Movimento dos Focolares
Evangelho vivido: “Da sua pobreza ofereceu tudo o que tinha para viver” (Mc 12,44)

Evangelho vivido: “Da sua pobreza ofereceu tudo o que tinha para viver” (Mc 12,44)

Hoje de manhã, enquanto fazia as despesas no supermercado, passei ao lado de um grande carrinho onde uma funcionária estava guardando papelão, e notei que dois pedaços tinham caído no chão.

Pensando que poderia ter sido eu que, sem perceber, os tivesse derrubado, pedi desculpas, os peguei do chão e coloquei no carrinho.

A funcionária me agradeceu dizendo que não me preocupasse. Depois, comentando em voz alta disse: “a gentileza é rara!”. Uma outra pessoa que passava perto confirmou: “Isso é verdade!”. E então a funcionária explicou o que havia acontecido.

Eu fiquei bem feliz, inclusive porque este pequeno acontecimento me fez relembrar uma frase ouvida tempos atrás e que me havia tocado pois convidava a “semear a gentileza”. Tudo isso me pareceu uma “carícia” de Deus.

G.S. – Itália (*)

Tenho um irmão, cristão católico, que se casou com uma mulher alemã da Igreja evangélica. Quando eles vieram morar na Itália, a relação entre minha mãe e minha cunhada não foi fácil, mesmo se ela não tinha se oposto a que os filhos fossem educados na Igreja católica. Da minha parte, procurava ser “mediadora” entre ela e minha mãe. A minha cunhada também sofria por esta incompreensão que, no entanto, foi superada pouco antes do falecimento de nossa mãe.
Desde algum tempo compartilho com ela, todos os dias, no whatsapp, a “Palavra do Dia”, que nos ajuda a viver o amor evangélico. Um dia o pensamento convidava a “ser misericordiosos” e trazia esta breve reflexão: “A misericórdia é um amor que sabe acolher cada próximo, especialmente o mais pobre e necessitado. Um amor que não mede, abundante, universal, concreto”. A sua resposta foi imediata: “Se eu fiz você sofrer em alguma circunstância, nos anos passados, perdoe-me”. Surpresa, eu lhe respondi: “Eu também lhe peço desculpas”. E ela: “Não lembro de nenhum motivo pelo qual deveria lhe desculpar…”.

C. – Itália (*)

Uma pessoa muito querida pediu-me que escrevesse algo sobre a minha experiência como professora, para alguém de um outro país que estava fazendo um projeto sobre a educação aos valores.

Entendi que era uma oportunidade para transformar em testemunho e “anúncio” aquilo que, durante toda a vida, tinha sido, de alguma maneira, a minha resposta pessoal ao “chamado” para viver segundo os ensinamentos do Evangelho, como professora e como mãe.

Redigir exigiu muitas horas de trabalho, escrever, cancelar, corrigir, escrever novamente relembrando os aspectos que eu poderia acrescentar, eliminando outros que pareciam irrelevantes e, principalmente, filtrando cada palavra com o amor. Procurei me colocar no lugar da pessoa para quem estava escrevendo porque, mesmo sem conhecê-la, poderia amar Jesus nela.

Enviei o trabalho à minha amiga, consciente de que talvez não fosse exatamente o que ela precisava, e disposta a mudar tudo.

Para a minha surpresa, ela respondeu: “Já enviei sua carta e agradou muito!”. Sem dúvida não era o escrito em si que agradava, mas a obra que Deus realizou em mim e que, tendo sido compartilhada, podia ser uma pequena luz para os outros.

E, naturalmente, as outras coisas que eu devia fazer naqueles dias foram facilmente resolvidas, já que houveram mudanças de programa que me deixaram o tempo livre para fazê-las.

C.M. – Argentina

Aos cuidados de Carlos Mana
Foto © StockSnap-Pixabay

(*) Retirado de “O Evangelho do dia” novembro-dicembro, Città Nuova, Roma 2024.

Igreja, vulto de esperança

Igreja, vulto de esperança

Viver a Igreja em sua dimensão comunitária por meio do método sinodal. Esta foi uma das mensagens deixada pela Conferência eclesial organizada pelo Movimento dos Focolares da Itália e da Albânia que ocorreu no início de novembro no Centro Mariápolis de Castel Gandolfo, na Itália. O evento contou com a participação de centenas de pessoas, de diversas idades e vocações, que aderiram à espiritualidade do Movimento dos Focolares, além de pessoas de outras associações.

