Movimento dos Focolares
Valência (Espanha): depois da DANA, a solidariedade

Valência (Espanha): depois da DANA, a solidariedade

A província espanhola de Valência sofreu há alguns dias um dos maiores desastres naturais de sua história, depois que fortes chuvas causaram inundações massivas – a DANA – nas cidades da região.

Até o momento, somam-se 214 mortos e 32 pessoas ainda desaparecidas. Estima-se que 800.000 pessoas tenham sido atingidas, um terço dos habitantes da província de Valência. Cerca de 2000 pequenos comércios locais foram invadidos pelas águas e lama e perderam tudo. Os carros boiavam, como se fossem barquinhos de papel, pelas ruas amontoando-se uns sobre os outros. Ainda não foi feita uma lista de quantas famílias perderam sua fonte de sustento. Um grande desastre agravado pela prorrogação indefinida de obras públicas necessárias para evitar que ocorram inundações como essas.

Um grande desastre que, porém, foi cercado de uma grande rede de solidariedade. Nos dias seguintes, quando a água começou a baixar e pôde-se ver o acúmulo de lama que cobria tudo, milhares de voluntários, principalmente jovens, começaram a chegar à região do desastre caminhando com pás e vassouras para começar a trabalhar.

“Esta foi e continua sendo uma tragédia imensa. Muito além do que poderíamos imaginar. Não conseguíamos acreditar que estivesse acontecendo”, afirma José Luis Guinot, médico oncologista e presidente da Associação Viktor E. Frankl, de Valência, para o apoio emocional durante a doença, o sofrimento, a morte e qualquer perda vital. Foi convocado pelo Conselho municipal para colaborar com um centro de assistência sanitária e de apoio criado para a ocasião, para “escutar e acolher aqueles que precisam contar o que aconteceu com eles e o que estão vivendo”.

O doutor Guinot conta que alguns dias depois, ao participar da missa dominical, sentiu-se mal ao ouvir as orações somente pelos falecidos, pelas pessoas atingidas pelas inundações, sem propor algo. Assim, refletiu: “Atenção, não basta apenas orar, mesmo que devamos rezar muito. É necessário ficar perto das pessoas para dar esperança. E ali nós, como cristãos, como Movimento dos Focolares, devemos dar aquela esperança apesar das coisas difíceis que vivemos. Mas juntos e unidos é o modo como podemos ajudar a sair desta situação”.

Em um dos locais atingidos, uma família do Movimento dos Focolares com crianças pequenas teve a casa alagada. Não houve consequências graves, mas nada do que tinham presta mais: máquina de lavar, geladeira, todos os eletrodomésticos, os móveis… A ajuda das outras famílias não tardou: lavaram suas roupas, deram uma máquina de lavar nova…

Eugenio é um membro do Movimento dos Focolares que tem uma deficiência devido à poliomielite. Durante anos se dedicou à Federação dos Esportes Adaptados de Valência, da qual foi presidente. Tem muitos problemas de mobilidade e, nos dias seguintes à enchente, não pôde se mover. Mas, com o telefone ao alcance das mãos, mobilizou de sua casa associações locais de pessoas com deficiência que se organizaram para pedir ajuda. “Devemos dar ideias, ajudar a criar solidariedade, gerar doações”, esclarece José Luis Guinot, e, assim, essas associações encontraram cadeiras de rodas para aqueles que perderam as suas nas enchentes.

“Acho que é um alarme para toda a sociedade. É notável que na Espanha estamos vivendo um período de conflito político muito polarizado”, reflete José Luis. “Mas há outra sociedade de pessoas, há muitos jovens que pensamos que estão sempre grudados nas redes sociais e que, em vez disso, agora estão ali, na lama, e nos pedem uma sociedade solidária, um mundo unido, uma sociedade em que a fraternidade seja sentida. Esta mensagem, até agora, não havia sido aceita bem pelos políticos. Mas agora nenhum deles pode discutir”.

