Movimento dos Focolares
Uma humanidade, um planeta: liderança sinodal

Uma humanidade, um planeta: liderança sinodal

O Movimento Político pela Unidade juntamente com a Ong New Umanity, expressões do Movimento dos Focolares, com o apoio de Porticus, promovem o projeto político global intitulado “Uma humanidade, um planeta: liderança sinodal”. Dirigido a jovens de 18 a 40 anos que possuam experiência em representação política, liderança governativa ou em movimentos sociais, o programa oferece formação acadêmica, mentoria personalizada e um hackathon, em Roma, com especialistas internacionais.

Objetivo: fortalecer a participação de jovens políticos nos processos de defesa política em nível global, por meio de um processo de reflexão e ação colaborativa entre líderes sócio-políticos, gerando uma rede global de jovens líderes de vários continentes. Um desafio para a superação das crises atuais (sociais, ambientais, políticas e econômicas) e uma contribuição para que seja criada uma rede de liderança, para a geração e o desenvolvimento de estratégias políticas em nível internacional.

O programa iniciará no final de abril de 2025, o prazo para as inscrições é até dia 31 de março, terá a duração de dois anos e será totalmente gratuito. Espera-se a contribuição de instituições acadêmicas de prestígio e ONGs internacionais. O curso acontecerá seja de modo presencial que online, através de módulos interativos, com especialistas de todo o mundo, incluindo líderes políticos proeminentes e professores de universidades renomadas. É previsto um evento de uma semana em Roma – de 6 a12 de outubro de 2025 – com convidados internacionais, para a criação coletiva de propostas de ações em conjunto e em nível global, para resolver os desafios sociais, ambientais e econômicos da atualidade.

O idioma não deve ser um obstáculo. Por esse motivo, as reuniões síncronas serão traduzidas para o espanhol, português, francês, inglês, italiano ou outro idioma, conforme necessário.

O que o programa oferece?

É um processo abrangente de ação coletiva que integra treinamento, informações, relações, ferramentas e reuniões. Oferece experiências e ferramentas para aumentar a qualidade da política e melhorar o impacto na transformação social. Haverá espaços para treinamento e construção de conhecimento coletivo com intercâmbios com palestrantes e especialistas, com tempos destinados à reflexão entre os participantes. Os jovens participantes serão sempre acompanhados por um mentor com experiência política para aprimorar seu próprio projeto político nas áreas social, econômica e ambiental e serão incluídos – a partir do segundo ano – em uma rede global de 600 jovens líderes de diferentes continentes.

No final será entregue um diploma formal, atestando a participação no programa.

Para maiores informações clique aqui, ou entre em contato com politicalinnovation@mppu.org

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Lorenzo Russo

Foto: © Pexels

Viver o jubileu morando em Roma

Viver o jubileu morando em Roma

Neste ano dedicado ao Jubileu da esperança, os e as Gen4 de Roma – as crianças do Movimento dos Focolares – iniciaram um percurso por etapas para aprofundar a história do cristianismo e entender como viver o Jubileu na cidade deles, que acolhe milhões de peregrinos provenientes do mundo inteiro. As etapas envolvem as basílicas papais de Roma: São Pedro, São João de Latrão, São Paulo Fora dos Muros e Santa Maria Maior. Como guia, pediram a ajuda de Padre Fabio Ciardi, OMI, professor de teologia espiritual e autor de vários livros e publicações.

Primeira etapa: basílica de São Pedro

Em outubro de 2024, a dois meses do início do Jubileu, 33 crianças com alguns adultos, antes de entrar na basílica de São Pedro, puderam conhecer uma realidade totalmente particular, localizada ao lado da residência que aloja o Papa Francisco. É o Dispensário de Santa Marta, um lugar onde o Evangelho se faz vivo todos os dias e se manifesta por meio da ajuda a centenas de mães e crianças. Foi uma oportunidade para explicar aos Gen4 como pode-se viver concretamente o Jubileu ajudando o próximo.

