Movimento dos Focolares
África: continente da esperança

África: continente da esperança

O continente africano é composto por 54 países. É atravessado pelo Equador e pelos trópicos de Câncer e de Capricórnio, de modo que grande parte de seu território está situado numa região tórrida e é caracterizado por desertos, savanas e florestas pluviais. É o continente com a maior área de clima quente e árido. Trinta milhões de quilômetros quadrados com cerca de mil e quatrocentos milhões de habitantes.

Jesús Morán, copresidente do Movimento dos Focolares, acompanhado por alguns membros do Centro Internacional, visitaram alguns países do leste e oeste do continente, entre os dias 13 de janeiro e 9 de fevereiro de 2025. A presidente do Movimento, Margaret Karram, esteve conectada diretamente em nove ocasiões, especialmente nos dias dedicados aos encontros com as comunidades locais.

“Uma viagem que iremos recordar por muito tempo”, disse Jesús Morán. “Esta viagem ficou no coração – acrescentou Margaret Karram – muitos a definiram como uma “viagem histórica”. “Tocaram-me profundamente os testemunhos das comunidades do Movimento ao viveram o Evangelho com radicalidade. Penso que eles podem nos ensinar muito”.

Costa do Marfim, Serra Leoa, Quênia, Ruanda e Burundi foram as etapas dessa viagem, mas muitas pessoas de outros países africanos participaram dos vários encontros.

É impossível resumir a intensidade e a riqueza de vida que se encontrou em cada comunidade. Propomos aqui uma parte do Collegamento CH do dia 15 de março de 2025, no qual falou-se sobre essa viagem, uma imersão na vida e na cultura do continente africano.

Argentina: inundação em Bahía Blanca, um milagre inesperado

Argentina: inundação em Bahía Blanca, um milagre inesperado

Bahía Blanca é uma cidade localizada à beira-mar, precisamente no início da Patagônia argentina. Com seus 370.000 habitantes, é o centro econômico, religioso e cultural de uma vasta região. A poucos quilômetros de distância, outras 80.000 pessoas vivem na cidade de Punta Alta. Em conjunto, possuem um polo petroquímico muito importante, um grupo de 7 portos diferentes (multifuncionais, para o transporte de cereais, frutas, pesca, gás, petróleo e fertilizantes). E a principal base da Marinha Argentina.

Naquela região, a média de precipitação pluvial em um ano é de 650 mm, mas na sexta-feira, 7 de março de 2025, 400 mm foram registrados em apenas sete horas. Esse grandioso volume de água, no seu percurso rumo ao mar, aumentou a sua velocidade e destruiu tudo que encontrou pelo caminho. Pontes, canais, ferrovias, estradas, carros, casas, lojas… e pessoas.

De repente, a população deparou-se com um cenário dramático de proporções inimagináveis, como se houvesse um tsunami. Uma interrupção brusca de energia elétrica, também interrompeu a comunicação telefônica, de modo que ninguém fazia ideia da situação das demais pessoas, familiares, amigos e colegas de trabalho.

No entanto, algo nessa comunidade foi despertado e todas as leis universais foram resumidas em um único verbo: servir.

À medida que a água e a lama diminuíam, milhares de pessoas começaram a se espalhar pelas ruas. Inicialmente, todos fizeram uma avaliação dos danos em suas próprias casas, mas logo depois dirigiram o olhar aos vizinhos para ver se precisavam de ajuda. Aqueles que conseguiram resolver sua própria situação, se colocaram totalmente à disposição para ajudar os outros. Todos nós fomos testemunhas e protagonistas de um milagre gigantesco, que se multiplicou de uma maneira maravilhosa, com criatividade e força.

A única coisa que importava era descruzar os braços e fazer aquilo que estava ao nosso alcance: ajudar a retirar a água e a lama das casas, limpar, arrumar, procurar panos, baldes de água, desinfetante, levar os feridos aos postos de atendimento médico, cuidar dos animais de estimação, acolher as pessoas que haviam perdido tudo, transmitir força, encorajar, oferecer aconchego, compartilhar o sofrimento. Ninguém se lamentava, ao contrário, diziam: “Foi muito difícil para mim, mas comparado ao que aconteceu com os outros…”

Enquanto eu estava ajudando alguns amigos, um casal se aproximou e distribuiu empanadas gratuitamente. Outros, ofereceram algo para beber. Quem possuía um gerador ofereceu-o para recarregar as baterias dos celulares. Outros disponibilizaram bombas de sucção de água. Um proprietário di uma ótica doou óculos, gratuitamente, para aqueles que os perderam. Uma senhora distribuiu desinfetantes, um médico fez consultas domiciliares, um homem ofereceu seus serviços de pedreiro e outro de mecânico. Tudo era partilhado: velas, alimentos, vestuário, fraldas, colchões, água potável, vassouras, mãos e mais mãos que ajudavam.

