Movimento dos Focolares
Novidades editoriais: um jardim magnífico

Novidades editoriais: um jardim magnífico

O Movimento dos Focolares e os religiosos, um elo que teve origem no início da história do Movimento: uma trama compacta de relações entre Chiara Lubich – fundadora dos Focolares – e os consagrados de várias famílias religiosas.
Tantas mulheres e homens, doados a Deus por meio das mais várias espiritualidades, que inspiraram e deram suporte a Chiara nos primeiros anos do Movimento. Tudo isso foi contado no livro “Um jardim magnífico. Chiara Lubich e os religiosos (1943-1960)”, preparado por Padre Fábio Ciardi e Elena Del Nero.

Comecemos pelo título: “Um jardim magnífico”. Vocês poderiam explicar?

Elena Del Nero obteve o Doutorado em História e Ciências filosóficas-sociais na Universidade “Tor Vergata”, de Roma (Itália). Trabalha na seção histórica do Centro Chiara Lubich, em Rocca di Papa (Itália). É autora de ensaios e volumes sobre a história do Movimento dos Focolares.

Elena Del Nero: “Esta imagem evocativa, usada por Chiara Lubich ainda em 1950, refere-se à Igreja e aos diversos carismas que floresceram nela, no decorrer da história. Cada um deles é precioso, com sua beleza particular, enraizada na palavra evangélica que o inspirou, e assim, todos juntos, compõem uma harmonia de nuances que enriquece a ilumina a Igreja”.

O livro é composto por uma reconstrução histórica e por uma reflexão teológica-eclesial. No que consistem?

Elena Del Nero: “A reconstrução histórica concentra-se apenas em duas décadas: do nascimento do Movimento, em 1943, a 1960; isso porque foram anos muito ricos e densos, de documentos e de conteúdos relativos ao tema que tomamos em consideração. A leitura teológica-eclesial, ao invés, escorre numa dimensão temporal maior, dilatando o olhar até a leitura mais recente do magistério. Desta maneira, parece-nos, o panorama que propomos mostra-se mais amplo e preciso.

A figura dos religiosos, portanto, sempre existiu na Obra de Maria, desde o seu nascimento. Qual é o sentido dessa presença no Movimento?

Pe. Fabio Ciardi: “O Ideal ao qual Chiara Lubich sentia-se chamada era reavivar a unidade na Igreja, em resposta à oração de Jesus: ‘Que todos sejam um’ (Jo 17,21). O Movimento continua essa grande missão de promover a comunhão e a unidade entre todos. Que unidade seria se faltassem os religiosos? Estes manifestam a riqueza carismática da Igreja, mantém viva a experiência dos grandes santos. Chiara desejou envolve-los em sua ‘divina aventura’; como desejou envolver todas as pessoas, de todas as vocações”.

Que benefício os religiosos, e as suas Ordens, obtiveram, no diálogo com Chiara Lubich e a espiritualidade da unidade, do Movimento dos Focolares?

Padre Fabio Ciardi é oblato de Maria Imaculada; professor emérito do Instituto Pontifício de Teologia da Vida Consagrada Claretianum, de Roma (Itália); é autor de numerosas publicações; desde 1995 é consultor do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, no Vaticano; e desde 2022 é consultor do Dicastério para o Clero, no Vaticano.

Pe. Fabio Ciardi: “Desde as origens, religiosos de ordens diferentes foram atraídos pelo frescor evangélico testemunhado por Chiara e pelos primeiros membros do Movimento que estava nascendo, que os conduzia de volta ao radicalismo de suas escolhas; percebiam um amor renovado pela própria vocação, a compreendiam de uma maneira mais profunda, sentiam-se envolvidos em uma comunhão que os fazia relembrar a primeira comunidade cristã, descrita nos Atos dos Apóstolos”.

E que efeito essa proximidade dos religiosos, desde o início do Movimento, teve sobre Chiara Lubich?

Pe. Fabio Ciardi: “A presença deles mostrou-se providencial para Chiara, porque permitiu a ela um contato com as grandes espiritualidades cristãs que surgiram ao longo da história; um confronto que a ajudou a entender, de modo mais profundo, a sua própria vocação, enriquecendo-a com a comunhão dos santos. “Aos poucos – Chiara escreveu pensando nos santos, que os religiosos testemunham – eles se aproximaram da nossa Obra, para encorajá-la, iluminá-la, ajudá-la’. Por um lado, a relação com os santos confirma certos aspectos da vida da Obra de Maria. Por outro, o confronto com a vida deles, e as suas obras, mostra toda a originalidade desta obra de Deus, nova e contemporânea”.

