Movimento dos Focolares
Carisma, profecia, encarnação

Carisma, profecia, encarnação

Diário da Assembleia Geral/ 3, de 26 de janeiro 2021

Stefan Tobler

“Quem sabe se a nossa missão não seria tanto a de dar a luz e sim a de entrar na escuridão, na lama, no desespero da falta de dignidade,(…) nas mil faces da pobreza de hoje”? Provavelmente foi esta a pergunta provocatória que mais fortemente caracterizou o segundo dia do retiro espiritual da Assembleia Geral do Movimento dos Focolares. Após a oração ecumênica inicial que novamente propôs a necessidade de uma profunda conversão dos corações, Stefan Tobler, teólogo reformado suíço e Paula Luengo, psicóloga chilena, apresentaram o tema central sobre a encarnação: o que significa que Deus se fez homem, último com os últimos? E o que quer dizer para o Movimento hoje, viver e concretizar a espiritualidade da unidade?

Silvina Chemen

Os estudiosos apresentaram suas reflexões a partir de dois pontos de vista complementares. Partindo dos escritos místicos de Chiara Lubich, Stefan Tobler colocou em evidência o valor da encarnação. “Para Chiara não se trata somente de um momento na história do passado, mas de um fato que mudou de modo permanente o significado de toda a Criação e que dá às coisas da terra um valor de eternidade, uma altíssima dignidade”. E a encarnação continuará – concluiu Tobler – se conseguirmos “ter olhos simples que descobrem Deus sob a realidade deste mundo”.

Paula Luengo

Esta nova dignidade que o mundo assume, visto sob esta ótica, deveria provocar uma mudança de perspectiva da nossa parte, explicou Paula Luengo. “Não encontraremos a nossa identidade olhando para nós mesmos, mas abraçando – como diz Chiara – ‘todos os que estão sós’’. Devemos “partir da humanidade com seus abismos. Encarnação é, portanto, um movimento que busca proximidade e rebaixamento”. A esta mesma conclusão chegaram Luigino Bruni, italiano, professor de Economia Política e de História do Pensamento Econômico, e Silvina Chemen, argentina, rabina em Buenos Aires, refletindo sobre “carisma, profecia e encarnação”. Foi colocada uma pergunta: é possível ainda hoje falar de dimensão profética de um carisma? “Quando existem irmãos – explicou Silvina Chemen – há profecia; quando existe fraternidade, ouve-se a voz (de Deus); quando estamos realmente juntos, Deus se manifesta”.

Luigino Bruni

Nos encontros de grupo surgiram muitas perguntas sobre o presente e o futuro do Movimento, como a questão sobre o que significa permanecer fiéis às raízes hoje. “Conseguir entender – explicou Luigino Bruni – nas comunidades carismáticas que a primeira história acabou, aquela história maravilhosa que nos fez sonhar com olhos abertos e nos fez ver o céu. Este é um ato particularmente difícil. Mas a história continuará porque a promessa era maior do que a primeira veste que endossamos, com fé, no início do percurso”. Departamento de Comunicação do Movimento dos Focolares   Texto em pdf

