Recebi a notícia do falecimento do bispo Christian Krause justamente enquanto eu estava começando uma chamada via zoom com bispos de várias Igrejas amigos do Movimento dos Focolares, do qual o bispo Christian foi um fiel companheiro de viagem por muitos anos. Há muito tempo sabíamos que seu estado de saúde havia se agravado e rezávamos por ele, portanto foi espontâneo recitar juntos um “Pai Nosso”, agradecendo a Deus pela sua presença profética e encorajadora em meio a nós. Era um homem de coração grande e horizontes amplos.
“Bispos coloridos”
Haveria muito a se dizer sobre o bispo Christian. Enquanto escrevo, tenho diante de mim uma foto na qual estão o cardeal Vlk, de Praga (República Tcheca), o cardeal Kriengsak, de Bangkok (Tailândia), o doutor Mor Theophilose Kuriakose, da Igreja sírio-ortodoxa Malankara (Índia), eu, católico, e o bispo Christian Krause, enquanto caminhávamos em direção ao centro da cidade de Lund (Suécia), vestidos com os nossos hábitos eclesiásticos, diretamente para a cerimônia na catedral, que sinaliza o início do 500º aniversário da Reforma protestante. O encontro ecumênico, hospedado pela Federação Luterana Mundial (LWF) e com a presença do Papa Francisco, foi a primeira vez em que católicos e luteranos comemoraram juntos a Reforma a nível global.
A foto me recorda a simpatia com a qual o bispo Christian chamava os bispos de várias Igrejas amigos do Movimento dos Focolares de “bispos coloridos”. Era apaixonado pela experiência da variedade e da diversidade na unidade, inspirada por um carisma e por uma espiritualidade de unidade e sustentada pelo Movimento dos Focolares, um movimento que colocou em evidência muitas vezes pelo seu aspecto prevalentemente leigo. Os nossos paramentos coloridos eram um sinal exterior que indicava a riqueza mais profunda da troca de dons que experimentamos no diálogo da vida que os bispos de várias Igrejas escolheram em 1982 e que o bispo Klaus Hemmerle e Chiara Lubich, com o encorajamento do papa João Paulo II, começaram.
Um dia histórico
Apesar de conhecer o Movimento dos Focolares desde os anos 80 graças ao contato com o bispo Klaus Hemmerle, o encontro com Chiara Lubich em 31 de outubro de 1999 foi para ele um momento especial. Um encontro que aconteceu no contexto daquele que, sem dúvidas, foi um momento fundamental em sua vida: a assinatura, em nome da LWF, da Declaração conjunta sobre a doutrina da justificação com a Igreja católica romana, no dia 31 de outubro de 1999 em Augusta, na Alemanha. No decorrer dos anos, o bispo Krause nos contava frequentemente sobre aquele evento, indicando a importância de ter o documento assinado antes de entrar no século 21. Mas ele também gostava de recordar que justamente naquela ocasião, durante a tarde, um grupo de fundadores e responsáveis de Movimentos e comunidades, evangélicos e católicos, se reuniram na Mariápolis permanente de Ottmaring e lançaram o projeto “Juntos pela Europa”. O encontro com Chiara Lubich, naquele dia, lhe abriu um horizonte a uma experiência ecumênica que ele entendeu, talvez mais do que muitos de nós, por suas possibilidades e implicações proféticas.
Abrir horizontes
Quando me tornei bispo, em 2013, tive muito mais contato com o bispo Christian no âmbito dos bispos de várias Igrejas amigos do Movimento dos Focolares. Depois de Lund, nos encontrávamos mensalmente em diversas teleconferências online. O encontro com Christian sempre abria os horizontes, porque ele gostava de ver as coisas no quadro geral. Seu senso de humor se manifestava no brilho de seus olhos e no sorriso gentil.
O bispo Christian Krause era apaixonado pela Igreja, pela unidade da Igreja e pela necessidade de dar um passo avante. Para ele, a vida não é feita para ficarmos parados. E se queremos melhorar o futuro, devemos estar prontos a desconstruir o presente! No caso dos bispos amigos do Movimento dos Focolares, o bispo Christian nos encorajava a alargar o círculo e a nos empenhar para promover círculos de diálogo vivo entre os bispos de várias igrejas do Sul do mundo. Ficou muito contente quando, em setembro de 2021, em plena pandemia de Covid, conseguimos organizar um encontro online para 180 bispos de 70 Igrejas de todo o mundo. Foi um encontro maravilhoso de três dias.
