A alegria dos primeiros cristãos – como de resto a alegria dos cristãos de todos os tempos e séculos, quando o cristianismo é compreendido na sua essência e vivido na sua radicalidade – a alegria dos primeiros cristãos era uma alegria verdadeiramente nova, jamais experimentada. Não tinha nada a ver com a hilaridade, com a alegria normal, com o bom humor. Ou, como diria Paulo VI, não tinha nada a ver com “a alegria exaltante da vida e da existência”, com “a alegria portadora de paz da natureza, com a alegria do silêncio”. (…) Não era essa. São alegrias belas…
Mas a alegria dos primeiros cristãos era diferente. Era uma alegria semelhante àquela atração que arrebatou os discípulos quando receberam o Espírito Santo.
Era a alegria de Jesus. Porque Jesus tem a sua paz e também a sua alegria.
E a alegria dos primeiros cristãos, que jorrava espontânea do profundo do próprio ser, saciava-os completamente.
Eles tinham encontrado realmente aquilo que o homem de ontem, de hoje e de sempre precisa e procura. Tinham encontrado Deus, a comunhão com Deus e esta os saciava completamente e os levava à plena realização. Eram criaturas.
De fato, o amor, a caridade com a qual Cristo por meio do Batismo e dos outros sacramentos enriquece o cristão, pode ser comparada a uma pequena planta. Quanto mais cresce a raiz (à medida que se ama o próximo), mais veloz cresce a planta, o caule. Isto é, quanto mais se ama o próximo, o coração fica cada vez mais invadido pelo amor de Deus. Contudo, não é um amor, uma comunhão com Deus em que se acredita pela fé, mas é uma comunhão que se experimenta. E isso é felicidade; esta é a felicidade, amamos e nos sentimos amados.
Assim era a alegria dos primeiros cristãos… Era essa a felicidade dos primeiros cristãos, adultos ou jovens como vocês, que se exprimia em liturgias maravilhosas, festivas, com muitos hinos de louvor e de ação de graças.
“Felizes os construtores de paz, porque serão chamados filhos de Deus”. (Mt 5, 9)
Você sabe quem são os construtores de paz de que fala Jesus?
Não são aqueles que chamamos de pacíficos, que gostam da tranquilidade, que não suportam conflitos e por sua índole procuram acalmar os ânimos, mas frequentemente revelam no fundo o desejo de não serem incomodados, de não terem problemas, aborrecimentos.
Os construtores de paz não são também aquelas boas pessoas que, confiando em Deus, não reagem quando são provocadas ou ofendidas. Os construtores de paz são os que amam de tal maneira a paz, a ponto de não ter medo de intervir nos conflitos, a fim de conseguir que ela se realize entre os que vivem na discórdia. […]
Só quem tem a paz dentro de si pode levá-la aos outros.
É preciso levar a paz, antes de tudo, através dos próprios atos de cada momento, vivendo em pleno acordo com Deus e com sua vontade.
Os construtores de paz, por conseguinte, se esforçam para criar laços e estabelecer relações entre as pessoas, amenizando as tensões, desarmando as discórdias e indiferenças com que se deparam em muitos ambientes de família, de trabalho, de escola, de esporte, entre as nações, etc. […]
A televisão, o jornal e o rádio estão lhe mostrando diariamente que o mundo é um grande hospital e os países são, muitas vezes, grandes doentes. Eles têm extrema carência de pessoas que construam a paz, a fim de curar os relacionamentos, frequentemente tensos e insustentáveis, que poderiam provocar guerras, ou que já as fizeram explodir. […]
A paz é uma característica do relacionamento que os cristãos procuram estabelecer com as pessoas que encontram ocasionalmente ou com as quais convivem. É um relacionamento de amor sincero, sem falsidades nem enganos, sem qualquer forma de violência implícita ou de rivalidade, ou de concorrência, ou de egocentrismo.
Hoje em dia, desenvolver e estabelecer esse tipo de relacionamento no mundo é algo revolucionário. De fato, as relações que existem normalmente na sociedade são o contrário disso e, infelizmente, quase sempre não mudam.
Jesus sabia que a convivência humana era assim e, por isso, pediu aos seus discípulos que tomassem sempre a iniciativa, sem esperar que os outros correspondam e sem pretender que haja reciprocidade. De fato, ele diz: “Amai os vossos inimigos… Se cumprimentais apenas os vossos irmãos, o que estais fazendo de extraordinário”? […]
Jesus veio trazer a paz. E toda a sua mensagem e suas atitudes têm esta característica.