Um pacto global

Um pacto global

Diário da Assembleia Geral / 2, de 25 de janeiro de 2021 O segundo dia da Assembleia Geral dos Focolares começa com uma oração ecumênica apresentada por participantes de várias Igrejas. Dirige-se a Jesus no seu abandono na cruz, a fim de que ajude cada um a “crescer na escuta recíproca”, ensine a “acoDiário da Assembleia Geral / 2, de 25 de janeiro de 2021 O segundo dia da Assembleia Geral dos Focolares começa com uma oração ecumênica apresentada por participantes de várias Igrejas. Dirige-se a Jesus no seu abandono na cruz, a fim de que ajude cada um a “crescer na escuta recíproca”, ensine a “acolher juntos o Espírito Santo” e “o grito da humanidade de hoje” para “nos tornarmos instrumentos de unidade”. Em seguida são realizadas algumas votações, adiadas de ontem, e necessárias para adequar o regulamento da Assembleia às modalidades telemáticas. Com um pequeno atraso, portanto, foi aberto o retiro espiritual para todos os participantes, que terminará na quarta-feira, 27 de janeiro. É um momento constitutivo da Assembleia, como afirmam os Estatutos do Movimento, “para que os eleitores (…) sejam dóceis à graça do Espírito Santo”. O primeiro tema escolhido coloca os participantes diante do que poderia ser definido como a chave de acesso à mística de Chiara Lubich: um pacto solene, que a fundadora fez no dia 16 de julho de 1949 nas montanhas, as Dolomitas, com o escritor político Igino Giordani, co-fundador do Movimento. Nesse pacto – sublinha padre Fábio Ciardi, Oblato de Maria Imaculada e teólogo da vida consagrada – Chiara Lubich e Igino Giordani pediram a Jesus, que haviam recebido pouco antes na Eucaristia, que realizasse Ele mesmo a unidade entre eles, valendo-se da plena e recíproca disponibilidade para acolher um ao outro e a valorizar o pensamento do outro, e assim abrir um espaço para permitir que o Espírito Santo fizesse o seu caminho.

Vicky e Vic,

Ressalta-se também que o perdão e a misericórdia são a base deste pacto, e os participantes da Assembleia são imediatamente convidados a praticar esta premissa. Quem desejasse poderia entrar em contato com algum participante com quem quisesse se reconciliar, antes de formular este pacto – todos juntos e cada um em sua língua – numa oração global que ultrapassava todas as fronteiras.

Somjit, um budista tailandês

Várias histórias e experiências demonstraram, em seguida, como essa mística comunitária pode ser traduzida em vida: das Filipinas, Vicky e Vic, casados, contam como viveram e superaram o contágio do Covid de Vic; Somjit, um budista tailandês, compartilhou como procura viver o dom de si, de acordo com os ensinamentos de Buda. Jordi, da Espanha, um agnóstico, conta também do seu empenho em coordenar, com a sua esposa cristã, vários grupos de diálogo.  

Rassim, um muçulmano argelino

Finalmente, Rassim, um muçulmano argelino, encontrou no Alcorão o incentivo para tolerar os outros e declarar-se pronto para o amor mútuo sem condições. No final deste dia de retiro os participantes dividiram-se em 34 salas virtuais, para os encontros de grupos, nos quais puderam não só compartilhar pensamentos e reflexões, mas também praticar o que foi apresentado na sessão de hoje: uma escuta mútua e profunda e uma acolhida plena entre todos. Departamento de Comunicações Focolares  

