igreja indica como poderosas – milhões de crentes de todos os continentes para implorar de Deus o dom da paz num mundo à beira do abismo.

Tal como já tinha feito para os conflitos na Síria, na República Democrática do Congo e no Sudão do Sul, no Líbano, no Afeganistão, na Ucrânia e na Terra Santa, de 2013 a 2023, o Papa Francisco convocou um novo dia de oração e abstenção de alimentos para invocar o dom da paz para segunda-feira, 7 de outubro de 2024, anunciando também uma visita sua, no domingo, 6 de outubro de 2024, à Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, para rezar o terço e rezar a Nossa Senhora, pedindo a participação de todos os membros do Sínodo.

“Não podemos deixar de apelar mais uma vez aos governantes e àqueles que têm a grave responsabilidade das decisões”, escreveu o Card. Pierbattista Pizzaballa, Patriarca de Jerusalém dos Latinos, numa carta dirigida à sua diocese, aderindo ao apelo do Papa – ao compromisso com a justiça e ao respeito pelo direito de todos à liberdade, à dignidade e à paz”. O Patriarca reiterou ainda a importância do empenho de cada um na construção da paz no seu próprio coração e nos contextos comunitários, apoiando “os necessitados, ajudando os que trabalham para aliviar o sofrimento dos afectados por esta guerra e promovendo todas as acções de paz, reconciliação e encontro. Mas também precisamos de rezar, de levar a Deus a nossa dor e o nosso desejo de paz. Precisamos de nos converter, de fazer penitência, de implorar o perdão”.

Editado por Carlos Mana
Fonte: vaticannews.va

Foto: © Pixabay

Tempo da criação, tempo de esperança

Tempo da criação, tempo de esperança

No dia 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis, termina o Tempo da Criação, um período no qual é proposto o aprofundamento do diálogo com Deus por meio da oração, associado a ações concretas de cuidado com o planeta. O Movimento dos Focolares sempre apoiou a iniciativa, participando e organizando eventos em várias partes do mundo. Em seguida, algumas iniciativas do Tempo da Criação 2024.

Em Leonessa, região central da Itália, foi realizada uma caminhada na natureza. O evento, chamado “Respiros da Natureza: juntos pelo nosso planeta”, teve a participação de crianças e adultos. O grupo saiu do convento dos frades capuchinhos, guiados pelos próprios frades, pela Guarda Florestal, pelo Clube Alpino Italiano e pelo professor Andrea Conte, astrofísico e coordenador, na Itália, de EcoOne, a rede de Ecologia do Movimento dos Focolares. A excursão culminou ao lado de uma fonte, onde o prof. Conte conduziu uma sugestiva meditação sobre a viagem de um átomo de carbono pelo ambiente. Em seguida ele mostrou como transformar os resíduos comuns em instrumentos para experimentos científicos, mostrando, enfim, como a ciência pode ser divertida e ao alcance de todos.

Num segundo momento, no Auditório da prefeitura, foram aprofundados temas como a consciência ambiental, os efeitos das mudanças climáticas e a importância da educação à sustentabilidade. O prof. Luca Fiorani, da comissão internacional de EcoOne, apresentou uma análise aprofundada da encíclica Laudato Sì, do Papa Francisco, de conceitos de ecologia integral e da sustentabilidade relacional. A participação numerosa e a atenção demonstrada pelos participantes são o testemunho de um interesse crescente por temáticas ambientais e de uma maior consciência da importância de agir em favor da proteção do nosso planeta.

É o quarto ano que a comunidade do Movimento dos Focolares na Oceania contribui com o momento de oração ecumênica no Tempo da Criação. “Rezamos e testemunhamos, com diferentes ações de cuidado com a nossa casa comum – eles contam. Este ritual de oração é o nosso esforço para dar esperança à nossa imensa área que se estende por 7.000 km (de Perth, na Austrália ocidental, até Suva, nas Ilhas Fiji), a maior nação insular no coração do oceano Pacífico”. Jacqui Remond, cofundadora do Movimento Laudato Sí, docente da Universidade Católica Australiana, fez uma reflexão sobre a necessidade de mudar os corações em uma conversão ecológica.

O arcebispo da arquidiocese de Suva, nas Ilhas Fiji, d. Peter Loy Chong, não pode estar presente porque estava justamente recebendo o Papa Francisco em Papua Nova Guiné. Mas enviou uma mensagem salientando, de modo especial, a importância da palavra “Tagi”, que significa “o grito dos povos da Oceania”. É o grito das pequenas ilhas do Pacífico diante da mudança climática, que ainda não influenciou o mundo, ou melhor, o mundo ainda não escutou profundamente as vozes e, especialmente, os tempos do grito dos povos da Oceania.