A comunidade do Movimento dos Focolares se encontrará no próximo fim de semana para pensar e fazer planos juntos, passados esses dias emergenciais, sobre o serviço que podem oferecer. Porque “daqui a dois ou três meses será necessário um suporte emocional, sentir-se parte de algo, de uma comunidade ou de uma paróquia… E ali teremos uma grande missão: usar muito o telefone, estar prontos a ir ao encontro das pessoas, deixar que nos contem, encorajá-las sabendo que o que estão vivendo é muito difícil, mas que estamos ao lado delas”. Uma tarefa na qual todos podem e devem se envolver como diz José Luis: “Mesmo se não puder sair de casa, se for idoso, se tiver crianças pequenas… tem a possibilidade de falar com seus vizinhos, de telefonar e encorajar. Transmitir um senso de comunidade… Para aqueles que estão sofrendo pela perda de pessoas queridas, de bens essenciais, não explicarei nada, darei a eles um abraço e direi: ‘Ajudaremos vocês a encontrar as forças para continuar’”. .

A comunidade do Movimento dos Focolares lançou uma campanha de arrecadação de fundos com a Fundación Igino Giordani, fundos esses que serão administrados no local para ajudar as vítimas. Os danos materiais e as perdas são incontáveis. Quem sobreviveu se encontrou sem cama, mesa, geladeira, lavadoras, carros, materiais de trabalho…

As contribuições de solidariedade podem ser feitas pela:
Fundación Igino Giordani
CaixaBank: ES65 2100 5615 7902 0005 6937
Titular: Fundación Igino Giordani
Titular: Emergencia DANA España
Se desejar deduzir a sua doação, envie seus dados fiscais para info@fundaciongiordani.org

Carlos Mana
Foto: © UME/via fotos Publicas

Qual é a utilidade da guerra?

Qual é a utilidade da guerra?

A paz é o resultado de um projeto: um projeto de fraternidade entre os povos, de solidariedade com os mais fracos, de respeito mútuo. É assim que se constrói um mundo mais justo, é assim que se exclui a guerra por ser uma prática bárbara, que pertence à fase obscura da história da humanidade. Muitos anos se passaram desde a primeira publicação desse escrito, que ainda hoje é muito atual, em um momento em que o mundo está sendo dilacerado por conflitos brutais. A história, diz Giordani, pode nos ensinar muito.

A guerra é um homicídio em grande escala, revestido de uma espécie de culto sagrado, como era o sacrifício dos primogênitos ao deus Baal; e isso por causa do terror que incute, da retórica com que se veste e dos interesses que implica. Quando a humanidade tiver progredido espiritualmente, a guerra será catalogada ao lado dos rituais sangrentos, das superstições da feitiçaria e dos fenômenos de barbárie.

É para a humanidade o que a doença é para a saúde e o que o pecado representa para a alma: é destruição e massacre, que afeta a alma e o corpo, os indivíduos e a comunidade.

Segundo Einstein, o homem teria necessidade de odiar e de destruir: e a guerra o satisfaria. Mas não é assim: a maioria dos homens, povos inteiros, não demonstram essa necessidade ou a reprimem. A razão e a religião ainda a condenam.

“Todas as coisas desejam a paz”, de acordo com são Tomás. Na verdade, todas anseiam pela vida. Somente os loucos e os incuráveis podem desejar a morte. E a morte é a guerra. Não é desejada pelo povo; é desejada por minorias, para as quais a violência física serve para garantir vantagens econômicas ou, também, para satisfazer paixões degradantes. Especialmente hoje, com o custo, as mortes e as ruínas, a guerra se manifesta como uma “matança inútil”. Massacre e, além disso, inútil. Uma vitória sobre a vida e que está se tornando um suicídio da humanidade.

[…] A engenhosidade humana, destinada a finalidades bem diferentes, inventou e introduziu hoje instrumentos de guerra de tal poder que horrorizam a alma de qualquer pessoa honesta, especialmente porque não atingem apenas os exércitos, mas muitas vezes atingem a população civil: crianças, mulheres, idosos, doentes, bem como os edifícios sagrados e os mais ilustres monumentos de arte! Quem não se horroriza com a ideia de que novos cemitérios serão adicionados aos tão numerosos do recente conflito e que novas ruínas fumegantes de periferias e cidades se acrescentarão a outros tristes escombros? Quem não treme ao pensar que a destruição de novas riquezas, consequência inevitável da guerra, pode agravar ainda mais a crise econômica, que aflige quase todos os povos, especialmente as classes mais humildes? » [1]. […]

A inutilidade foi reiterada por Pio XII, em 1951: “Todos manifestaram com a mesma clareza enérgica seu horror à guerra e sua convicção de que esta não é, e hoje menos do que nunca, um meio adequado para resolver conflitos e restaurar a justiça. Somente acordos livres e leais podem ter sucesso nisso. Que se pudesse ser uma questão de guerras populares – no sentido de que elas respondem aos desejos e à vontade do povo – o único caso possível seria de uma injustiça tão flagrante e tão destrutiva dos bens essenciais de um povo a ponto de revoltar a consciência de uma nação inteira. [2].

