Movimento dos Focolares
Em direção a uma pedagogia da paz

Em direção a uma pedagogia da paz

Sou Anibelka Gómez, voluntária do Movimento dos Focolares em Santiago de los Caballeros (República Dominicana), professora e atual diretora de uma escola pública.

A educação não é somente um direito, mas um instrumento potente para transformar nossas comunidades. Como educadores, temos o poder de influenciar a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Portanto, dentro de mim nasceu, a um certo ponto, uma grande preocupação: como posso contribuir na construção do “sonho” de unidade que Jesus pediu ao Pai? Quais ações concretas posso fazer para garantir que a educação seja um motor de mudança em direção à paz nas nossas comunidades?

Assim, no ano passado, nasceu a ideia de fazer algo que fosse além das fronteiras da nossa escola. Sabendo que tínhamos poucas forças, mas acreditando no poder de Jesus que prometeu estar sempre presente entre aqueles que se amam, organizamos um congresso internacional intitulado: “Favorecer a pedagogia da paz” em Santiago de los Caballeros. Decidimos preparar esse congresso baseando-nos no amor recíproco entre os organizadores, membros do Movimento dos Focolares da República Dominicana e de Porto Rico. Participaram 140 professores, psicólogos, diretores e profissionais da educação, representando 55 centros educativos, dentre os quais a Escola Café con Leche, de Santo Domingo, uma escola na qual se comprometem a viver a arte de amar proposta por Chiara Lubich.

Nas imagens: Congresso Internacional “Fomentar a Pedagogia da Paz” (Foto: Anibelka Gómez)

Para realizar esse grande evento, a providência de Deus se manifestou por meio da ajuda, o suporte e a colaboração do diretor Rafael Liriano e do conselheiro Ysmailin Collado, do Distrito Educacional 08-04, da Associação Nacional dos Diretores (ASONADEDI), de alguns empreendedores e da comunidade de Santiago, que nos ajudou com a logística.

Graças a esse congresso, foi despertado o interesse de conhecer melhor as propostas e iniciáticas educativas do Movimento dos Focolares, como o Dado da Paz e a Metodologia “6×1” (seis passos para um objetivo). Por esse motivo, depois de alguns meses, ocorreu o seminário “Cultura da paz e metodologia 6×1”. Participaram 20 escolas representadas por seus diretores e professores, com o objetivo de multiplicá-lo para os professores de outras escolas.

Esquerda: Workshop sobre FormaT; direita: Workshop sobre a Porca da Paz e Metodologia “6 x 1” (Foto: Anibelka Gómez)

Esse workshop evidenciou a urgência entre os participantes de implementar na escola a novidade do Dado da Paz e da Metodologia 6×1. Alguns diretores e professores afirmaram que a implementação desses programas ajudará as crianças a promover uma cultura de paz pelo bem de uma sociedade melhor. Além disso, para dar continuidade a esse projeto, nasceu a proposta de realizar a formação FormaT, um curso online voltado aos formadores que acompanhar crianças, adolescentes e jovens em vários ambientes educativos. O objetivo é compartilhar experiências, competências e instrumentos para a formação e o acompanhamento. Esse programa ocorreu de maneira online da Colômbia, com a participação de todos os professores de 14 centros educativos. A formação ocorre todos os meses desde setembro, é composta por 9 módulos e se concluirá com a entrega de um diploma aos participantes.

A implementação desses módulos, criou uma forte ligação entre as escolas, tanto que no período da quaresma, organizamos um retiro com aqueles que participam do FormaT, seguido de um fim de semana com os diretores participantes. É impressionante para nós ver como Jesus multiplica os talentos, toca os corações e os frutos vão para além do que podemos imaginar dando vida a experiências de unidade.

