Movimento dos Focolares
Um sinal de unidade

Um sinal de unidade

Em 2025 a festa da Páscoa
será celebrada no mesmo dia por todas as Igrejas cristãs.
As mensagens da presidente do Movimento dos Focolares,
Margaret Karram, para esta festa
e de alguns representantes de várias Igrejas.

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Foto @ Pixabay

O caminho que une

O caminho que une

Uma Páscoa de esperança mas, sobretudo, para ser vivida em conjunto. 1700 anos após o Concílio de Niceia, neste ano de 2025, as várias Igrejas cristãs celebram a Páscoa no mesmo dia, domingo, 20 de abril.

Uma coincidência maravilhosa que serve de apelo a todos os cristãos para darem um passo decisivo em direção à unidade; um apelo a redescobrirem-se unidos na pluralidade.

Diante de uma época marcada por contínuas divisões, em todas as frentes, e, mais do que nunca, nesta ocasião que nos aproxima do mistério da Ressurreição, partilhamos algumas palavras pronunciadas por Chiara Lubich em Palermo, em 1998, sobre “Uma espiritualidade para o diálogo”, especificamente, uma “espiritualidade ecuménica”.

Um convite direto a responder ao chamamento do amor recíproco, não individualmente, mas coletivamente; a possibilidade de olhar para aquele Jesus Abandonado na Cruz como uma luz que, mesmo no sacrifício extremo, não só guia, mas torna-se um caminho seguro por onde podemos mover os nossos passos.

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Foto: © Carlos Mana – CSC audiovisivi

Igino Giordani e a atualidade da sua mensagem de paz

Igino Giordani e a atualidade da sua mensagem de paz

Guerras, extermínios e massacres, fortes polarizações, onde até mesmo o pacifismo pode se tornar um divisor, essa é a situação atual em que estamos imersos.

A figura de Igino Giordani (1894 -1980), um homem de paz por ser uma pessoa justa e coerente, nos da hoje algumas pistas para elevar o olhar e manter a esperança, tentando um diálogo onde parece impossível, para esfacelar ideologias cristalizadas e absolutismos, para construir uma sociedade inclusiva, para reinventar a paz a partir da unidade.

Uma das testemunhas mais vívidas da cultura de paz no século XX, seu pacifismo se inspira diretamente no Evangelho: matar outro homem significa assassinar o ser que foi criado à imagem e semelhança de Deus. Giordani, portanto, anseia pela paz, emprega seu tempo de todas as formas, dialoga com qualquer pessoa em prol da paz, não recua nem mesmo quando se trata de respaldar a ratificação do Pacto do Atlântico e de garantir a segurança e a defesa da Europa e da Itália… Podemos dizer que seu pacifismo é abrangente, utiliza todos os meios possíveis.

Vamos folhear alguns de seus escritos.

“… explodiu a Primeira Guerra Mundial. […] E na praça irromperam comícios belicistas, aos quais eu participava para protestar contra a guerra; a tal ponto que, certa vez, uma personalidade que eu estimava, ao ouvir meus gritos, advertiu-me: – Mas você quer que o matem!…

[…] Em “Maggio Radioso” de 1915, fui convocado à guerra. […]

A trincheira! Nela, da escola, entrei na vida, nos braços da morte com as salvas de canhão. A lama, o frio, a sujeira amorteceram a amarga descoberta: que os soldados eram todos contra o homicídio chamado guerra, porque o homicídio era a morte do homem: todos a detestavam…
[…] Estávamos em Oslavia, próximo a algumas ruínas chamadas Pri-Fabrisu: a lembrança da agonia (luta) sofrida naqueles lugares foi compilada mais tarde, durante minha internação hospitalar de três anos, em um pequeno poema intitulado As faces dos mortos. Lembro-me do último verso que dizia: “Esta maldição da guerra”
[2]».