A solidariedade de todo o país e de pessoas de todo o mundo também chegou. De caminhão, de trem, de ônibus, de furgões… toneladas de doações, o que exigiu mais voluntários para carregar e descarregar, separar e distribuir. Voluntários que continuaram se multiplicando. O dinheiro também foi doado com grande generosidade. Paróquias, clubes, escolas, empresas, todas as organizações existentes deram tudo o que podiam. Havia também outro tipo de organização: os grupos de amigos. Como uma espécie de “patrulha”, cada grupo de amigos se encarregou de cuidar de uma área da cidade, onde verificou-se que seria mais difícil a chegada, em tempo hábil, da ajuda do governo. Até hoje, eles passam de casa em casa, de porta em porta, registrando todo tipo de necessidade. E se comprometem a fazer com que o necessário chegue rapidamente.

As mãos de todas essas pessoas, mesmo sem saber, sem acreditar ou sequer imaginar, tornaram-se “mãos divinas”. Porque foi a maneira mais concreta que Deus encontrou para alcançar os necessitados. Pessoalmente, vivi momentos de grande preocupação por não saber como estavam meus irmãos ou amigos. Eu queria ir até eles, mas era impossível. Então, decidi oferecer a minha ajuda onde fosse possível. No sentido figurado, chamei de o meu “metro quadrado”. Mais tarde, consegui falar com meus queridos familiares e descobri que muitas outras pessoas, desconhecidas, os ajudaram lá, onde eu não podia estar.

Alguns dias depois, várias partes da cidade ainda estão inundadas. O sofrimento e as dificuldades continuam. As perdas foram imensas. Encontramos por toda parte pessoas com grandes olheiras e muita dor muscular, porque trabalharam quase sem descanso. Porém com a plenitude no coração e nos olhos, por terem dado tudo pelo próximo.

Juan Del Santo (Bahía Blanca, Argentina)
Foto: © Focolari Bahia Blanca

Guatemala: um focolare no coração indígena do país

Guatemala: um focolare no coração indígena do país

Marta, Lina, Efi e Moria são quatro mulheres, quatro focolarinas, que na vida percorreram caminhos diferentes e que agora acharam um ponto de encontro entre sonhos, realidade e a disponibilidade de transferimento dos seus focolares para Chimaltenango, com o objetivo de iniciar uma experiência de vida comunitária em uma cidade onde pobreza, interculturalidade e divisões entre etnias são o pão de cada dia.

Chimaltenango é uma cidade da Guatemala, a 50 km da capital, a 1.800 metros acima do nível do mar. Com uma população de quase 120.000 habitantes de 23 diferentes povos indígenas que se reuniram lá para conseguir sobreviver economicamente.

“Vivi na Argentina durante muitos anos”, diz Efi, originária do Panamá. “Em seguida transcorri alguns anos no México e, pouco antes da pandemia, cheguei à Guatemala, onde permaneci apenas três meses. Logo precisei ir ao Panamá para ficar com minha mãe, que adoeceu e faleceu. Foi um ano que me serviu também para refletir sobre muitas coisas, para fazer um balanço do que eu tinha vivido até então, e para renovar a minha decisão, tomada anos atrás, de doação a Deus”. Ela retornou à Guatemala para este projeto em Chimaltenango.

“Cresci em um ambiente rural, com gente muito simples e meu sonho sempre foi fazer algo pelos mais humildes”, nos diz Efi. “Aqui a pobreza é muito grande. E há também as comunidades indígenas, há pessoas que conheceram a espiritualidade do Movimento dos Focolares e que, devido à pandemia e a realidade social em que vivem, foram deixadas à margem (da sociedade)”.

