Movimento dos Focolares

Chiara Lubich: ver o outro sempre novo

A benevolência, a misericórdia, o perdão. Três características do amore recíproco que podem nos ajudar a moldar as nossas relações sociais. A unidade, doada por Cristo, deve ser sempre reavivada e traduzida em comportamentos sociais concretos, inteiramente inspirados pelo amor mútuo. Daí a razão destas orientações sobre como devemos nos relacionar: A benevolência: querer o bem do outro. É “fazer-nos um” com ele, aproximar-nos dele estando completamente vazios de nós mesmos, dos nossos interesses, das nossas ideias, dos muitos preconceitos que ofuscam o nosso olhar, para assumir os seus pesos, suas necessidades, seus sofrimentos, para compartilhar as suas alegrias. É entrar no coração daqueles que encontramos para entender a sua mentalidade, sua cultura, suas tradições e, de certo modo, fazê-las nossas; para entender realmente aquilo de que estão precisando e saber colher os valores que Deus derramou no coração de cada pessoa. Numa palavra: viver por quem está ao nosso lado. A misericórdia: acolher o outro tal como ele é; não como gostaríamos que fosse: com um caráter diferente, com as mesmas ideias políticas nossas, com as nossas convicções religiosas e sem aqueles defeitos ou modos de fazer que tanto nos incomodam. Não. É preciso dilatar o coração e torná-lo capaz de acolher a todos na sua diversidade, com os seus limites e misérias. O perdão: ver o outro sempre novo. Mesmo nas convivências mais agradáveis e serenas, na família, na escola, no trabalho, nunca faltam os momentos de atrito, as divergências, os desencontros. Às vezes se chega a não falar mais um com o outro, ou a evitar-se, isso quando não se estabelece no coração um verdadeiro ódio contra os que têm um ponto de vista diferente. O compromisso mais forte e exigente é procurar ver cada dia o irmão e a irmã como se fossem novos, novíssimos, esquecendo-se completamente das ofensas recebidas e cobrindo tudo com o amor, com uma anistia total do nosso coração, imitando desta forma Deus, que perdoa e esquece. E enfim, alcançamos a paz verdadeira e a unidade quando vivemos a bondade, a misericórdia e o perdão não apenas individualmente, mas juntos, na reciprocidade. E assim como acontece numa fogueira, onde as brasas são sufocadas pela cinza se não forem remexidas, da mesma forma as relações com os outros podem ser sufocadas pela cinza da indiferença, da apatia, do egoísmo, se não reavivarmos de tempo em tempo os propósitos de amor mútuo, os relacionamentos com todos. Essas atitudes precisam ser traduzidas em fatos, em ações concretas. O próprio Jesus demonstrou o que é o amor quando curou os doentes, quando saciou a fome das multidões, quando ressuscitou os mortos, quando lavou os pés dos discípulos. Fatos, fatos: isso é amar.

Chiara Lubich

(Chiara Lubich, in Parole di Vita, Cittá Nuova, 2017, pag. 787)

Áustria:  A viagem de Josef

A resposta a um convite e o início de uma nova aventura. Josef Bambas é focolarino, ou seja, membro consagrado do Movimento dos Focolares. De origem checa, vive em Viena há alguns anos. Ele nos fala sobre as suas escolhas, a vida no focolare e a alegria de acompanhar muitos jovens a descobrirem o próprio caminho. https://www.youtube.com/watch?v=ifEv98c1ebw

Turquia: profecia e unidade para o cuidado com a criação

Expoentes das Igrejas católica e ortodoxa reuniram-se para um encontro sobre a ecologia integral, sob a inspiração dos ensinamentos do Papa Francisco e do Patriarca Ecumênico Bartolomeu I. Instambul, Turquia: representantes das Igrejas católica e ortodoxa, junto a outros membros da sociedade civil, reuniram-se nos dias 8 a 11 de junho de 2022 para o “Halki Summit”, encontro enfocado sobre o tema da ecologia integral. Já na sua quinta edição, o encontro foi organizado pelo Patriarcado Ecumênico de Constantinopla em colaboração, pela primeira vez, com o Instituto Universitário Sophia. Quatro dias nos quais acadêmicos, teólogos e dirigentes, ao lado de estudantes e ativistas, confrontaram-se, buscando soluções para atuar uma mudança green em suas esferas de influência. A aspiração nasceu da visão profética do Papa Francisco, na Encíclica Laudato Sì, e do Patriarca Ecumênico Bartolomeu I, conhecido também como o “Patriarca Verde” justamente pela sua sensibilidade à questão ecológica. Quais os frutos deste Encontro?

