Movimento dos Focolares
Um sinal de unidade

Um sinal de unidade

Em 2025 a festa da Páscoa
será celebrada no mesmo dia por todas as Igrejas cristãs.
As mensagens da presidente do Movimento dos Focolares,
Margaret Karram, para esta festa
e de alguns representantes de várias Igrejas.

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Foto @ Pixabay

Relatório Proteção da pessoa 2024: uma conversão integral

Relatório Proteção da pessoa 2024: uma conversão integral

Publicamos o relatório do ano de 2024 sobre as atividades do Movimento dos Focolares no campo da proteção da pessoa, colocando como epígrafe as palavras que papa Francisco dirigiu à Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores e com as quais efetivamente atualizou o mandato com o qual a havia constituído há 10 anos. Sentimo-nos fortemente chamados a atuar essa “conversão integral” à qual o Papa apela, que nunca está totalmente realizada, mas nos leva a nos questionarmos continuamente, para termos um olhar humilde, sempre atento, protetor e acolhedor para com cada pessoa. Exige que continuemos com perseverança no caminho da formação e da proximidade autêntica, conscientes da necessidade de mudança, para que cada pessoa se sinta segura, amada e respeitada em nossos ambientes e nas várias atividades.

Do ponto de vista da Proteção, há três elementos que caracterizaram o ano que passou, no Movimento dos Focolares: a escuta e o envolvimento das vítimas e das testemunhas de vários tipos nos processos de reparação e de formação dos responsáveis; a ampliação de cursos e eventos de formação para todos os participantes e a continuidade da construção da estrutura regulatória, com a atualização do Protocolo para os casos de abuso e a redação das Diretrizes para os serviços de escuta e acolhimento.

De fundamental importância foi o encontro, em novembro passado, dos responsáveis pelo Movimento no mundo com algumas pessoas que foram vítimas de abuso sexual ou abuso de poder por parte de membros do Movimento dos Focolares. As vítimas contaram suas histórias de grande sofrimento e as graves consequências na própria vida e na das comunidades das quais faziam ou ainda fazem parte. Alguns membros da família de uma das vítimas também estavam presentes, oferecendo seu testemunho sobre as graves repercussões que o abuso tem sobre todos os membros da família. As palavras de um participante expressam bem a importância daquele momento: “ Escutar essas pessoas marcou um antes e um depois. Com delicadeza e clareza, disseram que o Movimento falhou naquilo que é o coração do seu carisma: a unidade, o amor ao próximo, pois em muitos casos não só fomos de alguma forma corresponsáveis pelos abusos cometidos, mas também deixamos as pessoas sozinhas para enfrentar a própria dor ”.

Além disso, a contribuição das vítimas e o envolvimento de profissionais de várias disciplinas, os quais não fazem parte do Movimento, foram fundamentais para o trabalho realizado no Centro Internacional e nas regiões, em vista dos documentos produzidos durante, da formação à Proteção das comunidades do Movimento dos Focolares no mundo e para o planejamento e a abertura de alguns espaços de escuta e acolhimento.

Leer o Relatório Proteção da pessoa 2024

(PDF descarregável em Português)

Também foi estabelecida uma Comissão de Estudo sobre os abusos de poder e espirituais ocorridos dentro do Movimento. O objetivo é investigar as causas do problema, a fim de mudar as práticas nocivas e pôr em prática uma prevenção adequada. O estudo, que está em andamento, conta ainda com aconselhamento externo de especialistas em várias áreas: psicólogos, pedagogos e juristas. Essa análise é apoiada e encorajada pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida e, embora esteja em uma fase inicial, sua grande importância é reconhecida, pois é evidente que a criação e a aplicação de normas e protocolos não são suficientes, mas é necessário aprofundar as dinâmicas que levaram às diversas formas de abuso.

Por fim, foram atualizados, implementados e produzidos documentos normativos e diretrizes (como ilustrado abaixo), fruto também de uma colaboração frutífera com a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, que acompanhou e promoveu os novos passos dados.

Stefania Tanesini

[1] Mensagem do Santo Padre à Assembleia Plenária da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, 25 de março de 2025.

