Movimento dos Focolares
Dilexi te: o amor aos pobres, fundamento da Revelação

Dilexi te: o amor aos pobres, fundamento da Revelação

Dilexi te , “eu te amei” (Ap 3:9) é a declaração de amor que o Senhor faz a uma comunidade cristã que, diferentemente de outras, não tinha nenhum recurso, era particularmente desprezada e exposta à violência e é, ao mesmo tempo, a citação que dá título à primeira Exortação apostólica do papa Leão XIV, assinada no dia 04 de outubro, festa do Santo de Assis. O documento retoma o tema aprofundado pelo papa Francisco na Encíclica Dilexit nos, sobre o amor divino e humano do Coração de Cristo, e é um projeto que o pontífice atual tomou como seu, compartilhando com o predecessor o desejo de fazer com que compreendam e conheçam o vínculo entre aquela que é a nossa fé e o serviço aos vulneráveis; o laço indissolúvel entre o amor de Cristo e o seu chamado a estarmos perto dos pobres.

Na conferência de imprensa de apresentação da «Dilexi te» intervieram (da esquerda): Fr. Frédéric-Marie Le Méhauté, Provincial dos Frades Menores da França/Bélgica, doutor em teologia; Em.mo Card. Konrad Krajewski, Prefeito do Dicastério para o Serviço da Caridade; Em.mo Card. Michael Czerny S.J., Prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral; p.s. Clémence, Pequena Irmã de Jesus da Fraternidade das Três Fontes de Roma (Itália).

São 121 os pontos nos quais o “fazer experiências” de pobreza vai bem além da filantropia. “Não estamos no horizonte da beneficência”, afirma o papa agostiniano, “mas no da Revelação: o contato com quem não tem poder nem grandeza é um modo fundamental de encontro com o Senhor da história. Nos pobres, Ele ainda tem algo a dizer-nos” (5).

Leão XIV convida a refletir sobre as várias faces da pobreza: a de “quem não tem meios de sustento materiais”, de “quem é marginalizado socialmente”; a pobreza “moral”, “espiritual”, “cultural”; a pobreza “de quem não tem direitos, não tem espaço, não tem liberdade” (9). Mas nenhum pobre, continua, existe “por acaso ou por um cego e amargo destino” (14). “Os pobres são uma garantia evangélica de uma Igreja fiel ao coração de Deus” (103).

“Logo dizemos que não é fácil para a Igreja e para os papas falar de pobreza. Porque, em primeiro lugar, o modo e a essência da pobreza da Igreja não são aqueles da ONU nem dos Estados. A palavra pobreza”, nos explica o professor Luigino [TY1] Bruni, economista e historiador do pensamento econômico, Professor de Economia Política na Lumsa (Roma) e diretor científico de Economy of Francesco, “tem no cristianismo um espectro muito amplo, que vai além da pobreza má, porque não foi escolhida e suportada, até a pobreza evangélica, a aqueles pobres que Jesus chamou de ‘bem-aventurados. A Igreja deveria se mover dentro deste espectro amplo porque, se deixa de fora uma das duas formas de pobreza, sai do Evangelho”.

O documento denuncia de forma particular a falta de equidade, definindo-a como raiz dos males sociais (94), assim como o agir de sistemas político-econômicos injustos. A dignidade de todas as pessoas deve ser respeitada agora, não amanhã (92) e, não por acaso, durante a coletiva de imprensa de apresentação, que ocorreu no Vaticano no dia 09 de outubro de 2025, o cardeal Michael Czerny S.J., prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, com referências específicas ao texto, refletiu muito sobre aquelas que são definidas como ‘estruturas do pecado’: “o egoísmo e a indiferença se consolidam nos sistemas econômicos e culturais. A economia que mata (3) mede o valor humano em termos de produtividade, consumo e lucro. Essa ‘mentalidade dominante’ torna aceitável o descarte dos fracos e improdutivos, e merece, portanto, a etiqueta de ‘pecado social’”.