Assim como a peste serve para infeccionar e a fome para fazer morrer de fome, a guerra serve para matar; além disso, destrói os meios de subsistência. É uma indústria funerária: uma fábrica de ruínas.

Só um louco pode esperar obter benefício de um massacre: saúde de um colapso, energia de uma pneumonia. O mal produz o mal, como a tamareira produz a tâmara. E a realidade mostra, inclusive nesse campo, a inconsistência prática do aforismo maquiavélico segundo o qual “o fim justifica os meios”.

O fim pode ser a justiça, a liberdade, a honra, o pão, mas os meios produzem tal destruição do pão, da honra, da liberdade e da justiça, além de vidas humanas, incluindo as das mulheres, das crianças, dos idosos, dos inocentes de toda a espécie, que anulam tragicamente o próprio fim proposto.

Enfim, a guerra não serve para nada, exceto para destruir vidas e riquezas.

Igino Giordani, L’inutilità della Guerra, Città Nuova, Roma, 2003, (terza edizione), p. 3
da https://iginogiordani.info/

Fotos: © Pixabay y CSC Audiovisivi

[1] Pio XII, “Mirabile illud”, 1950.
[2] Discurso ao Corpo Diplomático, 1-1-1951.

O diálogo é um instrumento potente de paz

O diálogo é um instrumento potente de paz

No dia 16 de outubro de 2024, na sede do Parlamento Europeu, em Bruxelas (Bélgica), ocorreu a Conferência final do projeto DialogUE, uma iniciativa voltada para promover o diálogo intercultural e inter-religioso na Europa. O evento foi apresentado pela eurodeputada Catarina Martins (GUE-NGL) e contou com a participação de 50 representantes de parceiros do projeto, instituições europeias, líderes religiosos e membros da sociedade civil.

O foco do evento foi a apresentação das recomendações para a União Europeia do projeto DialogUE – “Diversas Identidades Aliadas, Abertas, para Gerar uma Europa Unida”, com temas cruciais para a situação atual europeia e mundial, resumidas na brochure “DialogUE Kit”.


“Dá para ver a olho nu que algo acontece quando as pessoas de paz falam”, disse a eurodeputada Catarina Martins, da Esquerda Europeia, que abriu o encontro em uma sala do parlamento europeu. “E este é justamente um momento desse tipo. O diálogo é um instrumento potente de paz.”

O projeto nasceu do empenho de décadas de New Humanity, expressão do Movimento dos Focolares, que promoveu de modo significativo as boas práticas de diálogo inter-religioso e intercultural A abordagem favorece o respeito recíproco e a confiança, elementos essenciais para um diálogo produtivo e esforços colaborativos.

Francisco Canzani, conselheiro geral da área de Cultura e Estudo do Movimento dos Focolares, destacou em sua última fala que o diálogo é construído por três elementos: atitude, instrumento, método. Sobre esse último, o método do consenso diferenciado e da discordância qualificada, nascido dentro da plataforma DIALOP entre cristãos e marxistas, é hoje fonte de inspiração e prática para outros grupos de diálogo.

Em 2023 e 2024, o projeto envolveu quatro grupos em três áreas principais: comunicação, ecologia e políticas sociais. Os grupos de diálogo eram:

  • Entre cidadãos cristãos pela plataforma Together4Europe
  • Entre cristãos e muçulmanos por meio do Centro para o Diálogo Inter-religioso do Movimento dos Focolares
  • Entre cristãos e pessoas que não se identificam com uma crença religiosa pela plataforma DIALOP para um diálogo transversal
  • Entre cidadãos da Europa Ocidental e Oriental por meio do grupo de diálogo Multipolar.

O projeto facilitou principalmente a difusão do significado e das metodologias necessárias para um diálogo eficaz. Também reuniu especialistas internacionais nesses três desafios-chaves, os quais ajudaram os participantes a compreender os principais documentos da UE sobre esses assuntos e a explorar as diversas dimensões de cada tema.