Cristiana Formosa e Gabriele Bardo, responsáveis do Movimento dos Focolares na Itália e na Albânia, evidenciaram o caminho percorrido até agora juntamente com outras realidades da Igreja italiana. Tudo nasceu de “um diálogo profundo que cresceu no decorrer do tempo entre sacerdotes e leigos; um trabalho conjunto, com pessoas de todos os setores da Obra de Maria (ou Movimento dos Focolares); uma valorização crescente de todos aqueles que participam nas igrejas locais e nos órgãos diocesanos e nacionais. (…) Sentimos que nesses últimos anos cresceu demais essa sensibilidade no interior do Movimento, e tanto a nível nacional quanto local colabora-se muito com outros Movimentos e Associações eclesiais”.

No primeiro dia, o professor Vincenzo Di Pilato, docente de Teologia fundamental e coordenador acadêmico do Centro Evangelii Gaudium destacou (texto) a figura de Maria como Mãe de Deus e Mãe da humanidade, evidenciando a raíz trinitária da encarnação e a dimensão social de Maria.

A seguir, o Cardeal Giuseppe Petrocchi aprofundou a realidade de ser Igreja hoje, destacando como é necessário ter uma bússola de valores para entender como se mover, qual igreja ser e como ser igreja. É preciso estudar e amar o contexto sócio-cultural do território em que se age e olhar os sinais dos tempos: o que o Senhor nos pede hoje.

Portanto, foi um espaço aberto a várias experiências sobre projetos educativos voltados às pessoas marginalizadas, às novas gerações, à fraternidade universal, à opção dos “pobres” para uma sinodalidade inclusiva.

O segundo dia foi enriquecido pela presença da dra. Linda Ghisoni, subsecretária do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, que levou a saudação e o encorajamento do prefeito do Dicastério, o cardeal Kevin Joseph Farrell. A dra. Ghisoni fez uma reflexão meditativa intitulada “Dimensão mariana: uma Igreja com um vulto sinodal”. Percorrendo a vida de Maria, afirmou que também nós devemos “confiar em Deus, que é fiel. Cabe a nós, longe de todo triunfalismo, permanecer de pé diante das situações mais difíceis da nossa sociedade, da nossa família, do nosso movimento. Cabe a nós nos envergonharmos se parecemos pertencentes a um grupo de perdedores, se temos entre nós covardes, e acolher o chamado a uma sempre nova generatividade, anunciando com a proximidade, o cuidado, a escuta, com inteligência, atenção e diálogo, que Deus é fiel, é próximo, é misericordioso”.

E recordou as palavras que o cardeal Farrel endereçou ao Movimento dos Focolares no seu aniversário de 80 anos: “O ideal que Chiara (Lubich) lhes transmitiu permanece sempre atual, mesmo no mundo secularizado de hoje, tão diferente daquele do início da Obra. O carisma de vocês contém em si uma grande carga vital, mas como o Santo Padre diz frequentemente: ‘não é um museu… precisa que entre em contato com a realidade, com as pessoas, com a inquietude e os problemas delas. E assim, neste encontro fecundo com a realidade, o carisma cresce, se renova e a realidade também se transforma, se transfigura por meio da força espiritual que tal carisma leva consigo’”.

Com Marina Castellitto e Carlo Fusco aprofundou-se o tema sobre a vocação universal à santidade, através da figura de alguns membros do Movimento dos Focolares, cujas causas de beatificação já foram abertas.

Depois, a experiência da Semana Social dos católicos italianos que ocorreu em Trento em julho de 2024. “Aqueles dias foram uma experiência de escuta e aprofundamento do aqui e agora do nosso tempo: interrogar-nos sobre o nosso ser comunidade de crentes na mais vasta comunidade eclesial e, portanto, política como história e trama de relações humanas”, afirmou Argia Albanese, presidente do Movimento político pela unidade (MPPU) da Itália.