“Este é um tema antigo da doutrina social da Igreja”, acrescenta a tal propósito o professor Bruni, “e, ainda antes, dos Padres e de muitos carismas sociais, sem falar dos franciscanos. Nessas passagens, se sente a mão do papa Francisco e o espírito de São Francisco (64), mas também de carismas mais recentes – foi o padre Oreste Benzi que falou por primeiro das ‘estruturas do pecado’ –, até a Economia de Comunhão e a Economy of Francesco. Também é importante a referência – ainda em plena continuidade com o papa Francisco – à meritocracia, definida como uma ‘falsa visão’ (14). A meritocracia é uma falsa visão, porque atribui primeiro muitas pobrezas ao demérito dos pobres, e os pobres desmerecidos são definidos também como culpados. A ideologia meritocrática é uma das principais ‘estruturas de pecado’ (90) que geram exclusões e tentam legitimá-la eticamente. As estruturas de pecado são materiais (instituições, leis…) e imateriais como as ideias e as ideologias”.

O documento volta naturalmente um olhar ao tema das migrações – Robert Prevost toma para si os famosos “quatro verbos” do papa Francisco: acolher, proteger, promover e integrar – sem esquecer as mulheres entre as primeiras vítimas de violência e exclusão; destaca a importância da educação para a promoção do desenvolvimento humano integral, o testemunho e a ligação com a “pobreza” de tantos santos, beatos e ordens religiosas e propõe um retorno à esmola como caminho para poder realmente “tocar a carne sofredora dos pobres” (119).

Em Dilexi te, o papa Leão nos “exorta” a mudar de rota, pensar nos pobres não como um problema da sociedade nem, muito menos, unicamente como “objeto da nossa compaixão” (79), mas como atores reais a quem podemos dar voz e “mestres do Evangelho”. É necessário que “todos nos deixemos evangelizar pelos pobres. Isso”, escreve o papa, “é uma questão familiar. São nossa família”. Portanto “o relacionamento com eles não pode ser reduzido a uma atividade ou a um ofício da Igreja” (104).

“Levar a sério a pobreza evangélica significa”, acrescenta Luigino Bruni, “mudar o ponto de vista, fazer Metanoia, diziam os primeiros cristãos. E hoje, tentar responder a algumas perguntas radicais: como chamar de ‘bem-aventurados’ os pobres quando os vemos como vítimas da miséria, abusados pelos mais fortes, morrendo em meio ao mar, procurando comida no lixo? Que bem-aventuranças conhecem? Por essa razão, muitas vezes os primeiros e mais severos críticos dessa primeira bem-aventurança foram e são justamente aqueles que passam a vida ao lado dos pobres, sentados junto deles, para liberá-los de sua miséria. Os maiores amigos dos pobres acabam, paradoxalmente, tornando-se os maiores inimigos da primeira bem-aventurança. E nós devemos entendê-los e agradecê-los por esse escandalizar-se. E, depois, tentar impulsionar o discurso para terrenos novos e audaciosos, sempre paradoxais. E quantos ‘ricos epulões’ encontraram na bem-aventurança dos pobres um álibi para deixar Lázaro (Lucas 16:19,31) bem-aventurado na sua condição de provação e miséria e, talvez, autodefinindo-se “pobres de espírito” porque davam as migalhas aos pobres?! Deve haver algo estupendo naquele ‘bem-aventurados os pobres’. Não entendemos mais, porém procuramos ao menos não diminuir sua profecia paradoxal e misteriosa. Papa Leão procurou nos indicar algumas dimensões dessa beleza paradoxal da pobreza, sobretudo nos longos parágrafos dedicados à fundação bíblica e evangélica, mas ainda há muito para se descobrir e dizer. Espero que os futuros documentos pontífices incluam também o magistério leigo sobre a pobreza, que há pelo menos 50 anos nos é doado por personagens como A. Sen, M. Yunus ou Ester Duflo, ganhadores do Prêmio Nobel de Economia. Esses estudiosos, com muitos outros, nos ensinaram que a pobreza não é a falta de dinheiro ou de receita (fluxo), mas a falta de capitais (stock) – sanitários, educativos, sociais, familiares, capacitações… – que depois se manifesta em uma carência de receita; mas é só trabalhando com capitais hoje que amanhã poderemos fazer os pobres saírem das armadilhas da pobreza. Como nos explicou Sen, a pobreza é se encontrar na impossibilidade objetiva de ‘poder desenvolver a vida que gostaríamos de viver’, e é, portanto, uma falta de liberdade. Os carismas sempre intuíram isso, e nas missões e, ainda antes, na Europa e em qualquer lugar encheram o mundo de escolas e hospitais, para melhorar os ‘capitais’ dos pobres. Também a esmola, da qual o papa Leão fala no final (76), vai orientada em ‘conta capital’, e não dispersa em ajudas monetárias que acabam muitas vezes aumentando a pobreza que gostaríamos de reduzir. A Dilexi te é um ponto de partida, para um caminho ainda longo dos cristãos no terreno ainda em parte desconhecido da pobreza – daquela difícil de reduzir e daquela bela do evangelho a ser aumentada.”