Os grupos colaboraram para identificar princípios compartilhados e propostas em comum. O trabalho deles levou à formulação de recomendações que foram apresentadas ao Parlamento Europeu.

O projeto DialogUE – foi promovido por um consórcio de 14 organizações da sociedade civil provenientes de nove países membros da União Europeia.

Entre os resultados principais do projeto estão: 12 encontros internacionais e uma formação para facilitadores e especialistas; o envolvimento direto de 1200 cidadãos e mais de 10.000 indiretamente; a criação do “Dialogue Kit”, destinado a educadores, ONGs e decisores políticos para promover o diálogo e a coesão social. Esses encontros levaram a recomendações compartilhadas para os tomadores de decisão da União Europeia, a fim de promover políticas mais inclusivas e sustentáveis.

Na tarde do dia 16 de outubro, um grupo de discussão se reuniu na KU Leuven (Universidade de Lovaina), em Bruxelas, e os participantes analisaram algumas boas práticas que emergiram do projeto, além de discutir como difundir mais essas iniciativas por meio do “Dialogue Kit”.

Ana Clara Giovani – Tomaso Comazzi e Luisa Sello
Foto: ©Marcelo Pardo

Para informações sobre o projeto: https://www.new-humanity.org/en/project/dialogue/

Para rever o evento, clique no link:

Uma viagem que enriqueceu minha vida

Uma viagem que enriqueceu minha vida

Paola Iaccarino Idelson é uma bióloga nutricionista, especialista em alimentação. Mora em Nápoles, no sul da Itália. Eu soube, por meio de uma amiga querida, que ela viajou para o Brasil durante o verão deste ano. Curioso, tentei encontrá-la nas redes sociais. Fiquei encantado com as fotos lindas de sua estadia no Brasil e com as histórias intensas que revelam uma experiência profunda. Portanto, decidi contatá-la para uma entrevista.

Paola, de Nápoles para o Brasil: por que decidiu fazer essa viagem?

É uma longa história. Estive no Brasil pela primeira vez há 14 anos, em Florianópolis. E fui para lá porque sou apaixonada pela língua portuguesa. Não queria ir como turista, então, por meio de uma amiga que é médica, fui ajudar um colega dela, como voluntária. Acompanhamos um sacerdote em sua missão cotidiana. Ele tinha aberto uma escola para ajudar adolescentes a não entrar no crime, e abriu uma oficina de conserto de pranchas de surfe, para oferecer um trabalho digno aos jovens do local. Durante três semanas, pesei e medi as crianças daquela escola: foi uma experiência tão forte, intensa e bonita que, quando voltei para a Itália, tive de removê-la da minha mente para pode continuar a viver a minha vida como antes.

E depois? O que aconteceu?

No ano passado, terminei com o meu namorado, que não gostava do Brasil. Então disse a mim mesma: chegou o momento de retomar aquele sonho. Porém, dessa vez, eu também queria fazer uma experiência não como turista, mas ajudando a comunidade local de alguma maneira. Falei com uma amiga focolarina, e ela me colocou em contato com a comunidade do Movimento dos Focolares da Amazônia.

Eu queria fazer um trabalho voluntário como nutricionista, a minha profissão, mas estava disposta a tudo. Uma das focolarinas do Brasil, Leda, me falou sobre o Barco Hospital “Papa Francisco”, no qual eu poderia trabalhar. Então, no fim, parti em agosto de 2024. Leda foi um anjo, organizou todo o meu itinerário, colocando-me em contato com a comunidade do Movimento dos Focolares e cuidou de mim durante todo o período em que estive no Brasil.

O Barco Hospital Papa Francisco: o que você fez lá?

Não havia um trabalho específico para mim, que sou especialista em alimentação. Havia uma dezena de médicos, cada um com o seu consultório. Ajudei como podia. O despertador tocava às 6h da manhã porque, a partir das 6h30, já chegavam pessoas de vilarejos próximos para as consultas. Era preciso acolhê-los, cadastrar quem chegava e controlar o fluxo. Fiz consultas nutricionais e entendi que havia um problema de sobrepeso e obesidade, principalmente entre as mulheres. Então, me perguntei muito sobre as razões daquelas condições de obesidade, era um problema bem comum naquele lugar. Falando com algumas pessoas, percebi que havia um problema de sedentarismo e de difusão do consumo de bebidas cheias de açúcar, doces e carne.