Chiara Lubich: “O próximo, igual a mim”

Chiara Lubich: “O próximo, igual a mim”

Como vemos o mundo e os nossos companheiros de viagem na aventura da vida? Essa é uma questão de importância vital em uma época como a nossa, marcada pela polarização e discórdias, pela solidão e distanciamento entre os que têm condições econômicas favoráveis e os que não as têm, sem deixar de mencionar a presença cada vez mais difundida da inteligência artificial. No entanto, ao mesmo tempo, cresce a sede de harmonia e de verdade. […]

Chiara Lubich menciona […] que tudo depende do “olho” com o qual olhamos para as pessoas. Se eu enxergar com o olho do coração, que é o olho do Amor, não irei me deter nas aparências, mas captarei a realidade mais profunda que está escondida em cada ser humano. E do olhar do coração deriva o modo de agir, a qualidade dos relacionamentos, a capacidade de tornar-se próximo, de estar perto do outro (1).

Em 1961 Chiara escreveu:

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  1. cf. Povilus, J; Ciccarelli, L. Proximidade, o estilo de Deus (2024), Introdução p.7
  2. Pensamentos 1961, in Escritos Espirituais/1, 2.ed., São Paulo: Cidade Nova, 1998, p. 167-168
“Para Deus nada é impossível.” (Lc 1,37).

“Para Deus nada é impossível.” (Lc 1,37).

Estamos diante do relato da Anunciação. O anjo Gabriel vai até Maria de Nazaré para comunicar os planos que Deus lhe reservou: ela conceberá e dará à luz um filho, Jesus, que “será grande e será chamado Filho do Altíssimo.”[1] O episódio se alinha com outros eventos do Antigo Testamento que levaram a nascimentos prodigiosos de filhos de mulheres estéreis ou muito idosas, chamados a desempenhar um papel importante na história da salvação. Nesse contexto, Maria, apesar de se dispor a aderir com total liberdade à missão de se tornar a mãe do Messias, pergunta-se como isso pode acontecer, já que ela é virgem. Gabriel lhe garante que não será obra de um homem: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra.”[2] E acrescenta: “Para Deus nada é impossível.”[3]

Essa afirmação assegura que nenhuma declaração ou promessa de Deus deixará de ser cumprida, porque não há nada impossível para Ele. Mas a frase também pode ser formulada assim: “Com Deus nada é impossível”. De fato, em grego a frase pode significar “diante de, ou próximo a, ou junto com Deus”, evidenciando o quanto Deus está próximo do homem. É para o ser humano ou para os seres humanos que “nada é impossível”, quando estão junto a Deus e aderem livremente a Ele.

“Para Deus nada é impossível.”

Como podemos colocar em prática esta Palavra de Vida? Em primeiro lugar acreditando, com grande confiança, que Deus pode agir até mesmo dentro dos nossos limites e fraquezas e ainda mais além, inclusive nas situações mais sombrias da vida.

Foi essa a experiência de Dietrich Bonhoeffer, teólogo e pastor luterano, protagonista da resistência ao nazismo. Durante a prisão que o levou ao suplício, escreveu: “Devemos mergulhar continuamente na vida, no falar, no agir, no sofrimento e na morte de Jesus para reconhecer aquilo que Deus promete e cumpre. É certo […] que para nós não existe mais nada de impossível, porque nada de impossível existe para Deus; […] é certo que não devemos pretender nada e que, no entanto, podemos pedir tudo; é certo que no sofrimento se esconde a nossa alegria, e na morte, a nossa vida… A tudo isso, Deus disse “sim” e “amém” em Cristo. Este “sim” e este “amém” são a terra firme sobre a qual nos encontramos.”[4]

“Para Deus nada é impossível.”

Ao procurarmos superar o aparente “impossível” das nossas insuficiências a fim de alcançar o “possível” de uma vida coerente, um fator decisivo é a dimensão comunitária. Esta se desenvolve lá onde os discípulos, vivendo entre si o mandamento novo de Jesus, se deixam compenetrar, individualmente e em conjunto, pela força do Cristo ressuscitado. Chiara Lubich escreveu em 1948 a um grupo de jovens religiosos: “E adiante! Não com a nossa força mesquinha e frágil, mas com a onipotência da unidade. Constatei, toquei com as mãos que Deus entre nós realiza o impossível: o milagre! Se permanecermos fiéis à nossa missão […], o mundo verá a unidade e, com ela, a plenitude do Reino de Deus.”[5]

Anos atrás, quando eu estava na África, muitas vezes me encontrava com jovens que queriam viver como cristãos e que me contavam as muitas dificuldades que enfrentavam diariamente no próprio ambiente, para permanecerem fiéis aos compromissos de fé e aos ensinamentos do Evangelho. Conversávamos sobre isso durante horas e, no final, chegávamos sempre à mesma conclusão: “Sozinhos, é impossível, mas juntos podemos conseguir.” Até o próprio Jesus garante isso quando promete: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome (no meu amor), ali estou eu no meio deles.”[6] E com Ele tudo é possível.