“É um verdadeiro consultório familiar, que começou essa obra de atenção às crianças pobres e a suas famílias em 1922”, explica o Padre Fabio. “Hoje, mais de 400 crianças e suas mães recebem a ajuda gratuita de aproximadamente 60 médicos voluntários. A maior parte é de pessoas sem o permesso di soggiorno, ou seja, uma autorização para ficar na Itália, e sem assistência sanitária.” São oferecidas consultas ginecológicas e pediátricas, mas também odontológicas, para os sem-teto.

Assim, o Padre Fabio liga a sua história com a de São Pedro por meio de alguns desenhos. As crianças, em silêncio solene, escutam a voz dele por meio de fones: “Jesus encontra Simão, o pescador, e o convida a segui-lo. ‘Venha comigo, diz a ele, e farei de você pescador de homens’. E lhe dá um nome novo, chama-o de Pedro, que quer dizer pedra, porque quer construir sobre ele a sua Igreja”. E, à medida que a história continua, vão andando pela basílica para rezar sobre a tumba de São Pedro. “Pedro veio a Roma. Quando Nero incendiou a cidade, culpou os cristãos e Pedro foi morto no circo do imperador Calígula, que Nero havia reformado… e finalmente a tumba de São Pedro em sua basílica.” Havia uma atmosfera de recolhimento entre os Gen4, apesar do grande fluxo de turistas naquele sábado à tarde. Caminhando em direção à Porta Santa, descobre-se algumas obras de arte. “Chiara Lubich gostava muito desta Nossa Senhora”, conta o Padre Fabio na nave da direita. “Todas as vezes que vinha à basílica, parava aqui para rezar para Maria.”

A etapa em São João de Latrão

Em janeiro de 2025, chegam à segunda etapa. Dessa vez, o grupo é mais robusto: 140 pessoas dentre as quais 60 crianças, sempre sob a guia especialista do Padre Fabio, se reencontraram para descobrir a basílica de São João de Latrão, rica de surpresas e tesouros ligados à história do cristianismo. Atentos e curiosos, com os fones nos ouvidos, durante um pouco mais de duas horas, os Gen4 escutaram a história intensa de Padre Fabio.

“Foi muito bonito contar a história do obelisco e explicar o significado do claustro”, escreveu o Padre Fabio em seu blog, “foi muito bonito contar as histórias de São João Batista e de São João Evangelista e deixar que as crianças descobrissem as estátuas deles na basílica. Foi muito bonito mostrar a antiga cátedra do Papa e a atual, na qual ele se senta para tomar posse. Foi muito bonito mostras as relíquias da mesa sobre a qual Jesus celebrou a última ceia e sobre a qual Pedro celebrava aqui em Roma. Foi muito bonito atravessar juntos a Porta Santa… Foi muito bonito estar com as crianças e contar histórias bonitas…”.

A esse ponto, as crianças já haviam construído um relacionamento especial com o Padre Fabio. Caminhavam pela basílica ao seu lado, apertavam a sua mão, faziam perguntas para saber mais. “Mas como é o Paraíso?”, perguntou uma Gen4. “Imagine um dia difícil na escola. Quando acaba, você volta para casa e a encontra muito bonita, aconchegante, calorosa, com os seus pais, avós, amigos que lhe dão alegria e atenção. Você se sente feliz naquele momento, certo? O Paraíso é assim: um lugar onde você fica bem, onde se sente em casa!” Essa etapa também terminou. Voltam para casa felizes e conscientes de que o Jubileu deve ser para nós um momento para dar esperança e felicidade aos mais necessitados, aos nossos pobres, a quem sofre.

O percurso continua e as belas ocasiões se renovam com as outras gerações

Esperando prosseguir esses percursos com os Gen4, também os Gen3 (40 adolescentes), os Gen2 (30 jovens) e um grupo de adultos, fascinados com a experiência positiva que as crianças estavam vivendo com Padre Fabio, quiseram fazer o mesmo percurso, sempre guiados por ele.