Foram compartilhadas diversas experiências, como a criação de um jardim de reconciliação aborígene no Centro Mariápolis St. Paul. Lá estiveram os alunos de horticultura e seus professores, que utilizam o Centro para suas aulas. São todos migrantes e ficaram muitos interessados em conhecer as importantes plantas alimentares indígenas.

Os jovens de Sydney, Camberra e Melbourne reuniram-se com um ancião aborígene para um passeio pela cidade, no qual aprenderam a relacionar-se com a criação e a cuidar dela.

No México foi feito um curso sobre conversão ecológica e espiritualidade, um diálogo aberto sobre o cuidado com a casa comum. Foi uma iniciativa do Centro Evangelii Gaudium México, da Universidade Sophia ALC, juntamente com o Movimento dos Focolares. Cinco sessões online – uma em cada semana durante o Tempo da Criação – sob os cuidados do prof. Lucas Cerviño, focolarino teólogo e especialista em missionariedade. Participaram 87 pessoas provenientes de vários países da América Latina, do México à Argentina. Foram estes alguns dos temas abordados: crise e conversão ecológica; metamorfose do sagrado e da espiritualidade; Deus Amor como um tecido de vida no amor; a escuta do grito da terra e dos pobres como amor a Jesus Crucificado e Abandonado; a unidade como fraternidade cósmica para assumir o cuidado com a Casa Comum; Maria como Rainha da Criação e a presença do corpo místico de Maria.

Na Itália, na cidade de Pádua, foi inaugurado o “Caminho dos 5C da Laudato Sì”, graças à rede Novos Estilos de Vida, constituída por associações civis, religiosas e leigas, entre as quais o Movimento dos Focolares, que se preocupam com a promoção de estilos de vida sóbrios e respeitosos com a natureza e a economia sustentável, e que estimulam as comunidades com iniciativas e propostas a serem realizadas juntos, pelo bem comum.

O “Caminho dos 5C” foi instalado ao lado de um canteiro onde, em 2011, as cinco Igrejas ecumênicas (católica, ortodoxa, luterana, metodista e anglicana) celebraram o Dia para o Cuidado da Criação, plantando juntos cinco faias. Como introdução, um jovem cantor vicentino fez uma breve apresentação na qual comunicou a sensibilidade e o sonho dos jovens de hoje, no caminho rumo a um futuro de esperança.

Os 5C evidenciam cinco termos retirados da encíclica do Papa Francisco: “custodire, conversione, comunità, cura, cambiamento” (em língua portuguesa: proteção, conversão, comunidade, cuidado, mudança). O evento foi vivido com intensidade e serviu como um forte impulso para propósitos de comprometimento concreto em realizar um mundo melhor, mais justo e équo, em harmonia com a Terra que habitamos.

Lorenzo Russo
Foto: © Pexels e Focolari Padova

Líbano: Centro Mariápolis “A Nascente”, portas abertas para os desabrigados.

Líbano: Centro Mariápolis “A Nascente”, portas abertas para os desabrigados.

O Centro Mariápolis “A Nascente” encontra-se em Ain Aar, uma região montanhosa, 20 km ao norte de Beirute. Como aconteceu em 2006, ano do conflito militar entre Israel e o Hezbollah que durou 34 dias, também nestes dias as pessoas que estão em fuga das bombas que estão devastando o sul do país, chegam aqui, nesta região de maioria cristã, e pedem abrigo. “É normal bater à porta do Centro Mariápolis e encontra-la escancarada”, conta R. da comunidade libanesa dos Focolares. “Podíamos deixar de acolhê-los? E o que seria do nosso ideal de fraternidade, do qual nos nutrimos e que deveria ser a nossa característica?”. Uma experiência semelhante foi vivida em 2006. Também naquela ocasião o Líbano foi atravessado por grandes deslocamentos de famílias e, também então, o Movimento dos Focolares os havia acolhido no seu Centro Mariápolis, mais de uma centena de amigos, famílias com marido, esposa, avós, jovens e crianças. “Foi assim que nos conhecemos e nasceu entre nós um relacionamento de irmãos, que nos fazia compartilhar alegrias e dores, esperanças e dificuldades, necessidades e orações. Uma relação simples e franca, tecida no cotidiano, nasceu e cresceu uma verdadeira fraternidade, sem filtros ou preconceitos”.

