Movimento dos Focolares
16 de julho: a mensagem de Margaret Karram no dia do Pacto de Unidade

16 de julho: a mensagem de Margaret Karram no dia do Pacto de Unidade

O dia 16 de julho é significativo para o Movimento dos Focolares. Assinala o aniversário do Pacto de Unidade entre Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, e Igino Giordani, a quem ela considerava cofundador do Movimento. Era o dia 16 de julho de 1949.

Eis a mensagem que a Presidente do Movimento dos Focolares, Margaret Karram, dirigiu, por ocasião desse aniversário, a todos as pessoas que fazem parte do Movimento dos Focolares no mundo.

Reconhecer a beleza: Giulio Ciarrocchi e a sua herança

Reconhecer a beleza: Giulio Ciarrocchi e a sua herança

Um homem, um esposo, um pai; profissional incansável, cristão: são algumas das características que descrevem a pessoa de Giulio Ciarrocchi, focolarino casado falecido há poucos dias, após anos de enfermidade. Um exemplo de grande confiança no desígnio que Deus tinha sobre ele.

Giulio nasceu no Brooklyn (USA), André e Romilda eram os seus pais, e Maria Teresa a sua irmãzinha. Um ano depois a família retornou a Petritoli, cidade da região Marche, no centro da Itália.
Mais tarde Giulio foi estudar em Fermo, uma cidade vizinha. Seu pai, corista do Metropolitan, com alguns discos gravados como solista, transmitiu a ele a paixão pelo canto, tanto que ele, desde jovem, compôs canções.
Era o ano de 1969, em plena contestação juvenil, e ele mesmo conta: “Dentro de mim tudo estava em discussão. Contestava abertamente, tudo e todos, nada me satisfazia”. Aos 22 anos Giulio conheceu a espiritualidade da unidade, de Chiara Lubich: “uma luz fortíssima que abriu os meus olhos ao amor evangélico – continua. Comecei por coisas aparentemente simples, como cumprimentar as pessoas: o outro não era mais um desconhecido, Jesus vivia nele. Antes eu frequentava somente pessoas que tinham os meus mesmos interesses. Agora me dava conta que existiam também os pobres, os marginalizados. Lembro de uma senhora, muito pobre, que todos evitavam porque repetia sempre as mesmas coisas e não costumava lavar-se. Agora, quando a encontrava eu a cumprimentava, dava carona no meu carro para leva-la aonde quisesse. Quando ela adoeceu fui todos os dias vê-la no hospital, até quando morreu. E havia um rapaz com deficiência, rejeitado pela família, que justamente naqueles dias estava internado por ter tentado o suicídio. Demonstrei a ele a minha amizade, aos poucos o ajudei a ter confiança na vida, a reatar o relacionamento com seus familiares, a encontrar um trabalho. Eu experimentava uma tal alegria, uma liberdade tão grande, que todo o resto desaparecia”.

Seguiram-se anos de grande atuação no Movimento Gen, os jovens do Movimento dos Focolares, e assim ele fez do Evangelho o seu estilo de vida. Era fascinado pelos valores nos quais acreditava e pelos quais dava a sua vida: a justiça, a igualdade, a amizade.

Giulio formou-se em economia e, com 26 anos, conheceu Pìna. Eles se casaram a passaram a morar em Ancona (Marche). Após três anos receberam uma proposta: transferir-se a Grottaferrata (Roma), para ajudar na Secretaria Internacional de Famílias Novas. Giulio fez um concurso em um banco, em Roma, e tendo sido admitido transferiu-se, com Pina e as filhas, Francesca e Chiara (mais tarde nasceria Sara). Chegaram em Grottaferrata em 1979.

Desde então, quando voltava do trabalho, Giulio não deixava de passar na Secretaria: só para uma saudação, ou para dar uma ajuda, ou para compartilhar com jovens, noivos ou recém casados, as suas experiências de vida, o trabalho de Deus na vida da sua família.

Em 1993, a Secretaria de Famílias Novas, por unanimidade, pede que seja ele – com sua empatia e presença muito vivas – o condutor do Familyfest, o evento mundial que foi realizado no Palaeur, de Roma.

Ele e Pìna estiveram entre os sócios fundadores da AMU (Ação por um Mundo Unido) e da AFN (Ação por Famílias Novas). Por dois anos fizeram parte do Escritório Nacional para a Pastoral da Família, da Conferência Episcopal Italiana (CEI).