E é justamente este novo tipo de relacionamento, estabelecido com as pessoas, que desmascara os falsos relacionamentos existentes na sociedade e revela a violência escondida nas relações entre os homens.
Em geral, o homem não gosta que esta verdade seja mostrada, e existe o risco, em casos extremos, que ele responda com o ódio e a violência contra quem ousa incomodar a convivência e as estruturas existentes até então.
Jesus, que veio promover a paz, foi morto pela violência do homem.[…] “Felizes os construtores de paz, porque serão chamados filhos de Deus”.
Como é que você poderá viver esta Palavra?
Primeiramente difundindo por toda parte o amor. […] Em segundo lugar, você poderá intervir com prudência quando, ao seu redor, a paz estiver ameaçada. Muitas vezes basta escutar com amor, até o fim, as partes em discórdia e surge imediatamente uma solução pacífica.
Um meio não desprezível para diminuir certas tensões que podem nascer entre as pessoas é o humor. Assim diz um antigo ditado hebreu: “O reino futuro pertence àqueles que sabem fazer humor, porque com isso se tornam construtores de paz entre os homens em conflito”.
Ainda mais, você não ficará sossegado enquanto os relacionamentos rompidos – às vezes por um nada – não forem restabelecidos.
Talvez você possa ser construtor de paz na comunidade ou movimento de que participa, promovendo iniciativas que visem desenvolver uma consciência maior da necessidade da paz. […]
O importante é que você não fique parado, vendo passar os poucos dias de sua vida sem fazer alguma coisa pelos que estão ao seu redor, sem preparar-se convenientemente para a vida que o espera.
Chiara Lubich
(da Parole di Vita, Opere di Chiara Lubich, Citta Nuova Editrice, Roma 2017, pp. 196-197)
Na sexta-feira, dia 9 de maio, no “Focolare meeting point”, no centro de Roma (Itália) e com transmissão online, aconteceu a premiação do concurso intitulado “Uma cidade não basta. Chiara Lubich, cidadã do mundo ”. Lançado entre as escolas, o concurso é dedicado à figura da fundadora do Movimento dos Focolares, uma mulher que soube unir educação, política e diálogo pela paz.
Nesta quinta edição o tema proposto era: “Explorar o conceito de paz, em relação ao pensamento de Chiara Lubich”. Foram inscritos 118 trabalhos (individuais e de grupo) apresentados por 35 Instituições escolares, de 15 regiões italianas.
Este é um concurso promovido por New Humanity, Centro Chiara Lubich e Fundação Museu Histórico do Trentino, e realizado em colaboração com o Ministério da Instrução e do Mérito, da Itália. Afirma-se como uma ocasião, oferecida a docentes e alunos, para refletir sobre os valores da fraternidade, da acolhida e do diálogo entre culturas, temas centrais no pensamento e na ação de Chiara Lubich.
Os trabalhos premiados
Escolas secundárias de segundo grau
1º lugar: Construir o infinito, classe 5ª A Linguística, Colégio A. Maffei – Riva del Garda (Trento). As alunas e os alunos, utilizando imagens pertinentes e com criatividade, souberam apresentar as suas reflexões sobre o tema da paz, conectando-o com elementos característicos do pensamento de Chiara Lubich que muito enfatizou as relações de proximidade: onde há amor há unidade, e onde há unidade há paz.
2º lugar, com igual mérito: Viver a paz, classe 2º H, Escola de ensino médio Quinto Orazio Flacco – Bari. Foi apreciado, no trabalho escrito, a especial acentuação dada à paz como uma ação a ser vivida no cotidiano. Foram significativas as referências feitas ao pensamento de Chiara Lubich, que deixou uma herança de fraternidade e compromisso concreto por um mundo unido.
2º lugar, com igual mérito: Olhar, de Elena Scandarelli, 3ª AU, Colégio Maria Auxiliadora – Riviera San Benedetto (Pádua). De maneira simples e eficaz, a imagem comunica com precisão a importância dada por Chiara Lubich ao fato de saber olhar o mundo indo além dos seus desafios, vivendo-os com um olhar de esperança.
Escolas secundárias de primeiro grau
1º lugar: 1920-2011, de Alessia Tombacco, 3ª C, Instituto Elisabetta “Betty” Pierazzo – Noale (Veneza). O texto apresentado oferece uma reflexão original, da qual emerge a atualidade do pensamento de Chiara Lubich e a possibilidade de um encontro vital com ela, inclusive num tempo diferente daquele em que Chiara viveu. Rica de confiança no presente e esperança para o futuro foi a imagem do “homem-célula”:
2º lugar: Vozes de fraternidade, classe 3ª D, Instituto João XXIII – Vila San Giovanni (Régio Calábria). O trabalho, realizado em multimídia, se destacou especialmente pelo envolvimento dos alunos: as primeiras testemunhas de um fragmento de mundo unido e fraterno. Particularmente significativa a referência à possibilidade de ser “agentes de paz” a partir das relações mais próximas.