“Primeiro as crianças, depois os adolescentes, os jovens, os adultos. São João de Latrão, São Pedro, São Paulo e Santa Maria Maior. Assim vivo e faço viver o Jubileu”, escreveu o Padre Fabio em seu blog. “Histórias de arte, espiritualidade, história, porque tudo é entrelaçado, humano e divino, passado e presente. São monumentos vivos, que ainda falam, mesmo após centenas de anos, e continuam narrando coisas sempre belas.”

E os jovens agradeceram o Padre Fabio assim: “por ter preparado os nossos corações para uma experiência tão bonita, você nos ajudou a percorrer juntos essa etapa do ano santo, com profundidade e ironia. Gostamos muito da atmosfera que você conseguiu criar, suscitando em nós a vontade de visitar juntos outros lugares romanos importantes para os primeiros cristãos e o desejo de aprofundar o significado de ser peregrinos em caminho para meta do Paraíso”.

Lorenzo Russo

Instituto Universitário Sophia: inicia-se o ano letivo 2024-2025

Instituto Universitário Sophia: inicia-se o ano letivo 2024-2025

Na terça-feira, 04 de março, iniciou-se o 17º ano letivo do Isstituto Universitário Sophia em Loppiano (Figline e Incisa Valdarno – Florença). A cerimônia ocorreu na Sala Magna do Instituto, com a presença de toda a comunidade acadêmica e de uma representação da rica rede de parceiros e colaboradores que o Instituto Universitário Sophia soube construir com Instituições, outras universidades e realidades do terceiro setor nesses 17 anos de vida.

A programação contou com: o Magnífico Reitor Declan O’Byrne; o Grão-Chanceler do Instituto, S. E. Mons. Gherardo Gambelli, arcebispo de Florença; a Vice Grã-Chanceler, Dra. Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares; o bispo de Fiesole, S. E. Mons. Stefano Manetti; o prefeito de Figline e Incisa Valdarno, Valerio Pianigiani; Paolo Cancelli, diretor do Escritório de Desenvolvimento da Pontificia Università Antonianum; Marco Salvatori, presidente do Centro Internacional Estudantil Giorgio La Pira.

No centro da cerimônia, a aula inaugural intitulada “Diálogo, religiões, geopolítica” dada por Fabio Petito, professor de relações internacionais e diretor da Freedom of Religion or Belief & Foreign Policy Initiative na Universidade de Sussex, além de coordenador científico do Programa de religiões e relações internacionais do Ministério de Relações Exteriores e ISPI (Instituto de Estudos de Política Internacional). Petito destacou como hoje “a religião parece ser parte e, às vezes, o centro do cenário atual de instabilidade e crise internacional”. Porém, apesar de se tratar de um fenômeno menos visível globalmente, “não se pode negar que no último quarto de século houve um crescimento significativo do esforço de representantes das comunidades religiosas em responder à violência e tensões políticas por meio de iniciativas de diálogo e colaboração inter-religiosa”. Petito destacou, assim, a importância que lugares como o Instituto Universitário Sophia podem ter em aprofundar e difundir com criatividade a cultura do encontro e “fazer florescer sementes de esperança e frutos de unidade e fraternidade humana”.

Em pleno estilo Sophia, comunidade acadêmica internacional e laboratório de vida, formação, estudo e pesquisa, depois da aula inaugural houve um momento de diálogo, moderado pelo jornalista do Vaticano Andrea Gagliarducci (Eternal Word Television Network e ACI Stampa), que teve como protagonistas o Grão-Chanceler Mons. Gherardo Gambelli, em sua primeira visita ao Instituto, e a vice Grã-Chanceler dra. Margaret Karram e seis estudantes da universidade.