Lina é guatemalteca, de origem Maia, Kaqchikel. Ela nos explica que uma das divisões mais evidentes é entre indígenas e mestiços (também chamados de “ladinos” na Guatemala, eles englobam todos aqueles que não são indígenas). Não há relações fraternas, não há diálogo. “Para mim, sempre foi um objetivo superar aquela divisão. Desde o momento em que tive meu primeiro contato com o Movimento dos Focolares, pensei que essa seria a solução para a minha cultura, para o meu povo, para a minha gente”. Ela recorda também do momento que, em dezembro de 2007, na conclusão do período de formação à vida comunitária no focolare, quando despediu-se de Chiara Lubich, dizendo-lhe: “Sou indígena e comprometo-me em levar essa luz ao meu povo Kaqchikel. Senti que era um compromisso expresso diante dela, mas assumido com Jesus”. Em seu retorno à Guatemala, dedicou-se com empenho ao acompanhamento das novas gerações, sempre com o objetivo de criar vínculos de unidade tanto nas comunidades indígenas quanto na cidade.

Marta também é guatemalteca. Mestiça. Em seus primeiros anos no focolare, pôde dedicar-se também à difusão do carisma da unidade nas comunidades indígenas. Posteriormente, ocupou-se da gestão do Centro Mariápolis, local para os encontros, na Cidade da Guatemala. Um trabalho intenso que durou 23 anos que assistiu ao desenvolvimento do processo de reconciliação nacional e da reivindicação dos povos indígenas, pois as diferentes comunidades indígenas escolheram o Centro Mariápolis como lugar de encontro. A seguir esteve no México por um período. Naquela época, falava-se de identidade. E espontaneamente surgiu-lhe a pergunta: “Qual é a minha identidade? Quais são as minhas raízes?” Ela encontrou a resposta na Virgem de Guadalupe, que, na sua aparição no México, em 1531, foi representada no poncho de Juan Diego com características somáticas típicas dos povos originários americanos. “Compreendi que eu era mestiça como ela, que possui ambas as raízes, portanto podia dialogar com as duas partes”.

Moria, que é de Chimaltenango, por motivos de saúde vive com sua família, mas é membro do focolare, assim como Lídia, uma focolarina casada que vive na Cidade da Guatemala.

Histórias que se entrelaçam até se estabelecerem nessa cidade que reúne várias proveniências, muitas culturas em uma única cultura. “Nosso desejo é estar com as pessoas, aproximarmo-nos delas. Nas coisas simples, do dia a dia”, diz Efi, “um simples cumprimento, um sorriso, parar um instante, fazer companhia àquela senhora que não sabe falar espanhol, porque fala sua própria língua e não nos entendemos”. E nos conta: “Um dia, precisei comprar pão. Fui ao mercado e as mulheres que vendiam estavam sentadas no chão em uma esteira de vime. Para dialogar com uma delas, me coloco no mesmo nível, me inclino. Como se trata de uma atividade comercial, não tento negociar para baixar o preço”.

“Desde que chegamos, nos propusemos a retomar o contato com as pessoas que, em momentos diferentes, conheceram a espiritualidade da unidade — intervém Lina — indo visitá-las em suas casas, levando sempre algo, uma fruta, por exemplo, como é costume entre esses povos”. Deste modo, cria-se um círculo de reciprocidade que as aproxima ao focolare. Na casa ressoam vozes de mães com os filhos, também de jovens e, às vezes, de alguns pais que tomam coragem e as acompanham. E assim, sem precisar procurar, surge uma comunidade em torno desse novo focolare, no coração da cultura indígena da Guatemala.

Carlos Mana
Foto: © Focolar Chimaltenango

Valência (Espanha): depois da DANA, a solidariedade

Valência (Espanha): depois da DANA, a solidariedade

A província espanhola de Valência sofreu há alguns dias um dos maiores desastres naturais de sua história, depois que fortes chuvas causaram inundações massivas – a DANA – nas cidades da região.

Até o momento, somam-se 214 mortos e 32 pessoas ainda desaparecidas. Estima-se que 800.000 pessoas tenham sido atingidas, um terço dos habitantes da província de Valência. Cerca de 2000 pequenos comércios locais foram invadidos pelas águas e lama e perderam tudo. Os carros boiavam, como se fossem barquinhos de papel, pelas ruas amontoando-se uns sobre os outros. Ainda não foi feita uma lista de quantas famílias perderam sua fonte de sustento. Um grande desastre agravado pela prorrogação indefinida de obras públicas necessárias para evitar que ocorram inundações como essas.

Um grande desastre que, porém, foi cercado de uma grande rede de solidariedade. Nos dias seguintes, quando a água começou a baixar e pôde-se ver o acúmulo de lama que cobria tudo, milhares de voluntários, principalmente jovens, começaram a chegar à região do desastre caminhando com pás e vassouras para começar a trabalhar.