A presença dos religiosos nos Movimentos eclesiais, gera um enriquecimento mútuo? Ou há o risco de criar confusão e perda de identidade?

Pe. Fabio Ciardi: “Nenhuma interferência na vida das famílias religiosas. Chiara Lubich escreveu que se aproximava delas ‘nas pontas dos pés’, consciente de que são ‘obras de Deus’, e com um profundo amor que leva a descobrir, em cada uma delas, ‘a beleza e aquela particularidade sempre atual’ que conservam. Ao mesmo tempo, Chiara era consciente de ser chamada a dar uma contribuição: ‘Nós devemos somente fazer com que o Amor circule entre as várias Ordens. Elas devem se compreender, se amar como as Pessoas da Trindade se amam, [entre si]. Entre elas existe o Espírito Santo que as liga, porque cada uma é expressão de Deus, do Espírito Santo’. É nessa caridade que circula, que cada religioso aprofunda a própria identidade e pode dar a sua contribuição específica à unidade”.

Para concluir: por que ler esse livro? A quem recomendá-lo?

“Porque narra uma página de história maravilhosa, que faz compreender a beleza da Igreja. Não é um livro só para religiosos. É um livro para quem quer descobrir uma Igreja inteiramente carismática”.

Lorenzo Russo

O “pensamento do dia”: motivação para a vida

O “pensamento do dia”: motivação para a vida

São duas ou três palavras. Nada mais. Mas são suficientes para orientar um dia inteiro. Elas são publicadas à meia-noite e, de manhã cedo, chegam no WhatsApp ou por email, e “iluminam” todo o dia. Exprimem um pensamento do Evangelho ou um valor universal, e motivam à ação, a comprometer-se, a olhar para além das próprias ocupações e preocupações.

Foi uma ideia genial; pela sua simplicidade e facilidade de difusão. Chiara Lubich a lançou em dezembro de 2001 para ajudar as pessoas que colaboravam com ela, no centro internacional do Movimento dos Focolares, a viverem o momento presente. Mas, como acontece frequentemente, vendo que a ideia e os efeitos eram muito positivos, difundiu-se como os círculos na água, quando se lança uma pedra; atravessou fronteiras, línguas, costumes e linguagens.

Nos anos seguintes, a fundadora do Movimento muitas vezes se referia à “palavra do dia” e às experiências que suscitava nas pessoas que a colocavam em prática. Às vezes para encorajar a não diminuir a intensidade ou para propor um outro significado, como quando sugeriu que se acrescentasse tacitamente ao pensamento do dia, a intenção de vivê-lo “principalmente no contato com os irmãos”. Isso marcou uma mudança profunda, não apenas na busca da perfeição individual, mas em colocar-se, constantemente, em relação com o irmão ou a irmã que está ao nosso lado: entrar nas suas necessidades, torna-los destinatários do nosso amor concreto.

Pouco a pouco cresceu e se desenvolveu. Atualmente o “pensamento do dia” lembra algum aspecto da Palavra de Vida – proposta todos os meses – ou refere-se às leituras da liturgia. É traduzido em 23 línguas. Algumas pessoas, quando o enviam ou publicam nas redes sociais, acrescentam uma reflexão pessoal ou uma sugestão sobre como colocá-lo em prática. Outras o ilustram com uma imagem ou criam um vídeo breve, no Youtube. Há até mesmo quem compõe todo dia uma canção curta. Todos os meios de comunicação e todas as redes sociais são úteis para difundi-lo entre amigos ou conhecidos, sempre com a delicadeza de, antes, perguntar se estão interessados em recebê-lo.

Não são palavras ao vento. Ao contrário, estimulam, motivam as atitudes, especialmente nas relações com o ambiente e com as pessoas que encontramos durante o dia. Como conta Marisa, do Brasil: “Hoje eu estava indo dar uma aula na universidade, mesmo se neste período não tenho muita vontade de continuar com esse trabalho. Já tenho idade para me aposentar, mas perdi algumas promoções e, por enquanto, devo trabalhar; porque minhas filhas ainda precisam da minha ajuda financeira. Então eu renovo o meu “por Ti, Jesus” toda vez que vou à universidade. E o pensamento de hoje era justamente: “cumprir os nossos deveres”.