Anibelka Gómez
Foto da capa: © Alicja-Pixabay

Bruxelas: 75 anos da Declaração Schuman

Bruxelas: 75 anos da Declaração Schuman

A Europa continua falando de si, no centro de tensões internacionais e de debates calorosos cujo êxito incide na vida de seus cidadãos: são quase meio milhão vivendo na União Europeia. Paz versus defesa, guerra ou paz comercial, escolhas sobre energia, políticas de desenvolvimento e justiça social, identidade e diversidade, abertura e fronteiras: os temas na agenda são numerosos e, diante das mudanças do cenário interno e externo – antes de tudo a guerra da Ucrânia –, a releitura e a atualização da profecia de Robert Schuman e dos pais fundadores é não só atual, mas necessária.

Passaram 75 anos desde que o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, no dia 19 de maio de 1950, fez seu discurso revolucionário em Paris, que serviu de base para o processo da integração europeia. O 15 de maio 2025, na sede do Parlamento Europeu em Bruxelas, em um painel de especialistas, expoentes de vários Movimentos cristãos e jovens ativistas deram voz à visão da unidade europeia como instrumento de paz.

O evento ocorreu por iniciativa de Juntos pela Europa juntamente com alguns parlamentares europeus, a convite da parlamentar eslovaca Miriam Lexmann – ausente por motivos familiares – e reuniu na manhã do dia 15 de maio, uma centena de pessoas da Bélgica, Itália, Alemanha, Holanda, Eslováquia, Áustria, França, Grécia, Romênia. Estavam presentes cristãos católicos, ortodoxos e de Igrejas Reformadas; representantes da Comunidade Emanuel, ACM, Movimento dos Focolares, Schoenstatt, Comunidade de Santo Egídio, Quinta Dimensão, Comunidade Papa João XXIII: a variedade típica da rede de Juntos pela Europa. Quem lhe deu voz foi o moderador de Juntos pela Europa, Gerhard Pross, testemunha do começo de tudo: “Para nós, é importante exprimir a força da fé ao moldar a sociedade. Porém, não estamos interessados no poder ou no domínio, mas em levar esperança, amor e a força da reconciliação e de estar juntos, intrínsecos no Evangelho”.

Entre o público – e entre os relatores – destaca-se um forte grupo juvenil: 20 alunos da escola Spojená škola Svätá de Bratislava. Estudam cidadania ativa e direito europeu. Estavam em Bruxelas com seus professores para uma experiência que pode marcar seu percurso profissional e de vida. Entre eles, estava Maria Kovaleva: “Venho da Rússia e, para mim, Europa significa poder estar aqui, independentemente da minha proveniência ou da situação política no meu país ou na Eslováquia, e falar livremente – bem aqui, no coração da Europa. Para mim, a Europa sempre foi um lugar no qual não importa qual é a sua religião ou nacionalidade. Todos têm o direito de falar, e de falar sem censura. Esse é o tipo de Europa com que Robert Schuman sonhava”.

Peter, 16 anos, diz estar sinceramente impressionado, encontrando-se pela primeira vez em um local institucional onde são tomadas decisões importantes. É o representante dos estudantes e o que viveu em Bruxelas é, para ele, uma inspiração para o futuro, quando, por meio do gerenciamento ou comprometimento na política, pode exercer um papel de liderança.

Samuel tem 17 anos. Define esses dias como “uma experiência extraordinária para descobrir algo mais sobre o resto da Europa, como funciona a política, como o Parlamento trabalha; acho que posso falar em nome de toda a classe: foi extraordinário!”.

Outra representação estudantil vem da Itália. São 10 estudantes de ciências políticas e relações internacionais de LUMSA, em Roma. Daniele, primeiro ano de ciências políticas, ficou tocado em especial pelo momento da tarde: a oração ecumênica na “Chapel for Europe”. “Gosto do trabalho de Chiara Lubich, criar pontes para reunir todos, e pode-se ver o empenho de cada um que estava presente. Não é um encontro de sonhadores, mas uma busca concreta que leva a algo sólido.” Para Diego é um momento no qual a memória foi renovada e leva a continuar. É inspirado pelo mundial que se respira em Bruxelas, “um ponto de início para desenvolvimentos futuros” e gostou particularmente das falas dos parlamentares europeus.