Giordani foi gravemente ferido e, ao retornar das trincheiras, permaneceu três anos no hospital militar de Milão, com danos irreversíveis em uma perna. Seu pacifismo era, portanto, fundamentado em uma vida vivida. Comprometido com a vida política, ele sempre se dispôs ao diálogo com todos, mesmo com aqueles cujo pensamento era oposto ao seu, convencido de que o homem deve ser sempre bem acolhido e compreendido. Ele nunca se isolou em posições absolutas. É assim que narra seu discurso no Parlamento em favor do Pacto Atlântico:

“Lembro-me de um discurso que fiz em 16 de março de 1949, na Câmara, […] sobre o Pacto Atlântico, que foi apresentado por muitos apenas sob o aspecto do anticomunismo, ou seja, dos preparativos bélicos contra a Rússia. […] Eu afirmei que toda guerra é um fracasso dos cristãos. Se o mundo fosse cristão, não deveria existir guerras… […] A guerra, acrescentei, é um homicídio, um deicídio (a execução de Deus sob a forma de efígie, ou seja, no homem que é sua imagem) e um suicídio” [3]».

O discurso de Giordani foi aplaudido tanto pela direita quanto pela esquerda. Paciente tecelão de relações, ele destacou o valor positivo de uma escolha da Itália que poderia ser interpretada a favor da guerra. Giordani estava firmemente convencido de que para alcançar a paz é preciso tentar qualquer caminho, para além dos posicionamentos estratégicos, e esperava que a política cristã fosse capaz de se desvencilhar das polarizações que estavam ocorrendo, para se erguer como uma força pela paz.

Em 1953 ele escreveu:

«A guerra é um homicídio em grande escala, revestido de uma espécie de culto sagrado […]. Ela é para a humanidade como a doença para a saúde, como o pecado para a alma: é destruição e extermínio, e investe a alma e o corpo, os indivíduos e a coletividade.

[…] O fim pode ser a justiça, a liberdade, a honra, o pão: mas os meios produzem tamanha destruição de pão, de honra, de liberdade e de justiça, além de vidas humanas, inclusive de mulheres, crianças, idosos e inocentes de todo tipo, que anulam tragicamente o próprio fim que se propunha.

Definitivamente, a guerra não serve a outro propósito senão o de destruir vidas e riquezas
[4]».

Giordani nos lembra, portanto, que a paz é o resultado de um projeto: um projeto de fraternidade entre os povos, de solidariedade para com os mais frágeis, de respeito recíproco. É assim que, também hoje, se constrói um mundo mais justo.

Elena Merli
(Centro Igino Giordani)

Foto © Archivio CSC Audiovisivi


[1] Igino Giordani, L’inutilità della guerra, Città Nuova, Roma, 2003, (terza edizione), p. 57
[2] Igino Giordani, Memorie di un cristiano ingenuo, Città Nuova, Roma 1994, pp.47-51
[3] Idem, p.111
[4] Igino Giordani, L’inutilità della guerra, Città Nuova, Roma, 2003, (terza edizione), p. 3

Relatório Proteção da pessoa 2024: uma conversão integral

Relatório Proteção da pessoa 2024: uma conversão integral

Publicamos o relatório do ano de 2024 sobre as atividades do Movimento dos Focolares no campo da proteção da pessoa, colocando como epígrafe as palavras que papa Francisco dirigiu à Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores e com as quais efetivamente atualizou o mandato com o qual a havia constituído há 10 anos. Sentimo-nos fortemente chamados a atuar essa “conversão integral” à qual o Papa apela, que nunca está totalmente realizada, mas nos leva a nos questionarmos continuamente, para termos um olhar humilde, sempre atento, protetor e acolhedor para com cada pessoa. Exige que continuemos com perseverança no caminho da formação e da proximidade autêntica, conscientes da necessidade de mudança, para que cada pessoa se sinta segura, amada e respeitada em nossos ambientes e nas várias atividades.

Do ponto de vista da Proteção, há três elementos que caracterizaram o ano que passou, no Movimento dos Focolares: a escuta e o envolvimento das vítimas e das testemunhas de vários tipos nos processos de reparação e de formação dos responsáveis; a ampliação de cursos e eventos de formação para todos os participantes e a continuidade da construção da estrutura regulatória, com a atualização do Protocolo para os casos de abuso e a redação das Diretrizes para os serviços de escuta e acolhimento.

De fundamental importância foi o encontro, em novembro passado, dos responsáveis pelo Movimento no mundo com algumas pessoas que foram vítimas de abuso sexual ou abuso de poder por parte de membros do Movimento dos Focolares. As vítimas contaram suas histórias de grande sofrimento e as graves consequências na própria vida e na das comunidades das quais faziam ou ainda fazem parte. Alguns membros da família de uma das vítimas também estavam presentes, oferecendo seu testemunho sobre as graves repercussões que o abuso tem sobre todos os membros da família. As palavras de um participante expressam bem a importância daquele momento: “ Escutar essas pessoas marcou um antes e um depois. Com delicadeza e clareza, disseram que o Movimento falhou naquilo que é o coração do seu carisma: a unidade, o amor ao próximo, pois em muitos casos não só fomos de alguma forma corresponsáveis pelos abusos cometidos, mas também deixamos as pessoas sozinhas para enfrentar a própria dor ”.