Atmosfera solene e familiar

Atmosfera solene e familiar

Diário da Assembleia Geral – 1, de 24 de janeiro de 2021 Começou! Às 12:30 (UTC+1) teve início a Assembleia Geral do Movimento dos Focolares, tão esperada e preparada com grande participação dos membros e aderentes do Movimento, no mundo inteiro. Havia sido convocada para o início de setembro de 2020, mas foi adiada devido à pandemia, e está se realizando em modo telemático. A escolha desta data é significativa: dois dias atrás, em 22 de janeiro, data do nascimento de Chiara Lubich, foi concluído o ano do centenário da fundadora do Movimento, e hoje, 24 de janeiro, recorda o dia no qual, em 1944, Chiara “descobriu” a realidade de Jesus Abandonado sobre a cruz, aquele Jesus que se tornaria o “esposo da sua alma” e que a teria impulsionado a “buscá-lo” em todo sofrimento e dor da humanidade, para construir relações e pontes de unidade. De acordo com o que se encontra escrito em seu regulamento, a Assembleia é “o primeiro e mais importante órgão de governo do Movimento dos Focolares”. São 360 os participantes, dos quais 139 por direito, 181 eleitos e 40 convidados pela Presidente. Embora distribuídos por todo o mundo, os participantes ingressaram na única grande sala virtual todos conscientes da solenidade e da importância deste momento, todos construtores da viva atmosfera da família mundial, que não poderia faltar, nem mesmo em uma plataforma virtual. Maria Voce, que deixa o lugar de presidente do Movimento ao final de seu segundo mandato, abriu a Assembleia com um apelo solene. Convidou todos os participantes a se colocarem na atitude de Jesus na última ceia e lavar os pés uns dos outros, o que significa estar prontos “a escutar-se, a entender-se, a ir além das diferenças, para tornar-se verdadeiramente irmãos, ou seja, verdadeiramente iguais, com a máxima dignidade que Jesus nos dá, porque nos faz filhos de Deus e irmãos e irmãs de todos”. Segundo o regulamento, a sessão de hoje previa várias votações: inicialmente os dois moderadores que coordenarão e conduzirão os trabalhos. Foram eleitos Uschi Schmitt, alemã, médica, e André Ponta, engenheiro italiano. Em seguida foi aprovada a comissão eleitoral, composta por Danilo Virdis, Flavia Cerino, Waldery Hilgeman, Laura Bozzi e Irmã Tiziana Merletti, todos residentes na Itália e, por motivos legais, presentes na sede oficial da Assembleia, o Centro Internacional do Movimento dos Focolares, em Rocca di Papa (Itália). Nas outras votações a Assembleia aprovou a programação destes dias e uma modificação nos Estatutos Gerais do Movimento, que reduziu o número mínimo de conselheiros a serem eleitos, de 30 a 20. A partir de amanhã iniciarão três dias de retiro espiritual para os participantes.

Departamento de Comunicações Focolares

 