O dia continuou com a experiência da Consulta Nacional das Congregações Leigas (Consulta Nazionale delle Aggregazioni Laicali (CNAL)) na presença da secretária dra. Maddalena Pievaioli. A Consulta é o local em que eles vivem de forma unitária o relacionamento com o episcopado italiano, oferecendo a riqueza de suas associações e acolhendo ativamente os programas e indicações pastorais. Os votos são de que se possa sempre mais difundir essa realidade no interior das associações.

Para fechar, houve a partilha de algumas boas práticas como o Centro Evangelii Gaudium, as experiências do Movimento Diocesano de Pesaro e Fermo e aprofundamentos sobre o diálogo ecumênico e sobre o inter-religioso, sobre o diálogo com pessoas de convicções não-religiosas e sobre aquele com o mundo da cultura.

O último dia contou com a participação de Margaret Karram e Jesús Morán, presidente e copresidente do Movimento dos Focolares. Margaret contou sua recente experiência no Sínodo para o qual foi convocada entre as nove personalidades que foram como convidados especiais. “O Sínodo, com seus 368 participantes, entre bispos e leigos, dentre os quais 16 delegados fraternos de outras Igrejas cristãs, nos ofereceu um exemplo perfeito da dimensão universal desta experiência”, afirmou Margaret. “Vínhamos de 129 nações e cada um de nós era portador da própria realidade: de paz, de guerra, de pobreza, de bem-estar, de imigração, de alegrias e dores de todos os tipos. Por isso, eu diria que a primeira mensagem, talvez a mais importante, é a dimensão profundamente missionária do Sínodo. (…) E a primeira lição que aprendemos é: caminhar juntos, testemunhar juntos, precisamos uns dos outros. A segunda lição foi a prática espiritual do discernimento que pede liberdade interior, humildade, confiança recíproca, abertura à novidade.” (…) A nossa responsabilidade é “tornarmo-nos portadores da sinodalidade em todos os âmbitos: o eclesial in primis, basta pensar em quantos dentre nós, e aqui serão muitíssimos, se empenham na própria igreja local. Mas nós, membros da Obra de Maria, não podemos nos limitar somente neste âmbito, somos um Movimento leigo e este secularismo é essencial, vem do carisma e não podemos perdê-lo. O Sínodo evidenciou em muitas ocasiões que devemos ‘alargar a nossa tenda’ para incluir todos, de fato, especialmente aqueles que se sentem fora”.

Jesús Morán fez uma meditação-reflexão sobre ser hoje Igreja de esperança. “A esperança”, afirmou, “nos faz superar o medo. A esperança anda unida com a fé e o amor, as três irmãs da vida teológica. A esperança é uma virtude comunitária, nos liberta do isolamento da angústia e nos lança no ‘nós’; um ‘nós’ que se transforma em amor concreto para com o irmão”.

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Lorenzo Russo
Photo: FocolarItalia

Chamados à esperança

Chamados à esperança

“Dar uma alma à Europa.” Este é, em síntese, o objetivo de Juntos pela Europa, a rede cristã que reúne hoje mais de 300 movimentos, organizações e comunidades cristãs da Europa ocidental e oriental. Um sinal de esperança sobretudo nos tempos de conflitos e crises.

No último dia 31 de outubro, Juntos pela Europa celebrou seu 25º aniversário. No mesmo dia em 1999 ocorreu em Augsburgo, na Alemanha, o evento que lhe daria origem com a assinatura conjunta católico-luterana da Declaração da Justificação que sanava uma profunda divisão de mais de 500 anos entre as duas Igrejas. Nos anos seguintes, construiu-se um diálogo cada vez mais profundo, baseado no perdão recíproco até chegar ao evento histórico do pacto do amor recíproco (dezembro de 2001) na igreja luterana de Mônaco, que estava lotada com mais de 600 pessoas.

Entre os primeiros promotores da rede Juntos pela Europa estão Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio, outros fundadores de movimentos e comunidades católicas italianas e evangélico-luteranas alemãs, decididos desde o começo a caminhar juntos.

Este ano, de 31 de outubro a 2 de novembro, mais de 200 representantes da rede Juntos pela Europa se reuniram em Graz-Seckau, na Áustria, para o evento anual intitulado “Chamados à esperança”, representando 52 movimentos, comunidades e organizações provenientes de 19 países europeus. Estavam presentes cristãos ortodoxos, católicos, protestantes, reformados e membros das Igrejas livres, líderes espirituais e leigos, autoridades civis e políticas.