Do Senegal, Pe. Christian escreve: “Obrigado pela palavra do dia. Ela me ajuda a nutrir minha vida espiritual e a iluminar o meu relacionamento com Deus e com os meus irmãos e irmãs, dia a dia”. Para Maria Teresa, da Argentina, todo dia é como receber uma resposta de Deus: “Eu trabalho na pastoral dos migrantes; ontem eu acompanhei um deles na apresentação de um livro que escreveu sobre a ‘neuro-condução’. Era importante estar ao lado dele nestes momentos em que podia compartilhar, e ajudá-lo a difundir os seus talentos. Foi uma linda experiência de unidade com ele e com as pessoas que vieram escutar a sua conferência: um presente que ele tinha a oferecer”.

Apenas algumas pinceladas da vida que é gerada em centenas de pessoas, ou até mais, que, possuindo ou não uma crença religiosa, acordam toda manhã com o compromisso em viver as duas ou três palavras do “pensamento do dia”.

Carlos Mana
Foto: © Pixabay

Chiara Lubich aos jovens: a alegria dos primeiros cristãos

Chiara Lubich aos jovens: a alegria dos primeiros cristãos

(…)

A alegria dos primeiros cristãos – como de resto a alegria dos cristãos de todos os tempos e séculos, quando o cristianismo é compreendido na sua essência e vivido na sua radicalidade – a alegria dos primeiros cristãos era uma alegria verdadeiramente nova, jamais experimentada. Não tinha nada a ver com a hilaridade, com a alegria normal, com o bom humor. Ou, como diria Paulo VI, não tinha nada a ver com “a alegria exaltante da vida e da existência”, com “a alegria portadora de paz da natureza, com a alegria do silêncio”. (…) Não era essa. São alegrias belas…

Mas a alegria dos primeiros cristãos era diferente. Era uma alegria semelhante àquela atração que arrebatou os discípulos quando receberam o Espírito Santo.

Era a alegria de Jesus. Porque Jesus tem a sua paz e também a sua alegria.

E a alegria dos primeiros cristãos, que jorrava espontânea do profundo do próprio ser, saciava-os completamente.

Eles tinham encontrado realmente aquilo que o homem de ontem, de hoje e de sempre precisa e procura. Tinham encontrado Deus, a comunhão com Deus e esta os saciava completamente e os levava à plena realização. Eram criaturas.

De fato, o amor, a caridade com a qual Cristo por meio do Batismo e dos outros sacramentos enriquece o cristão, pode ser comparada a uma pequena planta. Quanto mais cresce a raiz (à medida que se ama o próximo), mais veloz cresce a planta, o caule. Isto é, quanto mais se ama o próximo, o coração fica cada vez mais invadido pelo amor de Deus. Contudo, não é um amor, uma comunhão com Deus em que se acredita pela fé, mas é uma comunhão que se experimenta. E isso é felicidade; esta é a felicidade, amamos e nos sentimos amados.

Assim era a alegria dos primeiros cristãos… Era essa a felicidade dos primeiros cristãos, adultos ou jovens como vocês, que se exprimia em liturgias maravilhosas, festivas, com muitos hinos de louvor e de ação de graças.

(…)

Chiara Lubich

(Para aceder ao texto completo: https://chiaralubich.org/archivio-video-it/la-gioia/)
Foto: © Archivio CSC Audiovisivi

Jubileu dos jovens: itinerários de caminho, esperança, reconciliação

Jubileu dos jovens: itinerários de caminho, esperança, reconciliação

Por ocasião do Jubileu dos Jovens, de 29 de julho a 1º de agosto de 2025, os jovens do Movimento dos Focolares propõem aos jovens peregrinos que chegarão a Roma: quatro dias de espiritualidade, partilha, testemunhos, oração, catequeses, alegria e caminho feito juntos!

Uma oportunidade única para começar a caminhada, passando por locais cheios de história e de espiritualidade, com muitas pessoas que se encontrarão ao longo do caminho, para crescer na fé e na esperança.