Olhares de esperança
Recentemente, fui encontrar o bispo Christian na clínica para a qual havia sido transferido nas últimas semanas de vida. Foi uma conversa sobre a qual me lembrarei por muito tempo. Ele me falou da sua gratidão pelo encontro com o carisma do Movimento dos Focolares, do suporte e da amizade que experimentou. Crescido na tradição da “renovação” (pietismo), o encontro com o Movimento estava alinhado com a sua convicção pessoal da necessidade de piedade, de espiritualidade.
Não escondia a dor pelo fato de que às vezes parece que o mundo tenha perdido a dinâmica visionária da esperança dos anos 60, quando a missão mundial e os horizontes da paz pareciam ter sucesso. Era doloroso para ele também o fato de que ainda não fosse possível receber a comunhão da Igreja católica.
Ele me contou também de um acontecimento nos anos 90, quando Chiara Lubich não estava bem. Enquanto estava em um encontro, o cardeal Miloslav Vlk o convidou para ir com ele telefonar brevemente a Chiara. Seria somente um telefonema breve. Assim, para não torná-lo longo, o bispo Christian pediu simplesmente a Chiara: “Tem uma palavra para nós?”. Chiara não hesitou em responder: “Sempre avante!”. Christian ficou muito tocado.
“Sempre avante” era o estímulo que o bispo Christian sempre nos levava. Ao falar sobre a sua preparação para a morte, manifestou a sua forte fé com a qual sabia olhar para o futuro, mesmo para a morte, com esperança. Compartilhou comigo a oração tirada de uma poesia famosa de Dietrich Bonhoeffer que o inspirava naquele último período: “Por bons poderes muito bem guardados, confiantes esperamos o que há de vir. Deus é conosco sempre noite e dia. Assim é certa hoje sua alegria”.
Bispo Brendan Leahy Bispo de Limerick (Irlanda)
O bispo emérito Christian Krause nasceu no dia 06 de janeiro de 1940, em Dallgow-Döberitz, em Brandeburgo (Alemanha). Estudou teologia na Alemanha (Marburgo, Heidelberg, Gottinga) e nos Estados Unidos (Chicago). Foi ordenado pastor da Igreja evangélica luterana de Hannover em 1969. Trabalhou como assistente no então Departamento de Teologia da Federação Luterana Mundial em Genebra (Suíça) de 1969 a 1970 e na sede do Serviço Cristão para os refugiados de Tanganica a Dar es Salaam, na Tanzânia, de 1970 a 1972. De 1972 a 1985, foi responsável dos negócios ecumênicos internacionais, no papel de secretário executivo (Oberkirchenrat) na Igreja evangélica luterana unida da Alemanha e no Comitê nacional alemão da LWF em Hannover, Alemanha. De 1985 a 1994, foi secretário geral do Kirchentag evangélico alemão (Movimento leigo da Igreja protestante). Foi bispo da Igreja evangélica luterana de Brunswick, Alemanha, de 1994 a 2002. De 1997 a 2003 foi presidente da Federação Luterana Mundial (LWF). Faleceu no dia 28 de novembro em Wolfenbüttel, Alemanha, aos 84 anos. Krause deixa a esposa Gertrud Krause e quatro filhos.
“Dar uma alma à Europa.” Este é, em síntese, o objetivo de Juntos pela Europa, a rede cristã que reúne hoje mais de 300 movimentos, organizações e comunidades cristãs da Europa ocidental e oriental. Um sinal de esperança sobretudo nos tempos de conflitos e crises.
No último dia 31 de outubro, Juntos pela Europa celebrou seu 25º aniversário. No mesmo dia em 1999 ocorreu em Augsburgo, na Alemanha, o evento que lhe daria origem com a assinatura conjunta católico-luterana da Declaração da Justificação que sanava uma profunda divisão de mais de 500 anos entre as duas Igrejas. Nos anos seguintes, construiu-se um diálogo cada vez mais profundo, baseado no perdão recíproco até chegar ao evento histórico do pacto do amor recíproco (dezembro de 2001) na igreja luterana de Mônaco, que estava lotada com mais de 600 pessoas.