Em maio de 1995, inesperadamente, tudo mudou. Giulio teve um derrame. Conseguiu resistir somente pela rapidez da assistência e graças a sua incrível força de vontade para enfrentar longas internações e fisioterapias extenuantes. Após alguns meses, ele conseguiu enviar estas palavras aos amigos:

: “No dia em que entrei nessa clínica, a leitura da Missa falava de Abraão, convidado por Deus a deixar a sua terra, para ir aonde Ele o teria conduzido. Eu senti que aquele convite era para mim. Em todos esses anos, com empenho e esforço, eu tinha encontrado um equilíbrio. Essa doença havia destruído esse equilíbrio. Devia encontrar um novo, e perguntei a Deus para aonde ele queria me conduzir. Eu estava um pouco assustado por ter que começar tudo novamente. Mas Jesus me deu a resposta e a força para prosseguir”.

A experiência da doença tornou-se uma redescoberta da relação com o Pai: “Estou vivendo uma maravilhosa experiência de relacionamento com Deus e com a comunidade – Giulio escreveu -, mesmo se na dor física, ainda que isso, eu lhe asseguro, seja realmente secundário diante dos grandes dons que recebi”.

Giulio nunca se recuperou, dia a dia as suas condições tornavam-se mais precárias. A sua vida, e a da sua família, foi colocada à dura prova, mas a unidade entre eles, especialmente entre o casal, foi real e indestrutível, tão alegre e fecunda que Chiara Lubich desejou dar a eles, como um sinal, as palavras do Salmo: “Nele se alegram os nossos corações” (33,21).

Por sete anos, com muito esforço, Giulio continuou a trabalhar para alcançar o mínimo da sua aposentadoria, profundamente grato aos colegas que, com delicadeza, ajudaram a sua nova inserção na empresa. Finalmente alcançou a trégua do trabalho, mas não do seu compromisso em crescer na fé, com a oração, a Eucaristia, o amor ao próximo.

Em 2007, um novo desafio. Ele escreve: “Estive no hospital por causa de uma febre alta e convulsões epiléticas. Agora que estou em casa, recebi a resposta dos exames: um carcinoma que deverei tratar com a quimioterapia. Diante dessa nova aventura, repito o meu sim a Jesus. Alguém poderia dizer que Deus me pegou de mira, já que há 12 anos estou vivendo o meu, não fácil, “pós derrame”. Eu, ao contrário, penso que sou muito amado e agradeço a Deus pelo privilégio que me dá: participar do mistério do seu amor, pelo bem da humanidade”.

Em maio de 2025 Giulio e Pina festejaram os 30 anos de doença. Exatamente assim, festejaram. E não porque tudo já tivesse sido superado, mas porque, comentou Giulio: “Foram anos de graça”. Ele tinha começado a perder gradualmente a memória, mas a sua dimensão espiritual permaneceu vigorosa. “Vivo no presente – afirmou no dia 2 de fevereiro de 2025 – e olho para o alto. Jesus me diz: não se preocupe, eu estou aqui, atrás de você”. E no dia 25 de junho, aniversário de Pina, num momento de lucidez, ele lhe disse: “Você sempre fez tudo muito bem, desejo que você faça tudo cada vez melhor!”. No último dia, depois de ter recitado juntos três Ave Maria, Giulio concluiu: “Maria, puríssima, ajuda-nos”.

Giulio foi um presente para todos que o conheceram, e muitos são os dons com que preencheu as pessoas, com a sua existência.

Assim disseram as filhas, em seu funeral:

“O que gostaríamos de compartilhar é a sua capacidade de reconhecer a beleza. Não a beleza estética ou superficial, mas a que se descobre indo em profundidade, superando o medo de acolher a existência com o coração. Aquela beleza invisível, mas potente, guardada nas tramas da vida, que é luz na dor e alegria na doença. Aquela beleza que nosso pai nos fez experimentar, envolvendo-nos nas suas tantas paixões, como a arte, a fotografia, a música, o teatro, as viagens, o mar… paixões que hoje são também as nossas, e que nos permitem ter um olhar aberto e confiante para o mundo, exatamente como ele fez, até o fim. Querido papai, muitas vezes pensamos que vida não foi gentil com você, mas aquela gentileza que não recebeu você a doou, à sua vida e à nossa.