Ninguém esperava que a situação precipitasse assim, de um momento ao outro. “Os libaneses estavam se preparando para voltar às aulas, com um olhar de esperança neste novo ano”, conta R. “E, no entanto, desabou uma tempestade inesperada, implacável, ameaçadora, mortal”, com “consequências terríveis em uma população sedenta de paz, de justiça, de caminhos de diálogo”. Em poucos dias, aliás, horas, as ações bélicas atingiram bairros populares e o povo mergulhou num “verdadeiro pesadelo”. A Unicef comunicou que, segundo o Ministério da Saúde Pública, no dia 25 de setembro, quase 600 pessoas foram mortas no Líbano, entre elas mais de 50 crianças e 94 mulheres; e cerca de 1700 ficaram feridas, desde o dia 23 de setembro. Os deslocamentos em massa continuam, já alcançando cerca de 201.000 desabrigados internos (IDP), segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Desde domingo o Centro Mariápolis “A Nascente” ficou repleto de pessoas “que chegaram com o seu medo, o trauma vivido nos povoados ou bairros tomados de mira”. Percorreram 129 km de carro, usando de cinco a oito horas. As estradas estão congestionadas com carros que fogem do sul. Deixam os povoados antes de alcançar as grandes cidades de Tiro e Sidônia. Ao redor deles veem a destruição dos bombardeios recentes. Atualmente são 128 as pessoas refugiadas no Centro Mariápolis. Alguns provêm do sul, outros das periferias populares de Beirute atingidas pelos últimos atentados. Não é fácil: “A presença deles levanta dúvidas nas comunidades cristãs da região”, contam os focolarinos. “E nos perguntam: entre eles haverá membros do Hezbollah que poderiam ameaçar a paz na região? Mas, o senso de solidariedade é mais forte do que a suspeita”. R. acrescenta: “Onde eles poderiam pedir abrigo, também dessa vez? Onde poderiam ir sabendo que aqui são acolhidos sem reservas?”. Para a comunidade dos Focolares começa uma nova aventura. A acolhida é feita em coordenação com as autoridades locais, religiosas e civis.

Desencadeia-se – como em todas as partes do país, nesse momento – uma competição de solidariedade. Do pároco, aos fieis da paróquia, aos voluntários. Há quem cuida das crianças, organizando atividades e partidas de futebol. Quem se ocupa das doações necessárias para a acolhida. “As pessoas chegam chocadas, preocupadas com o seu futuro, tendo nos olhos o espetáculo apocalíptico das casas destruídas, dos campos queimados, mas também as notícias de conhecidos, parentes, vizinhos, amigos ou alunos, que foram mortos nos ataques e que nunca mais verão. Nós nos abraçamos, vivendo inteiramente o momento presente, com a fé que, durante séculos, nos permitiu atravessar as adversidades”.

O Centro “A Nascente” deseja ser, junto a tantos outros locais espalhados pelo país, um verdadeiro “oásis de paz”. “A esperança, e o desejo mais profundo, é que logo se possa voltar para casa. Tanto sangue derramado deve fazer florescer o deserto dos corações. Esperamos que este calvário que estamos vivendo abra uma brecha na consciência dos potentes, e de todos, sobre a evidência de que a guerra é uma derrota para todos, como repete o Papa Francisco. Mas, acreditamos e esperamos, antes de tudo, que deste crisol de sofrimento possa emergir do Líbano uma mensagem de fraternidade possível para toda a região”.

Maria Chiara Biagioni
Fonte: AgenSir
Foto: Focolari Libano

Congo: experiências de sinodalidade

Congo: experiências de sinodalidade

Chegaram de moto, dois a dois, porque esta é a forma mais comum para chegar até a localidade de Manono, na província de Katanga, no sudeste da República Democrática do Congo. Para este encontro vieram 92 sacerdotes, provenientes de oito dioceses da província eclesiástica de Lubumbashi; era um dos retiros periódicos organizados pelo Movimento dos Focolares. O convite para que fosse feito ali havia partido do bispo de Manono, D. Vincent de Paul Kwanga Njubu, impressionado pelo testemunho dos sacerdotes que, anteriormente, haviam participado deste tipo de retiro em Lubumbashi.