Org.: Augusto Parody Reyes com a comissão da Palavra de Vida


Fotos: ©Sammmie – Pixabay

[1]Lc 1, 32.
[2] Ibid, 35.
[3] Ibid, 37.
[4] BONHOEFFER, D. Resistência e submissão. Trecho extraído da edição italiana Resistenza e resa. Cinisello Balsamo: Ed. San Paolo, 1988, p. 474.
[5] LUBICH, Chiara. Cartas dos primeiros tempos, 1946-1949, São Paulo: Editora Cidade Nova, 2020, p. 90.
[6] Cf. Mt 18, 20.

UNIRedes: esperança para a América Latina e para o mundo

UNIRedes: esperança para a América Latina e para o mundo

A sede de Pedrinhas (SP, Brasil) da Fazenda da Esperança acolhe jovens e adultos que enfrentam vários estágios de recuperação do vício das drogas e de outras formas de dependência e problemas sociais. Não poderia haver um lugar melhor para sediar a conferência da UNIRedes, plataforma de ONGs, projetos sociais, humanitários e agências culturais da América Latina que se inspiram na espiritualidade da unidade de Chiara Lubich. Estavam presentes 140 pessoas de 37 das 74 organizações parceiras da UNIRedes, atuantes em 12 países da América Latina e do Caribe.

O objetivo desse congresso era apresentar o trabalho desses anos a Margaret Karram e Jesús Morán, presentes no encontro, definir os próximos passos em comum com todas as organizações parceiras e fortalecer o vínculo com o Movimento dos Focolares, para poder compartilhar a experiência adquirida, inclusive fora do continente latino-americano.

UNIRedes: uma rede de redes

Maria Celeste Mancuso, argentina, corresponsável internacional do Movimento Nova Humanidade, explicou que a UNIRedes não é unicamente um projeto solidário: “É também um espaço que gera uma reflexão cultural que leva a identificar as categorias antropológicas e epistemológicas necessárias para suscitar uma nova cultura do cuidado para com a pessoa e as sociedades latino-americanas”. Por esse motivo, também fazem parte plenamente as agências culturais inspiradas no Carisma da Unidade, como o Instituto Universitário Sophia (Loppiano, Itália), sua filial local, Sophia América Latina e Caribe (ALC) e o Centro Universitário ASCES UNITA de Caruaru (PE).

Virginia Osorio, do Uruguai, uma das iniciadoras do projeto, falou sobre as origens: “As contínuas mudanças políticas e econômicas em nossos países tornaram nossas organizações cada vez mais frágeis e isoladas. Com a UNIRedes, encontramos um lugar onde podemos nos fortalecer reciprocamente e compartilhar sofrimentos e esperanças. Nosso último projeto foi para o Genfest: centenas de jovens fizeram voluntariado em muitas das nossas organizações, vivendo na própria pele experiências de fraternidade e proximidade com os mais pobres”.

A raiz comum: “morrer pela própria gente”

A primeira raiz da UNIRedes não se baseia em análise geopolítica ou econômica. É preciso voltar ao início dos anos 1970, quando os Gen, os jovens dos Focolares, como inúmeros de seus coetâneos em diversos países, queriam mudar o mundo e suscitar igualdade, justiça, dignidade.

Chiara Lubich, que se encontrava com eles frequentemente, tinha apoiado e confirmado a necessidade de fazer uma revolução social pacífica, especialmente na América Latina, continente que para ela se identificava com essa vocação especial. Ela dizia aos jovens do Movimento dos Focolares: “Cada um de vocês deve sentir isso: nós devemos, sim, morrer pela humanidade, mas é necessário encontrar o nosso Jesus Abandonado local para morrer pela própria gente”[1].