Um centenário que se encerra, mas não termina

22 de janeiro de 2020-22 de janeiro de 2021: o ano do Centenário do nascimento de Chiara Lubich termina hoje. Foram 365 dias diferentes do previsto, em meio a uma pandemia, mas que abriu novas estradas e perspectivas. “Celebrar para encontrar” foi o lema escolhido para o Centenário do nascimento de Chiara Lubich (1920-2020), fundadora dos Focolares. No início do centenário, há um ano, muitas iniciativas foram planejadas ao redor do mundo, não imaginando que a pandemia seria também um divisor de águas para a celebração, marcando um antes e um depois, mas não blocando, pelo contrário, em alguns casos fortalecendo, as possibilidades de “encontrar” Chiara. Vamos começar pelo início. Em 7 de dezembro de 2019, o Centenário abriu-se com a inauguração da Mostra “Chiara Lubich Città Mondo”, nas Galerias de Trento (Itália), sua cidade natal. Uma exposição sob o alto patrocínio do Presidente da República Italiana, promovida pela Fundação  Museu histórico do Trentino, em colaboração com o Centro Chiara Lubich. Naquele dia, a Província Autônoma de Trento concedeu a Maria Voce, presidente dos Focolares, o “Selo de São Venceslau”. No dia seguinte, uma seção destacada da exposição também foi inaugurada em Tonadico, no município de Primiero San Martino di Castrozza (Itália), dedicada em particular aos anos 1949-1959. Nas semanas seguintes, em vários países do mundo, a exposição multiplicou-se, repetindo a italiana que foi enriquecida com as peculiaridades locais. Em Nairobi (Quênia) a exposição destacou o desenvolvimento dos Focolares na África; em a Jerusalém uma seção foi dedicada à relação entre a Lubich e esta cidade e ao seu sonho que agora está se tornando realidade: um centro de espiritualidade, estudo, diálogo e formação para a unidade. Chiara Lubich nasceu em 22 de janeiro, e nesse mesmo dia, em 2020, em Roma celebrou-se o Centenário com uma noite dedicada a ela vinte anos após o dia em que a capital italiana também lhe conferiu a cidadania honorária. “Chiara, daquele 22 de janeiro de 2000, – disse o ex-prefeito Francesco Rutelli – assumiu o compromisso de dedicar-se mais e melhor por Roma, personificando o amor mútuo em todos os lugares. O que poderia ser mais bonito do que assumir estas palavras como nossas, hoje”. Alguns dias depois, o Presidente da República Sergio Mattarella, falou no Centro Mariápolis “Chiara Lubich” em Cadine (TN), em um evento do Centenário do qual participaram mais de 900 pessoas. Estavam presentes a Presidente do Movimento Maria Voce, o Co-Presidente Jesús Morán e autoridades locais. A transmissão por streaming teve mais de 20 mil visualizações. Em seu discurso, Mattarella identificou em particular a fraternidade, aplicada à ação civil e política, como a característica distintiva da espiritualidade de Chiara Lubich. Trento também foi o cenário da conferência internacional “Um Carisma a serviço da Igreja e da humanidade”, na qual participaram 7 Cardeais e 137 Bispos, amigos do Movimento dos Focolares de 50 países, que continuou na mariápolis permanente internacional dos Focolares de Loppiano (Incisa Figline em Valdarno – Itália). Em sua mensagem, o Papa Francisco acolheu calorosamente esta conferência, expressando “gratidão a Deus pelo dom do carisma da unidade através do testemunho e do ensinamento (…) de Chiara Lubich”. Nos mesmos dias, no Centro Mariápolis de Castel Gandolfo (Itália), mais de 400 religiosos, consagrados e católicos leigos – com representação ortodoxa – provenientes de 100 famílias religiosas e 33 países foram protagonistas de outro evento ligado ao Centenário: “Carismas em comunhão: a profecia de Chiara Lubich”,  uma oficina de diálogo entre diferentes carismas para fomentar a comunhão entre as famílias religiosas através da espiritualidade da unidade. Então, a pandemia começou a se espalhar