Para cada dia será proposta uma ideia-chave, como uma etapa: um momento de reflexão e oração, um aprofundamento espiritual ligado ao carisma da unidade, testemunhos e cantos, tudo voltado a viver o Jubileu dos Jovens como uma viagem com o foco em quatro ideias-chave: peregrinação (um caminho), porta santa (uma abertura), esperança (olhar para frente), reconciliação (pacificar).
Para quem desejar haverá duas catequeses no Focolare meeting point, apresentadas por Tommaso Bertolasi (filósofo), Anna Maria Rossi (linguista) e Luigino Bruni (economista).

A peregrinação às sete igrejas

Faz parte da proposta um percurso seguindo um itinerário histórico que acompanhou os peregrinos desde o século XVI: a Peregrinação das Sete Igrejas, idealizada por São Filipe Neri. Um caminho de fé e comunhão fraterna, feito de oração, cantos e reflexões sobre a vida cristã.

As etapas dessa peregrinação tocam sete locais simbólicos de Roma: Basílica de São Sebastião, Basílica de S. Paulo Fora de Portas, Basílica de Santa Maria Maior, Basílica de São Pedro, Basílica de São Lourenço, Basílica da Santa Cruz em Jerusalém, Basílica de São João de Latrão. Um total de 20 km de percurso, uma experiência vivida durante séculos por milhares de jovens e adultos. E está prevista a participação aos grandes eventos do Jubileu dos Jovens: a hora da reconciliação, no Circo Máximo, os encontros com o Papa Leão XIV durante a vigília e a Missa Final, na esplanada de Torvergata, que foi o local da vigília e da Missa dos Jovens, no Jubileu do ano 2000. Para quem puder permanecer mais alguns dias, no dia 4 de agosto será possível visitar o Centro Internacional do Movimento dos Focolares, em Rocca di Papa (Roma).

São muitos os programas marcados para viver o Jubileu, descobrir Roma e viver juntos um momento de fé e espiritualidade. Durante estes dias os jovens terão, à disposição, um Passaporte do Peregrino: em cada igreja visitada poderão descrever, usando uma única palavra, aquilo que viveram ou o que os tocou. Será uma forma de ter uma incrível recordação desta experiência.

Vocês estão prontos para partir? Bom caminho!

Para maiores informações: sgmu@focolare.org – +39 338 159 3455.

Lorenzo Russo

Descarregar o folheto de meditação “Fases da Espiritualidade”

Descarregar o programa da peregrinação

Pasquale Foresi: os anos de trabalho pela encarnação do carisma

Pasquale Foresi: os anos de trabalho pela encarnação do carisma

Depois da publicação da primeira parte da biografia de padre Foresi dedicada ao período inicial de sua vida, saiu também a segunda, das três partes previstas, intitulada: “La regola e l’eccesso” (“A regra e o excesso”, em tradução livre), da editora Città Nuova, que aborda os anos entre 1954 e 1962. O que o senhor acha que, neste volume, emerge como característica notável desse período da vida de Foresi?

Uma nota que caracteriza profundamente a vida e a experiência de Pasquale Foresi nos anos indicados, pode ser expressa deste modo: era um espírito livre, uma pessoa animada por uma tensão criativa entre carisma e cultura, movido pela exigência de traduzir espiritualmente e operativamente a inspiração de Chiara Lubich (o carisma da unidade) e a necessidade, em certo modo, de lhe conferir profundidade teológica, filosófica e institucional, em um contexto eclesial ainda largamente pré-conciliar. O livro o descreve muito bem como ele era continuamente comprometido, ao lado de Lubich, em “encarnar” o carisma de formas compreensíveis para a Igreja do tempo, para o mundo cultural e leigo em geral. Nesse sentido, pode-se chegar a defini-lo, além de um cofundador, também como um intérprete eclesial do carisma, aquele que procurava torná-lo “explicável” nos códigos da Igreja e que provou ser o construtor de pontes entre a dimensão mística de Lubich e a teologia clássica, tornando-a acessível a muitos sem dissolvê-la.

Ao mesmo tempo, Foresi era um intelectual atípico e um pensador original. Mesmo não tendo deixado grandes obras sistemáticas (não tomava isso como tarefa específica), exercitou um forte impacto na Obra de Maria (Movimento dos Focolares), justamente no período de tempo descrito no volume. Este segundo livro documenta uma existência dinâmica, atravessada por um senso de urgência, como se as palavras do Evangelho próprias do desenvolvimento do Movimento dos Focolares devessem ser encarnadas “logo”, sem retorno.

