Movimento dos Focolares

Klaus Hemmerle: O sol no vale

Out 2, 2016

Em maio de 1993 o então bispo de Aachen (Alemanha) se submeteu a uma cirurgia para tentar deter a doença já em estado avançado. Após um longo período de convalescença, falou deste período como da descoberta de um novo modo de olhar as pessoas e a criação.
1980 - Aquarell - Matterhorn mit Zermatt, Schweiz_Klaus-Hemmerle.de

1980 – Aquarell – Matterhorn mit Zermatt, Schweiz. http://www.klaus-hemmerle.de

«Durante estes passeios percorria uma estrada que se encontra a 1.250 metros de altura e que contorna um cume. Podia-se ver o vale, o cume dos montes. Era belíssimo! Eu queria pintar tudo isto, ao voltar para casa. Parava a cada dez metros para fixar na minha alma uma situação, uma bela vista em perspectiva. E após outros cinco metros, mais outra vista completamente diferente.

Na minha vida nunca tinha observado com que velocidade as perspectivas mudam. E não saberia dizer que perspectiva podia ser a mais bonita. Cada combinação, cada constelação era um evento diferente e uma surpresa sempre nova. E assim eu vi o mundo de uma maneira completamente diferente. Vi um pedaço de céu e entendi que estas relações, este se relacionar de cada coisa com as outras, estes traços em que as linhas se dividem e depois se cruzam de novo, tudo isto é realmente uma plenitude infinita de todos os possíveis encontros de uma só e única realidade: este monte, este outro monte, este outro ainda e este vale. Mas sempre em perspectivas novas, pelas quais não posso dizer: “Esta é a vista em perspectiva justa e aquela outra não é”, mas devo ir em frente, deixando que estas perspectivas e estas linhas diferentes se encontrem. Deste modo devo ver que no único Deus em que cremos, todas as realidades criadas, todas as pessoas criadas, todas as coisas se encontram lá para um encontro sempre novo e um cruzamento sempre novo, para múltiplas belezas que não se excluem, mas se incluem reciprocamente e são um único encanto e um único canto da Beleza.

Entre nós acontece a mesma coisa: devo estar pronto a deixar um ponto de vista e uma perspectiva para poder ter outra. Em Deus deixo uma perspectiva, mas esta permanece. Assim existe uma simultaneidade que não me esmaga na sua universalidade, mas que é uma única dança, um único encontro, um único jogo, um canto novo. E pensei que embora entre as Igrejas existam obstáculos e barreiras, existam coisas que se contrapõem e que devem ser vividas e sofridas, para que possam se resolver, existe também um encontrar-se sempre novo de carismas, luz e graça.

[…] Nós deveríamos permitir uns aos outros poder tocar com as mãos um fragmento desta infinidade do paraíso e este jogo celeste e trinitário das relações recíprocas. Quanto mais nos encontramos nesta beleza, estamos uns dentro dos outros e nos apreciamos mutuamente, tanto mais atrairemos para a terra um fragmento de Paraíso. Um fragmento da Jerusalém celeste aqui no nosso meio é um primeiro hálito daquilo que deverá se desenvolver.

Naturalmente também me perguntei onde se pode achar de fato um ponto em que se encontram todas estas linhas muito diferentes, onde inclusive as realidades de dor e as contradições se cruzam, onde também o que não se pode resolver com uma espécie de síntese hegeliana encontra um ponto de encontro, ou também aquelas coisas que permanecem como um grito, mas que de qualquer forma devem ser vividas e sustentadas. Descobri que este ponto de cruzamento é Jesus no seu abandono: Ele se torna contemporâneo com aquilo que contemporâneo não é, é aceitação e acordo daquilo que não se aceita e não se acorda, é a convivência com aquela que é a morte de uns pelos outros. Justamente isto não é uma simples ideia especulativa, mas é uma possibilidade de viver e aceitar as tensões e os sofrimentos e tudo o que não é resolvível».

Klaus Hemmerle

Extraído do livro Klaus Hemmerle, innamorato della Parola di Dio de Wilfried Hagermann, Città Nuova Ed. 2013, pagg. 297-98.

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