Foto: H. Brehm / K. Brand / M. Bacher

De fato, de manhã estavam presentes Antonella Sberna (Conservadores e Reformistas europeus), vice-presidente do Parlamento Europeu e responsável pela aplicação do artigo 17º do TFUE, Leoluca Orlando e Cristina Guarda (Verdes). “Vocês são o exemplo do que a UE pode fazer pelos nossos polos e civilizações”, afirma a vice-presidente, dirigindo-se ao Juntos pela Europa. E convida os jovens presentes a “serem críticos, mas apaixonados”, a “estudarem bem a Europa” para estarem “juntos no serviço de corrigir o que não nos agrada e garantir a paz nas nossas fronteiras, como exemplo de união dos novos em respeito à soberania”.

Leoluca Orlando convida a “acolher o projeto de futuro que estava na ação de Schuman, cultivando uma memória inquieta” e lembra o princípio de fraternidade, que faz superar as polarizações históricas entre direita e esquerda sobre liberdade e igualdade. E, como exemplo de fraternidade, reporta “a experiência profética de unidade entre católicos e luteranos, graças à intuição de Chiara Lubich, em Ottmaring, na Baviera, um lugar no coração da Guerra dos Trinta Anos”.

Para Cristina Guarda, paz é a palavra-chave: “Como Movimentos Cristãos, peço que façam parte desta discussão que demanda a nossa coerência na busca pela paz. E, portanto, façamos escolhas justas e votemos corretamente para respeitar a paz”.

E é justamente a um projeto de paz que a Declaração Schuman aspira: Jeff Fountain, do Schuman Centre, oferece uma leitura das fundamentações espirituais da Declaração, do seu “corajoso discurso de três minutos”: “seu projeto não era somente político ou econômico. Lida em um nível mais profundo, a Declaração Schuman revela que o projeto é profundamente moral, espiritual, enraizado nos valores do coração. As instituições que contribuíram para inspirar – mesmo que imperfeitas – são uma defesa contra o retorno à política do domínio e da exclusão, do medo e do ódio”.

Mas quem deveria dar uma alma à Europa? Quem convida a refletir é Alberto Lo Presti: “Não deveríamos esperar que tal alma seja produto das instituições políticas europeias e transmitida a seus cidadãos. Não gostaria de viver em uma sociedade na qual as instituições me inculcam, no cérebro, uma visão do mundo. Quem faz isso, geralmente, são as organizações políticas totalitárias que, também aqui na Europa conhecemos bem: por exemplo o nazifascismo e o comunismo. Veremos a alma da União Europeia quando tal alma estiver visível nas escolhas cotidianas de seus cidadãos. Como Juntos pela Europa, queremos acompanhar a Europa na realização de sua vocação”.

Maria Chiara De Lorenzo
(de https://www.together4europe.org/)

“Rimarishun”: vamos dialogar. Uma opção intercultural na América Latina

“Rimarishun”: vamos dialogar. Uma opção intercultural na América Latina

Na América Latina existem 826 povos indígenas, com uma população de cerca 50 milhões de pessoas, o que significa 8% da população total, e estima-se que outros 200 vivam em isolamento voluntário. Em tal contexto, desde a chegada do Movimento dos Focolares nestas terras, deu-se importância à busca do diálogo entre pessoas e grupos pertencentes às grandes matrizes culturais que compõem a região: as culturas originárias do continente americano, as culturas hispânicas-portuguesas-francesas e as culturas africanas, dos povos que foram levados às Américas. Prova disso são os numerosos membros do Movimento que pertencem a estes grupos étnicos.

Cerca de 100 pessoas, representando quase todos os países da América Latina e Caribe, reuniram-se em Atuntaqui, no norte do Equador, de 1 a 4 de maio de 2025, para participar do “Rimarishun”: uma experiência de inter-culturalidade com bases no exercício do diálogo entre a cosmovisão andina e caribenha dos povos nativos e o carisma da unidade. Trata-se de um espaço de diálogo que teve início há alguns anos, no Equador, e gradualmente está sendo difundido em todos os países da América Latina.

Estamos conscientes do sofrimento que, no decorrer da história, marcou as nossas relações de latino-americanos – explicam – por causa do racismo e da separação, que criaram obstáculos a uma relação simétrica entre as culturas e levaram a uma ruptura das relações entre pessoas de diferentes grupos culturais, dando origem a relacionamentos sociais injustos. Por este motivo, em 2017, no Equador, iniciamos um percurso de fraternidade, que em língua quichwa chamamos “Rimarishun” (vamos dialogar), fazendo da inter-culturalidade uma opção de vida, e utilizando o diálogo fraterno como método ”.

O Congresso, concebido como uma viagem, uma “peregrinação” vital, começou com a transferência dos participantes para a comunidade quichua de Gualapuro. Ficou logo claro que o objetivo era criar espaços inter-culturais que edificassem relacionamentos entre grupos de povos, nacionalidades ou culturas diferentes, onde o fundamental é encontrar o outro, acolher-se e cuidar um do outro, como irmãos e irmãs. Manuel Lema, da comunidade quichua, deu as boas vindas a todos embaixo de uma grande barraca, montada para a ocasião: “Podemos gerar um modo de pensar diferente, de ver o mundo de formas diversas, mas, ao mesmo tempo, sermos uma coisa só“. E Jesus Moran, copresidente do Movimento dos Focolares – vindo da Itália com um pequeno grupo de membros do Conselho geral, trazendo a saudação da presidente, Margaret Karram -, acrescentou: ” Estamos construindo algo novo. Diante de uma sociedade hiper-desenvolvida descobrimos que existe uma sabedoria mais profunda que provém dos povos nativos ”. Todos, então, subiram à colina, para participar do “Guatchacaram”, o rito de agradecimento à Mãe Terra. Mais tarde, após ter compartilhado o almoço, tudo se tornou uma festa que exprimia fraternidade, com músicas e danças. No final do dia foram plantadas algumas árvores, em memória daqueles que deram impulso a este diálogo e que não estão mais entre nós, uma delas dedicada ao Papa Francisco.

Outra etapa dessa viagem foi a visita à casa do bispo Leonidas Proaño (1910-1988), “o apóstolo dos índios”. A sua dedicação às populações indígenas mais pobres e exploradas é um forte exemplo de inter-culturalidade. Neste ambiente, começaram a se formar as “mingas” – grupos para sentir e pensar juntos – sobre vários temas: economia, ecologia, educação, espiritualidade, cultura e racismo, concebendo a reciprocidade como princípio central da relação.

Foram compartilhados, com grande respeito e levando em consideração as diversidades, os ritos dos afro-descendentes do Caribe e da América Central e o rito maya, que estão ligados pelo profundo respeito pela natureza, a “Mãe Terra” e o transcendente. Testemunhos como o do Movimento dos Focolares nos territórios dos povos indígenas, das escolas para a recuperação dos conhecimentos e da cultura ancestral, ou do sistema matemático ameríndio, compartilhados neste contexto, permitiram um enriquecimento recíproco.

A “peregrinação” seguiu até a Universidade Católica do Equador, em Ibarra, para um momento aberto à comunidade acadêmica e ao público. Participam de uma mesa-redonda, Custódio Ferreira (Brasil), diplomado em pedagogia e didática, especializado em história da África, que falou das “feridas da realidade”:” o racismo que existe hoje em toda a América Latina e Caribe é uma ferida aberta que sangra. Sua cura e restauração exigem um diálogo fraterno e, neste sentido, a inter-culturalidade – como é experimentada no Rimarishun – é uma resposta concreta para dar a partida neste processo de cura ”.

Osvaldo Barreneche (Argentina), doutor em história, responsável do Centro para o diálogo com a cultura conteporânea, do Movimento dos Focolares, falou de “fraternidade e cuidado com a terra, por meio de alguns escritos do Papa Francisco“.

Jesus Moran (Espanha), copresidente do Movimento dos Focolares, que viveu por 27 anos na América Latina, afirmou: “Este trabalho de inter-culturalidade é muito importante e é conduzido com admirável fidelidade em várias partes da América Latina. Para nós, que somos cristãos, significa que podemos descobrir, nas culturas nativas, aspectos da revelação de Cristo que, até agora, não foram suficientemente considerados ”.

Maydy Estrada Bayona (Cuba), doutora em Ciências Filosóficas e professora na Universidade de Havana, levou os presentes à “Cosmovisão afro-caribenha”. Monica Montes (Colômbia), doutora em Filologia hispânica, professora e pesquisadora na Universidade de La Sabana, referiu-se à “Fraternidade e cuidado no pensamento latino-americano”. Jery Chavez Hermosa (Bolívia), fundador, na cidade de Córdoba, Argentina, da organização dos migrantes andinos de cultura Aymara, Quechua e Guarani, concluiu com uma apresentação dinâmica que envolveu todos os presentes.

O encontro concluiu-se com uma Santa Missa enculturada, com danças, cantos tradicionais e tambores, numa igreja decorada com flores e pétalas de rosa, celebrada por D. Adalberto Jimenez, bispo do Vicariato de Aguarico, que participou ativamente do encontro. Adalberto Jiménez, vescovo del Vicariato di Aguarico, che ha partecipato attivamente all’incontro. O Pai Nosso foi recitado em 12 línguas, uma após a outra, como demonstração da inter-culturalidade vivida nestes dias.

Partindo da narrativa evangélica sobre a multiplicação dos pães, em sua homilia D. Adalberto, convidou todos a olharem ao futuro: “Este Jesus, este Deus que nos une nos diversos nomes, nos diversos ritos, é a história que acabamos de contar, os ritos da vida, da unidade. Hoje vamos embora com um pouco mais de luz, que é fogo e ilumina. É o que Chiara Lubich e o Papa Francisco nos deixaram, eles estão presentes e nos chamam ao coração da inter-culturalidade. Obrigada Rimarishun ”.

Carlos Mana

Foto: © Carlos Mana – Ivan Izurieta

A coragem de florescer: o dia 1º de maio em Loppiano

A coragem de florescer: o dia 1º de maio em Loppiano

A edição 2025 do tradicional festival dos jovens do Movimento dos Focolares, traz ao palco as fragilidades e os conflitos vividos hoje pelos jovens, e os transforma em uma experiência artística imersiva e de esperança. Muitos workshops e o espetáculo final, ao vivo, para dizer a todos: You are born to bloom”, “Você nasceu para florescer”.

“Lembre-se de que você nasceu para florescer, para ser feliz”. No ano do Jubileu da esperança, é esta a mensagem que os jovens organizadores do 1º de maio de Loppiano (Figline e Incisa Valdarno – Florença, Itália) querem transmitir a seus coetâneos que irão participar da edição de 2025 deste festival, que acontece desde 1973, na Mariápolis permanente do Movimento dos Focolares, por ocasião do Dia do Trabalhador.

O tema

O evento, que tem como título “You are born to bloom, a coragem de florescer” encerra as fragilidades, as feridas e os conflitos vividos hoje por adolescentes e jovens, sublimados em uma experiência artística, imersiva e de crescimento.

«Nós cremos que aquele conflito que muitas vezes nos toca, nas fases mais difíceis da vida, possa se tornar uma oportunidade para renascer mais fortes e conscientes de quem somos – explicam Emily Zeidan, síria, e Marco D’Ercole, italiano, da equipe internacional de organizadores do festival. Como nos dizia o Papa Francisco, “o conflito é como um labirinto”, não devemos ter medo de atravessá-lo, porque “os conflitos nos fazem crescer”. Mas, “do labirinto não é possível sair sozinhos, saímos junto com alguém que nos ajuda”. No 1º de maio de Loppiano, queremos lembrar a todos a beleza de uns e de outros, inclusive nos momentos de vulnerabilidade».

Uma temática de rude atualidade, esta do 1º de maio, em Loppiano, se considerarmos que, na Itália, 1 de cada 5 menores de idade sofre de algum distúrbio mental (depressão, solidão social, evasão escolar, autolesão, ansiedade, distúrbios do comportamento alimentar, tendências suicidas), segundo os dados da Sociedade Italiana de Neuropsiquiatria da Infância e da Adolescência. Aqueles que estão abaixo dos 35 anos, ao invés, vivem a precariedade do trabalho, são mal retribuídos, sofrem desigualdades de origem e de gênero (“Giovani 2024: il bilancio di una generazione”, EURES), não se sentem compreendidos pelos adultos em suas exigências e vivências, especialmente quando se fala de medos e fragilidades, aspirações e sonhos.

«O Papa Francisco tinha uma grande confiança nos jovens. Não perdia uma ocasião para lembrar-nos que o mundo precisa de nós, dos nossos sonhos, de horizontes vastos aos quais olhar juntos, para “colocar as bases da solidariedade social e da cultura do encontro”», salientam Emily e Marco. Por isso “Você nasceu para florescer” será um show construído juntos, onde o público não será apenas expectador, mas parte integrante da narrativa: todos os que participarem serão chamados a tornarem-se protagonistas do espetáculo, dando o melhor de si, com os outros.

O programa

Durante a manhã os participantes do festival terão a oportunidade de explorar as próprias fragilidades e belezas, nos workshops de arte, motivacionais e experienciais, conduzidos por psicólogos, formadores, consultores, artistas e performer.

Entre estes estará também o Gen Verde (Gen Verde International Performing Arts Group), que preparará os jovens para subirem ao palco e a fazer parte dos elencos das coreografias, dos corais, do grupo teatral e da banda, no espetáculo final. Os workshops do Gen Verde são desenvolvidos no âmbito do projeto “M.E.D.I.T.erraNEW: Mediation, Emotions, Dialogue, Interculturality, Talents to foster youth social inclusion in the Mare Nostrum” (Mediação, Emoções, Diálogo, Interculturalidade, Talentos para promover a inclusão social de jovens no Mare Nostrum), Erasmus Plus – Juventude – parcerias de cooperação.

O ponto alto do festival será à tarde, com a construção coletiva do espetáculo: todos os participantes tomarão parte ativa da história, não haverá distância entre palco e público.

Entre os artistas que confirmaram sua participação estão Martinico e a banda AsOne.

“You are born to bloom, a coragem de florescer” é realizado graças à contribuição da Fondazione CR Firenze.

O 1º de maio de Loppiano é um evento da Semana Mundo Unido 2025 (1-7 de maio de 2015), laboratório e exposição global de sensibilização à fraternidade e à paz.

Para informações e inscrições contatar: primomaggio@loppiano.it – +39 055 9051102 www.primomaggioloppiano.it

Tamara Pastorelli

Igino Giordani e a atualidade da sua mensagem de paz

Igino Giordani e a atualidade da sua mensagem de paz

Guerras, extermínios e massacres, fortes polarizações, onde até mesmo o pacifismo pode se tornar um divisor, essa é a situação atual em que estamos imersos.

A figura de Igino Giordani (1894 -1980), um homem de paz por ser uma pessoa justa e coerente, nos da hoje algumas pistas para elevar o olhar e manter a esperança, tentando um diálogo onde parece impossível, para esfacelar ideologias cristalizadas e absolutismos, para construir uma sociedade inclusiva, para reinventar a paz a partir da unidade.

Uma das testemunhas mais vívidas da cultura de paz no século XX, seu pacifismo se inspira diretamente no Evangelho: matar outro homem significa assassinar o ser que foi criado à imagem e semelhança de Deus. Giordani, portanto, anseia pela paz, emprega seu tempo de todas as formas, dialoga com qualquer pessoa em prol da paz, não recua nem mesmo quando se trata de respaldar a ratificação do Pacto do Atlântico e de garantir a segurança e a defesa da Europa e da Itália… Podemos dizer que seu pacifismo é abrangente, utiliza todos os meios possíveis.

Vamos folhear alguns de seus escritos.