“Don Foresi, um espírito livre, uma pessoa animada por uma tensão criativa entre carisma e cultura”.

O nosso entrevistado, o Prof. Marco Luppi, investigador em História Contemporânea no Instituto Universitário Sophia de Loppiano (Itália)

As mais de 600 páginas do texto tratam não só dos acontecimentos da vida de Foresi no período selecionado, mas tratam também da vida e história de Chiara Lubich e do Movimento dos Focolares daqueles anos, trazendo inclusive histórias e episódios nos quais Foresi não estava presente, como o autor mesmo afirma. Por que foi feita essa escolha editorial?

Zanzucchi inclui eventos e vivências mesmo que não diretamente vividos por Foresi, porque sua figura é inseparável da história do Movimento dos Focolares. Contar o contexto, os protagonistas e as dinâmicas coletivas permite colher o significado da contribuição de Foresi, inserindo-o na trama viva de uma experiência comunitária. Como afirma claramente em sua introdução, Zanzucchi vê em Foresi não só um protagonista, mas um cofundador, ou seja um dos elementos estruturais e constitutivos do Movimento dos Focolares. Como consequência, a biografia de Foresi é inseparável pela biografia do Movimento. Em outros termos, o autor adota uma perspectiva que podemos definir como “biografia imersa”: não uma simples reconstrução individual, mas uma narração relacional e contextual, no qual o sentido da figura de Foresi emerge no diálogo vivo com outros atores (Chiara Lubich, Igino Giordani, personalidades do âmbito eclesial, etc.) e com a história coletiva do Movimento.

O trabalho de Michele Zanzucchi è a primeira biografia sobre Foresi. Quais são os aspectos da vida de Foresi que mereceriam futuros aprofundamentos e abordagens históricas?

Zanzucchi ama dizer que não é um historiador puro, mas em narrador e divulgador atento e escrupuloso e que, portanto, em diversos momentos pegou também uma licença a fim de esclarecer qualquer passagem não muito explícita. Mas este é, com certeza, um trabalho muito importante e um primeiro esforço de restituir-nos a personalidade e a vida de Foresi, com um olhar completo. Trata-se de um olhar e muitos outros podem existir, atravessando aquele mesmo espírito crítico, aberto a múltiplas interpretações, que deve animar a reconstrução da história de todo o Movimento dos Focolares e suas figuras de referência. Entre os muitos aprofundamentos envolvendo possíveis futuras pesquisas sobre Foresi, indicarei três. Uma primeira sobre pensamento teológico e filosófico de Foresi. Zanzucchi evidencia que Foresi não foi um teólogo acadêmico, mas um “visionário cultural”, com uma produção espalhada em artigos, discursos e notas. Portanto, nota-se a falta de uma exposição orgânica de seu pensamento sobre temas-chave como Igreja, sacramentos, relacionamento fé-razão, etc. Além disso, seria estudada a originalidade de seu pensamento eclesial, que antecipa algumas intuições conciliares. Uma segunda pesquisa poderia ser a do papel “político” de Foresi e as relações com o mundo eclesiástico romano. O autor acena repetidamente aos laços de Foresi com a cúria vaticana e algumas personalidades eclesiásticas. Todavia não está ainda muito claro quanto peso Foresi teve nas mediações políticas ou eclesiais do segundo pós-guerra e, portanto, seria útil explorar isso, especialmente nos momentos de tensão com a hierarquia. Enfim, uma terceira frente estimulante poderia ser a estação editorial e o “laboratório cultural” de Città Nuova. Zanzucchi destaca o papel de Foresi como fundador, diretor e inspirador da revista Cidade Nova. Que tipo de “cultura” Foresi procurava propor? Como se posicionava com relação a outras publicações católicas (Civiltà Cattolica, L’Osservatore Romano, Il Regno)? Mais cedo ou mais tarde será útil ter uma monografia também sobre o trabalho de Foresi como editor e jornalista, no contexto da publicação católica nos novecentos.

por Anna Lisa Innocenti
Foto: © Archivio CSC audiovisivi

Buscar a paz: um caminho nas mãos de cada um

Buscar a paz: um caminho nas mãos de cada um

“Felizes os construtores de paz, porque serão chamados filhos de Deus”. (Mt 5, 9)

Você sabe quem são os construtores de paz de que fala Jesus?