Escolas primárias
1º lugar: Uma semente de unidade, Aurora Pellegrino, 5ª A, Instituto Radice-Alighieri – Catona (Régio Calábria). A composição poética exprime uma reflexão original sobre o tema da paz, sob a luz da contribuição de Chiara Lubich, mulher do diálogo.
2º lugar: Uma cidade não basta, 4ª A, Instituto Antonio Gramsci – Tissi (Sassari). O trabalho, realizado em multimídia, apresenta, de maneira original e convincente, espaços e valores de um mundo ideal onde, com o amor, é possível superar qualquer forma de descriminação.
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Uma Páscoa de esperança mas, sobretudo, para ser vivida em conjunto. 1700 anos após o Concílio de Niceia, neste ano de 2025, as várias Igrejas cristãs celebram a Páscoa no mesmo dia, domingo, 20 de abril.
Uma coincidência maravilhosa que serve de apelo a todos os cristãos para darem um passo decisivo em direção à unidade; um apelo a redescobrirem-se unidos na pluralidade.
Diante de uma época marcada por contínuas divisões, em todas as frentes, e, mais do que nunca, nesta ocasião que nos aproxima do mistério da Ressurreição, partilhamos algumas palavras pronunciadas por Chiara Lubich em Palermo, em 1998, sobre “Uma espiritualidade para o diálogo”, especificamente, uma “espiritualidade ecuménica”.
Um convite direto a responder ao chamamento do amor recíproco, não individualmente, mas coletivamente; a possibilidade de olhar para aquele Jesus Abandonado na Cruz como uma luz que, mesmo no sacrifício extremo, não só guia, mas torna-se um caminho seguro por onde podemos mover os nossos passos.
Como vemos o mundo e os nossos companheiros de viagem na aventura da vida? Essa é uma questão de importância vital em uma época como a nossa, marcada pela polarização e discórdias, pela solidão e distanciamento entre os que têm condições econômicas favoráveis e os que não as têm, sem deixar de mencionar a presença cada vez mais difundida da inteligência artificial. No entanto, ao mesmo tempo, cresce a sede de harmonia e de verdade. […]
Chiara Lubich menciona […] que tudo depende do “olho” com o qual olhamos para as pessoas. Se eu enxergar com o olho do coração, que é o olho do Amor, não irei me deter nas aparências, mas captarei a realidade mais profunda que está escondida em cada ser humano. E do olhar do coração deriva o modo de agir, a qualidade dos relacionamentos, a capacidade de tornar-se próximo, de estar perto do outro (1).
Em 1961 Chiara escreveu:
Se entras profundamente no Evangelho […] te encontras, de repente, como se estivesses no cume de uma montanha. Portanto já no alto, já em Deus, mesmo que, olhando para o lado, percebes que a montanha não é uma montanha, mas uma cadeia de montanhas, e a vida para ti é caminhar ao longo dos cumes até o fim.
Cada palavra de Deus é o mínimo e o máximo que Ele te pede. Por isso, quando lês: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19,19), tens a medida máxima da lei fraterna.
O próximo é um outro tu mesmo e, como tal, deves amá-lo. Se ele chora, chorarás com ele; se ri, rirás com ele; se é ignorante, far-te-ás ignorante com ele, e se perdeu o pai, identificar-te-ás com a dor dele. […]
Porque, para ti, o que vale é Deus, que é Pai de todos. E não busques desculpas para o amor. O próximo é quem quer que passe ao teu lado, pobre ou rico, bonito ou feio, ignorante ou culto, santo ou pecador, de tua pátria ou estrangeiro, sacerdote ou leigo, quem quer que seja.
Procura amar quem passa ao teu lado no momento presente da vida e descobrirás em teu espírito novas fontes de forças antes não conhecidas: elas darão sabor à tua vida e respostas aos teus mil porquês.
Chiara Lubich.
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cf. Povilus, J; Ciccarelli, L. Proximidade, o estilo de Deus (2024), Introdução p.7
Pensamentos 1961, in Escritos Espirituais/1, 2.ed., São Paulo: Cidade Nova, 1998, p. 167-168