Você pôde ver com os próprios olhos tanta pobreza…

Vi pessoas realmente pobres, mas muito dignas, que conseguem fazer dar estudo aos filhos. Fiquei muito tocada com uma família. Eles têm 10 filhos, via-se que viviam em condições muito precárias. O pai também tem algum problema de saúde. Apesar disso, os pais conseguiram fazer com que os filhos estudassem e uma das filhas está para se formar como fotógrafa. Uma grande dignidade, apesar daquelas condições de vida.

Você viu a abundância de diversidade, natureza, cor de pele das pessoas, comidas, cheiros, sabores…

Foi uma das coisas que mais me marcou nesta viagem e que levarei comigo. Uma diversidade enorme no modo de viver, principalmente a variedade incrível de frutas, verduras, cereais, flores, plantas, as cores dos rios, os animais, as pessoas. Quando eu cadastrava quem chegava para as consultas, havia um campo no software para preencher a cor da pele e eu tinha quatro opções ligadas à diversidade das etnias, das origens, da cor da pele… Viver essa diversidade foi uma experiência forte e tenho certeza de que é só uma grande riqueza.

Como a comunidade do Movimento dos Focolares a acolheu e ajudou nessa experiência?

Foi fundamental em toda a minha experiência no Brasil. Eu me senti acolhida em todos os lugares por onde passei. Vi com meus próprios olhos a arte de amar a todos. Sempre senti um amor para comigo, uma abertura muito grande e desinteressada. Isso me fez muito bem, realmente uma acolhida comovente.

Você foi para lá para doar tempo e profissionalismo, mas recebeu muito mais. Essa viagem mudou um pouco a sua vida?

Olha, eu tenho 50 anos, não 20. Mas por que estou dizendo isso? Porque aos 20 anos, ou talvez aos 30, ainda tinha a ideia de ir a um lugar para doar. Agora, é muito, muito claro para mim que a possibilidade de me doar me restitui alguma coisa. Eu sabia muito bem que a palavra “voluntariado” incluía bastante coisa. Doar o próprio tempo faz bem. Primeiramente a quem o doa. Eu, com certeza, fiz uma experiência de partilha muito forte com a comunidade do Movimento dos Focolares. Apesar de não conhecer tão bem a espiritualidade, aprecio bastante todas as suas outras formas de expressão do amor concreto. Acho que foi uma experiência realmente muito, muito, muito bonita. Essa ideia de poder viver juntos, colocando em comum tudo o que tem, é justamente a ideia da comunidade. Poder fazer o bem aos outros e viver com os outros é uma coisa de que eu realmente gosto muito.

Essa viagem me enriqueceu demais. Teve e terá um grande impacto na minha vida. Ela me fez conhecer pessoas maravilhosas, realidades completamente diferentes da minha. Entendi que a partilha é realmente possível.

Quando você voltou para Nápoles, teve uma acolhida inesperada!

Sim, muitas pessoas que encontrei quando voltei, e que ainda encontro hoje, me dizem que leram meus diários de viagem nas redes sociais, e me agradecem por ter compartilhado essa experiência. Estou recebendo muitos agradecimentos e várias pessoas me dizem que querem saber mais sobre essa viagem. Então, tive a ideia de organizar as fotografias e mostrá-las em um evento, no qual também posso contar alguma coisa a mais. Isso me tocou muito: vivemos em uma sociedade na qual não existe mais tempo para os relacionamentos. Ouvir pessoas me pedindo para passar um tempo juntas para saber mais sobre a minha experiência é algo muito lindo.

Para concluir, vamos rebobinar a fita e olhar tanto para a primeira quanto para a segunda viagem ao Brasil: como você vive hoje a sua vida?

Minha primeira experiência brasileira de muitos anos atrás, como eu disse, tive de removê-la. Agora, estou fazendo um grande esforço para não remover essa última viagem, para não esquecer, para manter essa experiência também na minha vida em Nápoles, na Itália. Quero manter essa memória viva. Por quê? Porque tem um sentido na minha vida que me dá tanta força e me gratifica muito.