O diálogo, partindo das histórias pessoais dos jovens provenientes da Terra Santa, Filipinas, Argentina, Kosovo, Serra Leoa e Peru, abordou temas de importância global e atualidade sensível: o valor da diplomacia de base para a resolução dos conflitos e a busca pela paz; o esforço por uma economia mais justa e igual, com a experiência de Economy of Francesco; o papel dos jovens do Mediterrâneo na construção de uma cultura do encontro; o valor da

reconciliação e do diálogo inter-religioso, em particular entre cristãos e muçulmanos com a experiência de Sophia de Wings of Unity; a esperança dos jovens africanos envolvidos no projeto Together for a New Africa, para a mudança e o bem comum do continente deles; a inquietude e fragilidade dos jovens em busca de uma vocação e realização no mundo globalizado.

O início do ano letivo 2024-25 evidenciou, mais uma vez, a capacidade dessa ainda pequena realidade acadêmica de formar jovens preparados para enfrentar a complexidade do mundo atual, em uma perspectiva transdisciplinar e de trabalhar em sinergia com especialistas de vários campos e Instituições para promover concretamente na vida social o diálogo entre culturas, impulsionando o crescimento interior, intelectual e social das pessoas em uma dinâmica de reciprocidade.

O Grão-Chanceler do Instituto, S. E. Mons. Gherardo Gambelli, arcebispo de Florença: “Entre os objetivos do Instituto, está aquele de ‘promover o diálogo entre as culturas concretamente na vida social, impulsionando o crescimento interior, intelectual e social das pessoas em uma dinâmica de reciprocidade’. Emergem diversas palavras-chave neste projeto: promoção, vida social, diálogo, crescimento interior, intelectual e social, reciprocidade. Todos esses termos são endereçados ao crescimento pessoal, tornando, assim, o indivíduo capaz não só de saber habitar dignamente o ‘nós’ da comunidade na qual está inserido, mas também de se sentir sempre mais habitado por aquele ‘nós’ ao qual pertence. Um ‘nós’ que não quer se contrapor a um hipotético ‘vocês’, mas que se torna cotidianamente capaz de abraçar tudo o que se apresenta com a face do outro, do diferente, do excluído”.

A vice Grã-Chanceler, dra. Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares: “É importante que em uma instituição como a nossa se destaque o diálogo e o papel das religiões na situação mundial atual, na qual – como estamos vendo nesses últimos dias – pessoas e povos correm o risco de se afogar na desorientação e desconforto. (…) O Instituto Universitário Sophia, enquanto ‘casa’ de uma cultura fundamentada no Evangelho, também está comprometido com e na Igreja para oferecer respostas e orientações à luz do carisma da unidade. Cabe a nós, agora, a tarefa de ir para frente com coragem e nos empenharmos para que a o trabalho deste Instituto Universitário em vista da promoção da cultura da unidade, que participa na construção da paz e da fraternidade entre pessoas e povos, seja cada vez mais reconhecido”.

Declan O’Byrne, Magnífico Reitor do Instituto Universitário Sophia: “Juntos, como uma comunidade acadêmica unida por um ideal comum, continuamos a construir o Instituto Sophia como um farol de sabedoria e unidade no panorama da educação superior. Que o nosso empenho coletivo possa continuar a iluminar as mentes, inspirar os corações e transformar a sociedade, com um passo de cada vez, em direção àquela civilização de amor que todos desejamos”.

Valerio Pianigiani, prefeito de Figline e Incisa Valdarno: “Diante das divisões e violência que não podem nos deixar indiferentes, a sabedoria, o conhecimento, a tolerância e a compreensão do mundo que nos circunda podem ser o antídoto para a brutalidade e divisões. Uma ponte que ajuda a compreender o outro, sob a ótica de trabalhar todos juntos e de nos empenharmos pelo bem comum. Obrigado a quem trabalha neste Instituto com paixão e comprometimento todos os dias para fazer crescer mentes sempre mais conscientes também aqui, em Figline e Incisa Valdarno, uma comunidade que cresce firmemente no valor da paz, da solidariedade e do diálogo”.

Stefano Manetti, bispo de Fiesole: “O esforço em dialogar e se comunicar com todos encurta as distâncias, elimina a marginalização, se torna um sinal de esperança evangélico de que precisamos muito. Portanto, meus votos são que os docentes e estudantes continuem a resgatar os últimos por meio do dom das relações, da partilha de temas culturais, e que continuem sendo ‘anjos da esperança’ para todos aqueles que encontrarem em seu caminho”.