Entre os primeiros promotores da rede Juntos pela Europa estão Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio, outros fundadores de movimentos e comunidades católicas italianas e evangélico-luteranas alemãs, decididos desde o começo a caminhar juntos.
Este ano, de 31 de outubro a 2 de novembro, mais de 200 representantes da rede Juntos pela Europa se reuniram em Graz-Seckau, na Áustria, para o evento anual intitulado “Chamados à esperança”, representando 52 movimentos, comunidades e organizações provenientes de 19 países europeus. Estavam presentes cristãos ortodoxos, católicos, protestantes, reformados e membros das Igrejas livres, líderes espirituais e leigos, autoridades civis e políticas.
Entre eles estava o bispo Wilhelm Krautwaschl, da diocese anfitriã, o bispo Joszef Pàl, da diocese de Timisoara (Romênia), o copresidente do Movimento dos Focolares, Jesús Morán, Reinhardt Schink, responsável da Aliança Evangélica da Alemanha, Markus Marosch, da Mesa Redonda (Áustria), Márk Aurél Erszegi, do Ministério do Exterior da Hungria, o ex-primeiro ministro da Eslovênia Alojz Peterle, o ex-primeiro ministro da Eslováquia Eduard Heger. Também participou uma delegação da Interparliamentary Assembly on Orthodoxie com o secretário geral Maximos Charakopoulos (Grécia) e o conselheiro Kostantinos Mygdalis.
Gerhard Pross (CVJM Esslingen), moderador de Juntos pela Europa e testemunha do seu início, em ocasião do 25º aniversário, destacou no seu discurso de abertura os muitos momentos de graças vividos nesses anos. O bispo Christian Krause que, em 1999, era presidente da Federação luterana mundial e foi cossignatário da “Declaração conjunta sobre a doutrina da justificação”, destacou em sua mensagem a importância desse percurso juntos.
“Considerando a situação atual da Europa, cheguei aqui desencorajado e deprimido”, afirmou um dos presentes. “Mas esses dias me encheram de uma nova coragem e esperança.” Uma senhora ucraniana concorda: “Ser embaixadores de reconciliação, levo comigo isso do encontro de Juntos pela Europa. Vivo em um país que está em guerra, onde ainda não podemos falar de reconciliação. Mas sinto que é possível ser embaixadores porque um embaixador é, por definição, um diplomata, não impõe, oferece e prepara… Essa é a missão que sinto que devo levar ali onde moro. E tentarei fazer isso procurando ser, como disse Jesús Morán, ‘artesã de uma nova cultura’”.
Em seu discurso, Jesús Morán havia afirmado: “As coisas não mudam de um dia para o outro, são importantes os artesãos, os agricultores de uma nova cultura, que, com paciência, trabalham e semeiam, esperam. (…) O juntos do qual estamos falando não é um juntos no sentido de uma união. Diferentemente da união, a unidade considera os participantes como pessoas. Seu objetivo é a comunidade… A unidade transforma as pessoas envolvidas, porque as atinge em sua essência, sem atacar sua individualidade. A unidade é mais do que um comprometimento comum: é estar unidos, ser um no comprometimento. Enquanto na união a diversidade é fonte de conflito, na unidade é garantia de riqueza. A unidade se refere a algo que está além dos participantes, que transcende e que, portanto, não é feita, mas recebida como um dom”.
Durante o encontro, os participantes renovaram solenemente o Pacto do amor recíproco, base do comprometimento comum, rezando em quatro línguas: “Jesus, queremos te amar como tu nos amaste”.
O evento se concluiu com a ideia de poder realizar um grande evento em 2027, com o objetivo de enviar um sinal potente de unidade e esperança para a Europa.
“Tenho certeza de que o trabalho, a vida, o amor e o sofrimento levarão pontos positivos para a Europa”, escreve uma senhora da Holanda na conclusão da manifestação. “É muito importante ser embaixadores de reconciliação. (…) Os artesãos são importantes e jogam uma semente de esperança.”
“Ikuméni transformou a maneira como nós, jovens, nos relacionamos uns com os outros, o modo de nos vermos e de podermos viver a unidade na diversidade”, afirma Edy, peruano, católico, no palco do Genfest 2024 em Aparecida – São Paulo, acompanhado por mais 13 jovens de várias Igrejas cristãs e diversos países latino-americanos.