pelo mundo. Também para o Centenário, as mudanças chegaram: alguns eventos foram cancelados, outros foram transferidos para a web. A exposição em Trento foi enriquecida com um itinerário virtual, aquela planejada no Brasil, graças a uma equipe intergeracional, transformou-se em um itinerário dedicado a Chiara Lubich que pode ser utilizado através dos perfis sociais de @focolaresbrasil (Facebook, Instagram e Youtube). As iniciativas através da web permitiram a mais pessoas visitarem as exposições dedicadas à Lubich do aquelas que teriam sido capazes de vê-las pessoalmente. Por outro lado, outros eventos puderam ir adiante, como a edição de dois selos postais dedicados a Chiara Lubich na República Tcheca ou o Concurso para as escolas italianas sobre o tema: “Uma cidade não basta”, promovido pelo Centro Chiara Lubich/Novo Centro de Humanidade e pela Fundação do Museu Histórico do Trentino, em colaboração com o Ministério da Educação, Universidade e Pesquisa. A cerimônia de entrega dos prêmios será realizada em 16 de fevereiro de 2021. O lockdown forçou o Centro Internacional de Focolares em Rocca di Papa (Itália) a fechar por alguns períodos em 2020. Entretanto, desde alguns meses atrás, as visitas têm sido possíveis em conformidade com as regras sanitárias atuais. Uma das visitas mais importantes foi a de Sua Santidade o Patriarca de Constantinopla Bartolomeu I, que veio para rezar no túmulo de Chiara Lubich. Houve também muitas publicações novas ligadas ao Centenário e eventos para apresentá-las e promovê-las, tanto em presença como através da web: uma nova edição – a vigésima nona – do livro “Meditações” de Chiara Lubich; dois textos da série “Obras de Chiara Lubich” publicados pela Città Nuova: “Conversas. A Coligação CH”, editado por Michel Vandeleene e “Discursos no âmbito civil e eclesial” editado por Vera Araújo; a nova biografia Chiara Lubich, a estrada da unidade, entre história e profecia escrita por Maurizio Gentilini. A edição inglesa deste último texto também foi apresentada no Consulado italiano em Mumbai, Índia, em um evento transmitido via web dedicado ao Centenário de Chiara Lubich. Estiveram presentes o Cônsul italiano em Mumbai, Stefania Constanza, Vinu Aram, diretora do Ashram de Shanti em Coimbatore e Maurizio Gentilini. Por outro lado, foi escolhida uma modalidade mista – em parte presencial em Trento e em parte “on-line” – para a reunião de estudo “Chiara Lubich em diálogo com o mundo”. Uma abordagem linguística, filológica e literária de seus escritos”. Este encontro foi organizado pelo Centro Chiara Lubich e pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em Linguística, Filologia e Literatura da Escola Abbà (Centro de Estudos Interdisciplinares do Movimento dos Focolares) com especialistas de vários países. Algumas das apresentações estão disponíveis na seção “Documentos e Conferências” do site do Centro Chiara Lubich. Quase no encerramento do centenário, em 3 de janeiro de 2021, Rai Uno, a primeira rede de televisão italiana transmitiu o filme “Chiara Lubich. O Amor vence tudo”, dirigido por Giacomo Campiotti. A Lubich foi interpretada por Cristiana Capotondi. Feito pela Rai Fiction e Eliseo Multimedia, foi visto por 5 milhões de 641 mil espectadores. Muitos outros puderam vê-lo também em outros países do mundo graças à RaiPlay e à Rai Itália. Hoje, 22 de janeiro de 2021, o Centenário chega ao fim e perguntamo-nos: será que isso realmente acaba? A presidente dos Focolares, Maria Voce, falou recentemente sobre o assunto, explicando que “o encontro vivo com Chiara não pode ser limitado nem mesmo a 100 anos, nem mesmo a um ano centenário”. Não acabou, continuará enquanto houver alguém da família de Chiara na Terra que continuará a fazer encontros para testemunhar que Chiara continua está viva, que o carisma de Chiara ainda tem algo a dizer ao mundo”.