“Esta foi e continua sendo uma tragédia imensa. Muito além do que poderíamos imaginar. Não conseguíamos acreditar que estivesse acontecendo”, afirma José Luis Guinot, médico oncologista e presidente da Associação Viktor E. Frankl, de Valência, para o apoio emocional durante a doença, o sofrimento, a morte e qualquer perda vital. Foi convocado pelo Conselho municipal para colaborar com um centro de assistência sanitária e de apoio criado para a ocasião, para “escutar e acolher aqueles que precisam contar o que aconteceu com eles e o que estão vivendo”.

O doutor Guinot conta que alguns dias depois, ao participar da missa dominical, sentiu-se mal ao ouvir as orações somente pelos falecidos, pelas pessoas atingidas pelas inundações, sem propor algo. Assim, refletiu: “Atenção, não basta apenas orar, mesmo que devamos rezar muito. É necessário ficar perto das pessoas para dar esperança. E ali nós, como cristãos, como Movimento dos Focolares, devemos dar aquela esperança apesar das coisas difíceis que vivemos. Mas juntos e unidos é o modo como podemos ajudar a sair desta situação”.

Em um dos locais atingidos, uma família do Movimento dos Focolares com crianças pequenas teve a casa alagada. Não houve consequências graves, mas nada do que tinham presta mais: máquina de lavar, geladeira, todos os eletrodomésticos, os móveis… A ajuda das outras famílias não tardou: lavaram suas roupas, deram uma máquina de lavar nova…

Eugenio é um membro do Movimento dos Focolares que tem uma deficiência devido à poliomielite. Durante anos se dedicou à Federação dos Esportes Adaptados de Valência, da qual foi presidente. Tem muitos problemas de mobilidade e, nos dias seguintes à enchente, não pôde se mover. Mas, com o telefone ao alcance das mãos, mobilizou de sua casa associações locais de pessoas com deficiência que se organizaram para pedir ajuda. “Devemos dar ideias, ajudar a criar solidariedade, gerar doações”, esclarece José Luis Guinot, e, assim, essas associações encontraram cadeiras de rodas para aqueles que perderam as suas nas enchentes.

“Acho que é um alarme para toda a sociedade. É notável que na Espanha estamos vivendo um período de conflito político muito polarizado”, reflete José Luis. “Mas há outra sociedade de pessoas, há muitos jovens que pensamos que estão sempre grudados nas redes sociais e que, em vez disso, agora estão ali, na lama, e nos pedem uma sociedade solidária, um mundo unido, uma sociedade em que a fraternidade seja sentida. Esta mensagem, até agora, não havia sido aceita bem pelos políticos. Mas agora nenhum deles pode discutir”.

A comunidade do Movimento dos Focolares se encontrará no próximo fim de semana para pensar e fazer planos juntos, passados esses dias emergenciais, sobre o serviço que podem oferecer. Porque “daqui a dois ou três meses será necessário um suporte emocional, sentir-se parte de algo, de uma comunidade ou de uma paróquia… E ali teremos uma grande missão: usar muito o telefone, estar prontos a ir ao encontro das pessoas, deixar que nos contem, encorajá-las sabendo que o que estão vivendo é muito difícil, mas que estamos ao lado delas”. Uma tarefa na qual todos podem e devem se envolver como diz José Luis: “Mesmo se não puder sair de casa, se for idoso, se tiver crianças pequenas… tem a possibilidade de falar com seus vizinhos, de telefonar e encorajar. Transmitir um senso de comunidade… Para aqueles que estão sofrendo pela perda de pessoas queridas, de bens essenciais, não explicarei nada, darei a eles um abraço e direi: ‘Ajudaremos vocês a encontrar as forças para continuar’”. .

A comunidade do Movimento dos Focolares lançou uma campanha de arrecadação de fundos com a Fundación Igino Giordani, fundos esses que serão administrados no local para ajudar as vítimas. Os danos materiais e as perdas são incontáveis. Quem sobreviveu se encontrou sem cama, mesa, geladeira, lavadoras, carros, materiais de trabalho…

As contribuições de solidariedade podem ser feitas pela:
Fundación Igino Giordani
CaixaBank: ES65 2100 5615 7902 0005 6937
Titular: Fundación Igino Giordani
Titular: Emergencia DANA España
Se desejar deduzir a sua doação, envie seus dados fiscais para info@fundaciongiordani.org

Carlos Mana
Foto: © UME/via fotos Publicas