Entre eles estava o bispo Wilhelm Krautwaschl, da diocese anfitriã, o bispo Joszef Pàl, da diocese de Timisoara (Romênia), o copresidente do Movimento dos Focolares, Jesús Morán, Reinhardt Schink, responsável da Aliança Evangélica da Alemanha, Markus Marosch, da Mesa Redonda (Áustria), Márk Aurél Erszegi, do Ministério do Exterior da Hungria, o ex-primeiro ministro da Eslovênia Alojz Peterle, o ex-primeiro ministro da Eslováquia Eduard Heger. Também participou uma delegação da Interparliamentary Assembly on Orthodoxie com o secretário geral Maximos Charakopoulos (Grécia) e o conselheiro Kostantinos Mygdalis.

Gerhard Pross (CVJM Esslingen), moderador de Juntos pela Europa e testemunha do seu início, em ocasião do 25º aniversário, destacou no seu discurso de abertura os muitos momentos de graças vividos nesses anos. O bispo Christian Krause que, em 1999, era presidente da Federação luterana mundial e foi cossignatário da “Declaração conjunta sobre a doutrina da justificação”, destacou em sua mensagem a importância desse percurso juntos.

“Considerando a situação atual da Europa, cheguei aqui desencorajado e deprimido”, afirmou um dos presentes. “Mas esses dias me encheram de uma nova coragem e esperança.” Uma senhora ucraniana concorda: “Ser embaixadores de reconciliação, levo comigo isso do encontro de Juntos pela Europa. Vivo em um país que está em guerra, onde ainda não podemos falar de reconciliação. Mas sinto que é possível ser embaixadores porque um embaixador é, por definição, um diplomata, não impõe, oferece e prepara… Essa é a missão que sinto que devo levar ali onde moro. E tentarei fazer isso procurando ser, como disse Jesús Morán, ‘artesã de uma nova cultura’”.

Em seu discurso, Jesús Morán havia afirmado: “As coisas não mudam de um dia para o outro, são importantes os artesãos, os agricultores de uma nova cultura, que, com paciência, trabalham e semeiam, esperam. (…) O juntos do qual estamos falando não é um juntos no sentido de uma união. Diferentemente da união, a unidade considera os participantes como pessoas. Seu objetivo é a comunidade… A unidade transforma as pessoas envolvidas, porque as atinge em sua essência, sem atacar sua individualidade. A unidade é mais do que um comprometimento comum: é estar unidos, ser um no comprometimento. Enquanto na união a diversidade é fonte de conflito, na unidade é garantia de riqueza. A unidade se refere a algo que está além dos participantes, que transcende e que, portanto, não é feita, mas recebida como um dom”.

Durante o encontro, os participantes renovaram solenemente o Pacto do amor recíproco, base do comprometimento comum, rezando em quatro línguas: “Jesus, queremos te amar como tu nos amaste”.

O evento se concluiu com a ideia de poder realizar um grande evento em 2027, com o objetivo de enviar um sinal potente de unidade e esperança para a Europa.

“Tenho certeza de que o trabalho, a vida, o amor e o sofrimento levarão pontos positivos para a Europa”, escreve uma senhora da Holanda na conclusão da manifestação. “É muito importante ser embaixadores de reconciliação. (…) Os artesãos são importantes e jogam uma semente de esperança.”

Lorenzo Russo

Valência (Espanha): depois da DANA, a solidariedade

Valência (Espanha): depois da DANA, a solidariedade

A província espanhola de Valência sofreu há alguns dias um dos maiores desastres naturais de sua história, depois que fortes chuvas causaram inundações massivas – a DANA – nas cidades da região.

Até o momento, somam-se 214 mortos e 32 pessoas ainda desaparecidas. Estima-se que 800.000 pessoas tenham sido atingidas, um terço dos habitantes da província de Valência. Cerca de 2000 pequenos comércios locais foram invadidos pelas águas e lama e perderam tudo. Os carros boiavam, como se fossem barquinhos de papel, pelas ruas amontoando-se uns sobre os outros. Ainda não foi feita uma lista de quantas famílias perderam sua fonte de sustento. Um grande desastre agravado pela prorrogação indefinida de obras públicas necessárias para evitar que ocorram inundações como essas.