“Então, muitos começaram a atuar na periferia das cidades, nas favelas, onde a pobreza tirava a dignidade das pessoas” – disse Gilvan David, brasileiro, do grupo latino-americana de articulação da UNIRedes. “Nasceram as primeiras ONGs e, enquanto isso, tentamos nos estruturar, mas não foi o suficiente. ‘Vocês vêm até nós’ – os pobres nos diziam –, ‘mas depois vão embora e nos deixam sozinhos’. Para responder a esse apelo, começamos a trabalhar em rede com as políticas públicas locais e, no mesmo período, vários sacerdotes que vivem a espiritualidade da unidade também fundaram projetos sociais: frei Hans com a Fazenda da Esperança, padre Renato Chiera com a Casa do Menor e outros.”

Uma “única” América Latina

“Depois, nasceram os primeiros grupos de organizações”, continuou Gilvan David. “ ‘Sumá Fraternidad’, que reunia os projetos de alguns países de língua espanhola; a associação civil ‘Promoção integral da pessoa’ (PIP), no México, enquanto as organizações sociais brasileiras continuavam a crescer, encontrando a própria identidade e espaço de atuação. Não foram anos fáceis, mas iniciamos várias trajetórias em diversos territórios da América Latina, a fim de sustentar os engajamentos sociais, que depois confluíram na UNIRedes. Nós nos reunimos várias vezes, mas o encontro de fundação foi em 2014, com a presença também de Emmaus Maria Voce e Giancarlo Faletti, então presidente e copresidente do Movimento dos Focolares. Emmaus, naquela ocasião, disse: ‘Vocês dão ao Movimento uma nova visibilidade, um novo significado para a sua ação; vocês são um testemunho para aqueles que os olham de fora; vocês dão visibilidade completa ao Carisma mediante ações concretas’. Eu diria que foi então que nos identificamos como uma realidade única para toda a América Latina: nós nos sentimos abraçados pelo Carisma da Unidade.”

Foram muitas e substanciais as contribuições que edificaram esse congresso, com a apresentação das várias organizações parceiras.

Juan Esteban Belderrain: da desigualdade à esperança

O cientista político argentino Juan Esteban Balderrain analisou o flagelo da desigualdade, do qual a América Latina detém o recorde mundial. “Trata-se de construir uma visão deste continente que parta da esperança. E isso é possível porque, se olharmos para a raiz mais profunda do problema da desigualdade, deparamos com a perda de referência em relação a Deus que é amor e que… os ajuda a compreender que somos irmãos e irmãs, uns dos outros e da natureza, a qual também é uma expressão do Amor de Deus. Referindo-se ao século 20, Paulo VI disse que aquele era um tempo abençoado, porque exigia de todos a santidade. Creio que essas palavras também se aplicam ao nosso tempo.”

Padre Vilson Groh: a “mística dos olhos abertos”

Há mais de 40 anos, padre Vilson mora no “morro”, uma favela em Florianópolis (Santa Catarina, Brasil), e realiza projetos sociais voltados especialmente para os jovens. Ele falou sobre a “mística dos olhos abertos”: “Devemos levar as nossas organizações para os subterrâneos escuros de nossas periferias; ser ali um sinal de esperança. O Genfest trouxe a perspectiva do ‘juntos’, que o papa Francisco promove. Isso requer uma caminhada paciente e resiliente; exige que sejamos firmes na busca do bem comum. A unidade é superior ao conflito, como o Papa sempre diz; e a unidade é pluralidade; trazemos a diversidade para as nossas organizações. O Carisma da Unidade é uma porta para que Cristo chagado abra espaços”.

Vera Araujo: América Latina construtora de fraternidade

A fala da socióloga brasileira se concentrou em uma visão positiva, que sabe reconhecer o patrimônio cultural e humano latino-americano e o oferece como um presente ao mundo.

“A UNIRedes tem suas origens no carisma de Chiara Lubich e pode se transformar em uma oportunidade incrível também para o mundo todo: a unidade vista não apenas como um valor religioso, mas também como uma força capaz de compor com eficácia a família humana, criando uma interação entre a multiplicidade das pessoas e preservando as distinções no contexto das realidades sociais. Aqui o Carisma da Unidade oferece uma solução que não é fácil, um sentido, um significado, uma Pessoa: Cristo abandonado na cruz.