Maria Grazia Berretta

Um primeiro passo importante em direção à paz

Um primeiro passo importante em direção à paz

Margaret Karram
Imagen © Pixabay

Novidades editoriais: um jardim magnífico

Novidades editoriais: um jardim magnífico

O Movimento dos Focolares e os religiosos, um elo que teve origem no início da história do Movimento: uma trama compacta de relações entre Chiara Lubich – fundadora dos Focolares – e os consagrados de várias famílias religiosas.
Tantas mulheres e homens, doados a Deus por meio das mais várias espiritualidades, que inspiraram e deram suporte a Chiara nos primeiros anos do Movimento. Tudo isso foi contado no livro “Um jardim magnífico. Chiara Lubich e os religiosos (1943-1960)”, preparado por Padre Fábio Ciardi e Elena Del Nero.

Comecemos pelo título: “Um jardim magnífico”. Vocês poderiam explicar?

Elena Del Nero obteve o Doutorado em História e Ciências filosóficas-sociais na Universidade “Tor Vergata”, de Roma (Itália). Trabalha na seção histórica do Centro Chiara Lubich, em Rocca di Papa (Itália). É autora de ensaios e volumes sobre a história do Movimento dos Focolares.

Elena Del Nero: “Esta imagem evocativa, usada por Chiara Lubich ainda em 1950, refere-se à Igreja e aos diversos carismas que floresceram nela, no decorrer da história. Cada um deles é precioso, com sua beleza particular, enraizada na palavra evangélica que o inspirou, e assim, todos juntos, compõem uma harmonia de nuances que enriquece a ilumina a Igreja”.

O livro é composto por uma reconstrução histórica e por uma reflexão teológica-eclesial. No que consistem?

Elena Del Nero: “A reconstrução histórica concentra-se apenas em duas décadas: do nascimento do Movimento, em 1943, a 1960; isso porque foram anos muito ricos e densos, de documentos e de conteúdos relativos ao tema que tomamos em consideração. A leitura teológica-eclesial, ao invés, escorre numa dimensão temporal maior, dilatando o olhar até a leitura mais recente do magistério. Desta maneira, parece-nos, o panorama que propomos mostra-se mais amplo e preciso.

A figura dos religiosos, portanto, sempre existiu na Obra de Maria, desde o seu nascimento. Qual é o sentido dessa presença no Movimento?

Pe. Fabio Ciardi: “O Ideal ao qual Chiara Lubich sentia-se chamada era reavivar a unidade na Igreja, em resposta à oração de Jesus: ‘Que todos sejam um’ (Jo 17,21). O Movimento continua essa grande missão de promover a comunhão e a unidade entre todos. Que unidade seria se faltassem os religiosos? Estes manifestam a riqueza carismática da Igreja, mantém viva a experiência dos grandes santos. Chiara desejou envolve-los em sua ‘divina aventura’; como desejou envolver todas as pessoas, de todas as vocações”.

Que benefício os religiosos, e as suas Ordens, obtiveram, no diálogo com Chiara Lubich e a espiritualidade da unidade, do Movimento dos Focolares?

Padre Fabio Ciardi é oblato de Maria Imaculada; professor emérito do Instituto Pontifício de Teologia da Vida Consagrada Claretianum, de Roma (Itália); é autor de numerosas publicações; desde 1995 é consultor do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, no Vaticano; e desde 2022 é consultor do Dicastério para o Clero, no Vaticano.

Pe. Fabio Ciardi: “Desde as origens, religiosos de ordens diferentes foram atraídos pelo frescor evangélico testemunhado por Chiara e pelos primeiros membros do Movimento que estava nascendo, que os conduzia de volta ao radicalismo de suas escolhas; percebiam um amor renovado pela própria vocação, a compreendiam de uma maneira mais profunda, sentiam-se envolvidos em uma comunhão que os fazia relembrar a primeira comunidade cristã, descrita nos Atos dos Apóstolos”.

E que efeito essa proximidade dos religiosos, desde o início do Movimento, teve sobre Chiara Lubich?

Pe. Fabio Ciardi: “A presença deles mostrou-se providencial para Chiara, porque permitiu a ela um contato com as grandes espiritualidades cristãs que surgiram ao longo da história; um confronto que a ajudou a entender, de modo mais profundo, a sua própria vocação, enriquecendo-a com a comunhão dos santos. “Aos poucos – Chiara escreveu pensando nos santos, que os religiosos testemunham – eles se aproximaram da nossa Obra, para encorajá-la, iluminá-la, ajudá-la’. Por um lado, a relação com os santos confirma certos aspectos da vida da Obra de Maria. Por outro, o confronto com a vida deles, e as suas obras, mostra toda a originalidade desta obra de Deus, nova e contemporânea”.

A presença dos religiosos nos Movimentos eclesiais, gera um enriquecimento mútuo? Ou há o risco de criar confusão e perda de identidade?

Pe. Fabio Ciardi: “Nenhuma interferência na vida das famílias religiosas. Chiara Lubich escreveu que se aproximava delas ‘nas pontas dos pés’, consciente de que são ‘obras de Deus’, e com um profundo amor que leva a descobrir, em cada uma delas, ‘a beleza e aquela particularidade sempre atual’ que conservam. Ao mesmo tempo, Chiara era consciente de ser chamada a dar uma contribuição: ‘Nós devemos somente fazer com que o Amor circule entre as várias Ordens. Elas devem se compreender, se amar como as Pessoas da Trindade se amam, [entre si]. Entre elas existe o Espírito Santo que as liga, porque cada uma é expressão de Deus, do Espírito Santo’. É nessa caridade que circula, que cada religioso aprofunda a própria identidade e pode dar a sua contribuição específica à unidade”.

Para concluir: por que ler esse livro? A quem recomendá-lo?

“Porque narra uma página de história maravilhosa, que faz compreender a beleza da Igreja. Não é um livro só para religiosos. É um livro para quem quer descobrir uma Igreja inteiramente carismática”.

Lorenzo Russo

Com fortes compromissos assumidos, Raising Hope chegou ao fim

Com fortes compromissos assumidos, Raising Hope chegou ao fim

O terceiro e último dia da Conferência Raising Hope aconteceu com novas palestras, momentos de reflexão, oração, música e um momento central: as contribuições dos participantes e os compromissos assumidos, apresentados como eixos fundamentais para agir em torno da justiça climática.

No site raisinghope.earth/pt/compromisso/ , os participantes, tanto presenciais como virtuais, foram convidados a compartilhar suas próprias contribuições: Como você responderá ao clamor da terra e ao clamor dos pobres? Essas Contribuições Determinadas pelo Povo (PDC) são uma ousada iniciativa global da sociedade civil para apresentar os compromissos de pessoas e comunidades de base rumo à transformação ecológica.

A emocionante abertura conduzida na quarta-feira, 1 de outubro, pelo Papa Leão XIV — ao abençoar um bloco de gelo da Groenlândia — teve seu ponto culminante nesta tarde, quando os participantes recolheram a água, fruto do gelo derretido, para levar para seus lares e comunidades.

A Dra. Lorna Gold, diretora executiva do Movimento Laudato Si’, declarou com emoção: “Um bloco de gelo abençoado pelo Papa se tornou viral nestes dias. Agora, esta água benta se transformará em algo muito poderoso, pois chegará à COP30, no Brasil.”

Cada participante pôde levar consigo, em uma tigela, parte dessa água benta — proveniente em parte do gelo glacial, misturada com a água dos rios do mundo que, no início da conferência, foi oferecida por diversos representantes. Isso não foi apenas um presente, mas um sinal da urgência que a crise climática exige, marcado ao mesmo tempo pela esperança transmitida pela bênção papal.