Um grande desastre que, porém, foi cercado de uma grande rede de solidariedade. Nos dias seguintes, quando a água começou a baixar e pôde-se ver o acúmulo de lama que cobria tudo, milhares de voluntários, principalmente jovens, começaram a chegar à região do desastre caminhando com pás e vassouras para começar a trabalhar.

“Esta foi e continua sendo uma tragédia imensa. Muito além do que poderíamos imaginar. Não conseguíamos acreditar que estivesse acontecendo”, afirma José Luis Guinot, médico oncologista e presidente da Associação Viktor E. Frankl, de Valência, para o apoio emocional durante a doença, o sofrimento, a morte e qualquer perda vital. Foi convocado pelo Conselho municipal para colaborar com um centro de assistência sanitária e de apoio criado para a ocasião, para “escutar e acolher aqueles que precisam contar o que aconteceu com eles e o que estão vivendo”.

O doutor Guinot conta que alguns dias depois, ao participar da missa dominical, sentiu-se mal ao ouvir as orações somente pelos falecidos, pelas pessoas atingidas pelas inundações, sem propor algo. Assim, refletiu: “Atenção, não basta apenas orar, mesmo que devamos rezar muito. É necessário ficar perto das pessoas para dar esperança. E ali nós, como cristãos, como Movimento dos Focolares, devemos dar aquela esperança apesar das coisas difíceis que vivemos. Mas juntos e unidos é o modo como podemos ajudar a sair desta situação”.

Em um dos locais atingidos, uma família do Movimento dos Focolares com crianças pequenas teve a casa alagada. Não houve consequências graves, mas nada do que tinham presta mais: máquina de lavar, geladeira, todos os eletrodomésticos, os móveis… A ajuda das outras famílias não tardou: lavaram suas roupas, deram uma máquina de lavar nova…

Eugenio é um membro do Movimento dos Focolares que tem uma deficiência devido à poliomielite. Durante anos se dedicou à Federação dos Esportes Adaptados de Valência, da qual foi presidente. Tem muitos problemas de mobilidade e, nos dias seguintes à enchente, não pôde se mover. Mas, com o telefone ao alcance das mãos, mobilizou de sua casa associações locais de pessoas com deficiência que se organizaram para pedir ajuda. “Devemos dar ideias, ajudar a criar solidariedade, gerar doações”, esclarece José Luis Guinot, e, assim, essas associações encontraram cadeiras de rodas para aqueles que perderam as suas nas enchentes.

“Acho que é um alarme para toda a sociedade. É notável que na Espanha estamos vivendo um período de conflito político muito polarizado”, reflete José Luis. “Mas há outra sociedade de pessoas, há muitos jovens que pensamos que estão sempre grudados nas redes sociais e que, em vez disso, agora estão ali, na lama, e nos pedem uma sociedade solidária, um mundo unido, uma sociedade em que a fraternidade seja sentida. Esta mensagem, até agora, não havia sido aceita bem pelos políticos. Mas agora nenhum deles pode discutir”.

A comunidade do Movimento dos Focolares se encontrará no próximo fim de semana para pensar e fazer planos juntos, passados esses dias emergenciais, sobre o serviço que podem oferecer. Porque “daqui a dois ou três meses será necessário um suporte emocional, sentir-se parte de algo, de uma comunidade ou de uma paróquia… E ali teremos uma grande missão: usar muito o telefone, estar prontos a ir ao encontro das pessoas, deixar que nos contem, encorajá-las sabendo que o que estão vivendo é muito difícil, mas que estamos ao lado delas”. Uma tarefa na qual todos podem e devem se envolver como diz José Luis: “Mesmo se não puder sair de casa, se for idoso, se tiver crianças pequenas… tem a possibilidade de falar com seus vizinhos, de telefonar e encorajar. Transmitir um senso de comunidade… Para aqueles que estão sofrendo pela perda de pessoas queridas, de bens essenciais, não explicarei nada, darei a eles um abraço e direi: ‘Ajudaremos vocês a encontrar as forças para continuar’”. .