Nestes anos o seu mundo físico ficou restrito, mas o seu mundo interior se dilatou, ensinando-nos a gratidão por cada dia que vivemos”.

A redação com a colaboração de Anna e Alberto Friso

Compartilhamos, em seguida, uma entrevista realizada pelo Centro Santa Chiara áudio visuais, com Giulio e sua esposa, Pina: “Re-enamorar-se dia a dia”.

Assembleia 2026: o caminho de preparação está iniciando

Assembleia 2026: o caminho de preparação está iniciando

A cada cinco anos acontece a Assembleia Geral da Obra de Maria, Movimento dos Focolares.

A próxima será realizada de 1º a 21 de março de 2026.

É uma ocasião para responder à vocação do Movimento dos Focolares: viver pela unidade. Trata-se de um dos eventos mais importantes. Durante a Assembleia serão escolhidos os novos dirigentes do Movimento dos Focolares e os trabalhos oferecerão oportunidades para dialogar sobre ideias, propostas e moções, que serão as diretrizes do Movimento para os próximos cinco anos.

O caminho de preparação está começando: todos nós somos chamados a dar a nossa contribuição.

Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, explica, através desta mensagem em vídeo, como podemos nos preparar de modo sinodal.

Para entender melhor o que é a Assembleia, como se realizará e como preparar-se para esse importante evento, eis um vídeo.

Fraternidade

Fraternidade

Vem, irmão exilado, vamos nos abraçar. Onde quer que você esteja, qualquer que seja seu nome, o que quer que faça, você é meu irmão. O que me importa se a natureza e as convenções sociais se esforçam para separá-lo de mim, com nomes, especificações, restrições, leis?

O coração não se restringe, a vontade não sofre limites e, com um esforço de amor, podemos atravessar todas essas segmentações e nos reunir como família.

Não me reconhece? A natureza o depositou em outro lugar, feito de outra maneira, dentro de outras fronteiras; talvez você seja alemão, romeno, chinês, indiano… talvez seja amarelo, preto, cor de oliva, de bronze, de cobre… mas, o que importa?

Você é de uma nação diferente, mas isso, que importância tem? Quando este pequeno globo, ainda hoje incandescente, se consolidou, ninguém poderia imaginar que, por causa dessas aberrações momentâneas, os seres se matariam por muito tempo.

E ainda hoje, diante dos nossos ordenamentos políticos, você acha que a natureza nos pede licença para manifestar-se nos vulcões, nos terremotos e enchentes? E você acha que ela se preocupa com as nossas diferenças, aparências, hierarquias?

Irmão desconhecido, ame sua terra, seu fragmento da crosta que nos sustenta, mas não odeie a minha. Sob todos os artifícios, sob todas as classificações sociais, por mais codificadas que sejam, você é a alma que Deus criou irmã da minha, da de todos os outros (o Pai é único), e você é como qualquer outro ser humano que sofre e talvez faça sofrer, que passa necessidades mais do que pode oferecer, que é inseguro, que se cansa, tem fome, sede, sono, como eu, como todos.

Você é um pobre peregrino seguindo uma miragem. Você acredita que é o centro do universo, e não é senão um átomo desta humanidade que se movimenta ofegante, entre sofrimentos, mais do que entre alegrias, por milênios e milênios.

Você é um nada, irmão, portanto, unamos as forças ao invés de buscar o confronto. Não se encha de orgulho, não se separe, não acentue os marcos de diferenciação inventados pelo homem.

Você não chorou como eu, quando nasceu? E não vai gemer como eu, quando morrer? Seja qual for o invólucro terreno, a alma voltará nua, igual. E você, venha. De além de todos os mares, climas, de todas as leis; de além de qualquer compartimento social, político, intelectual; de além de todos os limites (nada mais o homem saber fazer senão circunscrever, subdividir, isolar), você, irmão, venha.

Em vós reconheço o Senhor. Sejamos livres e, desde já, irmãos que somos, abracemo-nos.

Igino Giordani
em: Revolta católica, Città Nuova, 1997 (ed. Piero Gobetti, Torino, 1925)

Aos cuidados de Elena Merli

Foto: © CM – CSC Audiovisivi

“Um samaritano, porém, que estava viajando, chegou perto dele e, ao vê-lo, moveu-se de compaixão.” (Lc 10,33)

“Um samaritano, porém, que estava viajando, chegou perto dele e, ao vê-lo, moveu-se de compaixão.” (Lc 10,33)

Martinho está no metrô de uma grande cidade. Todos os passageiros estão concentrados em seus celulares: virtualmente conectados mas, na realidade, presos na armadilha do isolamento. Ele pergunta a si mesmo: “Será que não somos mais capazes de olhar nos olhos uns dos outros?”