Mas, o que é Ikuméni? É um curso de formação, de quatro meses, num estilo de liderança que se baseia na arte da hospitalidade, da cooperação e das boas práticas. “Um momento de destaque foi o nosso encontro presencial conclusivo”, continua Edy. E Pablo, de El Salvador, luterano, prossegue: “Algo que nos marcou foi aprender a organizar juntos ações de cooperação, que chamamos boas práticas ecumênicas e inter-religiosas, trabalhando ao lado de pessoas de várias Igrejas e de religiões diferentes, dispostas a colocarem-se a serviço diante dos desafios que enfrentamos nas nossas cidades e nas zonas rurais”.
Ikuméni, na verdade, oferece aos jovens várias possibilidades para a realização das boas práticas, e dessa forma surgiram iniciativas de cooperação para a construção da paz, a resolução de conflitos, a ecologia integral e o desenvolvimento sustentável, as questões humanitárias e a resiliência, trabalhando em comum não apenas com pessoas de várias Igrejas, mas inclusive com a sociedade civil, para assumir o cuidado juntos.
“No meu caso, lançamos uma iniciativa para a construção da paz na Faculdade de Ciências Sociais da universidade aonde estudo”, conta Laura Camila, colombiana que mora em Buenos Aires e é membro de uma comunidade eclesial pentecostal. E afirma: “Nós precisamos trabalhar juntos pela paz, temos realmente necessidade disso. Assim, em colaboração com várias Igrejas, trabalhamos para reforçar a resiliência, criando redes ecumênicas e inter-religiosas e fazendo oficinas voltadas ao diálogo e à formação para a resolução de conflitos”.
O itinerário formativo Ikuméne é um programa de bolsas de estudos e, sendo assim, não traz nenhum custo para os participantes selecionados. Exige um compromisso de quatro horas semanais e a participação no encontro regional, presencial, do Ikuméne. É organizado pelo CREAS (Centro Regional Ecumênico de Assessoria e Serviço), com a colaboração de diversas organizações.
Estão abertas as inscrições para o curso de 2025. Todas as informações podem ser encontradas em: https://ikumeni.org/
E convidamos a assistir a reportagem gravada há poucos meses, em Buenos Aires, por ocasião do encontro da equipe de trabalho.
“Temos certeza de que a cooperação do mundo cristão é essencial e que a celebração comum da Páscoa de 2025, com todos os cristãos, paralelamente aos eventos do aniversário do Primeiro Concílio de Niceia, pode ser um ponto de partida significativo para enfrentarmos juntos os desafios da humanidade e promover ações conjuntas. Esperamos poder organizar um encontro de representantes do mundo cristão com a presença de vocês, no lugar onde se realizou originalmente o Concílio de Niceia ”.
Com essa perspectiva, o grupo ecumênico “Páscoa Together 2025” (PT2025), que reúne realidades e comunidades de diversas confissões cristãs, esteve primeiramente em Istambul (Turquia), em audiência com o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, e depois no Vaticano com o papa Francisco, nos dias 14 e 19 de setembro, respectivamente.
O grupo pediu aos dois líderes cristãos que a celebração comum da Ressurreição no próximo ano não seja uma exceção, mas que se torne habitual para todas as Igrejas cristãs. É um passo a mais rumo à unidade, em preparação para o próximo Segundo Milênio da Redenção, em 2033, que marcará os 2000 anos da ressurreição de Cristo.
“Páscoa Together 2025” nasceu precisamente em vista dessa próxima comemoração excepcional, visto que, em 2025, a data da Páscoa coincidirá nos dois calendários, o gregoriano e o juliano. Sendo assim, os cristãos da Igrejas do Ocidente e da Igreja Ortodoxa a celebrarão no mesmo dia. Além disso, será lembrado o aniversário de 1.700 anos do Concílio Ecumênico de Niceia, que promulgou o Símbolo da Fé (o Credo) e abordou o tema da data da Páscoa.