Além disso, a contribuição das vítimas e o envolvimento de profissionais de várias disciplinas, os quais não fazem parte do Movimento, foram fundamentais para o trabalho realizado no Centro Internacional e nas regiões, em vista dos documentos produzidos durante, da formação à Proteção das comunidades do Movimento dos Focolares no mundo e para o planejamento e a abertura de alguns espaços de escuta e acolhimento.

Leer o Relatório Proteção da pessoa 2024

(PDF descarregável em Português)

Também foi estabelecida uma Comissão de Estudo sobre os abusos de poder e espirituais ocorridos dentro do Movimento. O objetivo é investigar as causas do problema, a fim de mudar as práticas nocivas e pôr em prática uma prevenção adequada. O estudo, que está em andamento, conta ainda com aconselhamento externo de especialistas em várias áreas: psicólogos, pedagogos e juristas. Essa análise é apoiada e encorajada pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida e, embora esteja em uma fase inicial, sua grande importância é reconhecida, pois é evidente que a criação e a aplicação de normas e protocolos não são suficientes, mas é necessário aprofundar as dinâmicas que levaram às diversas formas de abuso.

Por fim, foram atualizados, implementados e produzidos documentos normativos e diretrizes (como ilustrado abaixo), fruto também de uma colaboração frutífera com a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, que acompanhou e promoveu os novos passos dados.

Stefania Tanesini

[1] Mensagem do Santo Padre à Assembleia Plenária da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, 25 de março de 2025.

Encontro ecumênico: com esperança e coragem

Encontro ecumênico: com esperança e coragem

“Hoje mais do que nunca, no mundo em que vivemos, tão cheio de divisões, de tragédias, de conflitos, onde as pessoas não dialogam, encontrar-se juntos tem um significado muito grande”, disse Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, em uma entrevista publicada no News.va durante os dias do Encontro ecumênico intitulado Called to hope – Key players of dialogue (Chamados à esperança – Protagonistas do diálogo) promovido pelo Centro Uno, a secretaria internacional pela unidade dos cristãos do Movimento dos Focolares. As palavras dela exprimem uma certeza que permaneceu no coração e na experiência das 250 pessoas de 40 países e 20 Igrejas cristãs e das mais de 4.000 conectadas em todo o mundo que participaram do evento de forma online.

O Encontro, que aconteceu no Centro Mariápolis de Castel Gandolfo, de 26 a 29 de março de 2025, foi aberto com a contribuição de Jesús Morán, copresidente do Movimento dos Focolares, e por Callan Slipper, teólogo anglicano que afirmou: “O ecumenismo, ajustando nossas interações pessoais no interior da comunidade cristã, permite à Igreja ser ela mesma. Aquela que serve a humanidade e serve também a nós. A nossa saúde espiritual diminui sem isso, assim como todas as outras dimensões da vida humana não podem atingir seu objetivo sem a reconciliação trazida por Jesus”. E Morán concluiu: “Unidade, mais que união e cristianismo como modo de ser, mais que uma doutrina, pode ser dois percursos frutuosos para o ecumenismo em resposta ao que a história nos pede hoje”.

O encontro propôs um método para caminhar na unidade: o diálogo, aquele que emerge da espiritualidade do Movimento dos Focolares, o diálogo da vida, o diálogo do povo, e aquele que emerge do assim chamado ecumenismo receptivo. A professora Karen Petersen Finch, estadunidense e presbiteriana, com sua experiência, destacou a importância do diálogo na doutrina da fé, normalmente reservado somente aos teólogos, aos responsáveis das Igrejas e aos comitês oficiais de diálogo, mas que envolve cada vez mais o povo.