Essa é a experiência habitual, especialmente nas sociedades que são ricas de bens materiais, mas cada vez mais pobres de relacionamentos humanos. Enquanto o Evangelho volta sempre com sua proposta original, criativa, capaz de “fazer novas todas as coisas”[1].

No longo diálogo de Jesus com um doutor da Lei, este lhe pergunta o que deve fazer para herdar a Vida eterna[2]. Jesus responde com a conhecida parábola do Bom Samaritano: um sacerdote e um levita, figuras importantes para a sociedade da época, veem na beira da estrada um homem que tinha sido atacado por assaltantes, mas passam direto.

“Um samaritano, porém, que estava viajando, chegou perto dele e, ao vê-lo, moveu-se de compaixão.”

Ao doutor da Lei, que conhece bem o mandamento divino do amor ao próximo [3], Jesus propõe como modelo um estrangeiro, considerado cismático e inimigo: também esse vê o homem ferido, mas é movido pela compaixão – um sentimento que vem de dentro, do mais profundo do coração humano –; por isso, interrompe sua viagem, se aproxima do ferido e cuida dele.

Jesus sabe que todos os seres humanos são feridos pelo pecado, e que a Sua missão é precisamente esta: curar os corações com a misericórdia e o perdão gratuito de Deus, para que eles, por sua vez, sejam capazes de mostrar proximidade e partilha.

“[…] Para aprendermos a ser misericordiosos como o Pai, perfeitos como Ele, devemos olhar para Jesus, que é a plena revelação do amor do Pai. […] O amor é o valor absoluto que dá sentido a todo o resto, […] que encontra sua expressão mais alta na misericórdia. Misericórdia que ajuda a ver sempre novas as pessoas com as quais vivemos a cada dia, na família, na escola, no trabalho, sem nos lembrarmos mais dos seus defeitos, dos seus erros; que nos leva a não julgar, mas a perdoar as injustiças sofridas. Mais ainda: a esquecê-las” [4].

“Um samaritano, porém, que estava viajando, chegou perto dele e, ao vê-lo, moveu-se de compaixão.”

A resposta final e decisiva de Jesus é expressa com um convite claro: “Vai e faze o mesmo” [5]. É isto que Ele repete a todo aquele que acolhe a Sua Palavra: fazer-se próximo, tomando a iniciativa de “tocar” as feridas das pessoas que encontra todos os dias nos caminhos da vida.

Para viver a proximidade mostrada pelo Evangelho, peçamos a Jesus, antes de mais nada, que nos cure da cegueira dos preconceitos e da indiferença que nos impede de vermos para lá de nós mesmos.

Além disso, aprendamos com o samaritano a abertura à compaixão, que o leva a arriscar a própria vida. Imitemos a sua prontidão de dar o primeiro passo em direção ao outro e a disponibilidade para escutá-lo, para assumir como nossa a sua dor, livres de julgamentos e da ansiedade de estar “perdendo tempo”.

Foi esse o testemunho de uma jovem coreana: “Procurei ajudar uma adolescente que não era da minha cultura e que eu não conhecia bem. Mesmo sem saber direito o que ou como deveria fazer, criei coragem e tentei. E fiquei surpresa ao perceber que, ao oferecer essa ajuda, eu mesma me vi ‘curada’ das minhas feridas interiores.”

Esta Palavra de Vida nos oferece a chave de ouro para realizar o humanismo cristão: ela nos torna conscientes da humanidade que temos em comum, na qual se reflete a imagem de Deus; ela nos ensina a superar com coragem os esquemas da “proximidade” física e cultural. A partir dessa perspectiva, é possível expandir os limites do “nós” até o horizonte do “todos” e descobrir os próprios fundamentos da vida em sociedade.

Org.: Letizia Magri
com a comissão da Palavra de Vida


Fotos © John-Lockwood – Unsplash

[1] Cf. Ap 21,5.
[2] Cf. Lc 10, 25-37.
[3] Dt 6,5; Lv 19,18.
[4] LUBICH, Chiara, Amor que é misericórdia, Palavra de Vida, junho de 2002.
[5] Lc 10,37.