Anna Lisa Innocenti

Tem início a Assembleia Geral do Movimento dos Focolares

De 24 de janeiro a 7 de fevereiro próximos se realizará a Assembleia Geral do Movimento dos Focolares. Nela serão eleitos a Presidente, o Copresidente, os membros dos órgãos de direção, e definidas as diretrizes e linhas de ação para os próximos seis anos. Precedida por uma trajetória de formação e informação da qual participaram as comunidades dos Focolares no mundo, domingo, 24 de janeiro de 2021, terá início a Assembleia Geral do Movimento dos Focolares, a terceira realizada após a morte da fundadora, Chiara Lubich. A Assembleia, que deveria acontecer no início de setembro de 2020, foi transferida devido à pandemia; o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida (do Vaticano) consentiu o adiamento e a sua realização inteiramente em modo telemático. Percurso participativo Participarão 362 pessoas, do mundo inteiro, representando as diferentes culturas, gerações, vocações, pertenças eclesiais e credos religiosos presentes no Movimento dos Focolares. A fim de favorecer o envolvimento mais amplo possível, a atual Presidente, Maria Voce, constituiu, em fevereiro de 2019, uma comissão preparatória com a função de recolher propostas de assuntos a serem tratados na Assembleia, identificar os nomes de candidatos às eleições e preparar o programa. Eleições da Presidente, Copresidente, conselheiros Com um sistema de voto telemático, no dia 31 de janeiro se realizará a eleição da Presidente[1], no dia 1º de fevereiro será eleito o copresidente e no dia 4 de fevereiro, por sua vez, os conselheiros que auxiliam a presidente nas diversas funções de governo do Movimento. Ela mesma, em seguida, irá distribuir os encargos de cada conselheiro. Outra função da Assembleia geral é deliberar sobre assuntos propostos pelo Centro do Movimento, apresentados por iniciativa da Presidente, do Conselho geral, de uma seção, setor ou movimento. Qualquer participante da Assembleia pode propor que sejam examinados outros assuntos. Sobre o que se falará? As mais de 3.000 propostas, recebidas de todo o mundo, sobre os temas a serem tratados na Assembleia e as linhas que o Movimento deve seguir nos próximos seis anos, representam muito bem a vivacidade do povo dos Focolares, mas também a consciência da “mudança de época” em ato, como afirmou o Papa Francisco em 2018, ao encontrar a comunidade dos Focolares, em Loppiano. As numerosas instâncias foram dispostas em quatro eixos temáticos: a atualização do carisma transmitido pela fundadora; a cultura que deriva do carisma da unidade; a resposta à crise ambiental; o trabalho em conjunto com as novas gerações. Como afirmou o atual Copresidente do Movimento dos Focolares, Jesùs Morán, em uma recente entrevista, um espaço de diálogo e debate será reservado inclusive ao tema dos abusos contra pessoas em situação de vulnerabilidade, tanto no relatório do sexênio, que será apresentado pela Presidente na abertura da Assembleia, como em um discurso ad hoc do Copresidente. Mesmo na diversidade de expressões, emerge a necessidade geral de identificar caminhos novos e atualizados de fraternidade, capazes de responder aos desafios e questionamentos da humanidade de hoje, em nível global e local. Notícias e atualizações sobre os trabalhos da Assembleia estarão disponíveis diariamente na página web dos Focolares e nos sucessivos comunicados à imprensa. Stefania Tanesini –  +39 3385658244   [1] Como disposto nos Estatutos, o Movimento será sempre presidido por uma mulher. Isto para salientar o seu perfil mariano e a sua conotação prevalentemente leiga e assim “conservar o desígnio previsto por Deus por ter confiado seu início e desenvolvimento a uma mulher”. Como se lê nos Estatutos, “a sua será, antes de tudo, uma presidência da caridade, porque deverá ser a primeira a amar, isto é, a servir os próprios irmãos, recordando as palavras de Jesus: “… e todo o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos” (Mc 10,44).  