A comunidade do Movimento dos Focolares lançou uma campanha de arrecadação de fundos com a Fundación Igino Giordani, fundos esses que serão administrados no local para ajudar as vítimas. Os danos materiais e as perdas são incontáveis. Quem sobreviveu se encontrou sem cama, mesa, geladeira, lavadoras, carros, materiais de trabalho…

As contribuições de solidariedade podem ser feitas pela:
Fundación Igino Giordani
CaixaBank: ES65 2100 5615 7902 0005 6937
Titular: Fundación Igino Giordani
Titular: Emergencia DANA España
Se desejar deduzir a sua doação, envie seus dados fiscais para info@fundaciongiordani.org

Carlos Mana
Foto: © UME/via fotos Publicas

“Ela, da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver.” (Mc 12,43)

“Ela, da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver.” (Mc 12,43)

Estamos na conclusão do capítulo 12 do Evangelho de Marcos. Jesus está no templo de Jerusalém, observa e ensina. Através do seu olhar, assistimos a uma cena repleta de personagens: pessoas indo e vindo, os encarregados do culto, figuras ilustres com longas túnicas, pessoas ricas depositando suas fartas oferendas no tesouro do templo.

De repente entra em cena uma viúva. Ela faz parte de uma categoria de pessoas social e economicamente desfavorecidas. Despercebida na multidão, ela deposita duas moedinhas no tesouro. Mas Jesus a percebe, chama seus discípulos e os instrui:

“Ela, da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver.”

“Em verdade eu vos digo…” São essas as palavras que introduzem os ensinamentos importantes. O olhar de Jesus, concentrado na viúva pobre, convida-nos a olhar na mesma direção: é ela o verdadeiro modelo do discípulo.

A sua fé no amor de Deus é incondicional: seu tesouro é o próprio Deus. E, ao entregar-se totalmente a Ele, a viúva deseja também doar tudo o que pode em favor dos mais pobres. Esse abandono confiante no Pai é, de certo modo, a antecipação do mesmo dom de si que Jesus realizaria em breve com a sua paixão e morte. É a “pobreza em espírito” e a “pureza de coração” que Jesus proclamou e viveu.

Isso significa “depositar a nossa confiança não nas riquezas, mas no amor de Deus e na sua providência. […] Somos ‘pobres em espírito’ quando nos deixamos nortear pelo amor para com os outros. É então que partilhamos o que temos, colocando-o à disposição de quem quer que esteja em necessidade: um sorriso, o nosso tempo, os nossos bens, as nossas capacidades. Tendo doado tudo por amor, somos pobres, ou seja, estamos esvaziados, anulados, livres, e temos o coração puro.”[1]

A proposta de Jesus revoluciona a nossa mentalidade: no centro do seu pensamento estão os pequenos, os pobres, os últimos.

“Ela, da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver.”

Esta Palavra de Vida nos convida antes de tudo a renovar a nossa plena confiança no amor de Deus e a nos confrontarmos com o seu olhar, para ver além das aparências, sem julgar e sem depender do julgamento dos outros, a realçar o positivo de cada pessoa.

Ela nos sugere que a lógica do Evangelho é a doação total, que constrói uma comunidade pacificada porque nos impulsiona a cuidarmos uns dos outros. Ela nos anima a viver o Evangelho no dia a dia, sem alarde; a doar com generosidade e confiança; a viver com sobriedade, na partilha. Ela nos convoca a dedicar atenção aos últimos, para aprender com eles.

Venant nasceu e foi criado no Burundi. Ele conta: “Na aldeia, minha família podia orgulhar-se de ter uma ótima propriedade, que garantia uma boa colheita. Nossa mãe, consciente de que tudo era providência do Céu, recolhia os primeiros frutos e os distribuía regularmente na vizinhança, começando pelas famílias mais necessitadas e destinando a nós mesmos apenas uma pequena parte do que sobrava. Com esse exemplo aprendi o valor da doação desinteressada. Assim, entendi que Deus estava me pedindo que eu desse a Ele a melhor parte; mais ainda, que desse a Ele toda a minha vida”.

Org.: Letizia Magri
com a comissão da Palavra de Vida


© Foto: Leonard Mukooli – Pixabay

[1] Cf. LUBICH, Chiara. Pobreza que é riqueza. Palavra de Vida, novembro de 2003.