Para amar bem, como se deve”, diz Chiara, “não devemos ver nas dificuldades e nas injustiças do mundo apenas males sociais a serem remediados, mas descobrir neles o rosto de Cristo que não desdenha de se rebaixar diante da esconder na miséria humana[2].”



Susana Nuin Núñez: o caminho dos povos e dos movimentos sociais

A socióloga uruguaia descreveu o caminho e a riqueza social, política, econômica dos povos do continente e de alguns movimentos sociais. “Essas redes, com suas mais variadas fisionomias, com seus desdobramentos nas práticas sociais ou no ambiente acadêmico, atuam de forma complementar, gerando um tecido sociocultural indiscutível, com um caráter comunitário multifacetado, do qual a América Latina é portadora.” Ela enfatiza ainda a peculiaridade da UNIRedes enquanto sujeito social que, há mais de dez anos, cuida, revoluciona, transforma e influencia a partir do Evangelho e da palavra da unidade.

Margaret Karram e Jesús Morán: UNIRedes faz parte do Movimento dos Focolares

“Aqueles que querem viver o Evangelho nesta região estão sempre em crise porque veem desigualdades constantemente”, ressaltou Jesús. “A unidade não pode deixar de assumir essa realidade. Como alcançar a unidade neste continente, sem levar em conta aqueles que são descartados pela sociedade? O que vocês fazem como UNIRedes deve impregnar todo o Movimento nesta região. O trabalho de vocês não terá credibilidade se não se concretizar também por meio de obras sociais. Claro, não seremos nós que resolveremos os problemas sociais. A única coisa que podemos fazer é levar as pessoas a se converterem ao amor. Se tocarmos os corações, alguém assimilará o espírito e, na liberdade, entenderá como viver o Evangelho.”


Margaret incentivou a UNIRedes a ir adiante : “Agora precisamos descobrir como fazer para que a vida e exemplo de vocês chegue a todos, no mundo inteiro”. Citando um tema de Chiara Lubich em 1956, ela reiterou que o Movimento, em seu compromisso social, não deve esquecer que a chave para a solução dos problemas que o Carisma da Unidade oferece está na novidade da reciprocidade, e não na justiça. Promover a partilha, a comunhão entre todos daquele pouco ou muito que temos, a fim de criar um Bem Comum maior que, além de resolver os problemas sociais, produz aquela realização humana e espiritual que só acontece na comunhão entre todos. Por fim, Margaret lançou uma proposta: “Acrescentem um novo artigo à Carta dos princípios e dos compromissos: um pacto solene de fraternidade, a ser proposto àqueles que querem fazer parte da UNIRedes. Estamos aqui para testemunhar o amor mútuo; e só se tivermos esse amor, o mundo acreditará”.

“A UNIRedes nos fala de esperança”, concluiu M. Celeste Mancuso. “É uma proposta transversal e sinodal de uma rede organizativa que pode inspirar modelos semelhantes para as periferias existenciais de outras partes do nosso vasto mundo. Dessa forma, será possível pensar em construir redes globais de fraternidade que promovam o bem comum.”

Stefania Tanesini


[1] Chiara Lubich na “Escola Gen”, Rocca di Papa (Roma, Itália), 15 de maio de 1977.

[2] Chiara Lubich, Por uma civilização da unidade. Discurso proferido no Congresso “Uma cultura de paz para a unidade dos povos”, Castel Gandolfo (Roma), 11-12 de junho de 1988.

A partir da comunidade “trinacional”, um futuro de fraternidade para a América Latina

A partir da comunidade “trinacional”, um futuro de fraternidade para a América Latina

Nesta encruzilhada de países, onde confluem os rios Iguaçu e Paraná, fica a fronteira mais transitada da América Latina. A área é caracterizada por uma grande diversidade cultural e pela presença secular de povos indígenas, como o grande povo Guarani. O turismo é o maior recurso econômico desta grande região, à qual as pessoas vêm para visitar as Cataratas do Iguaçu, que são as mais extensas do mundo, com uma largura de 7.65 km, e são consideradas uma das sete maravilhas naturais do planeta.