Movimento dos Focolares e abusos: um divisor de águas

Entrevista a Jesús Morán Cepedano, Copresidente do Movimento dos Focolares desde 2014, responsável pelas questões morais e disciplinares segundo os estatutos da Obra de Maria (por Lorenzo Prezzi e Marcello Neri). Como Copresidente do Movimento dos Focolares, o senhor se encontrou com as vítimas de abusos em Nantes, na França, no último dia 18 de setembro. Pode nos contar o que aconteceu e as suas reações? Fomos chamados por três das vítimas de Jean-Michel Merlin, um focolarino francês que cometeu os abusos, depois de muito contato que tivemos nos últimos anos, para fazer um balanço da situação e concluir o episódio da melhor forma possível e de maneira justa para eles. Foi uma experiência muito forte para todos nós do movimento que estávamos ali e para mim de modo particular, porque foi um contato com a dor viva, a dor pura de alguém que foi abusado. Não foi a primeira vez que entrei em contato com vítimas de abuso, mas eu nunca tinha feito uma experiência tão intensa assim de relacionamento com a dor antes. Além disso, foi uma situação muito difícil para nós ao constatar a medida das nossas faltas – sobretudo em relação ao caso de Merlin. Isso envolve o acompanhamento das vítimas, a responsabilização pela situação, a desorientação que tivemos como movimento – inclusive o atraso em dar os passos adequados com relação à situação e aos fatos. Foi uma experiência que, ao meu ver, foi um divisor de águas: a partir desse relacionamento pessoal com as vítimas mudou muito a visão deste drama. O trabalho que já havíamos começado para tomar as medidas adequadas diante dos casos de abuso no movimento se acentuou ainda mais depois do encontro em Nantes. A presidente, Maria Voce, tomou a palavra e expressou a vontade de que haja uma clareza total. Em quais situações? Segundo os estatutos da Obra de Maria, é o copresidente que deve cuidar das questões morais e disciplinares para que as formas de vida no movimento estejam de acordo com a doutrina da Igreja. Trata-se de uma tarefa específica sua, mas é sempre feita em unidade e em acordo pleno com a presidente. Nesse sentido, há anos, Maria Voce sempre apoiou todo o meu trabalho. Depois, houve duas ocasiões particulares em que nos expressamos juntos. A primeira vez em 26 de março de 2019, com uma carta escrita a todos os membros do movimento, na qual foram reconhecidas publicamente as nossas faltas, o fato de que verificou-se que houve abusos também dentro da Obra de Maria: afirmando o nosso comprometimento, sobretudo com as vítimas, para reparar tudo o que havia para ser reparado. Na segunda vez, mais recentemente, nos expressamos mais uma vez juntos em um collegamento mundial durante o qual pedimos perdão publicamente a todas as pessoas que sofreram abusos no Movimento dos Focolares, seja sexual, seja abusos de autoridade ou de poder. Qual foi o impacto nos membros do Focolare e do movimento diante da revelação de casos de abuso? Em tantos, a primeira reação foi de quase incredulidade e desgosto: foi um impacto muito forte, porque, para muitos, era impensável que fatos tão dolorosos pudessem ocorrer em um movimento fortemente marcado pelo amor recíproco, em que os relacionamentos têm uma importância espiritual central. Há alicerces do movimento que vão em uma direção totalmente contrária a todas as formas de abuso, como ver Jesus no outro, a vida de unidade, que nos levam a acreditar que os abusos são impensáveis na nossa realidade. Entrar no que Catarina de Siena chamava de “casa do conhecimento de si” foi um processo doloroso para os membros do movimento: ou seja, descobrir nossa inadequação, inclusive no que diz respeito a colocar em prática a vida de unidade, do carisma. Mas trata-se de um processo fundamental para descobrir a própria inadequação e partir de novo com uma confiança não mais ingênua em relação a Deus e aos outros. Essa foi fundamentalmente a experiência de muitas pessoas do movimento – nos escreveram, disseram e comunicaram. As demissões dos responsáveis franceses do movimento e o caso inacreditável de Jean-Michel Merlin são sintomas de alguma fragilidade nos processos de formação interna? Sim, obviamente. Eu disse isso em um comunicado recente aos membros do movimento: essas situações de abuso evidenciaram algumas fragilidades nos percursos formativos e, portanto, devemos cuidar da formação em todas as fases com uma atenção maior às pessoas. De modo particular, devemos fazer um discernimento vocacional sério e verdadeiro – e me refiro aqui não somente aos consagrados, mas também à vocação de qualquer pessoa que queira se empenhar fortemente no movimento. Outro ponto é cuidar melhor e acompanhar as pessoas a quem são confiadas funções de responsabilidade, assegurando que tenham uma formação integral, que tenham capacidade de relacionamento adequada, de escuta, de acolhimento com relação às pessoas. Quanto a tudo isso, trata-se de estabelecer modos de verificar o percurso de formação. Minha impressão é que colocamos uma confiança total na força da espiritualidade e do carisma por anos, mas isso nos levou algumas vezes a negligenciar de algum modo aspectos humanos de que agora somos conscientes e que devem ser observados mais de perto. Isso, olhando tanto o progresso das ciências humanas quanto os avanços nesse campo