Laura Salerno

Para saber mais, assista o vídeo integral: https://www.youtube.com/watch?v=qWZAiqArbOM

Argentina: Aprendizado e Serviço de Solidariedade: 20 anos de Clayss

Aprendizagem e Serviço de Solidariedade é aprender e usar o conhecimento adquirido na sala de aula para transformar a realidade; e aprender na realidade o que nem sempre pode ser aprendido na sala de aula. Clayss, sediada na Argentina, construiu redes e alianças com instituições educacionais no mundo inteiro. Vinte anos de um percurso na educação não são poucos. Nascido como “um sonho louco” em Buenos Aires, em 2002, em meio a uma grave crise econômica e social, o CLAYSS, Centro Latino-Americano de Aprendizagem e Serviço de Solidariedade, estendeu sua ação não apenas à área latino-americana, mas também a muitos países da Europa, Ásia e África. É uma ampla rede construída em conjunto com instituições educacionais envolvendo todas as faixas etárias, do jardim de infância à universidade. Para celebrar estes primeiros 20 anos, foram organizadas 20 conferências em 20 cidades. Na ocasião da etapa em Roma, na Universidade LUMSA, encontramos Nieves Tapia, fundadora e diretora da CLAYSS. “O aprendizado do serviço de solidariedade”, explica a professora Tapia, “combina teoria e prática, permitindo que tanto crianças quanto jovens universitários aprendam, colocando em prática o que sabem a serviço dos outros”. No final de agosto, o XXV Seminário Internacional de Aprendizagem e Serviço de Solidariedade acontecerá em Buenos Aires, enquanto já estão em andamento os trabalhos para preparar uma conferência a ser realizada em Roma, em outubro, que contará com a presença de cerca de cem universidades católicas. “Uniservitate é um programa global para promover o Aprendizado e o Serviço de Solidariedade nas instituições de ensino superior católicas”, diz Nieves Tapia. “O objetivo é gerar uma mudança sistêmica através da institucionalização do Serviço de Aprendizado e Solidariedade para que se tornem uma ferramenta que permita às instituições de ensino superior cumprir sua missão, oferecer uma educação integral às novas gerações e envolvê-las em um envolvimento ativo com os problemas de nosso tempo”, acrescenta. A rede global de Uniservitate está presente em 26 países nos 5 continentes através de parcerias com mais de 30 universidades e instituições educacionais.

Carlos Mana

A nossa entrevista. Ativar legendas em português. https://www.youtube.com/watch?v=mzFTDiOJhJQ

Chiara Lubich: “com o coração dilatado”

A “Santa viagem” que Chiara Lubich nos propõe não deve ser percorrida isoladamente e afastados do mundo. É um caminho para todos sem distinção de idade, de condições sociais e de escolhas de vida. O método é manter o foco no amor ao próximo e no amor recíproco que nos ajudará a ‘‘esquecer’’ do mundo. (…) Somos chamados a permanecer em meio ao mundo e a chegar a Deus através do irmão, portanto, mediante o amor ao próximo e o amor recíproco. Empenhando-nos em caminhar por esta estrada toda original e evangélica ao mesmo tempo, como por encanto encontraremos a nossa alma enriquecida por todas estas virtudes. É necessário o desprezo do mundo: e não existe maior desprezo a alguma coisa do que ignorá-la, não a le­vando em consideração. Se estivermos completamente projetados no outro, a pensar no outro, a amá-lo, nós não consideraremos o mundo, e ele será ignorado, portanto, desprezado. Isso, porém não nos dispensa do dever de fazer toda a nossa parte para afastar as suas sugestões negativas, quando elas recaem sobre nós. E preciso progredir na virtude. É com o amor que o conseguiremos. Por acaso, não está escrito: “Correrei pelos caminhos dos vossos mandamentos, porque sois vós que dilatastes com o amor o meu coração”[1]? Se, amando o próximo, corremos no cumprimen­to dos mandamentos de Deus, significa que estamos progredindo. É necessário o amor ao sacrifício. Amar os outros significa justamente sacrificar a si mesmo para dedicar-se aos irmãos. O amor cristão é sinônimo de sacrifício, mesmo se traz em si grande alegria. É preciso o fervor da penitência? E através de uma vida de amor que encontraremos a melhor e a principal penitência. É necessária a renúncia a si mesmo. No amor para com os outros está sempre implícita uma renúncia a si mesmo. É necessário, enfim, saber suportar todas as adversidades. E no mundo, porventura, os sofrimentos não são causados pela convivência com os outros? Devemos saber suportar a todos e amá-los por amor a Jesus Abandonado. Com isto superaremos muitos obstáculos em nossa vida. Sem dúvida, no amor ao próximo encontraremos o modo por excelência para fazer da vida uma “Santa Viagem”.