O grupo é formado por representantes de várias igrejas cristãs, além de movimentos políticos e sociais cristãos, como a Assembleia Interparlamentar Ortodoxa (IAO), que foi a promotora; o projeto “Juntos pela Europa”, o movimento “Jesus Cristo 2033” e o “Centro Uno” do Movimento dos Focolares. Há dois anos, o grupo vem trilhando um caminho comum, que os levou a assinar uma declaração conjunta que sanciona o compromisso de trabalhar para que todas as igrejas cristãs possam celebrar juntas o evento pascal. Além do Patriarca de Constantinopla e do Papa, o documento foi entregue anteriormente ao secretário geral do Conselho Mundial de Igrejas, rev. Jerry Pillay e ao ex-secretário geral da Aliança Evangélica Mundial, bispo Thomas Schirrmacher. Estão em preparação os contatos com outros líderes cristãos.
O patriarca Bartolomeu I anunciou que uma comissão conjunta, composta por quatro ortodoxos e quatro católicos romanos, já está trabalhando na elaboração do programa para a celebração do 1.700º aniversário do primeiro Concílio Ecumênico, que será em Iznick – o nome turco da antiga Niceia –, onde a comissão já esteve para examinar a viabilidade. Ele informou que o prefeito da cidade é favorável e está pronto para colaborar. Logicamente, o convite foi estendido ao papa Francisco, e este seria o décimo terceiro encontro deles.
O Patriarca ressaltou que a data da Páscoa não é uma questão de dogma ou de fé, mas é o resultado de um cálculo da astronomia.
O papa Francisco, em seu discurso, reiterou que “a Páscoa não acontece por alguma iniciativa nossa, por um calendário ou outro. O evento pascal ocorreu porque Deus ‘amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna’. Não esqueçamos o primado de Deus, o seu ‘primerear’, o fato que Ele deu o primeiro passo. Não nos fechemos em nossos esquemas, em nossos projetos, em nossos calendários, em ‘nossa’ Páscoa. A Páscoa é de Cristo!”
O Papa nos convida a partilhar, a projetar e a “caminhar juntos”. E lança um convite: “recomeçar de Jerusalém, como os apóstolos, pois é o lugar de onde o anúncio da Ressurreição se difundiu para o mundo”. O Papa nos exorta a voltar lá “e rezar ao Príncipe da Paz para que nos dê hoje a sua paz”.
É um convite que evoca aquilo que o patriarca ecumênico Bartolomeu I já havia expressado quando exortou o grupo PT2025 a promover ações para defender os direitos humanos e uma convivência pacífica entre todos os povos, rezando assim: “Imploramos ao Senhor que ilumine os corações dos responsáveis e os guie no caminho da justiça e do amor, para que possamos sanar essas divisões e restabelecer a unidade que está no centro da nossa fé”.
A última viagem do papa Francisco à Ásia e Oceania foi, até agora, a mais longa e provavelmente a mais exigente, do ponto de vista físico, que o papa já fez. Que significado essa visita tem para as comunidades locais? Perguntamos a Paul Segarra, focolarino da comunidade da Indonésia.
Paul, que significado teve a visita do papa ao seu país?
“Esse gesto heroico do papa é, para mim, uma imagem do amor de Deus que não conhece limites e chega a seus filhos mais distantes, que, é claro, não são menos apreciados aos seus olhos”, conta. “O Santo Padre reservou tempo para olhá-los com amor, para maravilhar-se com os seus dotes, para compartilhar o sofrimento e o desejo de justiça e de paz deles, para depois encorajá-los a enfrentar juntos seus desafios e superar os limites. Mas não ficou apenas nas palavras que inspiraram e encorajaram. Também demonstrou, com seu exemplo, a força na fé, a abertura à fraternidade e a proximidade na compaixão que convida aqueles que o estavam ouvindo a aprender. Fez isso por meio de suas escolhas programadas e seus gestos espontâneos, agiu e viveu com o coração.”
“Com a rápida difusão da notícia de sua chegada”, conta Paul Segarra, “houve muitos comentários, em várias plataformas sociais, sobre o meio de transporte escolhido por ele: um simples carro branco, no qual preferia se sentar ao lado do motorista em vez de ficar no banco de trás, como geralmente é feito. Imagino que seja porque queria conversar com o motorista olhando para ele. Vendo esse gesto, percebi, com remorso, que poderia ter feito a mesma coisa com o motorista que me levou à minha hospedagem em Jacarta na mesma noite. No entanto, depois, minhas viagens se tornaram muito mais agradáveis, porque adquiri o hábito de conhecer meus motoristas conversando amigavelmente”.
