A escolha mais radical na vida de Chiara Lubich foi amar Jesus sobretudo na sua maior dor: o seu abandono na cruz. Mas amar ‘Jesus Abandonado” significa, portanto, amar acima de tudo aquele próximo que sentimos estar mais “distante” de nós.

“Todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, terá de responder em juízo”1. […] Voltamos ao tema do amor ao irmão. É útil, é necessário, é importante para nós reconsiderá-lo. O objetivo geral [do nosso Movimento] é a perfeição da caridade. Amor ao irmão! Amor cada vez mais sentido, profundo, aperfei­çoado, lapidado.

Às vezes parece difícil dobrar o nosso coração a um amor mais refinado do que aquele que já nutrimos pelos nossos irmãos. Nosso coração ainda é um pouco de pedra, nosso amor é rude, superficial, apressado.

Por quê? Porque ainda temos o coração ocupa­do pelo nosso eu, em dar importância a nós próprios. Mesmo sem percebermos, somos egoístas e soberbos.

Constatamos isso quando sofremos uma dura prova espiritual (daquelas que, como um terremoto, parecem arrancar tudo com a raiz, tendo como efeito desprender-nos de nós mesmos, de nossas coisas, humilhar-nos, destruir o nosso orgulho), quando sofremos uma dura prova espiritual, experimentamos um amor mais compreensivo, mais profundo, mais fácil, mais espontâneo pelos nossos irmãos.

Disto podemos deduzir que a pobreza e a hu­mildade estão na base da caridade.

A pobreza e a humildade.

Mas como adquiri-las, como conquistá-las sem ter de esperar pelas tem­pestades espirituais? […] É preciso “viver o outro” […] e isto pressupõe o não voltar-se para si mesmo, pressupõe uma total pobreza e humildade. […] Diante de cada próximo, coloquemo-nos na ati­tude de acolher perfeitamente em nós a sua vida. […] E uma vez que falamos de irmãos, perguntemo-nos: A quem devemos amar primeiro? Quem devemos amar mais? A quem dar preferência?

Na nossa vida escolhemos Jesus Abandonado. Prefiramos aquelas pessoas que, pelas suas condições ou pela situação em que se encontram, nos lembram a fisionomia de Jesus Abandonado: Quantos, embora católicos, vivem longe da Igreja; e também todos aqueles que, de várias maneiras, estão de certa forma distantes da verdade que é Cristo, e também os que não professam fé alguma.

Voltemos nossa atenção es­pecialmente para todos estes.

Precisamos cuidar daqueles que nos foram con­fiados, com cartas, visitas e telefonemas? Comecemos pelas pessoas que, de certa forma, estão mais distantes de nós.

Reavivemos, então, o amor aos irmãos “fazen­do-nos um” com eles, a ponto de viver a sua vida, se podemos dizer assim.

Comecemos pelos que percebemos estar mais distantes do nosso modo evangélico de pensar e viver. […] Jesus Abandonado nos espera lá. É lá o nosso lugar.

Chiara Lubich

(em uma conexão telefônica, Rocca di Papa, 12 de fevereiro de 1987)

Tirado de: “Cominciare con l’amare i più lontani”, in: Chiara Lubich, Conversazioni in collegamento telefonico, Città Nuova Ed., 2019, pag. 273.

1) Mt 5,22a

2 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *