Movimento dos Focolares
Uma viagem que enriqueceu minha vida

Uma viagem que enriqueceu minha vida

Paola Iaccarino Idelson é uma bióloga nutricionista, especialista em alimentação. Mora em Nápoles, no sul da Itália. Eu soube, por meio de uma amiga querida, que ela viajou para o Brasil durante o verão deste ano. Curioso, tentei encontrá-la nas redes sociais. Fiquei encantado com as fotos lindas de sua estadia no Brasil e com as histórias intensas que revelam uma experiência profunda. Portanto, decidi contatá-la para uma entrevista.

Paola, de Nápoles para o Brasil: por que decidiu fazer essa viagem?

É uma longa história. Estive no Brasil pela primeira vez há 14 anos, em Florianópolis. E fui para lá porque sou apaixonada pela língua portuguesa. Não queria ir como turista, então, por meio de uma amiga que é médica, fui ajudar um colega dela, como voluntária. Acompanhamos um sacerdote em sua missão cotidiana. Ele tinha aberto uma escola para ajudar adolescentes a não entrar no crime, e abriu uma oficina de conserto de pranchas de surfe, para oferecer um trabalho digno aos jovens do local. Durante três semanas, pesei e medi as crianças daquela escola: foi uma experiência tão forte, intensa e bonita que, quando voltei para a Itália, tive de removê-la da minha mente para pode continuar a viver a minha vida como antes.

E depois? O que aconteceu?

No ano passado, terminei com o meu namorado, que não gostava do Brasil. Então disse a mim mesma: chegou o momento de retomar aquele sonho. Porém, dessa vez, eu também queria fazer uma experiência não como turista, mas ajudando a comunidade local de alguma maneira. Falei com uma amiga focolarina, e ela me colocou em contato com a comunidade do Movimento dos Focolares da Amazônia.

Eu queria fazer um trabalho voluntário como nutricionista, a minha profissão, mas estava disposta a tudo. Uma das focolarinas do Brasil, Leda, me falou sobre o Barco Hospital “Papa Francisco”, no qual eu poderia trabalhar. Então, no fim, parti em agosto de 2024. Leda foi um anjo, organizou todo o meu itinerário, colocando-me em contato com a comunidade do Movimento dos Focolares e cuidou de mim durante todo o período em que estive no Brasil.

O Barco Hospital Papa Francisco: o que você fez lá?

Não havia um trabalho específico para mim, que sou especialista em alimentação. Havia uma dezena de médicos, cada um com o seu consultório. Ajudei como podia. O despertador tocava às 6h da manhã porque, a partir das 6h30, já chegavam pessoas de vilarejos próximos para as consultas. Era preciso acolhê-los, cadastrar quem chegava e controlar o fluxo. Fiz consultas nutricionais e entendi que havia um problema de sobrepeso e obesidade, principalmente entre as mulheres. Então, me perguntei muito sobre as razões daquelas condições de obesidade, era um problema bem comum naquele lugar. Falando com algumas pessoas, percebi que havia um problema de sedentarismo e de difusão do consumo de bebidas cheias de açúcar, doces e carne.

Você pôde ver com os próprios olhos tanta pobreza…

Vi pessoas realmente pobres, mas muito dignas, que conseguem fazer dar estudo aos filhos. Fiquei muito tocada com uma família. Eles têm 10 filhos, via-se que viviam em condições muito precárias. O pai também tem algum problema de saúde. Apesar disso, os pais conseguiram fazer com que os filhos estudassem e uma das filhas está para se formar como fotógrafa. Uma grande dignidade, apesar daquelas condições de vida.

Você viu a abundância de diversidade, natureza, cor de pele das pessoas, comidas, cheiros, sabores…

Foi uma das coisas que mais me marcou nesta viagem e que levarei comigo. Uma diversidade enorme no modo de viver, principalmente a variedade incrível de frutas, verduras, cereais, flores, plantas, as cores dos rios, os animais, as pessoas. Quando eu cadastrava quem chegava para as consultas, havia um campo no software para preencher a cor da pele e eu tinha quatro opções ligadas à diversidade das etnias, das origens, da cor da pele… Viver essa diversidade foi uma experiência forte e tenho certeza de que é só uma grande riqueza.

Como a comunidade do Movimento dos Focolares a acolheu e ajudou nessa experiência?

Foi fundamental em toda a minha experiência no Brasil. Eu me senti acolhida em todos os lugares por onde passei. Vi com meus próprios olhos a arte de amar a todos. Sempre senti um amor para comigo, uma abertura muito grande e desinteressada. Isso me fez muito bem, realmente uma acolhida comovente.

Você foi para lá para doar tempo e profissionalismo, mas recebeu muito mais. Essa viagem mudou um pouco a sua vida?

Olha, eu tenho 50 anos, não 20. Mas por que estou dizendo isso? Porque aos 20 anos, ou talvez aos 30, ainda tinha a ideia de ir a um lugar para doar. Agora, é muito, muito claro para mim que a possibilidade de me doar me restitui alguma coisa. Eu sabia muito bem que a palavra “voluntariado” incluía bastante coisa. Doar o próprio tempo faz bem. Primeiramente a quem o doa. Eu, com certeza, fiz uma experiência de partilha muito forte com a comunidade do Movimento dos Focolares. Apesar de não conhecer tão bem a espiritualidade, aprecio bastante todas as suas outras formas de expressão do amor concreto. Acho que foi uma experiência realmente muito, muito, muito bonita. Essa ideia de poder viver juntos, colocando em comum tudo o que tem, é justamente a ideia da comunidade. Poder fazer o bem aos outros e viver com os outros é uma coisa de que eu realmente gosto muito.

Essa viagem me enriqueceu demais. Teve e terá um grande impacto na minha vida. Ela me fez conhecer pessoas maravilhosas, realidades completamente diferentes da minha. Entendi que a partilha é realmente possível.

Quando você voltou para Nápoles, teve uma acolhida inesperada!

Sim, muitas pessoas que encontrei quando voltei, e que ainda encontro hoje, me dizem que leram meus diários de viagem nas redes sociais, e me agradecem por ter compartilhado essa experiência. Estou recebendo muitos agradecimentos e várias pessoas me dizem que querem saber mais sobre essa viagem. Então, tive a ideia de organizar as fotografias e mostrá-las em um evento, no qual também posso contar alguma coisa a mais. Isso me tocou muito: vivemos em uma sociedade na qual não existe mais tempo para os relacionamentos. Ouvir pessoas me pedindo para passar um tempo juntas para saber mais sobre a minha experiência é algo muito lindo.

Para concluir, vamos rebobinar a fita e olhar tanto para a primeira quanto para a segunda viagem ao Brasil: como você vive hoje a sua vida?

Minha primeira experiência brasileira de muitos anos atrás, como eu disse, tive de removê-la. Agora, estou fazendo um grande esforço para não remover essa última viagem, para não esquecer, para manter essa experiência também na minha vida em Nápoles, na Itália. Quero manter essa memória viva. Por quê? Porque tem um sentido na minha vida que me dá tanta força e me gratifica muito.

A primeira coisa que fiz, ao voltar a Nápoles, foi contatar novamente a minha professora de português, que é brasileira, para aprender melhor a língua. Outra coisa que eu gostaria de fazer é uma geminação entre uma escola infantil napolitana e uma brasileira, que está sendo construída. Seria lindo ajudar aquelas crianças, enviando mochilas e todo o material necessário. Mas, sobretudo, gostaria de fazer com que compartilhassem as experiências entre crianças brasileiras e italianas.

Lorenzo Russo
(foto: © Paola Iaccarino Idelson)

Um laboratório de sinodalidade

Um laboratório de sinodalidade

Falta pouco para iniciar-se a terceira edição do curso de formação sobre a sinodalidade organizado pelo Centro Evangelii Gaudium do Instituto Universitário Sophia. Qual é o balanço que se pode fazer?

Estamos na terceira edição e até agora este curso contou com uma centena de participantes de todo o mundo e dezenas de docentes de várias disciplinas. É um curso intercultural, interlinguístico e interdisciplinar. As aulas são um minilaboratório porque os encontros em grupo são uma parte integrante do curso.

Graças às plataformas online, é possível acompanhar o curso de todas as partes do mundo. O horário na Europa é no fim da tarde (das 18h às 21h, em Roma), mas há pessoas que se conectam às 3h da manhã em Cingapura e Malásia; e outras, no horário do almoço nas Américas.

Tivemos uma boa participação. Ao todo, 380 inscritos. Os estudantes podem somente acompanhar as aulas ou fazer trabalhos finais para obter créditos acadêmicos do Instituto Universitário Sophia. Trabalhamos em sintonia com a Secretaria geral do Sínodo, que está entre os promotores do curso.

E’ stato interessante per noi ed è stato un bell’incoraggiamento che durante la conferenza stampa di presentazione dell’Instrumentum Laboris per la fase dell’Assemblea del Sinodo appena incominciata il 1 ottobre 2024, il cardinale Hollerich abbia affermato: “Vorrei ricordare le numerose iniziative di formazione sulla sinodalità (…) A livello internazionale ricordiamo il MOOC del Boston College che ha visto la collaborazione di molti esperti del Sinodo o ancora il corso universitario proposto dal Centro Evangelii Gaudium dell’Università Sophia qui in Italia”. (Conferenza stampa del 09-07-20249)

Depois de dois anos, quais são as perspectivas que se abrem para esta terceira edição?

Acreditamos que o curso tenha dado uma pequena contribuição para ajudar a criar comunidades de pessoas comprometidas em viver e difundir a sinodalidade lá onde estão. Há pessoas que a propõem na própria diocese, organizando ações de formação; há quem vive na própria paróquia ou comunidade religiosa… É muito importante o efeito multiplicador do curso e as redes que estão sendo criadas. Redes essas que se entrelaçam com muitas outras de diversos movimentos eclesiais, universidades ou da Igreja mesmo.

São particularmente interessantes os laboratórios que se realizam durante o curso e que podem ser acompanhados via zoom ou presencialmente.

Depois do primeiro ano, uma estudante dos Estados Unidos propôs na sua paróquia que frequentassem o curso do ano seguinte: 12 pessoas se inscreveram. No fim do ano, pediram para fazer o laboratório presencialmente em San Antonio. Quarenta pessoas de várias dioceses e da Oblate School of Theology de San Antonio participaram.

As ações de formação realizadas são inúmeras porque são feitas pelos estudantes mesmos, usando o conteúdo e o método das aulas: uma paróquia inteira na Irlanda, diversas dioceses na Itália, assim como na Austrália, em Sidney; enquanto na República Democrática do Congo, recentemente, foi feita uma ação para mais de uma centena de sacerdotes de 8 dioceses, e, na Angola, para todo o clero da diocese de Viana.

Quais serão os temas do curso que se iniciará logo mais?

O próximo curso começará no dia 04 de novembro de 2024, no dia seguinte da Assembleia, com participações do Secretário geral do Sínodo, monsenhor Mario Grech e dos subsecretários, monsenhor Luis Marin e irmã Nathalie Becquart, do teólogo Piero Coda e de Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares e convidada especial da Assembleia sinodal.

Os temas do curso serão aqueles que surgiram na Assembleia mesmo: linhas abertas pela XVI Assembleia ordinária do Sínodo: novas práticas em uma Igreja Sinodal e missionária; iniciações cristãs e transmissões da fé no estilo sinodal. Será concluída com um laboratório presencial.

Por que há esse comprometimento do Centro Evangelii Gaudium com a sinodalidade? No passado, vocês se dedicaram a outros temas, como a formação sobre abusos ou a formação de operadores pastorais.

Parece-nos que a sinodalidade não é um slogan destinado a passar. A sinodalidade faz parte do ser da Igreja desde sempre, como bem se compreende lendo os Atos dos Apóstolos. Por outro lado, é também a atualização daquelas reformas que o Concílio Vaticano II indicou para a Igreja, mas que, como pode-se entender, eram e são difíceis de colocar em prática.

O papa Francisco mesmo afirmou na celebração do Quinquagésimo da instituição do Sínodo dos bispos, no dia 17 de outubro de 2015: “O caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja no terceiro milênio”. E, no dia 09 de outubro de 2021, ele mesmo deu início ao processo sinodal que hoje procura abrir caminho em toda a Igreja.

A partir daquele momento, nos comprometemos a formar e promover a sinodalidade por meio de bolsas de pesquisa, seminários, cursos de formação e criação de redes no mundo com outras faculdades e associações.

A sinodalidade é também um estilo que soma muito à espiritualidade de comunhão na qual se inspiram o Centro e o Instituto Universitário Sophia. O cardeal Petrocchi, presidente do Conselho científico do Centro Evangelii Gaudium, afirma que devemos chegar a “sinodalizar” a nossa mente, seja como indivíduos seja como um grupo eclesial, mas também como grupo da sociedade civil. Procuramos fazer a nossa parte, pequena, mas, esperamos, efetiva.

Carlos Mana

Informações: ceg@sophiauniversity.org

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Indonésia: a esperança de uma harmonia maior entre as crenças

Indonésia: a esperança de uma harmonia maior entre as crenças

A última viagem do papa Francisco à Ásia e Oceania foi, até agora, a mais longa e provavelmente a mais exigente, do ponto de vista físico, que o papa já fez. Que significado essa visita tem para as comunidades locais? Perguntamos a Paul Segarra, focolarino da comunidade da Indonésia.

Paul, que significado teve a visita do papa ao seu país?

“Esse gesto heroico do papa é, para mim, uma imagem do amor de Deus que não conhece limites e chega a seus filhos mais distantes, que, é claro, não são menos apreciados aos seus olhos”, conta. “O Santo Padre reservou tempo para olhá-los com amor, para maravilhar-se com os seus dotes, para compartilhar o sofrimento e o desejo de justiça e de paz deles, para depois encorajá-los a enfrentar juntos seus desafios e superar os limites. Mas não ficou apenas nas palavras que inspiraram e encorajaram. Também demonstrou, com seu exemplo, a força na fé, a abertura à fraternidade e a proximidade na compaixão que convida aqueles que o estavam ouvindo a aprender. Fez isso por meio de suas escolhas programadas e seus gestos espontâneos, agiu e viveu com o coração.”

“Com a rápida difusão da notícia de sua chegada”, conta Paul Segarra, “houve muitos comentários, em várias plataformas sociais, sobre o meio de transporte escolhido por ele: um simples carro branco, no qual preferia se sentar ao lado do motorista em vez de ficar no banco de trás, como geralmente é feito. Imagino que seja porque queria conversar com o motorista olhando para ele. Vendo esse gesto, percebi, com remorso, que poderia ter feito a mesma coisa com o motorista que me levou à minha hospedagem em Jacarta na mesma noite. No entanto, depois, minhas viagens se tornaram muito mais agradáveis, porque adquiri o hábito de conhecer meus motoristas conversando amigavelmente”.

Paul, como a comunidade local do Movimento dos Focolares viveu esse evento?

“Alguns membros das comunidades do Movimento dos Focolares de Jacarta e Yogyakarta tiveram o privilégio de participar de alguns eventos que contaram com a presença do papa. Na catedral de Jacarta (dedicada a Nossa Senhora de Assunção), o Santo Padre reconheceu o trabalho dos catequistas, definindo-os como ‘pontos do coração que unem todas as ilhas’. Nós nos comovemos quando chamou a nossa atenção para uma estátua da Virgem Maria e a indicou como modelo de fé que acolhe todos, inclusive vigiando e protegendo o povo de Deus como Mãe da Compaixão.”

Papa Francesco e Imam Umar assinaram uma Declaração conjunta. Que futuro você vê para os cristãos e muçulmanos juntos depois dessa assinatura?

“Tomy, um dos nossos fotógrafos que cobriu a visita do papa à Mesquita de Istiqal e aguentou longas horas de espera sob o calor da cidade, estava visivelmente comovido quando o Santo Padre finalmente chegou e os saudou do carro. Assumindo uma posição discreta assim que saiu da entrada do túnel subterrâneo e de pedestres que liga fisicamente a Grande Mesquita à Catedral do outro lado da estrada, conseguiu capturar o momento em que o papa Francisco e o Alto Imam Umar assinaram a Declaração de Fraternidade diante de uma pequena multidão de bispos, imam e outras personalidades religiosas e dizia que havia grandes esperanças de que essa visita poderia criar uma verdadeira harmonia entre todas as pessoas de fé. E o que é a fé se não ver, agir e viver com o coração?”

Lorenzo Russo
Photo: © Paul Segarra – ©Tomy Wijaja

‘Start Here and Now’, a nova faixa de Gen Verde

‘Start Here and Now’, a nova faixa de Gen Verde

“Start Here and Now” é o mais recente single da banda internacional Gen Verde. Um hino de união, força, coragem e alegria que conta com a participação de dois grupos musicais juvenis: Banda Unità (Brasil) e AsOne (Itália). “Todos nós, com a nossa diversidade, somos convidados a ultrapassar as fronteiras para construir um mundo onde o cuidado, o amor, a justiça e a inclusão são a resposta à dor, ao horror das guerras e às divisões”, explica a banda.

O que está por detrás da canção?

A nova canção é, por si só, uma experiência “além fronteiras” devido à forma como foi produzida”, continua a banda. As vozes foram gravadas em três partes diferentes do mundo e o vídeo foi também filmado em três locais diferentes: Loppiano e Verona (Itália) e Recife (Brasil).

O projeto inclui a participação de dois grupos musicais juvenis que partilham os valores do Gen Verde. A Banda Unità é um conjunto musical brasileiro e AsOne é uma banda de Verona, Itália. Estes grupos também querem partilhar, através da música, os valores da paz, do diálogo e da fraternidade universal.

“Start Here and Now“ tem uma mistura intergeracional e intercultural”, continua o Gen Verde, “este single destaca-se pelo seu ritmo altamente envolvente e pela letra poderosa, cantada em diferentes línguas, para fazer emergir o processo criativo inspirado pela interculturalidade e o compromisso com a fraternidade universal que é sublinhado no evento internacional Genfest”.

O Gen Verde tocou esta canção pela primeira vez em Aparecida, Brasil, juntamente com os grupos musicais Banda Unità e AsOne, no dia 20 de julho de 2024, durante o Genfest, o evento juvenil global do Movimento dos Focolares. A edição foi intitulada: “Juntos para Cuidar”.

Lorenzo Russo

Gen Rosso em Madagascar

Gen Rosso em Madagascar

A banda internacional Gen Rosso esteve em Madagascar. Oito paradas em sete cidades diferentes. Muitos quilômetros percorridos nesta terra maravilhosa para levar uma mensagem de paz e fraternidade por meio da música e da dança.

Foram necessários dois dias de viagem para percorrer 950 km, da capital, Antananarivo até a cidade de Tolear, no extremo sul da ilha.

“A comunidade do Movimento dos Focolares de Tolear nos recebeu com festa, ganhamos gorros típicos e colares, e manifestaram a sua alegria com danças tradicionais e cantos – conta Valério Gentile, agente internacional do Gen Rosso-. Num conhecido restaurante da cidade nos apresentamos junto com um grupo local famoso, o Choeur des Jeunes de Saint Benjamin. Foi assim que se iniciou esta etapa no sul de Madagascar”.

No dia seguinte foram feitos os workshops na escola Dom Bosco e depois o espetáculo no anfiteatro. “Foi o dia mais lindo da minha vida”, disse uma menina, com os olhos cheios de lágrimas pela emoção. E um jovem professor: “Vocês nos mostraram valores verdadeiros pelos quais viver, sinto que devo direcionar a minha vida sobre os objetivos que escutamos nas canções de vocês, e que compartilhamos juntos, do palco durante os workshops”.

“Além das oficinas de canto e dança, houve também a de percussão, organizada de um modo totalmente original”, explicou Valério. Usamos, como material, garrafas de plástico reciclado e os latões amarelos, muito comuns na África, utilizados em geral para conservar água, óleo e outras coisas. Instrumentos musicais improvisados considerando, antes de tudo, a proteção do planeta”.

Outra etapa significativa aconteceu no instituto de educação École Père Barré, onde 300 alunos do ensino médio puderam dividir o palco com o Gen Rosso que, já no início lançou o lema a ser vivido: “making space for love”, ou “dê espaço ao amor”.

“Nós não estamos aqui para fazer um espetáculo para vocês, mas com vocês, para toda a cidade”, afirmou Adelson, do Gen Rosso.

As horas voaram e chegou-se ao último concerto no Jardin de la Mer. O evento foi aberto pelas vozes do Choeur des Jeunes de Saint Benjamin. Mas chegou um imprevisto: faltou energia e o evento teve que parar. Alguns minutos depois recomeçou com o espetáculo do Gen Rosso. Na praça havia uma atmosfera de festa, com uma participação viva dos jovens.

Mas o blackout de energia voltou justamente quando o sol se pôs e a noite caiu com uma escuridão total.

“O que fazer?”, era a pergunta. “Decidimos improvisar com a ajuda de algumas tochas para iluminar um pouco. Um depois do outro, se alternaram os grupos de jovens que haviam participado dos workshops, nos dias precedentes. A criatividade não faltou, e também a alegria de estar juntos naquele palco. O show era deles, dos jovens de Tolear!”.

“Agradecemos ao Gen Rosso que nos fez descobrir quanta resiliência existe em nós”, comentou um rapaz. E outros depoimentos confirmavam a descoberta de valores autênticos da vida, dos próprios talentos escondidos, da direção justa a percorrer na vida.

“Palavras que nos deram uma forte energia para enfrentar a última etapa, em Antananarivo, a capital – afirma Valério. Éramos aguardados na escola Fanovozantsoa. Poucas horas foram necessárias para chegar a um alto nível de preparação, seja no canto que no hip-hop, na dança latina e nas percussões. Dessa forma, o concerto do dia 18 de maio foi um grande sucesso, entre aplausos, abraços e selfie. Um momento inesquecível que permanece marcado nos corações de todos”.

A turnê se concluiu com a Santa Missa, no dia de Pentecostes, em Akamasoa, na Cidade da Amizade, um local iniciado há 30 anos e idealizado por Padre Pedro, missionário argentino que decidiu ajudar os pobres, melhorando suas condições de vida por meio de um trabalho digno, instrução e serviços de saúde

“Festejamos juntos, entre a ‘colorida’ Missa, pela manhã, na grande igreja, e um alegre espetáculo durante a tarde, no anfiteatro ao ar livre – contou ainda Valério. Um concerto com jovens, famílias, anciãos e crianças, com uma mensagem de esperança, para construir uma nova sociedade, baseada no Amor”.

E, em nome do Gen Rosso, Valério conclui: “Obrigado Madagascar! Milhões de corações que batem cada dia ao ritmo da solidariedade de um com o outro, resiliência diante das dificuldades, simplicidade, serenidade de ânimo para enfrentar as adversidades, leveza de vida, humildade, alegria e paz na alma. De agora em dia tu ‘viajas’ conosco, como um presente para levar ao mundo!”.

Lorenzo Russo

Companheiros de viagem confiáveis

Companheiros de viagem confiáveis

A nossa experiência diária nunca está isenta de problemas e de desafios, sejam esses de saúde, família, trabalho, dificuldades inesperadas etc., sem esquecermos os imensos sofrimentos que muitos dos nossos irmãos e irmãs vivem hoje por causa da guerra, das consequências das mudanças climáticas, das migrações, da violência… São situações que muitas vezes são maiores do que nós.

Diante dessas situações, é normal ficar preocupado e sentir necessidade de se sentir seguro. O problema nem sempre é resolvido, mas a proximidade de amigos verdadeiros nos consola e nos dá força. As dificuldades vividas e enfrentadas em conjunto são um sinal quotidiano que nos ajudam a acreditar nos valores de fraternidade, reciprocidade e solidariedade que tornam possível a caminhada. No relacionamento fraterno podemos sentir a mesma segurança que os filhos sentem quando contam com pais que os amam e assim vivem a vida de forma diferente, com mais entusiasmo.

Para Chiara Lubich e para muitos que seguiram e continuam a seguir as suas intuições, esta segurança vem da certeza de que temos um Pai. Chiara disse: “…A pessoa sabe que é amada e crê com todo o seu ser nesse amor. Abandona-se a ele confiante e quer segui-lo. As circunstâncias da vida, tristes ou alegres, aparecem iluminadas por uma razão de amor que quis ou permitiu todas elas.” Suas palavras podem ser aplicadas a todos aqueles que experimentaram o verdadeiro amor pelo menos uma vez na vida.

A característica de um bom companheiro de viagem é estar a serviço, em uma dimensão pessoal feita de profundo conhecimento e partilha, no respeito por todos. Trata-se de viver com transparência, com coerência, sem segundas intenções, com um amor puro e incondicional que traz paz, justiça e fraternidade.

Deste modo, poderá emergir uma nova liderança, tão necessária no nosso tempo. Uma liderança que também favorece uma dinâmica comunitária na reciprocidade na qual nos reconhecemos um ao outro sem perder a nossa identidade. Pelo contrário, sabemos, na solidão experimentamos desorientação e perda de horizontes.

Nós só poderemos ser um “guia” para quem vive momentos de dificuldade se tivermos experimentado esta confiança no outro. Como diz o pedagogo e filósofo brasileiro Paulo Freire: “Ninguém educa ninguém; ninguém se educa sozinho; os homens se educam juntos, com a mediação do mundo.”[1] Ou seja: na comunidade educativa ninguém ensina nada a ninguém, mas todos aprendem com todos em um contexto de diálogo e de reflexão crítica da realidade.

1 Freire, Paulo (2012)”Pedagogía del oprimido” Ed. Siglo XXI

Foto: © Lâm Vũ en Pixabay


A IDEIA DO MÊS iniciada no Uruguai, é preparada pelo “Centro do Diálogo com pessoas de convicções não religiosas” do Movimento dos Focolares. Assimila os valores da Palavra de Vida, uma frase da Escritura que os membros do Movimento se comprometem a colocar em prática. Vivendo esses valores contribuímos para a realização da fraternidade universal. Atualmente, A IDEIA DO MÊS é traduzida em doze idiomas e distribuída em mais de 25 países, adaptada em alguns deles segundo as exigências culturais.