Paul, como a comunidade local do Movimento dos Focolares viveu esse evento?
“Alguns membros das comunidades do Movimento dos Focolares de Jacarta e Yogyakarta tiveram o privilégio de participar de alguns eventos que contaram com a presença do papa. Na catedral de Jacarta (dedicada a Nossa Senhora de Assunção), o Santo Padre reconheceu o trabalho dos catequistas, definindo-os como ‘pontos do coração que unem todas as ilhas’. Nós nos comovemos quando chamou a nossa atenção para uma estátua da Virgem Maria e a indicou como modelo de fé que acolhe todos, inclusive vigiando e protegendo o povo de Deus como Mãe da Compaixão.”
Papa Francesco e Imam Umar assinaram uma Declaração conjunta. Que futuro você vê para os cristãos e muçulmanos juntos depois dessa assinatura?
“Tomy, um dos nossos fotógrafos que cobriu a visita do papa à Mesquita de Istiqal e aguentou longas horas de espera sob o calor da cidade, estava visivelmente comovido quando o Santo Padre finalmente chegou e os saudou do carro. Assumindo uma posição discreta assim que saiu da entrada do túnel subterrâneo e de pedestres que liga fisicamente a Grande Mesquita à Catedral do outro lado da estrada, conseguiu capturar o momento em que o papa Francisco e o Alto Imam Umar assinaram a Declaração de Fraternidade diante de uma pequena multidão de bispos, imam e outras personalidades religiosas e dizia que havia grandes esperanças de que essa visita poderia criar uma verdadeira harmonia entre todas as pessoas de fé. E o que é a fé se não ver, agir e viver com o coração?”
Uma longa viagem para celebrar os 70 anos da criação do Conselho Geral dos Cristãos de Hong Kong, onde pouco mais de 10% dos 7,5 milhões de habitantes professam o cristianismo.
Uma delegação composta por 24 pessoas de diversas tradições cristãs: católica, anglicana, luterana, metodista e pentecostal iniciaram uma peregrinação ecumênica com etapas na Alemanha, Suíça e Itália, visitando cidades como Wittenberg, Augusta, Ottmaring, Genebra, Trento e, finalmente, Roma para rever o passado sem preconceito e estabelecer um novo relacionamento entre todos os membros. “Foi uma oportunidade para conhecer melhor a Igreja do outro. Havia tanta partilha, tanto amor recíproco e nos sentimos como irmãos e irmãs em Cristo, sua única Igreja ”, afirma Theresa Kung.
Acolhido na Mariápolis Permanente de Ottmaring (Alemanha), no Centro Mariápolis “Chiara Lubich” de Trento (Itália) e no Centro Internacional do Movimento dos Focolares em Rocca di Papa (Itália), o grupo pôde conhecer o carisma da unidade que anima o Movimento dos Focolares e apreciar o trabalho de diálogo entre várias Igrejas que se desenvolve há anos no âmbito do Movimento, um “diálogo de vida” que significa, como disse o reverendo Hoi Hung Lin da Missão Tsung Tsin: “Respeitar as diferenças de valores dos outros, dar prioridade ao diálogo e procurar sempre estabelecer relacionamentos fraternos entre as pessoas, entre os grupos étnicos e nas diversas situações culturais”.
Em Roma, o grupo foi recebido no Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos em um encontro de trocas sobre o trabalho desenvolvido a nível mundial.
Como último encontro, no dia 22 de maio de 2024, foram recebidos pelo papa Francisco em uma audiência privada. Depois das saudações e apresentações do cardeal Stephen Chow SJ, bispo católico de Hong Kong, e do reverendo Ray Wong, presidente do Conselho Cristão de Hong Kong, o Santo Padre dirigiu-se aos presentes destacando a importância de “trabalhar juntos para que todos creiam em Jesus Cristo; rezar juntos, rezar pela unidade”. O papa também recordou a amizade cristã que deriva do batismo comum. “ Temos o mesmo batismo e isso nos torna cristãos. Temos tantos inimigos lá fora. Somos amigos! Inimigos, fora; aqui, amigos ”[1].