Paolo Cancelli, diretor do Escritório de desenvolvimento da Pontificia Università Antonianum: “Estamos convencidos de que devemos trabalhar juntos na cultura do diálogo como caminho, na colaboração comum como conduta, no conhecimento recíproco como método e critério. (…) Devemos colocar no centro a humildade, a vocação de servir um processo no qual temos uma certeza: ninguém se salva sozinho. E justamente nessa lógica, que é aquela da sinfonia da diversidade, chegou o momento de colocar em campo os nossos talentos, as nossas emoções, a nossa vontade, para construir aquela que é a oportunidade de um futuro diferente. Um futuro no qual a fraternidade e a harmonia possam de algum modo nos acompanhar nessa sinfonia da diversidade que tornam autêntica a missão universitária. Acredito que a nível acadêmico e a nível científico, se realize a inter e transdisciplinaridade. Temos diante de nós um poliedro de complexidade e não podemos resolver situações sozinhos de uma única matéria. É preciso a ideia de estarmos juntos”.

Marco Salvadori, Presidente do Centro Internacional Estudantil Giorgio La Pira: “É com grande alegria que trago as saudações do Centro Internacional Estudantil Giorgio La Pira. O início de um novo ano letivo é sempre um momento de grande entusiasmo e reflexão. É a oportunidade de olhar para frente, de aceitar os desafios e de contribuir com a construção de um mundo mais justo e sustentável por meio do estudo, empenho e dedicação. O que celebramos hoje não é só o início de um novo ano letivo, mas a possibilidade de aprender, crescer juntos e construir laços duradouros entre culturas e gerações. Então, desejo a todos, em especial aos jovens estudantes, um ano rico de descobertas, de crescimento pessoal e profissional”.

Guatemala: um focolare no coração indígena do país

Guatemala: um focolare no coração indígena do país

Marta, Lina, Efi e Moria são quatro mulheres, quatro focolarinas, que na vida percorreram caminhos diferentes e que agora acharam um ponto de encontro entre sonhos, realidade e a disponibilidade de transferimento dos seus focolares para Chimaltenango, com o objetivo de iniciar uma experiência de vida comunitária em uma cidade onde pobreza, interculturalidade e divisões entre etnias são o pão de cada dia.

Chimaltenango é uma cidade da Guatemala, a 50 km da capital, a 1.800 metros acima do nível do mar. Com uma população de quase 120.000 habitantes de 23 diferentes povos indígenas que se reuniram lá para conseguir sobreviver economicamente.

“Vivi na Argentina durante muitos anos”, diz Efi, originária do Panamá. “Em seguida transcorri alguns anos no México e, pouco antes da pandemia, cheguei à Guatemala, onde permaneci apenas três meses. Logo precisei ir ao Panamá para ficar com minha mãe, que adoeceu e faleceu. Foi um ano que me serviu também para refletir sobre muitas coisas, para fazer um balanço do que eu tinha vivido até então, e para renovar a minha decisão, tomada anos atrás, de doação a Deus”. Ela retornou à Guatemala para este projeto em Chimaltenango.

“Cresci em um ambiente rural, com gente muito simples e meu sonho sempre foi fazer algo pelos mais humildes”, nos diz Efi. “Aqui a pobreza é muito grande. E há também as comunidades indígenas, há pessoas que conheceram a espiritualidade do Movimento dos Focolares e que, devido à pandemia e a realidade social em que vivem, foram deixadas à margem (da sociedade)”.