Chiara Lubich

(Chiara Lubich, in Conversazioni, Città Nuova, 2019, pag. 262/3) [1] Sl 118, 32

Traduzir um carisma em vida

De 17 a 19 de junho, os pontos de referência das entidades locais que representam o Movimento dos Focolares no mundo se reuniram para se questionar sobre sua função e compartilhar boas práticas e desafios em vários níveis. Como o Movimento dos Focolares está estruturado do ponto de vista jurídico a nível local? De que modo as mariápolis permanentes, as atividades comerciais, as obras sociais presentes nos diversos países em que o Movimento existe são regulamentadas e ligadas ao espírito de fraternidade que as caracteriza? No passado, alguém disse que o Movimento dos Focolares não é uma realidade complicada, mas complexa; uma complexidade que foi evoluindo em quase 80 anos de história e seguida pela difusão das comunidades no mundo: hoje, os membros e os aderentes são cerca de dois milhões e estão presentes em 182 países. São dados que, para ser interpretados, devem ser recuperados a nível local e é aqui que emerge a complexidade: na variedade das formas associativas que refletem as atividades do Movimento a nível regional. Em linguagem técnica, se chamam “entidades” e permitem que uma associação de pessoas exista e opere em um determinado território ou país. De 17 a 19 de junho, os pontos de referência das entidades locais que representam o Movimento dos Focolares no mundo se reuniram, presencialmente e virtualmente, no Centro Mariápolis de Castelgandolfo (Roma, Itália) para se questionar sobre sua função e compartilhar boas práticas e desafios em vários níveis. Markus Alig, conselheiro do Movimento dos Focolares para a Europa Ocidental e para a economia e trabalho expressou bem a necessidade de fazer o balanço: “trabalhar juntos e discutir para consertar obras e estruturas, aumentar a transparência e fazer com que haja a participação dos membros dos Focolares das diversas comunidades, dos projetos e saber como vão as coisas”. Partindo da visão de Chiara Lubich sobre trabalho, Geneviève Sanze e Ruperto Battiston, responsáveis pela economia e pelo trabalho no Movimento, evidenciaram a centralidade no pensamento e na vida dos Focolares. Evidenciaram a importância das entidades que gerenciam mariápolis permanentes ou obras sociais nas quais trabalham juntos focolarinos, pessoas de várias vocações ou que não fazem parte do Movimento. Um tema atual e destacado também pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida que, no último mês de abril organizou o encontro anual com os Moderadores das Associações dos Fiéis, dos Movimentos Eclesiais e das Novas Comunidades, com o tema “Condições de trabalho no interior das associações. Um serviço segundo a justiça e a caridade”. As entidades: a serviço da vida do Movimento dos Focolares no mundo Dos 180 participantes, alguns contam a história e a que ponto estamos das atividades que nasceram sob o amparo das respectivas entidades, como Simon Petre Okello, de Uganda, que descreve a NASSO, Namugongo Social Services Organization Ltd, organização que nasceu em 1999 com alguns membros do Movimento, para a promoção de atividades socioeducativas e sanitárias inspiradas nos princípios de fraternidade. Com o passar dos anos, se desenvolveram três braços: um centro sanitário, um nutricional e, enfim, um socioeconômico. A entidade, portanto, permitiu o desenvolvimento de inúmeras atividades no decorrer dos anos: suporte educativo contínuo da escola primária à universidade; cursos de nutrição terapêutica para crianças e pais, laboratórios dentários, radiológicos, de maternidade e assistência a pacientes antes e depois do tratamento. As atividades sociais incluem também o cuidado com o meio ambiente em parceria com organizações de diversos países. Kit Roble, responsável das entidades do Movimento dos Focolares nas Filipinas, descreve um percurso, ainda em andamento, para maior envolvimento e participação do conselho de administração nos processos de decisão, e prevê, em um futuro próximo, o envolvimento de consultores externos qualificados. Um caminho que mostrou a necessidade de maior escuta recíproca e discernimento comum para enfrentar os vários desafios. Também Renata Dias, advogada nos Estados Unidos, conta sobre um percurso que levou a distinguir as entidades proprietárias de imóveis daquelas que desenvolvem as atividades do Movimento, para separar corretamente as responsabilidades, em um caminho de partilha e transparência. Os especialistas: entre a fidelidade ao carisma e o olhar para o futuro Entre os especialistas que falaram, o professor Patrick Valdrini, ex-reitor da Universidade Católica de Paris, explicou a relevância das experiências associativas nascidas dos carismas eclesiais, a sua colocação no Código de Direito Canônico e as possíveis novas perspectivas. Uma fala que evidenciou as raízes espirituais das estruturas jurídicas necessárias para o funcionamento dos movimentos e das agregações leigas: “Todo carisma pertence à Igreja”, explicou o professor Valdrini, “foi inspirado pelo Espírito Santo e, para oferecê-lo às pessoas, é necessário criar instituições que tornem possível a difusão, mas também protejam o espírito original”. O último dia foi dedicado à constelação de associações nascidas da espiritualidade do Movimento dos Focolares e que promovem o ideal do Mundo Unido. O professor Luigino Bruni recordou que essas associações não podem perder de vista sua ligação com o carisma de Chiara Lubich, do qual partem para encontrar o caminho específico para encarná-lo. Anne Claire Motte, advogada e canonista francesa, hoje na Costa do Marfim, escolhe a palavra “aliança” para expressar o caminho que se deve percorrer com relação às diversas organizações, na escuta, na consideração recíproca e no respeito máximo pelas pessoas. Deixou-nos com o empenho crescente de “fazer redes” para prosseguir juntos, encontrando inspiração uns nos outros.

Stefania Tanesini