Se a espiritualidade dos Focolares, centrada no amor ao irmão, é uma expressão do Evangelho, então também a “perfeição nas virtudes”, segundo a tradição cristã, deve se concretizar na relação com os outros, com os irmãos. Essa é a convicção que Chiara Lubich expõe no texto a seguir.

Para podermos fazer de nossa vida uma Santa Viagem, e para que esta tenha a conclusão desejada, A Imitação de Cristo, livro de meditação rico em espiri­tualidade, diz que são necessárias algumas qualidades que exigem todo nosso esforço pessoal, como o com­pleto desprezo pelas coisas do mundo, o desejo ardente de progredir na virtude, o amor ao sacrifício, o fervor na penitência, a renúncia de si mesmo e o saber suportar toda e qualquer adversidade…

Estas são qualidades que todos nós devemos possuir. Porém é necessário que nos interroguemos: segundo a nossa espiritualidade, de que modo podemos adquiri-las?

A resposta é clara e segura: nós não somos cha­mados por Deus a realizar tudo isto através de uma vida monástica e separada do mundo. Somos chamados a permanecer em meio ao mundo e a chegar a Deus através do irmão, portanto, mediante o amor ao próximo e o amor mútuo.

Empenhando-nos em caminhar por esta estrada toda original e evangélica ao mesmo tempo, como por encanto encontraremos a nossa alma enriquecida por todas estas virtudes.

É necessário o desprezo do mundo: e não existe maior desprezo a alguma coisa do que ignorá-la, não a le­vando em consideração.

Se estivermos completamente projetados no outro, a pensar no outro, a amá-lo, nós não consideraremos o mundo, e ele será ignorado, portanto, desprezado. Isso porém não nos dispensa do dever de fazer toda a nossa parte para afastar as suas sugestões negativas, quando elas nos irrompem.

E preciso progredir na virtude? É com o amor que o conseguiremos. Por acaso, não está escrito: “Correrei pelos caminhos dos vossos mandamentos, porque sois vós que dilatastes com o amor o meu coração?1.”

Se, amando o próximo, corremos no cumprimen­to dos mandamentos de Deus, significa que estamos progredindo.

É necessário o amor ao sacrifício. Amar os outros significa justamente sacrificar a si mesmo para se dedicar aos irmãos. O amor cristão é sinônimo de sacrifício, mesmo se traz em si grande alegria.

É preciso o fervor da penitência. E através de uma vida de amor que encontraremos a melhor e a principal penitência.

É necessária a renúncia a si mesmo. No amor para com os outros está sempre implícita uma renúncia a si mesmo.

É necessário, enfim, saber suportar todas as adversidades. E no mundo, porventura, os sofrimentos não são causados pela convivência com os outros?

Devemos saber suportar a todos e amá-los por amor a Jesus Abandonado. Com isto superaremos muitos obstáculos em nossa vida.

Sem dúvida, no amor ao próximo encontraremos o modo por excelência para fazer da vida uma “Santa Viagem”. […]

Chiara Lubich

(em uma conexão telefônica, Rocca di Papa, 27 de novembro de 1986)

Tirado de: “Qualità impegnative per chi vuol fare un santo viaggio”, in: Chiara Lubich, Conversazioni in collegamento telefonico, Città Nuova Ed., 2019, pag. 261.

1) Sl 118, 32

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