que estão sendo feitos dentro da Igreja. Quando se abrem as comportas dos testemunhos, eles se multiplicam. O senhor tem a percepção de que isso possa acontecer também no movimento, ou seja, que depois do caso de Merlin, possam emergir outras denúncias de abusos? Sim, já estamos verificando e nos preparando para isso, porque estão chegando outras denúncias e aqui é preciso fazer um discernimento verdadeiro com as verificações necessárias. Em alguns casos, trata-se mais de tensões e conflitos de relacionamento que não se configuram como abusos; em outros casos, trata-se de verdadeiros abusos dos quais não sabíamos, que devem ser tratados como tais com o devido rigor e atenção. Trata-se de um processo de “purificação da memória” que queremos viver com humildade e esperança. Quais instrumentos vocês implementaram para responder essas denúncias de abusos dentro do movimento? Temos duas comissões que se encarregam de situações como essa: uma comissão para o bem-estar e a proteção integral de crianças e adolescentes e pessoas vulneráveis, que já está em operação há alguns anos com um regulamento interno que foi revisado ultimamente, e uma comissão independente das estruturas de governo do movimento para a proteção integral da pessoa, ou seja, para adultos que podem sofrer abusos de autoridade, poder e até mesmo sexual. Esse segundo instrumento é mais recente, com menos experiência com relação à primeira comissão, e justamente nesses dias, depois de cerca de quatro anos de atividade, está redigindo um novo estatuto alimentado pelas experiências feitas até hoje, que será tornado público assim que tiver sua versão escrita definitiva. Esses dois instrumentos agem a nível central; quanto à proteção integral de crianças e adolescentes, também há comissões regionais. Pode ser que se tome essa direção também na proteção integral da pessoa, ligada com os organismos centrais. Estamos avançando com todo esse trabalho em diálogo com o Dicastério para os leigos, porque sentimos a exigência de melhorar os procedimentos sempre a fim de que fique bem claro como é possível dirigir-se a esses órgãos como verificar os vários casos quando há abusos propriamente. Depois, devemos instituir organismos de vigilância a todos os vários níveis. A comissão pela proteção integral de crianças e adolescentes já tem. Nesses órgãos de vigilância, estarão pessoas de fora do movimento para garantir uma transparência maior.” Pode dizer algo com relação à procuração à sociedade britânica GCPS Consulting que se refere a uma investigação dos possíveis abusos dentro do movimento? Trata-se de um comprometimento com as vítimas que encontramos em Nantes. Elas pediram uma comissão totalmente independente, ou seja, não só independente do governo da Obra composta de membros que não têm funções de governo, mas também da Obra, ou seja, composta de pessoas que são de fora do Movimento. Depois de uma pesquisa que durou alguns meses, encontramos essa sociedade britânica que, por enquanto, cuidará somente do caso de Merlin – porque trata-se de um caso grave e exemplar. Veremos como as coisas evoluem, acabamos de dar a procuração para a sociedade britânica e estamos começando a trabalhar com eles. O processo de investigação provavelmente levará um ano: seja quanto aos fatos, porque ainda devemos ver o número real de casos; seja quanto às decisões a serem tomadas e à responsabilidade que temos de assumir. Qual é o papel das vítimas nessa análise interna? O papel das vítimas é fundamental: por exemplo, participarão da investigação que encarregamos à GCPS Consulting, sobretudo na elaboração da agenda de operação; O contato com as vítimas é permanente, nesses meses, os comuniquei de cada passo que demos como movimento. Portanto, as vítimas participarão de todo o processo e estamos sempre em contato em cada caso e situação, na medida do possível. A próxima Assembleia geral do movimento, que começará no fim de janeiro, prevê algum tipo de informação sobre esses fatos? Sim, o tema dos abusos foi incluído no relatório dos seis anos da presidente que abrirá a Assembleia, e também está prevista uma fala ad hoc do Copresidente. Nesse sentido, o tema não será apenas apresentado, mas também aprofundado e discutido durante a Assembleia. O senhor sublinhava a grande confiança no carisma fundador de Chiara, confiança que, por exemplo na recente transmissão televisiva sobre Chiara Lubich, foi testemunhada inclusive a um público muito amplo. Esse patrimônio é renovado, colocado à prova, por esses eventos e de que maneira pode ser reproposto? A transmissão sobre Chiara, mesmo sendo uma ficção com os limites e méritos do gênero, foi um grande dom para todos nós, sobretudo para os membros mais jovens do movimento que não conheceram uma Chiara Lubich jovem. Acredito que a ficção tenha conseguido ressaltar bem o verdadeiro fruto do carisma da unidade, ou seja, um povo que nasceu do Evangelho e vive pela fraternidade universal, com ênfase na comunhão e abertura à humanidade com atenção à dores do mundo. Acho que são temas de grande atualidade. Portanto, nos encontramos diante de uma ficção que pode ser um grande estímulo para ir para frente na encarnação do carisma na Igreja e na sociedade. Fonte: http://www.settimananews.it/ http://www.settimananews.it/ministeri-carismi/focolari-abusi-uno-spartiacque/