Não são aqueles que chamamos de pacíficos, que gostam da tranquilidade, que não suportam conflitos e por sua índole procuram acalmar os ânimos, mas frequentemente revelam no fundo o desejo de não serem incomodados, de não terem problemas, aborrecimentos.

Os construtores de paz não são também aquelas boas pessoas que, confiando em Deus, não reagem quando são provocadas ou ofendidas. Os construtores de paz são os que amam de tal maneira a paz, a ponto de não ter medo de intervir nos conflitos, a fim de conseguir que ela se realize entre os que vivem na discórdia. […]

Só quem tem a paz dentro de si pode levá-la aos outros.

É preciso levar a paz, antes de tudo, através dos próprios atos de cada momento, vivendo em pleno acordo com Deus e com sua vontade.

Os construtores de paz, por conseguinte, se esforçam para criar laços e estabelecer relações entre as pessoas, amenizando as tensões, desarmando as discórdias e indiferenças com que se deparam em muitos ambientes de família, de trabalho, de escola, de esporte, entre as nações, etc. […]

A televisão, o jornal e o rádio estão lhe mostrando diariamente que o mundo é um grande hospital e os países são, muitas vezes, grandes doentes. Eles têm extrema carência de pessoas que construam a paz, a fim de curar os relacionamentos, frequentemente tensos e insustentáveis, que poderiam provocar guerras, ou que já as fizeram explodir. […]

A paz é uma característica do relacionamento que os cristãos procuram estabelecer com as pessoas que encontram ocasionalmente ou com as quais convivem. É um relacionamento de amor sincero, sem falsidades nem enganos, sem qualquer forma de violência implícita ou de rivalidade, ou de concorrência, ou de egocentrismo.

Hoje em dia, desenvolver e estabelecer esse tipo de relacionamento no mundo é algo revolucionário. De fato, as relações que existem normalmente na sociedade são o contrário disso e, infelizmente, quase sempre não mudam.

Jesus sabia que a convivência humana era assim e, por isso, pediu aos seus discípulos que tomassem sempre a iniciativa, sem esperar que os outros correspondam e sem pretender que haja reciprocidade. De fato, ele diz: “Amai os vossos inimigos… Se cumprimentais apenas os vossos irmãos, o que estais fazendo de extraordinário”? […]

Jesus veio trazer a paz. E toda a sua mensagem e suas atitudes têm esta característica.

E é justamente este novo tipo de relacionamento, estabelecido com as pessoas, que desmascara os falsos relacionamentos existentes na sociedade e revela a violência escondida nas relações entre os homens.

Em geral, o homem não gosta que esta verdade seja mostrada, e existe o risco, em casos extremos, que ele responda com o ódio e a violência contra quem ousa incomodar a convivência e as estruturas existentes até então.

Jesus, que veio promover a paz, foi morto pela violência do homem.[…] “Felizes os construtores de paz, porque serão chamados filhos de Deus”.

Como é que você poderá viver esta Palavra?

Primeiramente difundindo por toda parte o amor. […] Em segundo lugar, você poderá intervir com prudência quando, ao seu redor, a paz estiver ameaçada. Muitas vezes basta escutar com amor, até o fim, as partes em discórdia e surge imediatamente uma solução pacífica.

Um meio não desprezível para diminuir certas tensões que podem nascer entre as pessoas é o humor. Assim diz um antigo ditado hebreu: “O reino futuro pertence àqueles que sabem fazer humor, porque com isso se tornam construtores de paz entre os homens em conflito”.

Ainda mais, você não ficará sossegado enquanto os relacionamentos rompidos – às vezes por um nada – não forem restabelecidos.

Talvez você possa ser construtor de paz na comunidade ou movimento de que participa, promovendo iniciativas que visem desenvolver uma consciência maior da necessidade da paz. […]

O importante é que você não fique parado, vendo passar os poucos dias de sua vida sem fazer alguma coisa pelos que estão ao seu redor, sem preparar-se convenientemente para a vida que o espera.

Chiara Lubich

(da Parole di Vita, Opere di Chiara Lubich, Citta Nuova Editrice, Roma 2017, pp. 196-197)