“… explodiu a Primeira Guerra Mundial. […] E na praça irromperam comícios belicistas, aos quais eu participava para protestar contra a guerra; a tal ponto que, certa vez, uma personalidade que eu estimava, ao ouvir meus gritos, advertiu-me: – Mas você quer que o matem!…

[…] Em “Maggio Radioso” de 1915, fui convocado à guerra. […]

A trincheira! Nela, da escola, entrei na vida, nos braços da morte com as salvas de canhão. A lama, o frio, a sujeira amorteceram a amarga descoberta: que os soldados eram todos contra o homicídio chamado guerra, porque o homicídio era a morte do homem: todos a detestavam…
[…] Estávamos em Oslavia, próximo a algumas ruínas chamadas Pri-Fabrisu: a lembrança da agonia (luta) sofrida naqueles lugares foi compilada mais tarde, durante minha internação hospitalar de três anos, em um pequeno poema intitulado As faces dos mortos. Lembro-me do último verso que dizia: “Esta maldição da guerra”
[2]».

Giordani foi gravemente ferido e, ao retornar das trincheiras, permaneceu três anos no hospital militar de Milão, com danos irreversíveis em uma perna. Seu pacifismo era, portanto, fundamentado em uma vida vivida. Comprometido com a vida política, ele sempre se dispôs ao diálogo com todos, mesmo com aqueles cujo pensamento era oposto ao seu, convencido de que o homem deve ser sempre bem acolhido e compreendido. Ele nunca se isolou em posições absolutas. É assim que narra seu discurso no Parlamento em favor do Pacto Atlântico:

“Lembro-me de um discurso que fiz em 16 de março de 1949, na Câmara, […] sobre o Pacto Atlântico, que foi apresentado por muitos apenas sob o aspecto do anticomunismo, ou seja, dos preparativos bélicos contra a Rússia. […] Eu afirmei que toda guerra é um fracasso dos cristãos. Se o mundo fosse cristão, não deveria existir guerras… […] A guerra, acrescentei, é um homicídio, um deicídio (a execução de Deus sob a forma de efígie, ou seja, no homem que é sua imagem) e um suicídio” [3]».

O discurso de Giordani foi aplaudido tanto pela direita quanto pela esquerda. Paciente tecelão de relações, ele destacou o valor positivo de uma escolha da Itália que poderia ser interpretada a favor da guerra. Giordani estava firmemente convencido de que para alcançar a paz é preciso tentar qualquer caminho, para além dos posicionamentos estratégicos, e esperava que a política cristã fosse capaz de se desvencilhar das polarizações que estavam ocorrendo, para se erguer como uma força pela paz.

Em 1953 ele escreveu:

«A guerra é um homicídio em grande escala, revestido de uma espécie de culto sagrado […]. Ela é para a humanidade como a doença para a saúde, como o pecado para a alma: é destruição e extermínio, e investe a alma e o corpo, os indivíduos e a coletividade.

[…] O fim pode ser a justiça, a liberdade, a honra, o pão: mas os meios produzem tamanha destruição de pão, de honra, de liberdade e de justiça, além de vidas humanas, inclusive de mulheres, crianças, idosos e inocentes de todo tipo, que anulam tragicamente o próprio fim que se propunha.

Definitivamente, a guerra não serve a outro propósito senão o de destruir vidas e riquezas
[4]».

Giordani nos lembra, portanto, que a paz é o resultado de um projeto: um projeto de fraternidade entre os povos, de solidariedade para com os mais frágeis, de respeito recíproco. É assim que, também hoje, se constrói um mundo mais justo.

Elena Merli
(Centro Igino Giordani)

Foto © Archivio CSC Audiovisivi


[1] Igino Giordani, L’inutilità della guerra, Città Nuova, Roma, 2003, (terza edizione), p. 57
[2] Igino Giordani, Memorie di un cristiano ingenuo, Città Nuova, Roma 1994, pp.47-51
[3] Idem, p.111
[4] Igino Giordani, L’inutilità della guerra, Città Nuova, Roma, 2003, (terza edizione), p. 3