Na sua mensagem de boas-vindas, Tamara Cardoso André, presidente do Centro para os Direitos Humanos e a memória popular de Foz do Iguaçu (CDHMP-FI), explicou que neste lugar desejam dar um significado diferente às fronteiras nacionais: “Queremos que a nossa tríplice fronteira se torne cada vez mais um local de integração, uma terra que todos considerem sua, conforme o entendimento dos povos originais que não conhecem barreiras”.

Foz do Iguaçu, a última etapa

Aqui termina a viagem pelo Brasil de Margaret Karram e Jesús Morán, presidente e copresidente do Movimento dos Focolares. Eles percorreram o país de Norte a Sul: visitaram a Amazônia brasileira, passaram por Fortaleza, Aparecida, pela Mariápolis Ginetta em Vargem Grande Paulista, pela Fazenda da Esperança em Pedrinhas e Guaratinguetá (SP), até Foz do Iguaçu.
Neste local, a família “ampliada” da comunidade trinacional dos Focolares celebra a sua jovem história e narra a contribuição à unidade que este lugar pode oferecer. O abraço de três povos que a espiritualidade da unidade reúne em um só, transcende as fronteiras nacionais, embora cada um mantenha a própria identidade cultural específica. Na ocasião, também estiveram presentes o card. Adalberto Martinez, arcebispo de Assunção (Paraguai), o bispo local dom Sérgio de Deus Borges, dom Mario Spaki, bispo de Paranavaí, e dom Anuar Battisti, bispo emérito de Maringá. Também esteve presente um grupo da comunidade islâmica de Foz do Iguaçu, com a qual há muito tempo existe uma relação de amizade fraterna.

Povos com raízes em comum

Arami Ojeda Aveiro, uma estudante de Mediação Cultural na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), ilustra a trajetória histórica desses povos e as graves feridas que se acumularam ao longo dos séculos. O conflito entre Paraguai, de um lado, e Argentina, Brasil e Uruguai, de outro (1864-1870), foi um dos mais sangrentos da América do Sul em termos de vidas humanas, com consequências sociais e políticas para toda a região. Por outro lado, há também muitos fatores culturais em comum, como a música, a gastronomia, as tradições populares derivadas da mesma raiz cultural indígena, como o mate guarani, uma bebida típica dos três povos.

A cultura guarani é uma das mais ricas e representativas da América do Sul; é um testemunho vivo da resiliência e da versatilidade de um povo que conseguiu preservar sua identidade ao longo dos séculos com uma cosmogonia única, em que a conexão com a natureza e o respeito às tradições são fundamentais e podem ser uma grande riqueza para toda a humanidade.

Arami Ojeda Aveiro conclui assim: “Por isso, a região da tríplice fronteira não representa somente um limite geográfico, mas um espaço multicultural e de cooperação que fortalece toda esta região”.

A comunidade “trinacional” do Movimento dos Focolares

De todas as comunidades do Movimento dos Focolares no mundo, esta tem um caráter único: “Seria impossível sentir que somos uma família se olhássemos apenas para as nossas histórias nacionais”, diz uma jovem argentina. Mônica, do Paraguai, uma das pioneiras da comunidade com Fátima Langbeck, do Brasil, conta que tudo começou com uma oração diária: “‘Senhor, abre-nos o caminho para que possamos estabelecer uma presença mais sólida do focolare e para que o teu carisma de unidade floresça entre nós’. Desde 2013, somos uma única comunidade e queremos escrever outra história para esta terra, que testemunhe que a fraternidade é mais forte do que os preconceitos e as feridas seculares. Estamos unidos pela palavra da unidade de Chiara Lubich, quando ela disse que a verdadeira socialidade supera a integração, porque é o amor mútuo em ação, como foi anunciado no Evangelho. As nossas peculiaridades e diferenças nos tornam mais atentos uns aos outros, e as feridas das nossas histórias nacionais nos ensinaram a nos perdoarmos”.

As apresentações artísticas demonstram a vitalidade e a atualidade das raízes culturais dos povos que moram nesta região: as canções da comunidade argentina que chegou do litoral; o “El Sapukai”, dança paraguaia muito ritmada, que é dançada com até três garrafas na cabeça; a representação do povo Guarani, que entoa uma canção no próprio idioma, louvando a “grande mãe”, a floresta, que deve ser protegida, que produz bons frutos e dá vida a todas as criaturas.