A primeira coisa que fiz, ao voltar a Nápoles, foi contatar novamente a minha professora de português, que é brasileira, para aprender melhor a língua. Outra coisa que eu gostaria de fazer é uma geminação entre uma escola infantil napolitana e uma brasileira, que está sendo construída. Seria lindo ajudar aquelas crianças, enviando mochilas e todo o material necessário. Mas, sobretudo, gostaria de fazer com que compartilhassem as experiências entre crianças brasileiras e italianas.

Lorenzo Russo
(foto: © Paola Iaccarino Idelson)

7 de outubro de 2024: dia de oração e jejum para implorar a paz no mundo

7 de outubro de 2024: dia de oração e jejum para implorar a paz no mundo

No meio das crescentes tensões no barril de pólvora do Médio Oriente, no meio das bombas e mísseis que continuam a cair na “martirizada” Ucrânia, no meio dos muitos pequenos e grandes conflitos que dilaceram e matam de fome os povos de África, enquanto, em suma, “os ventos da guerra e os fogos da violência continuam a perturbar povos e nações inteiras”, O Papa Francisco chama às “armas” do jejum e da oração – aquelas que a Igreja indica como poderosas – milhões de crentes de todos os continentes para implorar de Deus o dom da paz num mundo à beira do abismo.

Tal como já tinha feito para os conflitos na Síria, na República Democrática do Congo e no Sudão do Sul, no Líbano, no Afeganistão, na Ucrânia e na Terra Santa, de 2013 a 2023, o Papa Francisco convocou um novo dia de oração e abstenção de alimentos para invocar o dom da paz para segunda-feira, 7 de outubro de 2024, anunciando também uma visita sua, no domingo, 6 de outubro de 2024, à Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, para rezar o terço e rezar a Nossa Senhora, pedindo a participação de todos os membros do Sínodo.

“Não podemos deixar de apelar mais uma vez aos governantes e àqueles que têm a grave responsabilidade das decisões”, escreveu o Card. Pierbattista Pizzaballa, Patriarca de Jerusalém dos Latinos, numa carta dirigida à sua diocese, aderindo ao apelo do Papa – ao compromisso com a justiça e ao respeito pelo direito de todos à liberdade, à dignidade e à paz”. O Patriarca reiterou ainda a importância do empenho de cada um na construção da paz no seu próprio coração e nos contextos comunitários, apoiando “os necessitados, ajudando os que trabalham para aliviar o sofrimento dos afectados por esta guerra e promovendo todas as acções de paz, reconciliação e encontro. Mas também precisamos de rezar, de levar a Deus a nossa dor e o nosso desejo de paz. Precisamos de nos converter, de fazer penitência, de implorar o perdão”.

Editado por Carlos Mana
Fonte: vaticannews.va

Foto: © Pixabay

Tempo da criação, tempo de esperança

Tempo da criação, tempo de esperança

No dia 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis, termina o Tempo da Criação, um período no qual é proposto o aprofundamento do diálogo com Deus por meio da oração, associado a ações concretas de cuidado com o planeta. O Movimento dos Focolares sempre apoiou a iniciativa, participando e organizando eventos em várias partes do mundo. Em seguida, algumas iniciativas do Tempo da Criação 2024.

Em Leonessa, região central da Itália, foi realizada uma caminhada na natureza. O evento, chamado “Respiros da Natureza: juntos pelo nosso planeta”, teve a participação de crianças e adultos. O grupo saiu do convento dos frades capuchinhos, guiados pelos próprios frades, pela Guarda Florestal, pelo Clube Alpino Italiano e pelo professor Andrea Conte, astrofísico e coordenador, na Itália, de EcoOne, a rede de Ecologia do Movimento dos Focolares. A excursão culminou ao lado de uma fonte, onde o prof. Conte conduziu uma sugestiva meditação sobre a viagem de um átomo de carbono pelo ambiente. Em seguida ele mostrou como transformar os resíduos comuns em instrumentos para experimentos científicos, mostrando, enfim, como a ciência pode ser divertida e ao alcance de todos.

Num segundo momento, no Auditório da prefeitura, foram aprofundados temas como a consciência ambiental, os efeitos das mudanças climáticas e a importância da educação à sustentabilidade. O prof. Luca Fiorani, da comissão internacional de EcoOne, apresentou uma análise aprofundada da encíclica Laudato Sì, do Papa Francisco, de conceitos de ecologia integral e da sustentabilidade relacional. A participação numerosa e a atenção demonstrada pelos participantes são o testemunho de um interesse crescente por temáticas ambientais e de uma maior consciência da importância de agir em favor da proteção do nosso planeta.