Outro dos momentos-chave do encerramento do evento aconteceu quando a Dra. Lorna Gold partilhou alguns dos compromissos assumidos pelos participantes. Entre os mais destacados estiveram a força da colaboração, a importância das alianças, o compromisso de voltar ao coração e de promover o Programa de Animadores Laudato Si’, desenvolvido pelo MLS.

Ela também falou da importância da implementação: “Não podemos esperar que outros façam. Temos que implementar as mudanças que estão em nossas mãos,” afirmou a Dra. Lorna. E incentivou a levantar a voz juntos em Belém, Brasil (próxima COP), ao mesmo tempo em que será lançada uma nova aliança para a não proliferação de combustíveis fósseis.

Um momento emocionante ocorreu na ação de graças pelos dez anos de história do Movimento Laudato Si’, fundado em janeiro de 2015. A Dra. Lorna Gold lembrou quando, nesse mesmo ano, conheceu Tomás Insua, cofundador, e ficou impressionada com seu entusiasmo e energia em difundir os valores da encíclica.

“O mais extraordinário do nosso movimento é a alegria,” garantiu, encorajando todos a “levar essa alegria para a COP.” Recordou ainda o Papa Francisco quando chamou a “cantar ao longo do caminho,” pois “a nossa preocupação não deve tirar de nós a alegria nem a esperança.”

Por sua vez, Yeb Saño, presidente do Conselho Diretor do Movimento Laudato Si’, exortou os presentes a gravar na memória tudo o que foi vivido na conferência para que “todas essas razões nos empurrem para fora da cama todas as manhãs.” “Temos muito trabalho pela frente, mas o Papa Leão está do nosso lado. Não se trata de correr à frente, mas de avançar todos juntos.”

Na abertura da manhã, destacou-se a participação de Kumi Naidoo, presidente do Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis, que se definiu como um “prisioneiro da esperança.” Ele afirmou que devemos cuidar do nosso ambiente porque “não há trabalho nem seres humanos em um planeta morto.”

“As comunidades católicas, através de Laudato Si’, demonstraram coragem,” afirmou Naidoo, por isso incentivou que, com sabedoria e fé, possamos debater e agir com urgência. “A esperança não é amor; a esperança é resiliência, a esperança é uma missão.”

O painel seguinte, intitulado “A fé e a missão compartilhada por um planeta resiliente”, foi moderado por Josianne Gauthier, secretária-geral da CIDSE (Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e Solidariedade). Entre os principais temas discutidos estavam o financiamento para os países em desenvolvimento e a resiliência como motor para seguir em frente.

A Dra. Maina Vakafua Talia, ministra do Interior, Mudança Climática e Meio Ambiente de Tuvalu, disse que, embora em sua língua nativa não exista a palavra resiliência, seu povo aprendeu a “passar da vulnerabilidade à força” depois de sofrer múltiplas catástrofes climáticas. Ela também destacou a importância da espiritualidade para construir um futuro resiliente.

A Dra. Svitlana Romanko, fundadora e diretora da Razom We Stand, falou sobre seu país, a Ucrânia, e como o uso de combustíveis fósseis como consequência da guerra deteriorou o povo. Ela afirmou que a resiliência hoje os mantém de pé, juntamente com iniciativas como energias renováveis e economias verdes, pois viver de energia limpa é possível.

Dom Robert Vitillo, do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e da Plataforma de Ação Laudato Si’, trouxe sua contribuição a partir do Evangelho: “Somos ensinados sobre solidariedade e temos que mudar a perspectiva para traduzi-la em ações em nosso compromisso.”

À tarde, o último painel contou com a participação de Bianca Pitt, fundadora da Women’s Environment Network e cofundadora da SHE Changes Climate, como moderadora. O debate girou em torno do que o coração nos diz sobre o que vivemos nestes dias.

Catherine Coleman Flowers, bolsista MacArthur e defensora da saúde ambiental, membro do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, falou a partir de sua perspectiva de como as pessoas das periferias são as que mais sofrem e as que menos são ouvidas.

Por sua vez, Dom Ricardo Hoepers, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, falou sobre a diversidade de seu país e como é necessário que cada um saia de seu lugar para ampliar os horizontes: “Meu sonho para o Brasil é unir Laudato Si’ e Fratelli Tutti; e que a natureza e os seres humanos tenham a mesma importância: a natureza é o espaço que Deus nos deu para viver como irmãos.”

E Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, afirmou: “Estou convencida de que a única maneira de promover uma mudança duradoura é abraçar o amor como princípio orientador da nossa ação ecológica. Na Laudato Si’, a palavra amor aparece setenta vezes! Um indício poderoso de um caminho que todos nós somos convidados a percorrer. Um convite a caminharmos a partir de uma autêntica fraternidade humana — como a que vivemos nestes dias — até uma fraternidade cósmica. .”

Antes de concluir, os participantes tiveram um momento final de oração e reflexão, conduzido por membros da Trócaire. Após a exibição de um vídeo resumo de tudo o que foi vivido, foram convidados a recordar os momentos mais marcantes dos três dias e a se comprometer solenemente com a continuidade do caminho, defendendo a casa comum.

A cargo do Gabinete de Imprensa da Raising Hope
Foto: © Javier García-CSC Audiovisivi

Chiara Lubich no Genfest 1990

Chiara Lubich no Genfest 1990

Imaginemos que passam diante de nossos olhos algumas cenas sintomáticas do mundo de hoje. […]

Observamos […] em países que viram as mudanças recentes, gente que exulta de alegria pelas liberdades reencontradas e, ao mesmo tempo, pessoas com medo, desiludidas, deprimidas pelo desmoronar dos seus ideais. […]

Ou se víssemos imagens de lutas raciais com massacres e violação de direitos humanos?… ou conflitos intermináveis, como aqueles no Oriente Médio, com destruição de casas, feridos, mortes e o contínuo cair de bombas ou de outros engenhos mortais? … Perguntemo-nos de novo: o que diria Jesus diante de tantos dramas? “Eu tinha dito para vocês se amarem. Amai-vos como eu vos amei”.

Sim, é o que Ele diria diante de tudo isso e das mais graves situações do mundo atual.

Mas a sua palavra não é somente um lamento por aquilo que não foi feito. Ele a repete hoje, de verdade. Porque Ele morreu, mas ressuscitou e – como prometeu – está conosco todos os dias até o fim do mundo.

O que Ele diz é de suma importância. Porque este “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” é a chave principal para a solução de qualquer problema, é a resposta fundamental para cada sofrimento humano. […]

Jesus definiu o mandamento do amor como “meu” e “novo”, porque é tipicamente seu, tendo-o preenchido com um conteúdo singular e novíssimo. “Amai-vos”, disse Ele, “como eu vos amei”. E Ele deu a vida por nós.

Portanto, é a vida que está em jogo neste amor. E um amor pronto a dar a vida é o que Ele pede também a nós em favor dos irmãos.

Para Ele, não é suficiente a amizade ou a benevolência para com os outros; não lhe basta a filantropia, nem apenas a solidariedade. O amor que Ele exige não se esgota na não-violência.

É algo ativo, ativíssimo. Pede que não vivamos mais para nós mesmos, mas para os outros. E isso requer sacrifício, esforço. Pede a todos que se transformem […] em pequenos heróis quotidianos que, dia após dia, estão a serviço dos irmãos, prontos até a dar a vida por eles. […]

Este amor recíproco entre vocês trará consequências de um valor infinito, porque onde há amor, ali está Deus e – como disse Jesus: “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome [isto é, no seu Amor], eu estou no meio deles”. […]

Será Ele mesmo que agirá com vocês em seus países, porque, de certo modo, Ele voltará no mundo, em todos os lugares onde vocês estiverem, será presente pelo amor recíproco e pela unidade entre vocês.

Ele os iluminará sobre o que fazer, os guiará, sustentará, será a força, o ardor, a alegria de vocês. […] […]

Portanto, amor entre vocês e amor semeado em muitos cantos da Terra entre as pessoas, os grupos, as nações, com todos os meios, a fim de que a invasão de amor, que falamos de vez em quando, seja realidade e a civilização do amor, que todos esperamos, adquira consistência, inclusive pela contribuição de vocês.

É para isso que são chamados. E verão grandes coisas. […]

Chiara Lubich
Foto © Archivio CSC Audiovisivi