Padre Valdir Antônio Riboldi, sacerdote da diocese de Foz do Iguaçu, que conheceu o Movimento dos Focolares em 1976, continua a narrar a história por escrito: “Os focolares de Curitiba, no Brasil, e de Assunção, no Paraguai, começaram a promover eventos envolvendo pessoas dos três países vizinhos, uma experiência que chamamos de ‘Focolare Trinacional’. A vida eclesial aqui também está caminhando na direção da comunhão, promovendo iniciativas conjuntas entre as diversas dioceses”.

É evidente que a vida desta região e da comunidade local do Movimento dos Focolares não expressa somente a América Latina, mas o mundo inteiro. E manifesta que é possível caminhar juntos, mesmo sendo diferentes. É a espiritualidade da unidade que entra em contato com a essência mais profunda da identidade das pessoas e dos povos, fazendo florescer a humanidade comum e a fraternidade.

As palavras de Margaret Karram e Jesús Morán

“Eu me senti abraçada não por um, mas por três povos”, disse Margaret Karram. “Durante toda a minha vida, o meu sonho era viver em um mundo sem fronteiras. Aqui, tive a impressão de ver esse meu desejo profundo realizado, e é por isso que me sinto parte de vocês. Vocês são a confirmação de que somente o amor remove todos os obstáculos e elimina as fronteiras.”

“Eu vivi 27 anos na América Latina”, contou Jesús Morán, “mas nunca estive nesta região. Vocês passaram por muito sofrimento: os guaranis foram despojados de suas terras e dispersos. O que vocês estão fazendo hoje é importante, mesmo que seja pequeno. Não podemos reescrever a história, mas podemos seguir em frente e curar as feridas, acolhendo o grito de Jesus Abandonado. As feridas são curadas mediante novos relacionamentos inter-regionais também com os povos originários, porque eles são, de fato, os únicos genuinamente “trinacionais”. Eles também receberam a luz de Cristo; não nos esqueçamos do trabalho de evangelização e promoção humana que os jesuítas realizaram nesta região com “las Reduciones”, entre os anos 1600 e 1700. Hoje estamos conectados a essa história, a tudo o que a Igreja faz, e sabemos que a unidade é a resposta em um mundo que precisa de uma alma e de braços para fazer uma verdadeira globalização à altura da dignidade humana”.

Na conclusão, retomando a palavra, Margaret compartilhou aquilo que vivenciou neste mês: “Esta viagem aumentou em mim a fé, a esperança e a caridade. Na Amazônia, nos confins do mundo, a ‘fé’ emergiu com muita força. Conheci pessoas que acreditam firmemente que tudo é possível, mesmo as coisas mais difíceis. Elas sonham e realizam! Gostaria de ter nem que fosse uma pitada da fé delas, como diz o Evangelho: ‘Em verdade vos digo: se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: transporta-te daqui para lá, e ela se transportará, e nada vos será impossível’ (Mt 17,20). De lá, levo essa fé que move montanhas e a coragem de sonhar com grandes coisas. Em seguida, a palavra do Genfest, que não pode ser outra senão ‘esperança’. Vivemos juntos essa experiência: todo o Movimento estava comprometido com os jovens e para os jovens. Foi também um evento ecumênico e inter-religioso que deu muita esperança.

E, por fim, a ‘caridade’, que vi hoje aqui entre vocês e que tocamos com as próprias mãos nas muitas organizações sociais com as quais entramos em contato este mês: a Fazenda da Esperança, os inúmeros movimentos e as novas comunidades eclesiais com as quais nos reunimos em Fortaleza, o encontro da UniRedes, que reúne todas as organizações sociais e agências culturais da América Latina inspiradas pelo Carisma da Unidade [sobre as quais escreveremos à parte]. Tudo isso expressa ‘caridade’, porque toda realidade social nasce do amor ao próximo, do desejo de dar a vida pela própria gente.

Desta fronteira, nasce uma esperança para todas as comunidades do Movimento dos Focolares no mundo, mas não só no Movimento. Em dezembro passado, sugeri o projeto “Mediterrâneo da fraternidade”, para recolher todas as ações já em andamento e aquelas que surgirão, a fim de construir a paz naquela região que sofre tanto com a guerra. Também poderia partir daqui um projeto de ‘fraternidade para a América Latina’, que possa ser estendido a todos os seus países. Vamos confiá-lo a Maria!”.

Stefania Tanesini