É o quarto ano que a comunidade do Movimento dos Focolares na Oceania contribui com o momento de oração ecumênica no Tempo da Criação. “Rezamos e testemunhamos, com diferentes ações de cuidado com a nossa casa comum – eles contam. Este ritual de oração é o nosso esforço para dar esperança à nossa imensa área que se estende por 7.000 km (de Perth, na Austrália ocidental, até Suva, nas Ilhas Fiji), a maior nação insular no coração do oceano Pacífico”. Jacqui Remond, cofundadora do Movimento Laudato Sí, docente da Universidade Católica Australiana, fez uma reflexão sobre a necessidade de mudar os corações em uma conversão ecológica.

O arcebispo da arquidiocese de Suva, nas Ilhas Fiji, d. Peter Loy Chong, não pode estar presente porque estava justamente recebendo o Papa Francisco em Papua Nova Guiné. Mas enviou uma mensagem salientando, de modo especial, a importância da palavra “Tagi”, que significa “o grito dos povos da Oceania”. É o grito das pequenas ilhas do Pacífico diante da mudança climática, que ainda não influenciou o mundo, ou melhor, o mundo ainda não escutou profundamente as vozes e, especialmente, os tempos do grito dos povos da Oceania.

Foram compartilhadas diversas experiências, como a criação de um jardim de reconciliação aborígene no Centro Mariápolis St. Paul. Lá estiveram os alunos de horticultura e seus professores, que utilizam o Centro para suas aulas. São todos migrantes e ficaram muitos interessados em conhecer as importantes plantas alimentares indígenas.

Os jovens de Sydney, Camberra e Melbourne reuniram-se com um ancião aborígene para um passeio pela cidade, no qual aprenderam a relacionar-se com a criação e a cuidar dela.

No México foi feito um curso sobre conversão ecológica e espiritualidade, um diálogo aberto sobre o cuidado com a casa comum. Foi uma iniciativa do Centro Evangelii Gaudium México, da Universidade Sophia ALC, juntamente com o Movimento dos Focolares. Cinco sessões online – uma em cada semana durante o Tempo da Criação – sob os cuidados do prof. Lucas Cerviño, focolarino teólogo e especialista em missionariedade. Participaram 87 pessoas provenientes de vários países da América Latina, do México à Argentina. Foram estes alguns dos temas abordados: crise e conversão ecológica; metamorfose do sagrado e da espiritualidade; Deus Amor como um tecido de vida no amor; a escuta do grito da terra e dos pobres como amor a Jesus Crucificado e Abandonado; a unidade como fraternidade cósmica para assumir o cuidado com a Casa Comum; Maria como Rainha da Criação e a presença do corpo místico de Maria.

Na Itália, na cidade de Pádua, foi inaugurado o “Caminho dos 5C da Laudato Sì”, graças à rede Novos Estilos de Vida, constituída por associações civis, religiosas e leigas, entre as quais o Movimento dos Focolares, que se preocupam com a promoção de estilos de vida sóbrios e respeitosos com a natureza e a economia sustentável, e que estimulam as comunidades com iniciativas e propostas a serem realizadas juntos, pelo bem comum.

O “Caminho dos 5C” foi instalado ao lado de um canteiro onde, em 2011, as cinco Igrejas ecumênicas (católica, ortodoxa, luterana, metodista e anglicana) celebraram o Dia para o Cuidado da Criação, plantando juntos cinco faias. Como introdução, um jovem cantor vicentino fez uma breve apresentação na qual comunicou a sensibilidade e o sonho dos jovens de hoje, no caminho rumo a um futuro de esperança.

Os 5C evidenciam cinco termos retirados da encíclica do Papa Francisco: “custodire, conversione, comunità, cura, cambiamento” (em língua portuguesa: proteção, conversão, comunidade, cuidado, mudança). O evento foi vivido com intensidade e serviu como um forte impulso para propósitos de comprometimento concreto em realizar um mundo melhor, mais justo e équo, em harmonia com a Terra que habitamos.

Lorenzo Russo
Foto: © Pexels e Focolari Padova