Lina é guatemalteca, de origem Maia, Kaqchikel. Ela nos explica que uma das divisões mais evidentes é entre indígenas e mestiços (também chamados de “ladinos” na Guatemala, eles englobam todos aqueles que não são indígenas). Não há relações fraternas, não há diálogo. “Para mim, sempre foi um objetivo superar aquela divisão. Desde o momento em que tive meu primeiro contato com o Movimento dos Focolares, pensei que essa seria a solução para a minha cultura, para o meu povo, para a minha gente”. Ela recorda também do momento que, em dezembro de 2007, na conclusão do período de formação à vida comunitária no focolare, quando despediu-se de Chiara Lubich, dizendo-lhe: “Sou indígena e comprometo-me em levar essa luz ao meu povo Kaqchikel. Senti que era um compromisso expresso diante dela, mas assumido com Jesus”. Em seu retorno à Guatemala, dedicou-se com empenho ao acompanhamento das novas gerações, sempre com o objetivo de criar vínculos de unidade tanto nas comunidades indígenas quanto na cidade.

Marta também é guatemalteca. Mestiça. Em seus primeiros anos no focolare, pôde dedicar-se também à difusão do carisma da unidade nas comunidades indígenas. Posteriormente, ocupou-se da gestão do Centro Mariápolis, local para os encontros, na Cidade da Guatemala. Um trabalho intenso que durou 23 anos que assistiu ao desenvolvimento do processo de reconciliação nacional e da reivindicação dos povos indígenas, pois as diferentes comunidades indígenas escolheram o Centro Mariápolis como lugar de encontro. A seguir esteve no México por um período. Naquela época, falava-se de identidade. E espontaneamente surgiu-lhe a pergunta: “Qual é a minha identidade? Quais são as minhas raízes?” Ela encontrou a resposta na Virgem de Guadalupe, que, na sua aparição no México, em 1531, foi representada no poncho de Juan Diego com características somáticas típicas dos povos originários americanos. “Compreendi que eu era mestiça como ela, que possui ambas as raízes, portanto podia dialogar com as duas partes”.

Moria, que é de Chimaltenango, por motivos de saúde vive com sua família, mas é membro do focolare, assim como Lídia, uma focolarina casada que vive na Cidade da Guatemala.

Histórias que se entrelaçam até se estabelecerem nessa cidade que reúne várias proveniências, muitas culturas em uma única cultura. “Nosso desejo é estar com as pessoas, aproximarmo-nos delas. Nas coisas simples, do dia a dia”, diz Efi, “um simples cumprimento, um sorriso, parar um instante, fazer companhia àquela senhora que não sabe falar espanhol, porque fala sua própria língua e não nos entendemos”. E nos conta: “Um dia, precisei comprar pão. Fui ao mercado e as mulheres que vendiam estavam sentadas no chão em uma esteira de vime. Para dialogar com uma delas, me coloco no mesmo nível, me inclino. Como se trata de uma atividade comercial, não tento negociar para baixar o preço”.

“Desde que chegamos, nos propusemos a retomar o contato com as pessoas que, em momentos diferentes, conheceram a espiritualidade da unidade — intervém Lina — indo visitá-las em suas casas, levando sempre algo, uma fruta, por exemplo, como é costume entre esses povos”. Deste modo, cria-se um círculo de reciprocidade que as aproxima ao focolare. Na casa ressoam vozes de mães com os filhos, também de jovens e, às vezes, de alguns pais que tomam coragem e as acompanham. E assim, sem precisar procurar, surge uma comunidade em torno desse novo focolare, no coração da cultura indígena da Guatemala.

Carlos Mana
Foto: © Focolar Chimaltenango

“Por que reparas no cisco no olho do teu irmão, e a trave no teu próprio olho não percebes?” (Lc 6,41).

“Por que reparas no cisco no olho do teu irmão, e a trave no teu próprio olho não percebes?” (Lc 6,41).

Tendo descido da montanha, depois de uma noite de oração, Jesus escolhe os seus apóstolos. Chegando a um lugar plano, faz-lhes um longo discurso que começa com a proclamação das Bem-aventuranças.