Também o bispo de Kongolo, D. Oscar Ngoy wa Mpanga, uma diocese a 300 km de Manono, tocado pelo mesmo fato – jovens sacerdotes que tinham participado de retiros como estes, organizados para seminaristas – havia pedido a todos os sacerdotes da sua diocese que se unissem a eles. Eles eram 43. A imprensa local definiu o retiro como “inesquecível”. Na conclusão, o bispo desejou oferecer um almoço a todos, e os participantes o compartilharam com o hospital da cidade, para a grande alegria dos doentes.

Os membros da comunidade dos Focolares de Lubumbashi ocuparam-se de toda a organização (transportando inclusive as panelas…) e a programação foi confiada a alguns membros do Centro internacional do Movimento.

A cidade de Manono encontra-se a 800 km de Lubumbashi, é a terceira cidade do Congo e representa uma reserva de minério de importância global, pela presença de lítio e de outros minerais. Infelizmente, porém, a população não recebe os benefícios desses recursos. Famílias inteiras passam os dias em busca de minerais, as crianças deixam a escola para dedicar-se a este trabalho. Existe uma enorme exploração e o material é vendido a preços extremamente baixos. Há até mesmo um vilarejo no qual as casas estão desmoronando, porque se procuram minérios embaixo delas. A situação nesta região é crítica: devastada no passado por um conflito que destruiu infraestruturas civis e religiosas, possui estruturas de saúde e escolas semidestruídas, com uma taxa de frequência inferior a 30% nas escolas. A má nutrição e a insegurança alimentar atingem gravemente as crianças, com 15% delas já atingidas pela desnutrição. O bispo de Manono desejou este retiro justamente neste lugar, foi a primeira vez que sacerdotes de outras dioceses vieram aqui. Inclusive por este motivo, a presença de um número tão grande de padres foi recebida com grande festa. Durante a Missa dominical, o pároco da catedral pediu a todos os paroquianos que levassem água, que aqui é um bem raro e precioso, para os participantes do retiro, como sinal de amor e de acolhida. Depois começaram os dias de retiro: temas espirituais, meditações sobre os conselhos evangélicos e aprofundamentos sobre a sinodalidade. Divididos em pequenos grupos, foram muitos os momentos de comunhão de vida, de troca de testemunhos, conhecimentos, partilha e fraternidade.

A espiritualidade de comunhão, a descoberta de Deus Amor, um novo estilo de pastoral “sinodal” que “liberta de esquemas pré-fabricados e nos abre ao amor mútuo”, como alguém dizia, estiveram entre os pontos que mais tocaram a todos.

Retornando a Lubumbashi, alguns membros do Movimento dos Focolares puderam cumprimentar os bispos das várias dioceses, que lá se reuniam para com a Conferência Episcopal, e que os agradeceram vivamente pela contribuição que estes retiros dão à vida de suas dioceses. Em especial, o bispo de Manono agradeceu pelo “contributo dado à vida espiritual dos sacerdotes e dos leigos, e à comunhão entre os padres, que transborda sobre a vida dos leigos e permite viver o amor recíproco, colocar em prática a Palavra de Deus”. O arcebispo de Lubumbashi, D. Fulgence Muteba Mugalu, recentemente nomeado Presidente da Conferência Episcopal, agradeceu também por estes retiros, realizados há diversos anos, desejando que se dê continuidade a esta formação que traz muitos frutos.

Após o retiro, alguns dos membros do Centro internacional foram a Goma, no nordeste do Congo, onde os focolarinos organizaram dois cursos de formação do qual participaram 12 jovens seminaristas e 12 sacerdotes. Em uma celebração litúrgica esteve presente também o bispo de Goma, D. Willy Ngumbi Ngengele. Alguns dos convidados não puderam participar, devido ao crescimento dos confrontos nos arredores da cidade. No Congo existem 7 milhões de refugiados, entre os quais 1,7 milhões na província de Kivu Norte, onde se encontra Goma. Durante o encontro aprofundou-se o conhecimento da espiritualidade da unidade e a sinodalidade. Constou da programação a visita a uma paróquia cercada por milhares de refugiados, onde o pároco dá um testemunho de Evangelho vivido muito forte. Também a visita ao “Centre Père Quintard”, mantido pelo Movimento e situado no meio de dois grandes campos de refugiados, onde é feito um serviço de promoção, educação e desenvolvimento social, foi um testemunho muito forte para todos os presentes. Ali puderam ver um farol de esperança e pediam que atividades como esta fossem feitas também em suas paróquias.

Anna Lisa Innocenti