Um dia foi dedicado a uma peregrinação a Roma, com a visita à Basílica de São Lourenço mártir e à Abadia das Três Fontes, onde a tradição coloca o martírio de São Paulo. Em um clima de recolhimento, esse dia foi, como disse um dos participantes, “um encontro com os primeiros mártires da Igreja unida que, com sua autenticidade de vida, fé e testemunho, nos enchem de coragem para anunciar Cristo hoje”. Depois, na Basílica de São Paulo fora dos muros, a peregrinação se concluiu com uma oração ecumênica. O ecumenismo tem sua raiz bíblica na oração, a começar por Jesus. Ele mesmo rezando pediu ao Pai: “Que todos sejam um”. Suas palavras, em várias passagens das Escrituras, nos convidam a pedir qualquer coisa ao Pai “em seu nome, juntos e de acordo”. E assim, juntos, recolhidos em unidade, sacerdotes e leigos de todas as confissões cristãs presentes pediram juntos ao Pai a paz em todos os cantos da Terra e a reconciliação entre todos os cristãos.

Entre os temas abordados durante o encontro, estavam também as recorrências significativas deste ano: os 1700 anos do Concílio de Niceia, a Páscoa, que será celebrada no mesmo dia por todas as Igrejas cristãs, e os 60 anos de abolição da excomunhão entre a Igreja de Roma e a de Constantinopla. O dr. Martin Illert, representante do Concílio Ecumênico das Igrejas, em referência ao Concílio de Niceia, afirmou: “Tenho certeza de que a oração e a reflexão comum nos fazem avançar no caminho da unidade, porque recordamos tanto as nossas raízes comuns quanto a nossa missão compartilhada”. E o monsenhor Andrea Palmieri, do Dicastério pela promoção da unidade dos cristãos, observou: “Com certeza estes eventos são importantes, mas (…) as palavras devem ser seguidas de decisões concretas, proféticas. Tenho certeza de que as reflexões iniciadas este ano, contribuirão para o amadurecimento de decisões que poderão sinalizar o futuro do caminho ecumênico”.

Como a sinodalidade pode contribuir com o ecumenismo? Falou-se sobre isso em um painel formado por pessoas que participaram do Sínodo da Igreja católica: três delegados, membros de várias Igrejas, um bispo católico e uma enviada especial compartilharam a experiência vivida na qual a participação ativa de todos contribuiu com o diálogo afetivo e efetivo com uma “forte dimensão ecumênica”, como disse S. Em. Khajag Barsamian, da Igreja armena apostólica, “que evidencia a unidade, as experiências espirituais compartilhadas e o respeito recíproco entre os cristãos”. “O Sínodo todo, como exercício espiritual, teve uma influência profunda sobre a minha compreensão de mim mesmo e meu ministério, mas também sobre a minha Igreja”, não hesita em afirmar o Rev. Dirk G. Lange, da Federação Luterana mundial. O método de trabalho durante o Sínodo, a “Conversa no Espírito”, para o monsenhor Brendan Leahy, bispo católico de Limerick (Irlanda), contribuiu para me tornar “mais atento no meu trabalho e escutar mais no meu ministério, reconhecendo a semente da verdade em todas as pessoas”, enquanto para a dra. Elizabeth Newman, da Aliança Mundial Batista, a sinodalidade tem sua base “na consciência e na prática, que o próprio ponto de vista não deve prevalecer. Não se deve ‘vencer’”. Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, afirma: “Nós sabemos que a esperança é uma virtude e não podemos perdê-la. Devemos nutri-la, cultivá-la em nós para poder dar-lhe aos outros” e convida todos a aumentar a esperança e a fé com “gestos, mesmo que pequenos, para o próximo: gestos de solidariedade, de comunhão e de abertura… só assim podemos ter esperança”.

Portanto, um chamado à esperança que, durante o encontro, foi feito de reflexões e aprofundamento, enriquecido por sinais concretos e testemunhos de vida que ilustram o caminho de ação ecumênica a nível mundial (Global Christian Forum, JC2033), internacional (Ikumeni-America Latina, Insieme per l’Europa, John17), local (do Brasil às Filipinas, da Irlanda do Norte à Sérvia, da Holanda à Venezuela, da Alemanha a Uganda…) e que está envolvendo Igrejas, sacerdotes e leigos, teólogos e estudiosos, adultos e jovens, indivíduos e grupos, todos verdadeiros protagonistas do diálogo.

Carlos Mana

É possível rever a transmissão do Encontro no canal do Youtube de focolare.org

(Foto: © Javier García, Joaquín Masera, Carlos Mana – CSC Audiovisivi)