No texto de Lucas, diferentemente do Evangelho de Mateus, as Bemaventuranças são apenas quatro e se referem aos pobres, aos que passam fome, aos sofredores e aos aflitos. Lucas acrescenta ainda quatro advertências contra os ricos, os fartos e os arrogantes[1]. Na sinagoga de Nazaré [2], Jesus tinha assumido a missão de cumprir esta predileção de Deus pelos últimos, ao afirmar que sobre Ele está o Espírito do Senhor e que leva a Boa Nova aos pobres, a libertação aos presos e a liberdade aos oprimidos.

Jesus continua seu discurso exortando os discípulos a amar até mesmo os inimigos [3]. Essa mensagem encontra a raiz de sua motivação no comportamento do Pai Celeste: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).

Essa afirmação é também o ponto de partida para o que vem a seguir: “Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados” (Lc 6,37).
Mais adiante Jesus adverte, através de uma imagem deliberadamente exagerada:

“Por que reparas no cisco no olho do teu irmão, e a trave no teu próprio olho não percebes?”

Jesus conhece realmente o nosso coração. Quantas vezes na vida quotidiana fazemos esta triste experiência: é fácil criticar, até severamente, os erros e as fraquezas de um irmão ou de uma irmã, sem levar em conta que, fazendo isso, atribuímos a nós mesmos um direito que pertence somente a Deus. O fato é que, para “tirar a trave” do nosso olho, precisamos daquela humildade que vem da consciência de sermos pecadores, continuamente necessitados do perdão de Deus. Somente quem tem a coragem de perceber a própria “trave”, de ver o que precisa fazer pessoalmente para se converter, será capaz de compreender as fragilidades e as fraquezas suas e dos outros, sem julgar, sem exagerar.

Contudo, Jesus não está convidando a fechar os olhos e ficar no “deixa pra lá”. Ele deseja que seus seguidores se ajudem uns aos outros a progredir no caminho para uma vida nova. Também o apóstolo Paulo pede com insistência que nos preocupemos uns com os outros: admoestando os que levam vida desordenada, encorajando os desanimados, sustentando os fracos, sendo pacientes para com todos[4]. Só o amor é capaz de realizar um serviço dessa natureza.

“Por que reparas no cisco no olho do teu irmão, e a trave no teu próprio olho não percebes?”

Como colocar em prática esta Palavra de Vida?

Além do que já foi dito, podemos pedir a Jesus, a partir deste tempo de Quaresma, que nos ensine a ver os outros como Ele os vê, como Deus os vê. E Deus vê com os olhos do coração porque o Seu olhar é um olhar de amor. Depois, como ajuda mútua, poderíamos retomar uma prática que foi decisiva para o primeiro grupo de jovens do Focolare em Trento.

“No início”, dizia Chiara Lubich a um grupo de amigos muçulmanos, “nem sempre era fácil […] viver o radicalismo do amor. […] Também entre nós, em nosso relacionamento, podia-se ‘depositar um pouco de poeira’, e a unidade podia esmorecer. Isso acontecia, por exemplo, quando percebíamos defeitos, imperfeições nos outros, e os julgávamos. Então, a corrente do amor mútuo esfriava. Para reagir a essa situação, pensamos um dia estabelecer um pacto entre nós, e o chamamos de ‘pacto de misericórdia’. Decidimos ver, cada manhã, o próximo que encontrávamos – em casa, na escola, no trabalho etc. –, como novo, sem nos lembrar de maneira alguma dos seus defeitos, mas cobrindo tudo com o amor. […] Era um compromisso forte, assumido por nós todas juntas, que ajudava cada uma a ser sempre a primeira a amar, à imitação de Deus misericordioso, que perdoa e esquece.”[5]

Org.: Augusto Parody Reyes com a comissão da Palavra de Vida


[1]Cf. Lc 6, 20-26

[2]Cf. Lc 4, 16-21

[3]Cf. Lc 6, 27-35

[4] Cf. 1 Ts 5, 14

[5] LUBICH, Chiara, O amor ao próximo, Conversação com os amigos muçulmanos, Castel Gandolfo, 1°/11/2002. Cf. LUBICH, Chiara, O amor mútuo, São Paulo: Cidade Nova, 2021, p. 102-103.

©Fotos – Yan Krukov-Pexels